Arquivo da categoria ‘Amor ao próximo’

Minha mãe foi internada. Apêndice supurado, infecção generalizada, cirurgia de emergência, coma induzido, intubamento. Estado grave. A cada dia, uma tensão; uma expectativa; uma dor; uma, duas, três, muitas lágrimas; incontáveis orações.

O quadro melhora. A esperança vem. Vamos tirar do coma para tentar remover o tubo, diz o médico. Drogas suspensas, tubo tirado, orações esperançosas de gratidão.

Vou visitá-la no CTI. O médico informa que está sedada e não ouvirá nada. Teimoso, por amor, chego ao lado do leito, a mãe inerte como uma boneca de pano. Olhos fechados. Boca aberta. Inconsciente. Mas é quando vem aquela coceira estranha chamada…

fé.

Fé que me faz conversar com aquele corpo imóvel e desacordado.

Acaricio seus cabelos e seu rosto. Digo palavras de amor. Ponho para ela ouvir o áudio da netinha que mandou beijos e do irmão que mora no exterior.

Nenhuma resposta ou movimento.

Imponho a mão sobre sua cabeça e digo que vou orar por ela. Oro. Assim que a oração termina, a boneca de pano abre os olhos com muito esforço e olha para o céu.

“Mãe, você está consciente? Me ouve? Se está entendendo o que estou falando, pisca uma vez”. Ela pisca. Quase choro. Me derramo em palavras de amor, perdão, conexão. Ela responde com piscadelas. Uma para “sim”. Duas para “não”.

Falo tudo o que tinha de falar. Chega o fim da visita. Digo: “Mamãe, te amo. Se você quer me dar um beijo, pisca uma vez os olhos”. Ela pisca uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Incontáveis. Rajada de piscadas de olhos. Sou coberto de beijos pelo olhar de amor da mãe paralisada. Saio do hospital com a fé renovada na recuperação.

Ontem, a má notícia. Mamãe tem piora brutal. Precisa ser reintubada. Falência renal. Pressão descontrolada. Infecção hospitalar. A médica pergunta se queremos deixá-la inconsciente até o desfecho ou lutar. Optamos pela luta. Hemodiálise. Traqueostomia, os últimos recursos. Estado gravíssimo.

Não sei se voltarei a falar com minha mãe nesta vida. Mas, se não falar, levarei para sempre na memória o gentil gesto de Deus, que me permitiu ser coberto de beijos por uma mãe que não precisou falar nada para dizer tudo.

Meu irmão, minha irmã, se você não está ouvindo mais a voz de Deus, permita-me lhe dizer, com toda fé do mundo: creia, ele está piscando para você.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Pedro trai Jesus. Comete o pecado sobre o qual o Senhor alertara que quem o cometesse seria negado diante do Pai. Entenda, o que Pedro fez não foi pouca coisa. Suas ações tinham consequências eternas gravíssimas! Para piorar, ele tornou-se o apóstolo que mais traiu Cristo: se Judas o fez uma vez; Pedro traiu três vezes.

Sim, foi fundo o poço em que Pedro se atirou. Se o pescador estivesse em uma de nossas igrejas, hoje, não é difícil imaginar o que lhe aconteceria. Rejeição coletiva. Cochichos pelos cantos. Disciplina eclesiástica. Humilhação pública. Proibição de exercer cargos. Memes de internet. Notas em sites de fofoca gospel. Apedrejamento nas redes sociais. Escândalo. Não negue, você sabe que é assim que agimos com nossos pecadores da vez.

Assim é como nós agimos. Jesus, não.

Para Jesus, tudo se resolve com o conceito mais importante de todo o evangelho: “Tu me amas?”.

Sim, a solução, para Cristo, é o amor. Amor que gera arrependimento sincero. Mudança de rumo. Restauração. Renovação. Recomeço. Foi o amor que cobriu a multidão de pecados de Pedro. Não foram a exposição pública, o deboche dos santos juízes, o apedrejamento dos justos inerrantes, uma nota pública de repúdio, o boicote dos moralistas. Nada disso: amor.

