Reconhecer que você errou nunca é fácil. Por natureza, o ser humano quer sempre estar certo e a constatação de que acertamos gera um grande prazer. Por isso, descobrir que estávamos errados sobre algo nos leva a uma saudável postura de grande humildade. E também é libertador, pois, afinal, que cristão gosta de ficar preso a um erro, se somos servos da Verdade? Nessas horas, precisamos abaixar a cabeça, reconhecer nossos equívocos e mudar de rumo. Pois não existe modo melhor de evoluir, crescer e amadurecer do que errar – desde que se aprenda com o erro e se procure não mais cometê-lo. É eficaz. Nesse sentido, uma das áreas mais sensíveis no que tange a reconhecer que estamos errados é a que diz respeito à opinião que temos sobre as outras pessoas. E, se a virada do ano é um momento de estímulo à reflexão, de rever seus erros e estabelecer metas para ser alguém melhor, talvez seja uma hora adequada para pensar nisso.
Todo ser humano forma opiniões sobre o próximo. Isso é natural, não é pecado. Mas o problema ocorre quando se constrói uma imagem de alguém que não condiz com a realidade. Isso em geral acontece quando temos à disposição apenas uma fração das informações sobre esse indivíduo, uma percepção parcial, conhecimento limitado. O resultado é que começamos a formar visões distorcidas, caricaturas de pessoas que absolutamente podem não ser o que imaginamos. Você já teve a experiência de possuir uma opinião formada e sólida sobre alguém e, depois de conhecê-lo melhor, viu que ele não era bem o que você pensava – para melhor ou para pior? Creio que todos nós já passamos por isso. Pessoas que eu admirava perderam o brilho depois que vi que atitudes tomaram em certas situações; enquanto gente que eu demonizava revelou ser muito melhor do que eu supunha após uma convivência maior. E tenho de dar a mão à palmatória: eu estava errado.
Para não falar dos outros, deixe-me pegar a mim mesmo como exemplo. Eu, que tenho todas as informações sobre mim, por vezes não me reconheço, de tão falível que sou. E, se eu me engano quanto a mim mesmo, quanto mais os outros! Às vezes leio irmãos aqui no APENAS exaltando a minha pessoa a partir do que escrevo. Nessas horas, balanço a cabeça e chego a pensar “ah, se me conhecessem melhor…”. Pois a maioria não conhece o verdadeiro eu, este ser pecador, maldoso, chato, xexelento e cheio de defeitos. E não teria como ser diferente, porque o que se pode saber de mim pelos meus textos é apenas uma fração de quem eu sou de fato. E, claro, como procuro transmitir palavras de edificação e de vida – nas quais de fato acredito -, as minhas muitas mazelas negativas não ficam aparentes. Assim, a imagem que você terá de mim a partir do que escrevo no blog é a de um cara nota dez. Quem me dera. Pois isso está muito, mas muito longe da realidade. Sou bem ruinzinho, na verdade, e ai de mim se não fosse a graça de Deus em minha vida.
E eu sou um exemplo de todos nós. Vivemos formando opiniões sobre os outros a partir de caricaturas, meias verdades e preconceitos – causados por algo chamado egolatria. Explico: egolatria é a idolatria do eu. É quando ponho quem eu sou como referência do que é certo e bom. Assim, se alguém é diferente de mim, se gosta do que não gosto, se faz como eu não faço ou coisas do gênero, logo o rotulo e passo a desdenhar tudo o que faz. A egolatria nos leva a tomar a nós mesmos como padrão ideal – e o que difere desse “maravilhoso eu” torna-se digno de julgamento, menosprezo, chacota, rebaixamento.
Ninguém escapa de formar juízo equivocado sobre o próximo motivado pela egolatria – nem mesmo nós, cristãos. Assim, para os outros serem crentes dignos do meu respeito, teriam de crer no que eu creio, orar como eu oro, fazer um culto como eu faço, louvar como eu louvo, pregar como eu prego, ler quem eu leio, odiar o que eu odeio, criticar quem eu critico… ser uma versão de mim, em outras palavras. E quem não segue os meus passos torna-se alvo de toda a minha rejeição, será desmerecido, desqualificado e receberá adjetivos nada elogiosos.
E isso está errado.
Por quê? Pois é grande o mal que essa atitude causa.