“Tu me amas?” é um tapa na cara dos irmãos mais velhos do filho pródigo, ávidos por justiçamento, sedentos pelo cumprimento de uma moral que eles mesmos jamais conseguem cumprir – e ainda assim não saem da internet, dos púlpitos e dos congressos desfilando rosários de lições. Quando tudo o que Cristo exige é amor. Amor vivo, transformador, sacrificial. Que torna apologistas grosseiros em homens mansos, pastores abusivos em amigos restauradores, teólogos verborrágicos em irmãos que edificam, líderes vaidosos em homens que priorizam o rebanho a seus interesses pessoais e familiares. Amor que muda tudo, seca os pés do Mestre com os cabelos e redefine a jornada.

Muitos rejeitam o amor como a solução para os males deste mundo. Ou não entenderam o amor bíblico ou são incapazes de amar. Felizmente, para esses e todos os demais pecadores que somos, resta uma esperança: que Jesus nos pergunte uma e somente uma coisa: “Tu me amas?”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Você já ouviu falar de Gandhi, hindu pacifista que, utilizando a filosofia da não violência, liderou – e conquistou – a independência da Índia. Enquanto os exércitos ingleses vinham com porretes, ele revidava com jejuns, inteligência, bons argumentos e manifestações pacíficas. Gandhi disse: “A não violência nunca pode ser usada como um escudo para a covardia, é uma arma para os bravos”.

Em seus anos estudando na Inglaterra, ele teve contato com o cristianismo. Indagado sobre se a fé cristã não o atraía, ele respondeu que o Cristo sim, mas a incompatibilidade entre os ensinamentos de Jesus e a prática dos cristãos o mantinha afastado. Sobre certo cristão que conheceu, Gandhi disse: “Ele pecava com olhos abertos, e mostrava-me que isso nem ao menos o deixava angustiado”.

Vejo o exemplo e as palavras de Gandhi, um hindu pagão, e os comparo com muitos de meus irmãos e irmãs em Cristo de nossos dias. Por alguma razão bizarra, enorme quantidade de cristãos passou a acreditar que belicosidade é o caminho para as conquistas do evangelho.

Esse ramo da igreja se espelha no péssimo exemplo de líderes cristãos violentos, a quem consideram pessoas corajosas e destemidas. Quanto mais os tais líderes berram, cospem e batem na mesa, mais “ungidos” lhes parecem. Jogam no lixo as virtudes do fruto do Espírito e fazem malabarismos teológicos para justificar agressões e ataques aos “inimigos da fé” como se a agressividade e o ódio fossem virtudes. A Bíblia, para eles, não é centrada na cruz, mas no azorrague de Cristo.

Esquecem dos mártires do Coliseu. Esquecem das palavras de Jesus a Pedro após esse decepar a orelha de Malco. Esquecem do fiasco que foi o uso da violência por cristãos nas Cruzadas. Esquecem do Sermão do Monte. Esquecem de Romanos 12. Esquecem de 2Timóteo 2.24-26. E promovem a beligerância, a agressividade e o confronto como armas divinas contra o que é anticristão. Usam as armas do diabo “em nome de Jesus”.

Não tenho nenhuma esperança de que minhas palavras mudarão o coração desses. Eu não tenho esse poder. Como convencer adeptos da briga, do berro e do confronto de que amor, paz, amabilidade, bondade, mansidão e autocontrole são o DNA da fé cristã se já estão convencidos de que é pela força do muque e do grito que a fé cristã triunfará? Eu não tenho esse poder, só o Espírito Santo tem. Meu discurso, para eles, é piada e motivo de chacota. Sempre haverá argumentos na linha “se um ladrão entrar na sua casa, você vai vencê-lo com gentileza?”. Non sequitur, Gandhi que o diga.

Temo por aonde levará esse tipo de pensamento, que valida a violência e a agressividade “em nome de Jesus”. Virtudes como amabilidade, gentileza, mansidão e pacificação são vistas por esse setor da igrejas como “coisa de mulherzinha” ou de “cristãos afeminados”. Crente bom, para eles, é o que transpira testosterona, soca a mesa e demonstra coragem pelo embate.

Só que não foi isso que Jesus ensinou.

Gandhi, um hindu que pagou com a vida por seus ideais, compreendeu o cristianismo melhor do que muitos cristãos – e enxergou as contradições evidentes da prática que não se apoia no texto sagrado. Sem usar agressividade, derrotou o poderoso império britânico. Os mártires da Igreja primitiva entraram pelos portões da eternidade entregando o pescoço ao aço e às feras, sem revidar. Já os cruzados e inquisidores criaram capítulos vergonhosos da história da igreja porque preferiram a espada e o fogo. E, apesar de tudo isso, ainda precisamos falar dessas coisas em pleno século 21 como se fossem novidade.

Que Deus se apiede de sua noiva e perdoe aqueles que lançam lama sobre o belo evangelho do Príncipe da Paz, o Manso Cordeiro. O pseudoevangelho da brutalidade é escândalo para o mundo – não por sua mensagem confrontar os valores mundanos, mas por ser exatamente igual ao mundo. Por deixar patente que não há diferença no modo de agir desse setor da igreja e o modo de agir do mundo. Só o que muda são as causas defendidas. Os meios são os mesmos: violência, guerra, agressão, ofensas, dedo na cara, confronto.

E isso não é coragem. Isso é pecado. O que me faz lembrar das palavras de Gandhi: “Ele pecava com olhos abertos, e mostrava-me que isso nem ao menos o deixava angustiado”. A história se repete.

No fim, essa é uma questão individual. Só existiram Cruzadas porque, um a um, indivíduos se tornaram cruzados. E, hoje, só haverá guerras santas, “jihads gospel”, se indivíduos se juntarem às fileiras dos apoiadores da violência. No fim, essa será sempre uma decisão individual.

A pergunta que resta é: qual evangelho você apoiará? O dos fiéis mártires pacificadores ou o dos violentos cruzados do berro e do soco na mesa?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Meus olhos correm pela Bíblia procurando passagens que sirvam de base para que cristãos vivam brigando. Não encontro. Comparo o comportamento de frequentadores de igrejas brigões (o que inclui muitos pastores) com a descrição que Jesus faz de gente bem-aventurada e não encontro compatibilidade. Isso me lança em reflexões.

É um fato: vivemos uma geração de cristãos esquisitíssimos, que acham que viver brigando é uma possibilidade bíblica aceitável. Fazem de brigas com o marido, a família, os “amigos” das redes sociais um hábito. E creem que é um comportamento bonito aos olhos do Deus que nos ordena: “O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente” (2Tm.2.24).

Deixe-me repetir: “O servo do Senhor não deve viver brigando”.

Não é um pedido, é uma ordem de Deus.

De onde veio esse pensamento bizarro? Talvez de judaizantes que se baseiam no comportamento guerreiro da Israel do AT. Talvez da ideia alucinada de que, porque Jesus derrubou as mesas dos cambistas, nós podemos ser briguentos. Talvez porque é mais fácil arranjar desculpas bíblicas para continuar sendo tão bruto depois da conversão como antes dela, para não ter de lutar contra sua natureza. Seja a razão que for, justificativas são muitas para ser um adepto das brigas “em nome de Jesus”. Aceitáveis? Nenhuma.

A explicação é que somos, ao mesmo tempo, habitação do Espírito Santo e do pecado. Se vivermos pelo Espírito, seremos pacificadores, autocontrolados e mansos. Porém, se vivermos pela carne, seremos brigões, petulantes, escravos do pecado. Cada um de nós precisa fazer uma autoavaliação. Será que vivemos brigando? Preferimos ter razão a ter paz? Então, precisamos urgentemente tratar essa inclinação. Como? Buscando a face do Príncipe da Paz. Humilhando-se diante do Manso Cordeiro. Arrependendo-se.

E que aquele que nos “chamou para viver em paz” (1Co 7.15) mude nosso coração de pedra em um de carne, disposto a boas obras e a viver como, de fato, ele nos chamou para viver: em paz.

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Maurício Zágari
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Quando eu era jovem, acreditava que viver era ter doses diárias de emoção. Fosse pelo beijo de uma mulher, pelos gritos da plateia da sua banda de rock, pela repercussão de sua reportagem, pela festança desregrada. Eu era tolo, eu sei. O fato é que por muitos anos acreditei que viver emoções era a meta da vida. Um dia sem emoções seria perdido, inútil.

Até que fui salvo.

Mas, talvez porque não ensinam essas coisas no seminário, achei que tinha de continuar caçando emoções – só que emoções “gospel” – e por isso cometi erros e perdi muito tempo. Tolo. Hoje, tenho cabelos grisalhos. Na rua, para minha estranheza, me tratam por “senhor”. Adolescentes me chamam de “tio”. E as bolsas sob os olhos, fruto de anos de noites mal dormidas lendo, escrevendo e meditando, me dão uma aparência envelhecida. Fato é que meus anos me fizeram passar por um interessante processo de maturação.

Não busco mais emoções. Descobri que uma vida bem vivida não é sinônimo de dias alucinados à caça da nova dose de emoção. O que os anos, as dores, os erros e as alegrias me ensinaram é que a verdadeira felicidade não vem de emoções, mas de algo extraordinário chamado… paz.

Ainda gosto de emoções. Não me furto de desejar um coração acelerado. É bom, quem não gosta? Mas percebi que elas não são o asfalto da estrada: a paz é. A paz de uma consciência tranquila, um jardim florido ao canto dos bem-te-vis, um dever cumprido, uma paisagem tocante, um cafuné, a certeza de uma boa chegada.

Paz não é um luxo, é essência da vida com o “Deus da paz” (Rm 16.20). Tanto que é fruto do Espírito (Gl 5.22-23). Paz era, para Cristo, foco (Lc 10.5; 24.36; Jo 20.19,21,26). Paulo repetidamente desejava paz às pessoas (Rm15.33; 2 Ts 3.16; Ef 6.23), assim como João (3 Jo 1.15) e Pedro (1 Pe 5.14).

Se você é jovem, eis o conselho de um velho: não construa sua vida sobre o alicerce gelatinoso da caça à emoção. Antes, faça da busca da paz a sua base. É possível que, hoje, você não compreenda, mas, quando seus cabelos ficarem brancos e sua pele enrugar, você entenderá. E aí olhará para trás e se dará conta de quanto tempo perdeu correndo atrás do vento.

Pois emoção é vento. Já paz é oxigênio.

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Maurício Zágari
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Deus nos poda diariamente. E, quanto mais eu vivo, mais percebo que a principal maneira de ele fazer isso é no campo dos relacionamentos humanos.

Peço para amar mais, ele insere em meu caminho pessoas que me fazem querer destilar cada gota de ódio, egoísmo e indiferença.

Peço para ter mais alegria, ele me põe em contato com gente que me entristece e deprime ferozmente.

Peço paz, ele põe em minha jornada pessoas que tornam as pequenas coisas da vida uma enorme tribulação.

Peço paciência, ele me faz conviver com gente insuportável.

Peço amabilidade, ele me junta com pessoas estúpidas, grosseiras e arrogantes.

Peço bondade, ele me faz conhecer maus que prosperam e se alegram.

Peço fidelidade, ele me permite conviver com quem provoque meus instintos mais pecadores e egoístas.

Peço mansidão, ele põe em meu caminho gente explosiva e briguenta.

Peço autocontrole, ele me faz viver situações que me instigam a deixar o velho e impulsivo homem assumir as rédeas da vida.

Paro. Suspiro. Oro. Leio. E tento vencer aquele momento, pois basta a cada segundo o seu mal. O segundo seguinte virá e, muitas vezes, vencerei. Outras tantas, perderei. Mas é na equação entre perdas e ganhos que ele vai me podando.

Poda-me, Senhor, para que eu me torne aquele que, depois de aperfeiçoado, leve amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e autocontrole ao meu próximo, o bom e o mau. Ainda estou longe, muito longe disso, imerso neste oceano de imperfeição que sou, mas sigo na jornada.

Meu irmão, minha irmã, agradeça a Deus pelas piores pessoas que atravessam seu caminho. Pois elas são a maior bênção que você poderia receber no processo de fazer de você alguém cada dia mais diferente delas e mais parecido com o único que é totalmente perfeito: Jesus de Nazaré.

Maurício Zágari
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Pense em João 3.16.

O que me impressiona em Deus não é ele ter amado. Afinal, ele é amor e não se poderia esperar outra coisa dele. “Quem não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4.8).

Também não me impressiona ele ter amado o mundo. Ele é misericórdia, compaixão, empatia, graça. O que esperar de alguém assim? Que ele amasse só quem é amável? Claro que não, senão ele estaria exercendo somente a justiça dos homens. “Se fizerem o bem aos que lhes fazem o bem, que recompensa terão? Até os pecadores fazem isso. […] ele é bondoso até para os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, como também é misericordioso o Pai de vocês” (Lc 6.33‭-‬36).

Não me impressiona, também, Deus ter dado seu Filho unigênito. Pois junte o amor e a misericórdia já mencionados e fica claro que alguém assim jamais hesitaria em dar o seu melhor pelos necessitados de salvação. “Em tudo tenho mostrado a vocês que, trabalhando assim, é preciso socorrer os necessitados e lembrar das palavras do próprio Senhor Jesus: ‘Mais bem-aventurado é dar do que receber’.” (At 20.35)

Tampouco me surpreende Deus ter feito tudo isso para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Afinal, o Senhor nos criou para conviver com ele, não para vivermos distantes. Ele nos formou para vê-lo face a face, não para nos ser invisível. Ele criou cada um de nós para a eternidade ao seu lado, sem sofrimento nem dor, e não para o fogo eterno, que não foi idealizado para nós, mas foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41).

Agora… sabe o que me emociona? O “de tal maneira”. Isso me impacta. Deus poderia nos amar. Poderia exercer misericórdia. Poderia dar seu melhor por nós. Poderia restabelecer nossa comunhão. Mas poderia ter feito isso de modo tranquilo, morno, manso, calmo, blasé. Mas, não. Ele amou “de tal maneira”. Em outras traduções da Bíblia, ele amou “tanto”.

Isso fala de intensidade. De um amor explosivo, transbordante, infinito, que é mais amplo do que todas as galáxias conhecidas e desconhecidas pelo homem. Um amor cuja dimensão é incompreensível e inalcançável pela nossa razão limitada. Um amor único, exclusivo, exemplar. Eu e você estávamos mortos em nossos delitos e pecados quando Deus nos amou de tal maneira, isto é, estávamos mortos, putrefactos, em decomposição, exalando um cheiro espiritual insuportável. E, ainda assim, ele nos abraçou, beijou e amou de tal maneira.

Inacreditável. Embora seja absolutamente impossível a um ser humano amar como Deus ama, é perfeitamente possível esforçar-se ao máximo para levar nosso amor à última consequência. Amar no limite de nossas capacidades. Mas saiba de algo: isso vai te custar muito caro, como custou a Deus. Amar às últimas consequências exigirá de mim e de você negar-se. Tomar a própria cruz. Chorar amargamente, por ter de suportar injustiças, maldades e não devolver mal com mal, abençoando quem nos persegue e orando por eles, “Porque, se vocês amam aqueles que os amam, que recompensa terão?” (Mt 5.46).

Que Deus nos ajude. Que Deus nos ajude a amar quem não é amável com um trilionésimo do amor com que ele nos amou – e ama. De tal maneira. Que impressionante. Que extraordinário. De tal maneira. Diante disso, só me restam duas orações: “Obrigado!” e “Ajuda-me a amar!”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Título duro o desse post, não é? Até choca um pouco, eu sei. Para o meu alívio, não fui eu quem disse isso, foi o próprio Cristo. Como assim? Já chego lá, vamos por partes.

Conheço muitos pastores, pessoas que decidiram abraçar o púlpito e o pastoreio de vidas como missão. Muitos são homens dedicados, apaixonados por Jesus, que amam o próximo e têm um inequívoco chamado pastoral. São sérios, responsáveis, devotados e íntegros. Porém, esse meu contato tão próximo com tantos pastores mostrou-me, também, uma realidade dura e triste, mas para a qual não podemos fechar os olhos: existem maus pastores. E a experiência me ensinou um teste infalível para identificá-los.

A Bíblia ensina o que todos sabemos ser parte do perfil de um bom pastor, em passagens como 1Tm 3.2‭-‬7 e Tt 1.6‭-‬9: ele não pode ser arrogante, briguento ou violento; não deve buscar lucro desonesto; tem de ser justo; e deve ser amável, pacífico e desapegado do dinheiro, entre outras coisas. Para além disso, a prática da vida me mostrou um meio certeiro de testar se o coração de um pastor está de fato em Deus ou se perdeu-se no meio do caminho e precisa de uma recauchutagem. É um meio que, até hoje, nunca falhou: o confronto entre a vontade de Deus e a família do pastor. Permita-me explicar melhor.

Há um fato entranhável do evangelho: o Pai entregou o próprio Filho ao sofrimento e à morte para que seus propósitos se cumprissem. Em outras palavras, o propósito divino falou mais alto que o bem-estar “familiar”. Do mesmo modo, o pastor que tem um coração sintonizado com o de Deus sempre colocará os propósitos e os interesses do Senhor acima dos benefícios da própria família. Sempre. Pois, ao fazer isso, ele prova que de fato ama Deus sobre todas as coisas.

Um pastor verdadeiramente vocacionado tomará medidas disciplinares contra pessoas de sua própria família, se for preciso para cumprir a justiça. Já o mau pastor não hesitará um segundo antes de proteger os familiares que estão em erro, mesmo que isso signifique ir contra a justiça de Deus. O teste é infalível, acredite. Já vi acontecer diversas vezes.

Pastores para quem há dois pesos e duas medidas na hora de lidar com alguém de dentro ou de fora de sua família traem o chamado pastoral. Pois Deus não faz acepção de pessoas. A justiça de Deus é suprafamiliar. E antes importa agradar a Deus que aos homens. Infelizmente, muitos sucumbem. Na hora em que são confrontados por situações que exigem deles se indispor com familiares, remover benefícios ou discipliná-los (sempre em amor, é óbvio), agem como o reprovável Eli: fecham os olhos, distorcem a verdade, abafam problemas, agem de modo diferente de como agiriam se a situação envolvesse um membro da igreja com quem não tem vínculos familiares.

O nepotismo tendencioso, que é pecado por ser injustiça, machuca muitas pessoas nas igrejas. Pastores tomam partido de gente da família sem ouvir outros lados da história. Favorecem parentes com benefícios que não estendem a outros. Abafam erros de seus filhos para não ter dor de cabeça. Põem familiares em posições para as quais não têm chamado por questões financeiras. E por aí vai.

Nunca avalio um pastor somente por sua homilética ou sua teologia, pelo número de membros de sua igreja ou por seu carisma. A vida me ensinou a sempre observar se ele trata os familiares com privilégios que não estende a outros, ou seja, se ele exerce a justiça com os parentes, doa a quem doer. Se ele falha nisso, já sei que há problemas em seus critérios de pastoreio. É tiro e queda. E, via de regra, mais cedo ou mais tarde, esse pastor machucará pessoas. Por vezes, muitas pessoas. Não falha, acredite. Pois falta de justiça é falta de Deus.

E por que estou falando sobre esse assunto tão incômodo? Por amor. Amor a você, que é pastor e está equivocado em seus caminhos, e às ovelhas que pastoreia. Pois ainda há tempo de mudar.

Meu irmão, minha irmã, se você exerce o ministério pastoral, lembre-se de que justiça é uma das colunas do evangelho. Deus é sumamente justo e assim devem ser seus embaixadores na terra. Ame sua família, ela é uma bênção divina, de valor incalculável. Mas não a ame mais do que ao próprio e justo Deus. Se percebe que tem injustamente privilegiado parentes, em detrimento das demais pessoas, está em tempo de se arrepender, confessar a Deus o seu pecado e mudar de atitude.

E se você não é pastor, nem pense em usar este texto para sair falando mal de pastores que conhece e erram nesse aspecto: este texto não é uma desculpa para você mandar indiretas e afundar ainda mais quem já está na lama; antes, é um chamado urgente para a intercessão. Ore por seu pastor. Ore pelo pastor injusto. Ore pelo pastor partidário. Ore pelo pastor nepotista. Ore pelo pastor tendencioso. Ore pelo pastor parcial. Meta menos o malho e ore mais. O falatório não resolve nada, mas a sua oração pode muito em seus efeitos. Deus não te chamou para pôr o dedo na cara das pessoas, mas para interceder por elas, a fim de que, se o pastoreio delas estiver com prioridades invertidas, Deus as chame ao arrependimento e as livre das garras do maligno.

A Igreja precisa desesperadamente de bons pastores. E os maus pastores precisam desesperadamente das nossas orações, pois suas ações tendenciosas os tornaram indignos de Cristo. Por quê? Porque o próprio Jesus disse: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim não é digno de mim; e quem ama seu filho ou sua filha mais que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37).

Façamos a nossa parte, para que nossos pastores sejam sempre dignos de Jesus.

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Maurício Zágari
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Eu confesso: nos últimos tempos senti muita, muita raiva. É uma raiva estranha, resultado de um grande caldo de decepção, desapontamento, tristeza, revolta. Não é algo bonito de se dizer, em especial por ser eu um cristão, mas não posso mentir. Fato é que sou humano, habitação do pecado, e sentimentos brotam no coração sem que eu possa controlar. Permita-me explicar.

Você deve ter tomado conhecimento do caso de George Floyd, ser humano americano que foi preso pela polícia, imobilizado, jogado no chão e, até onde se sabe, sufocado até a morte por policiais que se ajoelharam sobre ele. Eu havia lido as notícias sobre a história e me indignado. Mas foi só quando assisti ao vídeo que tomei ciência da extensão do horror. O homem implorava por sua vida, a ponto de chamar “Mamãe!”. Em coro com a população ao redor, ele pedia por sua vida, diante do olhar impassível de diabos vestidos de policiais. E ele morreu.

Eu chorei e chorei muito. A voz de George e das pessoas ao redor, clamando por sua vida diante de criaturas de Deus que não davam a mínima, rasgou meu coração. Logo, o choro deu lugar a indignação e raiva. Tentei segurar, mas não deu. Sim, senti raiva, muita raiva.

Os últimos meses têm sido um teste para meu cristianismo, minha capacidade de não deixar a raiva virar ira, meu desejo de ser sempre perdoador, minha força para amar e não devolver mal com mal. Não por causa da pandemia, mas por testemunhar em diversos âmbitos o pior do ser humano. O contexto apenas traz à tona o que já existe no coração de cada um e revela o que normalmente os lábios não têm coragem de falar. Pessoas que eu amei mostraram o pior de seu coração. Gente que eu admirava destilou palavras assustadoras. Cristãos promoveram pecados e injustiças como se fossem virtude. Que tempo! Que período! Que desafio!

Ontem, ver o vídeo da abominação de George Floyd foi a gota d’água. O acúmulo de decepção e incredulidade diante do que pessoas são capazes de fazer me levou ao chão, ao joelho, e a raiva transbordou na forma de uma poça de lágrimas no chão. Raiva, muita raiva.

Pode ser que você tenha sentido ou esteja sentindo raiva também. Por causa de política, da pandemia, de decepções, da situação econômica, do comportamento humano, dos rumos da vida. Talvez seu coração esteja pesado, com sentimentos nada bonitos, mas que você não consegue evitar. O que fazer diante do confronto entre nossa humanidade inclinada ao mal e a urgência de ser manso e humilde de coração, conformados à imagem do Cordeiro? Permita-me compartilhar algo sobre isso, que pode ajudá-lo.

Eu estava ali, rangendo os dentes de raiva pela tortura e morte de George Floyd, pela decepção com pessoas, pela maldade e o egoísmo do ser humano. Foi quando, em meio àquela oração doída e molhada, veio um pensamento em minha mente, certamente semeado pelo Santo Espírito de Deus: se eu permitisse que toda aquela raiva se enraizasse em meu coração, eu não seria em nada melhor do que os carrascos que assassinaram o pobre homem. E, se permitisse que a ira atravessasse aquela noite, eu estaria com meu joelho no pescoço de cada pessoa que me decepcionou. Eu me tornaria igual a quem tanto mal fez – a mim e a George.

A teologia cristã nos ensina a doutrina reformada da depravação total: não temos em nós mesmos a capacidade de vencer o mal e dependemos exclusivamente da graça do Cordeiro. Sou sujeito a essa depravação. Nasci imerso em pecado e sou sua habitação. Quando ouvi a voz do Espirito, clamei a ele, o outro habitante de meu coração, e pedi que me inundasse de paz, perdão, magnanimidade, amor, graça e abnegação, porque, por mim mesmo, eu não teria forças para isso.

Pedi que me inundasse de Cristo.

Foi quando veio uma paz que não consigo entender. Uma paz acompanhada da certeza de que não posso esperar o melhor do ser humano, porque cada indivíduo deste planeta é terrivelmente idólatra de si mesmo, perdidamente apaixonado pelos próprios interesses e, se eu sentir raiva cada vez que testemunhar o egoísmo e a malignidade das criaturas de Deus, acabarei sendo vencido pela semente do mal que há em mim.

Foi quando veio uma avassaladora sucessão de verdades bíblicas ao meu coração. Lembrei de que a vingança pertence ao Senhor. Que temos de amar até os inimigos. Que eu sou tão depravado quanto os mais egoísta dos homens e das mulheres. Que nosso descanso não está nesta vida. Que o perdão não é opcional, mas um mandamento. Que não há um justo, nem um sequer. Que felizes são os pacificadores. Que os piores dos seres humanos podem ser resgatados de sua maldade por Cristo. Que Deus é soberano sobre a terra e que meu Redentor há de se levantar sobre ela. Foi um tsunami de verdades que a raiva havia roubado da minha lembrança. E o tsunami trouxe a paz.

Levantei daquela poça com menos raiva. Ainda triste, mas sem raiva. Milagre desses que só Jesus de Nazaré é capaz de operar. Assim como, com uma frase, ele sarou o leproso, Jesus insuflou paz em meus pulmões e a certeza de que nada, absolutamente nada, está alheio aos seus olhos e ao seu coração. E de que ele não está de ouvidos fechados ao clamor dos seus filhos, nem de costas para os fatos que há na terra.

Ele é Emanuel, Deus conosco. Justo, amoroso, compassivo e bom.

Meu irmão, minha irmã, talvez você esteja com muita raiva em seu coração neste momento. Eu não te condeno, acredite, pois passei por isso e te entendo. Pessoas também me feriram. Situações também me abateram. A humanidade também me decepcionou. Mas, olha, deixa eu te dizer uma coisa, de igual para igual: Deus pode mudar isso. Como se irar e não pecar? Indo aos pés do Cordeiro, em pranto, confissão, humilhação e verdade, clamando e se entregando. Atire-se, com autenticidade. Não negue o que pesa em seu coração. E confie na ação sobrenatural de Deus, a única capaz de fazer com que a sua ira não atravesse o limite e triunfe, hedionda, como a obra da carne que ela é.

Cristo assassinou aquilo que assassinou George Floyd. Ele fez isso no Calvário, quando consumou tudo em si. Que os meus e os seus olhos estejam voltados menos para a barbárie e o egoísmo humanos e mais para a cruz do Gólgota, menos para o desdém pela vida alheia e mais para o amor que tanto amou a vida alheia que entregou o próprio Filho em sacrifício vivo. Meu irmão, minha irmã, eu e você não valemos mais do que aqueles policiais que fizeram mal a George nem que aquelas pessoas que nos fizeram mal. Somos igualmente depravados, egoístas, egocêntricos, vaidosos, raivosos. Mas, se Cristo vive em nós, podemos ser diferentes. Não pela força do nosso braço, mas pela extraordinária graça que esvazia a nossa raiva e nos conforma à natureza do manso Cordeiro.

E, quando isso acontece, após levantarmos da poça de lágrimas e nos deitarmos na cama, conseguimos dizer, antes que o sono da paz nos embale pela noite:

– Pai, perdoa, pois eles não sabem o que fazem.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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