Tenho visto no seio da igreja intolerância demais com os diferentes, quando são, de fato, cristãos bons e sinceros – mas… diferentes. São meus irmãos. São salvos. Jesus morreu por eles. Vão para o céu. E daí se louvam diferente de mim? Se fazem um culto diferente do meu? Se creem em questões secundárias da fé em que eu não creio? Não são meus inimigos. E preciso pedir-lhes perdão por hostilizá-los.
Confesso que estou bastante cansado de ver tantos crentes falando mal de tantos crentes. Estamos divididos demais e isso porque nós não aceitamos o diferente. Não admitimos que é possível alguém ser um bom cristão se não fizer tudo como faço e crer em tudo o que creio. E, por isso, atacamos o Corpo, nos canibalizamos. “Pé, você tem que segurar as coisas!”, grita a mão. “Mão, você tem que caminhar!”, diz o pé. “Boca, você tem de enxergar!”, exorta o olho. “Olho, você tem de escutar!”, conclama a orelha. E assim seguimos, ególatras e divididos.
Por muito tempo eu, encharcado de egolatria e arrogância, errei, falando mal de diferentes. Desprezando-os. Considerando-os maus – e até falsos – cristãos. Olhando-os de cima para baixo, altivo, soberbo. Mas creio que amadureci um pouquinho por ter sido confrontado com esse meu pecado – sim, é pecado. Desprezar membros do Corpo de Cristo como se não pertencessem a ele é acusar Jesus de não ter feito na vida deles o que fez.
Tenho conhecido muitas pessoas que são diferentes de mim – em crença e prática – e venho tendo lições de humildade humilhantes, uma atrás da outra. Tenho saído de uma bolha em que vivi por muito tempo e conhecido de perto muitos que eu criticava de forma nada construtiva – o que tem me mostrado o quão torpe eu fui em diferentes aspectos. Se são de Cristo são meus irmãos. Se são hereges, são hereges, mas se não são… eu estava errado. Tenho de reconhecer isso e confessar o meu pecado.
Se alguém afirma que toda a raça humana irá para o céu, é herege. Se alguém professa “teologia” da prosperidade, é herege. Se alguém ensina que Deus não está no controle de tudo, é herege. Se alguém usa o evangelho apenas como uma desculpa para ganhar dinheiro, é inimigo de Deus. Mas, se alguém louva o Senhor num estilo musical que não me agrada, é meu irmão. Se alguém tem um formato de culto diferente do que penso ser o mais adequado, é meu irmão. Se alguém crê ou não crê no falar em línguas, é meu irmão. Se alguém crê em predestinação ou não crê em predestinação, é meu irmão. Se ora em voz alta ou em voz baixa, é meu irmão. Se alguém usa terno para pregar ou camisa social, é meu irmão. Se você é amilenista, pré-milenista, pós-milenista ou o que for, é meu irmão. Se você crê que batismo no Espírito Santo é uma segunda benção ou é sinônimo de salvação, é meu irmão. Se você frequenta uma igreja azul, abóbora ou cor de burro-quando-foge mas tem o coração em Cristo é meu irmão. Cansei da arrogância que me fazia chamar irmãos de primos – e, em alguns casos, de desconsiderá-los como membros da minha família. Eu e eles temos o mesmíssimo direito de orar: “Pai nosso…”, que petulância eu achar que sou o filho predileto do Pai!
Pense sobre os cristãos que você critica. Agora reflita. Reflita se as suas críticas não têm origem na egolatria. Analise se o “estrago” que aqueles que você desqualifica estão provocando é de fato uma agressão ao evangelho ou, na verdade, uma agressão a… você. Se for uma agressão ao evangelho, exorte sim, mas em amor e não com atitudes que vão do sarcasmo à ofensa. Se for uma agressão ao seu jeito de ser e crer, peça perdão a Deus pelo seu pecado, peça perdão a quem você atacou por vaidade… e mude. Una. Ame.
Eu errei. E errei muito. Por muito tempo, desmereci irmãos em Cristo que são irmãos em Cristo mas são diferentes de mim. Fui torpe, leviano e altivo. Pequei. Perdoem-me.
E você? Como lida com as diferenças? Mas importante ainda: como tem se comportado quanto aos seus irmãos em Cristo que são diferentes?
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício