Posts com Tag ‘Glória’

O Brasil inteiro está comentando a saída de Sergio Moro do governo e a repercussão das questões entre o ex-ministro e o presidente Jair Bolsonaro. Todos têm certezas, todos têm opiniões, todos correram para as redes sociais a fim de falar sobre o assunto, dizer o que pensam e criticar quem discorda. Se você me acompanha há algum tempo aqui no blog APENAS, sabe que não uso este espaço para falar de política – e assim pretendo continuar. Portanto, esta NÃO é uma reflexão sobre política, mas sobre o posicionamento dos cristãos diante dessa crise.

Por quê? Porque algo que percebi em 99,99% dos comentários de irmãos e irmãs em Cristo sobre o assunto foi a falta de um posicionamento cristão sobre o assunto. Muitas opiniões, pouca Bíblia.

Por isso, decidi dar a minha contribuição. E, pela minha visão, o que devemos fazer, neste momento, como brasileiros e como cristãos, é:

1. Oremos sem cessar.
2. Não devolvamos mal com mal.
3. Cuidemos para que toda palavra que sair de nossa boca seja temperada e só promova a edificação.
4. Não vivamos brigando.
5. Amemos nossos inimigos.
6. Sejamos um, como Cristo e o Pai são um.
7. Intercedamos pelos nossos governantes, para que tenhamos paz.
8. Exerçamos o domínio próprio.
9. Sejamos bem-aventurados pacificadores.
10. Sejamos humildes em nossas opiniões.
11. Tenhamos fome e sede de justiça.
12. Instruamos com mansidão e paciência aqueles que se opõem.
13. Não nos apressemos para falar.
14. Façamos ao outro o que gostaríamos que ele fizesse a nós.
15. Saiba que o Reino de Cristo não é deste mundo.
16. Tenha bom ânimo, apesar das aflições.
17. Lembre que nossa leve e momentânea tribulação produzirá para nós um peso eterno de glória.
18. Em tudo dê graças.
19. Conscientize-se de que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.
20. Jamais esqueça que Cristo está com você todos os dias, até a consumação dos séculos.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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A Bíblia deixa indubitavelmente claro que nada acontece no mundo à parte da soberania de Deus. O Senhor é o dono do mundo e ele administra com atenção e todo poder aquilo que lhe pertence. Nada ocorre sem sua expressa permissão e entender essa realidade nos leva a algumas conclusões importantes, em uma época em que o mundo enfrenta a assustadora pandemia de coronavírus.

Se Deus domina tudo e desgraças acontecem, naturalmente ocorrem debaixo da permissão dele. Mas, como conciliar que o Senhor permite uma pandemia que tira a vida de milhares de pessoas pelo planeta com o fato de que ele é bondoso, amoroso, compassivo, cuidador e benigno?

Uma conclusão seria: na verdade, Deus não é soberano e o mundo corre à revelia de seu controle. Essa é uma heresia chamada teísmo aberto (ou teologia relacional, em sua versão brasileira). O problema é que esse pensamento é refutado por todo o relato bíblico, que mostra um Deus que é Senhor absoluto da História.

Outra conclusão seria que o Criador, afinal, não é tão bom assim. Porém, acreditar nisso seria jogar fora as Sagradas Escrituras, que não deixam margem de dúvida sobre a infinita bondade e misericórdia do Deus que é amor.

A terceira conclusão possível é que há na desgraça um propósito divino mais elevado e que ainda não conseguimos vislumbrar. É o que chamo de “bendita desgraça”, isto é, Deus permite um mal com vistas a um bem maior. Acredito que essa é a resposta.

O exemplo que costumo dar para explicar essa realidade é o de uma injeção: qual de nós gosta de tomar? Ainda assim, tomamos. Por quê? Porque somos masoquistas? Não. Porque sabemos que, para evitar um mal maior, é melhor nos submetermos à dor da agulhada.

Procurei mostrar essa realidade em meu livro O fim do sofrimento (Mundo Cristão). Frequentemente, Deus faz isso. Lembra-se do espinho na carne de Paulo? É interessante que o apóstolo explica que Deus decidiu afligi-lo com aquele “espinho” a fim de que ele não se tornasse arrogante pela grandeza das revelações que recebera. Ou seja, um mal muitas vezes é a caneta que Deus usa para escrever a história do bem maior. Sei que isso pode soar meio estranho, mas, à luz da onisciência divina, Deus sabe que aquilo que nos parece absurdo muitas vezes vai ao encontro de uma lógica superior majestosa e inalcançável pela limitada mente humana.

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Exemplos bíblicos não faltam: o Dilúvio, a confusão das línguas em Babel, o exílio na Babilônia, a dominação romana, as chagas e perdas de Jó, as dores de Oseias, os constantes sofrimentos de Israel sob jugo de povos vizinhos, a escravidão no Egito, a cruz de Cristo – o fenômeno se repete: males aparentes que, no grande esquema das coisas, contribuem para proveitos muito mais elevados e importantes.

Tenha uma certeza: o coronavírus não é maior que o Criador dos buracos negros, de Andrômeda, da Ursa Maior, dos quasares e do top quark. Esse mesmo Deus que tudo criou pelo poder de sua palavra não abandonou o mundo ao léu, como uma carruagem desembestada, mas mantém as rédeas bem seguras em suas mãos.

O que ele deseja ao permitir essa pandemia? Talvez, mais contrição. Talvez, mais arrependimento. Talvez, mais busca de sua face. Não temos como saber. Mas podemos ter a certeza e a confiança de que ele segue na direção dos fatos da vida.

De uma coisa eu sei, com absoluta e bíblica certeza: aconteça o que acontecer, todas as coisas cooperarão para o bem daqueles que amam a Deus. E mais: todas as coisas culminarão na glória daquele que amou tanto o mundo que nos deu seu Filho único, a fim de que, com coronavírus ou sem coronavírus, tivéssemos a vida eterna.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Nós temos o hábito de supervalorizar nossos sonhos. Se um pregador quer empolgar as pessoas, basta fazer uma preleção em que diga coisas como “Deus tem grandes sonhos para sua vida” ou “Sonhe os sonhos de Deus e eles se realizarão” e o auditório irá ao delírio. Confesso que tenho sérios problemas com esse tipo de mensagem, que põe o foco nos “meus sonhos” e, em especial, quando os mistura com supostos “sonhos de Deus para minha vida”. E isso por duas razões principais.

Primeiro, “sonho de Deus” é um conceito antibíblico. Quando dizemos que temos um sonho, isso significa que temos um desejo no coração que esperamos que se realize, apesar de não haver nenhuma certeza de que ele ocorrerá. Há o desejo; não há a garantia. Nesse sentido, no sonho só cabem probabilidades.

Logo, se dizemos que Deus tem um sonho, isso o esvazia de toda onisciência e onipotência. O deus que sonha não tem certeza do futuro, mas transita no campo da expectativa. O deus que sonha não é Deus, pois não tem segurança de nada, não é soberano sobre o que vai acontecer, apenas cruza os dedos e fica na torcida. O deus que sonha é um deus sem glória. O Deus da Bíblia, por sua vez, é o Deus que tudo pode e cujos planos não podem ser frustrados (Jó 42.2).

Portanto, não, Deus não tem sonhos, tem linhas de ação. Ele já sabe o que fará e nada nem ninguém pode impedir.

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Portanto, além de a expressão “Sonhe os sonhos de Deus” ser antibíblica, ela esvazia Deus de seu poder, o destitui de seu trono e faz dele alguém que desconhece o futuro e tem a mesma capacidade de influenciá-lo que nós, seres criados. O deus cujos sonhos preciso sonhar é um ídolo, um bezerro de ouro.

O segundo motivo pelo qual não gosto de enfatizar meus sonhos é que sonhos são objetivos, metas, destinos, linhas de chegada. Se supervalorizo o sonho, isto é, aquilo que espero que aconteça lá na frente, deixo de valorizar tudo o que posso viver no decorrer da jornada. Nós não vivemos apenas para “chegar lá”, vivemos para experimentar a soma de todos os instantes que compõem o trajeto até atingirmos o alvo.

Ficar infeliz porque nossos sonhos não se realizaram é deixar de desfrutar da paisagem grandiosa da escalada só porque ainda não chegamos ao cume da montanha. Mas… o cume não é tudo! Cada etapa vencida é uma vitória, um deleite, uma gota de felicidade.

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Se o sonho é ter um filho, não despreze as alegrias dos nove meses de gravidez. Se o sonho é ter o emprego, não despreze o aprendizado do processo de consegui-lo. Se o sonho é o casamento, não despreze tudo de bom que a solteirice proporciona antes de subir ao altar. Em suma: pare de dar tanta ênfase ao sonho e passe a valorizar a jornada que o leva até o sonho.

Deus não tem sonhos, ele tem planos que se cumprirão e nada nem ninguém pode impedir. Já eu e você temos muitos sonhos, pois não conhecemos o futuro, e não há mal algum em tê-los. É saudável ter objetivos e desejar “chegar lá”. Nosso erro é achar que a alegria e o propósito da vida estão em ver os sonhos realizados. Nada disso. A felicidade está na soma de todos os pequenos e aparentemente insignificantes momentos que, juntos, nos levam até a realização, ou não, dos nossos sonhos.

Afinal, essa soma de momentinhos tristes e felizes, vitórias e derrotas, lágrimas e sorrisos é aquilo que compõe este presente tão maravilhoso que Deus nos deu, chamado… vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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Tudo começou dia 8 de janeiro, uma terça-feira. O primeiro sintoma foi uma moleza grande, graças à febre que chegou no início da noite. Na quarta, minha garganta já explodia de inflamação e dor. Fiquei preocupado, pois na quinta-feira minha mãe chegaria de volta da Espanha, onde havia ficado por seis meses, e eu queria estar bem para recebê-la. Por isso, logo que acordei no dia 10, com os mesmos sintomas, procurei cedo o otorrino para ser examinado. Com muita fraqueza e dores, fui à consulta e recebi o diagnóstico de uma virose, com indicação de gargarejo e paciência para esperar o organismo debelar o vírus. Porém, mais coisa estava por vir.

Fui ao aeroporto receber minha mãe com esforço, a voz já transformada num som sibilado e sem volume. Naquela noite, a garganta estava tão inflamada que simplesmente não consegui pregar o olho, uma vez que cada engolida de saliva causava uma pontada aguda em cada lado da garganta. Noite em claro. Minhas olheiras perenes se tornaram bolsas caudalosas sob os olhos.

O tempo passou e nada parecia melhorar. A dor de garganta persistia, o estado febril abatia meu ânimo e, para piorar, veio a tosse. Passei dos gargarejos para um corticoide e, dele, para um antibiótico. Escrevo este texto no fim da madrugada do dia 16 de janeiro, exausto após uma noite inteira acordado em decorrência de uma tosse persistente que já faz meu peito doer de tanto sacudir e contrair. Sinto-me sonolento, indisposto, cansado e fisicamente fraco, abatido e, francamente, mal.

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Em nossos dias, quando cristãos vão a público falar de doenças, em geral é para dar testemunhos de cura. Não é o que vim fazer aqui. Ainda não estou curado (e, por favor, não venha com Isaías 53, um pouco de estudo bíblico sério vai te mostrar que eu “tomar posse da cura que já é minha” não me fará ser curado milagrosa e instantaneamente. Mas isso é papo para outro post). Fato é que minha intenção neste texto não é tratar da cura que ainda não veio, mas da minha fraqueza em meio a isto tudo.

Minha mãe comentou recentemente que, desde que chegou ao Brasil, pouco me viu sorrir. Eu nem tinha percebido. Mas o fato é que é difícil sorrir em meio a dor, cansaço, abatimento, sono, fraqueza. E, em meio a esse mal-estar generalizado, lembro das palavras de Paulo de Tarso, após ter recebido um espinho na carne para combater sua arrogância, ter orado três vezes para se ver livre daquele sofrimento e ver seu pedido ser sistematicamente negado. É quando ele diz: “Em três ocasiões, supliquei ao Senhor que o removesse, mas ele disse: ‘Minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza’. Portanto, agora fico feliz de me orgulhar de minhas fraquezas, para que o poder de Deus opere por meu intermédio. […] Pois, quando sou fraco, então é que sou forte” (2Co 12.8-10).

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No estado de falta de ânimo e disposição em que estou, consigo enxergar com cores bem mais nítidas as palavras do Senhor. Minha fraqueza me põe em um estado de submissão ao que vier pela frente. Desde que comecei a escrever este texto, após mais uma noite em claro devido à tosse forte, já cochilei umas cinco vezes. Parece que o sono é bem mais forte que eu. Aliás, qualquer coisa parece ser mais forte que eu neste momento. O mau humor. A tosse. A dor. Tudo. Sim, minha fraqueza contribui para me deixar completamente vulnerável e sem forças para reagir. E penso que é exatamente o que Deus quer em momentos como este.

Seu poder opera melhor na fraqueza porque, quando estou fraco, abaixo as armas do ego, solto as rédeas da autossuficiência, perco as energias para tentar construir um caminho segundo minha tola vontade. Minha fraqueza me submete. Me humilha. Perco a vontade de falar e torno-me um ouvinte melhor. Minha entrega se dá com menos resistência e me vejo como menos dono da minha vida. Minha fraqueza me revela quem eu sou e me lembra de que não passo de poeira cósmica totalmente dependente do fôlego de vida do Criador.

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E aí entra em cena o poder. Dele, não meu. Em meio à minha fraqueza, ele se manifesta plenamente como é, fazendo o que deseja fazer, lançando mão de sua prerrogativa de Senhor para pintar-me com as cores que quiser. Sem resistência. Sem oposição. Sem “mas” nem “porém”, pois falta disposição.

Deus, faze. Tua é a glória, realiza a tua vontade. Manifesta o teu poder.

Estou fraco. Ele é forte. Eu me submeto e ele age. No entanto, há algo importante a ser lembrado: ele é Pai. Pai nosso. E ele é amor. O Amor. Isso faz com que sua força não seja totalitária, impositiva ou destrutiva; é, antes, uma força compartilhada e edificante. Ele usa minha submissão, em fraqueza, para manifestar sua graça, em amor. Quando sou fraco, então é que sou forte porque ele usa meu desarmamento para dar-me por herança filial o direito de usar sua força. E torno-me administrador daquilo que ele me delega. Não tenho espada nem escudo, pois não estou com forças para carregá-los, mas tenho a força do Senhor dos Exércitos, que carrega o mundo para mim. Sou fraco, ele é forte; estou fraco, ele me concede sua força.

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Meu irmão, minha irmã, você está se sentindo fraco? Cansado? Abatido? Dá vontade de desistir? Entregar os pontos? Chegou ao limite? Que bom. Não, isso não é mau como parece. É oportunidade. Deus deixou a fraqueza vir para ensinar-lhe submissão em amor. Então… submeta-se. Abra mão de tantas opiniões e certezas, de tantos arroubos e petulância e desfrute deste momento de cansaço, abatimento, sono e apatia. Embora não tenha essa aparência, seu abatimento foi permitido pela graça. E onde há graça, há Deus. E onde há Deus, tudo é bom, perfeito, bonito e colorido.

Como você tem reagido em meio à sua fraqueza? Com reclamações, exigências e confrontos com Deus? Será que você não tem se visto como um injustiçado, afinal, “você é fiel e não é correto que Deus permita você passar por este vale”? Calma, Jó, não é assim que a banda toca. Quão mais justo você se enxerga, mais precisa se ajustar à justiça divina. Quanto mais alvo de injustiças você se sente, mais o seu Pai precisa mostrar-lhe quem você é. Para melhorá-lo, por amor, e ajustá-lo à semelhança do Cristo ressurreto.

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A cruz foi a fraqueza do Cordeiro, seu lugar de abatimento, tristeza e desânimo. Mas o sepulcro vazio foi a manifestação da força do Criador. Desejo a você o mesmo: que em meio à sua cruz, Deus manifeste a sua ressurreição. E, então, submetido ao poder divino, você ouvirá do Mestre: “Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso”.

Nesse momento, com um sorriso finalmente no rosto, você poderá dizer, em resposta: “Ainda que a figueira não floresça e não haja frutos nas videiras, ainda que a colheita de azeitonas não dê em nada e os campos fiquem vazios e improdutivos, ainda que os rebanhos morram nos campos e os currais fiquem vazios, mesmo assim me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus de minha salvação! O Senhor Soberano é minha força! Ele torna meus pés firmes como os da corça, para que eu possa andar em lugares altos”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

cochoA jornada daquele homem começou de modo nada agradável.

Esqueça o ambiente bonitinho e angelical que você costuma ver nos presépios ou nos filmes sobre o Natal. Você já visitou o estábulo de um hotel-fazenda? Já viu como é o local onde os cavalos e as vacas ficam abrigados? Se já teve essa experiência, puxe pela memória e tente se lembrar dos cheiros, dos insetos, do que havia pelo chão. Agora você começa a ter uma percepção real de como foram os primeiros momentos de vida daquele bebê, o início de sua jornada na terra.

O ar que pela primeira vez entrou nos pulmões daquele recém-nascido foi o do interior de um estábulo. Sua maternidade não foi uma clínica limpinha, cheirosa e desinfetada, mas um ambiente insalubre que reunia uma mescla de odores de animais, de estrume e de urina. Quem sabe as moscas, que costumam infestar esses ambientes, tenham pousado nos bracinhos e no rosto do bebê, passeado por seus lábios, incomodado sua mãe. Carrapatos fatalmente andavam por ali. Talvez pulgas ou pombos, que muitas vezes se abrigam nas reentrâncias do teto.

O recém-nascido tampouco foi deitado num bercinho fofo e cheio de bichinhos de pelúcia e móbiles. Sua primeira cama foi um cocho, um comedouro, objeto rústico e sem glamour em que vacas, cavalos, jumentos, bodes e outros animais deixam saliva e muco nasal ao mastigar o alimento. Sim, o bebê não foi deitado em um berço de ouro e cetim, mas, provavelmente, ficou cercado de baba de animais. Acredite, não é o tipo de local em que você gostaria de deitar seu filhinho após o nascimento.

A jornada daquele menino prosseguiu. Perseguido pela maldade humana, ele teve de fugir para o distante Egito. Como terá sido a viagem, por centenas de quilômetros, para aquele menininho? Confortável? Pense em quando você viaja com seus filhos e eles, mesmo acomodados no conforto do ar condicionado do carro, com seus bancos macios, começam logo a perguntar, entediados: “Já estamos chegando? Falta muito? E agora, já estamos chegando?”. José e Maria levaram seu filhinho, ida e volta, por caminhos áridos no lombo de um animal. Dura, a jornada.

O tempo passou e o menino cresceu dentro da carpintaria de seu pai. Ali, aprendeu e se dedicou ao trabalho braçal, entre serragem, pó de madeira, pregos, cravos e farpas. Com dignidade, sim, mas numa vida que exigia esforço, suor e muitas horas de dedicação física e mental. Dureza.

cocho-2Adulto, sua jornada mudou radicalmente de rumo. Saiu do anonimato, expôs-se à sociedade, tornou-se alvo de desconfiança, calúnias e inveja. Sua vida consistia em percorrer longas distâncias, encontrando pessoas de todos os tipos, muitas delas hostis e que pagaram seu amor transbordante com ódio assassino. Também conviveu, por opção, com a escória da sociedade de então: prostitutas, leprosos, ladrões, hipócritas, corruptos. Não, aquele homem não viveu cercado pelos perfumados e bem-nascidos, paparicado pelos chiques e famosos; ele conviveu com os indesejáveis, os doentes, os imundos.

Você já conseguiu perceber como a jornada de vida daquele homem foi difícil? Foi árdua. Não houve moleza. Tampouco terminou de forma pomposa, luxuosa ou bonita: o inocente foi preso como um criminoso, ofendido, esbofeteado, humilhado, cuspido, xingado, caluniado, açoitado, torturado. Crucificado. Morto.

Sua jornada foi pedregosa, do estábulo à cruz.

Mas há um detalhe fundamental.

Repare no que dizem as Escrituras: “E agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.5). “Estêvão, cheio do Espírito Santo, levantou os olhos para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus” (At 7.55).“Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” (Lc 24.26).

Consegue identificar o que houve na jornada do Cristo antes do estábulo e depois da cruz?

Glória.

A vida não é fácil. Não é limpinha, desinfetada, impecável. Viver traz consigo a certeza de, em muitos momentos, ter de enfrentar dor, tristeza, decepção, luto, doença, rejeição, mágoa — a sujeira e a dificuldade da caminhada. Todos passaremos por isso. Você pode estar passando por isso neste momento.

Mas existe uma diferença entre quem enfrenta a jornada da vida com Cristo ou sem Cristo. Para quem está na jornada com Cristo existe esta certeza: depois das muitas e dolorosas dificuldades, o que está à sua espera é… glória.

Glória eterna.

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Este texto foi extraído de meu último livro, Na jornada com Cristo, publicado pela Editora Mundo Cristão.

Paz a todos vocês que estão em Cristo e um feliz Natal,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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humildade 1Deus é humilde. Prova disso é que Jesus se apresentou como “manso e humilde de coração” (Mt 11.29) e, portanto, deixou claro que a humildade é um atributo divino. Quando a humanidade se rebelou contra o Senhor, no Éden, automaticamente tornou-se opositora de tudo o que tem a ver com ele, o que inclui, naturalmente, a humildade. Foi quando nós, gente falha e errante, passamos para o lado oposto e nos tornamos soberbos, altivos, arrogantes. Começamos a odiar tudo o que é santo e, mortos em nossos delitos e pecados, acreditamos que nossos talentos, qualidades, cargos e títulos são mérito pessoal nosso e, portanto, que somos dignos de louvor, elogios, honrarias e bajulações. A grande questão é que a humildade continua sendo um atributo desejado por Deus para todo ser humano, o que faz com que vivamos um conflito constante: nascemos  soberbos, gostamos de ser exaltados, mas precisamos ser humildes. E aí, o que fazer?

A única forma de conseguirmos essa transformação é pela renovação da mente (Rm 12.2), que vem mediante a entrega pessoal a Jesus e a consequente aproximação de Deus, a fim de que tenhamos em nós a natureza de Cristo. Pois só sendo como ele é conseguiremos viver a verdadeira humildade. 

humildade 2Só é humilde quem compreende que “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Esse é o ponto de partida. Quando você entende pelo poder do Espírito que absolutamente tudo o que tem e é de bom não é mérito seu, mas é um presente de Deus, uma concessão do Criador, surge a compreensão de que não existe motivo para ser soberbo. Você é inteligente? Sua inteligência é um dom que Deus lhe deu. Você é talentoso? Seu talento é um dom que Deus lhe deu. Você é bonito? Sua beleza é um dom que Deus lhe deu. Você é culto? Sua cultura é um dom que Deus lhe deu. Você prega bem, canta de modo que encante as multidões, escreve que é uma beleza, é um excelente teólogo, vive recebendo elogios por suas palestras? Tudo isso é dom de Deus. O grande problema é que frequentemente nos esquecemos dessa realidade e passamos a acreditar que, sim, somos tudo o que falam de nós. A questão, meu irmão, minha irmã, é que, no dia em que começar a acreditar nisso, você terá assinado a sentença de morte da sua humildade. E, logo, de afastamento do Senhor. Viver em soberba e arrogância é viver em pecado. E isso é grave. 

Para você ter ideia de como a humildade é algo importante aos olhos de Deus, basta ver a enxurrada de passagens bíblicas que tratam do assunto, como: 

“Certamente, ele [Deus] escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes” (Pv 3.34); 

“Em vindo a soberba, sobrevém a desonra, mas com os humildes está a sabedoria” (Pv 11.2); 

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda. Melhor é ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos” (Pv 16.18-19); 

“A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra” (Pv 29.23);

“Melhor é ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos” (Pv 16.19); 

 “tu salvas o povo humilde, mas os olhos altivos, tu os abates” (Sl 18.27); 

“Bom e reto é o SENHOR, por isso, aponta o caminho aos pecadores. Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho” (Sl 25.8-9); 

“Desde os céus fizeste ouvir o teu juízo; tremeu a terra e se aquietou ao levantar-se Deus para julgar e salvar todos os humildes da terra” (Sl 76.8-9); 

“O SENHOR é excelso, contudo, atenta para os humildes; os soberbos, ele os conhece de longe” (Sl 138.6); 

“Porque o SENHOR se agrada do seu povo e de salvação adorna os humildes” (Sl 149.4); 

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.3); 

“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6); 

“Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes…” (1Pe 3.8); 

“… no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Co 5.5); 

“Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde; não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Rm 12.16).

À luz de todas essas passagens bíblicas, é inconcebível que um cristão não seja humilde. Mais ainda: fica claro que a falta de humildade é  pecado. Deus não tem parte com o soberbo, ele não suporta o arrogante e abomina a altivez. “Amem o Senhor, todos vocês que lhe são fiéis, pois o Senhor protege quem nele confia, mas castiga severamente o arrogante” (Sl 31.23). Se você é bem-sucedido em qualquer área de sua vida, se é excepcional em algo, se obteve fama e reconhecimento, se o seu nome se tornou conhecido… não cometa o erro de acreditar na mentira de que você é o tal. Pois não é. Você é apenas o portador de algo que lhe foi concedido por Deus – e que ele pode tirar de você se e quando quiser. 

Na jornada_ Capa em low resAo encarnar como um de nós, Jesus realizou o maior ato de humildade que alguém poderia. Para você visualizar uma pouquinho do que significou o Deus Criador encarnar na forma de servo, reproduzo um trecho sobre o nascimento de Cristo, de meu mais recente livro, Na jornada com Cristo (editora Mundo Cristão): “Esqueça o ambiente bonitinho e angelical que você costuma ver nos presépios ou nos filmes sobre o Natal. Você já visitou o estábulo de um hotel-fazenda? Já viu como é o local onde os cavalos e as vacas ficam abrigados? Se já teve essa experiência, puxe pela memória e tente se lembrar dos cheiros, dos insetos, do que havia pelo chão. Agora você começa a ter uma percepção real de como foram os primeiros momentos de vida daquele bebê, o início de sua jornada na terra. O ar que pela primeira vez entrou nos pulmões daquele recém-nascido foi o do interior de um estábulo. Sua maternidade não foi uma clínica limpinha, cheirosa e desinfetada, mas um ambiente insalubre que reunia uma mescla de odores de animais, de estrume e de urina. Quem sabe as moscas, que costumam infestar esses ambientes, tenham pousado nos bracinhos e no rosto do bebê, passeado por seus lábios, incomodado sua mãe. Carrapatos fatalmente andavam por ali. Talvez pulgas ou pombos, que muitas vezes se abrigam nas reentrâncias do teto. O recém-nascido tampouco foi deitado num bercinho fofo e cheio de bichinhos de pelúcia e móbiles. Sua primeira cama foi um cocho, um comedouro, objeto rústico e sem glamour em que vacas, cavalos, jumentos, bodes e outros animais deixam saliva e muco nasal ao mastigar o alimento. Sim, o bebê não foi deitado em um berço de ouro e cetim, mas, provavelmente, ficou cercado de baba de animais. Acredite, não é o tipo de local em que você gostaria de deitar seu filhinho após o nascimento” (pg.17-18)

humildade 3À luz dessa realidade enfrentada pelo nosso Senhor, dói meu coração ver cristãos arrogantes e soberbos. Dói muito. Pois confessam Cristo com os lábios mas não agem de acordo com sua confissão. São filhos de uma mãe chamada vaidade e de um pai chamado orgulho, que, juntos, geram pecado. Portanto, tais cristãos são mais filhos do pecado que filhos de Deus. Se você detectar traços de altivez neles, encoraje-os à humildade. Se persistirem no pecado, não os siga, não os imite, não divulgue o que falam, tampouco tenha parte com eles. Pois a falta de humildade é venenosa e pode vir a lhe contaminar. Muito cuidado. 

Que toda realização sua seja motivo de glórias para Deus, pois ele é quem a permitiu. Que os seus atributos, dons, talentos, qualidades, cargos, posições, títulos, diplomas, adjetivos e tudo o mais que o fazem se destacar sejam razão para você erguer o coração a Cristo, abrir os lábios para lhe atribuir a honra, e reconhecer  diante de todos que só a Deus pertence a glória. 

Seja humilde. Esforce-se para isso. Ao ser elogiado, atribua o mérito a quem tem mérito e reconheça-se como instrumento, como vaso de barro que contém um tesouro divino. Ao confessar que os louros são todos do Senhor, por meio de suas palavras e atitudes, estará dando um passo atrás na soberba e à frente na humildade. E, assim, creia, você estará muito mais perto de Deus. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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beleza 1Escrevo este texto sentado em um banco do lado de fora da sala em que minha filha tem sua aulinha de balé. Meus olhos se alternam entre os gestos bonitos de pequena e a tela do celular, por onde acompanho o noticiário do dia. Quando ergo os olhos, vejo a pequenina dar saltos elegantes e fazer passos encantadores. Quando baixo os olhos, leio sobre a lama que toma conta da presidência da República, do Congresso, do país. Ao erguer os olhos, consigo sorrir. Ao baixar os olhos, sinto vontade de chorar. Olhos para cima; vejo beleza, graciosidade, esperança. Olhos para baixo; vejo o horror, a imundície, a corrupção humana. Percebo que, dependendo de para onde olho, vejo a graça, o amor e a ação de Deus nesta terra ou vejo a mentira, o cinismo e a ação do pecado neste mundo. Felizmente, posso alternar a direção e o foco de meus olhos. E você também pode. 

Não é segredo para ninguém que o Brasil vive dias calamitosos. Nunca, em meus 44 anos de vida, vi tanta imundice nas estâncias do poder. Jamais testemunhei tanta desfaçatez, mentira e manipulação. Enoja qualquer cidadão de bem ver o que o Brasil tem vivido, com governantes sórdidos, com um vocabulário desbocado que revela do que está cheio seu coração, sem caráter nem preocupação com o próximo. É inédito o que vejo no noticiário: um punhado de criminosos que ocupam cargos de liderança em nosso país, graças a promessas mentirosas feitas em época eleitoral e a políticas populistas e assistencialistas, destruírem a ética, ignorar o que é bom, praticar o mal tão descaradamente. Ao olhar para as notícias na tela do meu celular, sinto vontade de me ajoelhar e chorar, clamando a Deus por misericórdia sobre a nossa nação. 

beleza 3Mas, então… meus olhos se voltam para cima e o que vejo me enche de esperança. Sim, ainda há beleza no mundo. Ainda há poesia, graça, luz, futuro. Olho para minha herdeira e sei que nela há potencial para uma geração ética, amorosa, correta, que não venderá tudo o que se liga à boa moral pela ganância e a ânsia por poder e dinheiro. É ao olhar para cima que enxugo as lágrimas e sorrio, lembrando que o Senhor ainda está no controle. E sempre estará. Vivemos dias horríveis no Brasil. Mas temos uma opção: afundar nossas esperanças com base nas péssimas notícias do dia ou avivar nossas energias e nosso potencial ao erguer os olhos e apreciar o que há à frente. Fiz minha opção. Dou uma espiada no noticiário do dia, para manter-me a par das coisas. Mas, em pouco tempo, desligo o celular e elevo meus olhos para o alto, de onde sempre vem o socorro. 

“Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb 12.1).

beleza 2Concluo que é ao erguer os olhos e os depositar na beleza, no amor e na graça que serei fortalecido para viver mais um dia com esperança e paz. Não, me recuso a ser vencido pela miséria humana, pelo pecado, pelo horror. Jesus já venceu tudo isso na cruz. Por isso, tenho certeza de que, se mantiver meus olhos direcionados para o alto, sem me esquecer de quem é o Senhor do universo, o Autor da vida, o Controlador de tudo, viverei em paz, por saber que o Deus que pisa no mal e promete um futuro sem lágrimas, nem dor, nem sofrimento… segue sendo Deus. 

Meu irmão, minha irmã, você tem sofrido com as notícias do dia, pelo peso da lama que soterra nosso país? Então fica uma sugestão. Desligue um pouco o telejornal, olhe para os lírios do campo e para as aves do céu e lembre-se de que Aquele em quem devemos depositar confiança inabalável permanece sendo o Senhor da História. Ele abate o soberbo. Ele dá graça ao símplice. Ele é bom. Ele é verdade e justiça. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará. Desfrute da beleza da vida, reflexo da beleza de Cristo, e, assim, conseguirá viver com os olhos fixos no autor e consumador da fé, passando por cima da podridão deste mundo, rumo ao alvo da glória celestial.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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otica 1Uma das grandes lições que meu pai me ensinou é que experiências de vida são muito mais valiosas do que bens materiais. Por isso, na minha infância os presentes que ganhava dele eram bem chinfrins, mas, em compensação, todas as férias eram inesquecíveis: viajávamos de carro a lugares como Pantanal, Nordeste, Amazônia, Uruguai, Argentina, Bolívia. Foram muitas aventuras extraordinárias. Cresci e carreguei esse aprendizado comigo: bens passam, mas experiências permanecem. Por isso, alguns anos atrás, em vez de dar um objeto qualquer como presente de aniversário a minha esposa, dei-lhe um voo de helicóptero sobre a cidade do Rio de Janeiro. O dia estava lindo e, de fato, foi um passeio marcante. Algo em especial chamou minha atenção durante o voo: era impressionante como ver de outro ponto de vista os mesmos lugares que sempre frequentei me permitia ver as ruas, os bairros, as praias e tudo mais por uma ótica totalmente diferente. Aquele voo me fez entender com uma clareza inédita uma importante realidade da vida: tudo o que nos acontece pode ser analisado de ângulos diferentes e, dependendo de qual ponto de vista escolhemos, teremos percepções completamente distintas acerca das mesmas coisas.
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Para ficar mais claro o que quero dizer, tomemos por exemplo este relato bíblico: Naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes Jesus: Passemos para a outra margem. E eles, despedindo a multidão, o levaram assim como estava, no barco; e outros barcos o seguiam. Ora, levantou-se grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a encher-se de água. E Jesus estava na popa, dormindo sobre o travesseiro; eles o despertaram e lhe disseram: Mestre, não te importa que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança. Então, lhes disse: Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé? E eles, possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.35-41).
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ponto de vista 2Pare para pensar como as pessoas que estavam no barco com Jesus enxergaram esse episódio e como as que estavam nos “outros barcos [que] o seguiam” perceberam o ocorrido. Para todos, o fenômeno foi um só: eles saíram de uma margem, veio um grande temporal de vento, com altas ondas, de repente o tempo clareou e logo aportaram na outra margem. Mas as conclusões e as lições foram enormemente distintas: para  quem estava nos “outros barcos”, foi só isto: um fenômeno natural, climático, que se iniciou e terminou pelas forças da natureza. Mas, para quem estava no barco com Cristo, ficou claríssimo que houve uma intervenção sobrenatural de Deus por meio de Jesus. Assim, dependendo de em que barco se estava, a percepção da relação entre Jesus e o acontecido foi totalmente  diferente. Para uns, forças da natureza. Para outros, um milagre que comprovava a divindade de Cristo. Conclusões opostas, frutos de pontos de vista opostos.
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otica 2Pensemos agora sobre a sua vida. Quando chegam a tragédia, a desgraça, a dor e o sofrimento, como você os enxerga? Será que consegue perceber os fatos ruins da vida como parte da escola de Deus, eventos que têm a finalidade de lapidar o diamante bruto que você é e transformá-lo em joia preciosa? De que perspectiva você vê tudo de ruim que se abate sobre você ou aqueles que ama? Com a mesma murmuração do povo de Israel ao sair do Egito ou como Jó, que, ao perder todos os filhos, mortos num catastrófico desabamento, adorou o Senhor e foi capaz de dizer: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1.21)?
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Será que você consegue ver o Deus que é puro amor e misericórdia no controle de tudo, mesmo quando chegam as lágrimas e o abatimento? Qual tragédia você está vivendo? Será que é capaz de enxergá-la como parte do grande propósito divino ou como o abandono de um deus mau e raivoso? O ponto de vista que você decidir assumir fará toda a diferença – na sua forma de proceder, nas lições que extrairá, nas palavras que dirá, na solidez de seu relacionamento com o Criador.
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otica 3Muitos, quando ouvem que as tragédias fazem parte da grande equação de Deus rumo a um futuro que ele deseja construir a partir da soma de eventos da vida, se recusam firmemente a reconhecer esse fato. Deus é bom e as desgraças só podem ser atos do Diabo ou da maldade do mundo, dizem. Eu sei que é difícil compreender, entenda que eu sei disso. Por isso, nas horas em que parece que não dá para encaixar sofrimento no mesmo espaço que um Deus bom e amoroso, temos de olhar para a Bíblia e não para o que nós “achamos”. Lembre-se de José, que tinha tudo e, de repente, é traído pelos irmãos, passa anos como escravo, é caluniado, vira presidiário… come o pão que o Diabo amassou… Peraí… o Diabo? Veja a percepção que José tem após atravessar as desgraças todas, em seu discurso aos irmãos traidores: “Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus” (Gn 45.8). Uau, que homem de Deus era José. Ele compreendia com clareza que seu sofrimento fizera parte de um plano maior do soberano Criador, tal qual a dolorosa picada de uma injeção que, mesmo que machuque, tem por objetivo nos proteger de uma doença muito pior.
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Pense na cruz de Cristo, um sofrimento sem igual. Foi o Diabo que o levou à cruz? João 3.16 diz que o sofrimento de Jesus foi porque “Deus amou o mundo”. Pense no cativeiro babilônico de Judá e na conquista de Israel pela Assíria, foi o Diabo quem os causou ou foi tudo parte do plano didático do Deus que “disciplina todos os que ama”? Se você conhece a história bíblica, sabe a resposta.
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otica 4Meu irmão, minha irmã, o plano inicial de Deus não era o sofrimento da humanidade. Mas o sofrimento entrou, de penetra, como consequência do pecado. Está lá em Gênesis 3, basta ir à sua Bíblia ler. A partir daí, somos obrigados a conviver com ele, até que cheguem novos céus e nova terra. A questão toda é: é nesse meio-tempo? E no período em que estamos no mundo, sabendo que “no mundo tereis aflições”? Vamos olhar pelo ponto de vista humano, amaldiçoar a Deus e pedir a morte ou vamos olhar nossa dor pelos olhos divinos e, assim, adoraremos ao Senhor, a despeito das circunstâncias?
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Quando estivermos no cárcere, olhemos pelo ponto de vista de Deus e cantemos louvores. Quando estivermos na doença, olhemos pelo ponto de vista de Deus e o adoremos. Quando estivermos na desgraça, olhemos pelo ponto de vista de Deus e lhe rendamos honra. Deus é Deus e Deus é bom. A dor e o sofrimento não mudam esse fato. Mas tenha uma certeza: em meio às nossas angústias e aflições, jamais estamos sós. Pois Jesus prometeu que estaria conosco, todos os dias, até a consumação do século.
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cruzA sua lágrima não é derramada só por você. Saiba que há um Deus que decidiu enxergar a vida pelo meu e pelo seu pontos de vista. Por isso, ele se fez como um de nós. Viveu, suou, chorou, sofreu. Sofreu! Sofreu o pior dos sofrimentos! Mas ressuscitou. E hoje habita em glória, com lugar preparado  para nos receber. Você está sofrendo, meu irmão, minha irmã? Lembre-se: “A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2Co 4.17). Sim, Deus tem preparado para você uma glória eterna, que pesa mais do que todos os seus sofrimentos. Glória eterna. Paz. Felicidade. Creia: o fim do sofrimento virá. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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Successful-PeopleTodo mundo quer ter sucesso. Isso é um problema? De modo algum, é um desejo lícito. Almejar ser bem-sucedido, aliás, é parte da natureza humana, ninguém faz qualquer coisa para que dê errado e fracasse. Então, se você busca o sucesso, saiba que não está pecando nem cometendo nenhum mal. Só tem um enorme porém: temos de entender exatamente o que significa “sucesso” para um cristão, isto é, o que a Bíblia define ser um cristão bem-sucedido. Será que sucesso para um filho de Deus é a mesma coisa que para um não cristão? Quando fui buscar uma imagem para ilustrar este post fiz um acordo comigo mesmo: eu escreveria sucesso no Google e a primeira foto que surgisse nos resultados da pesquisa eu utilizaria. Pois a primeira fotografia que apareceu foi essa aí: um  homem no topo de uma montanha, braços erguidos, celebrando uma conquista do ego, algo obtido por seus próprios esforços, um feito que possivelmente lhe trará fama e fortuna. Outras imagens semelhantes surgiram no topo da página e serão as que utilizarei ao longo deste texto. Para pensarmos sobre o conceito cristão de sucesso, vou iniciar com um exemplo pessoal, que deflagrou esta reflexão.

Tenho refletido muito sobre essa questão de “sucesso” devido a algo que ocorreu semana passada: meu novo livro, Perdão Total – Um livro para quem não se perdoa e para quem não consegue perdoar esgotou a primeira edição, de 5 mil exemplares, apenas 17 dias após o lançamento oficial e menos de 30 dias após o lançamento real. Para que você entenda, no meio literário isso é um fato raro para obras de um autor desconhecido como eu, que não tem fama ou celebridade. Pois bem, quando a notícia foi divulgada, comecei a ouvir muitas vezes a palavra “sucesso”. No meu perfil no facebook (facebook.com/mauriciozagariescritor), irmãos e irmãs carinhosamente me deixaram recados celebrando esse “sucesso”. Um programa de rádio quis me entrevistar “devido ao sucesso do livro”, como o apresentador mesmo disse. Amigos que me encontraram pessoalmente gentilmente me parabenizaram pelo “sucesso”. Então essa coisa de “sucesso” começou a pipocar diante de mim nesses últimos dias e, naturalmente, passei a refletir sobre o assunto.

sucessoA pergunta é: a boa vendagem do meu livro em tão pouco tempo representa sucesso? A conclusão a que cheguei é: não. Pois entendo que sucesso depende da sua motivação e do seu objetivo ao realizar algo. Fui ao dicionário olhar e vi que a definição de “sucesso” é: “Resultado de ação ou empreendimento”. Ou seja, se um escritor lança um livro com a meta de ganhar o máximo de dinheiro que puder, tornar-se mais conhecido, receber elogios que alimentem sua vaidade e outros benefícios mundanos como esses, vender 5 mil exemplares em menos de um mês pode ser, sim, considerado sucesso, pois o resultado desse empreendimento atendeu ao desejo do coração do escritor. Mas, se a motivação dele ao escrever um livro é que os leitores sejam transformados, recebam alívio para seus fardos, entendam melhor o evangelho, alcancem paz de espírito e vivam de modo mais conformado a Cristo, vender muitos ou poucos exemplares não fará a menor diferença: o que realmente determinará o seu sucesso é se o conteúdo da obra, a sua mensagem, alcançou e transformou vidas – independentemente da quantidade de exemplares vendidos. Logo, segundo esse pensamento só poderei me considerar um autor de sucesso se eu vier a ouvir relatos de pessoas que conseguiram perdoar ou se perdoar por causa do que leram no Perdão Total. Aí, sim, minha oração será “Obrigado, Senhor, porque o livro foi um sucesso”.

Esse exemplo pessoal se aplica a tudo aquilo que realizamos. Permita-me te perguntar: por que você faz o que faz? Quais são as motivações do seu coração ao ir para o trabalho, ao estudar na escola, ao ir à igreja, ao pregar no púlpito, ao servir na obra de Deus, ao escrever em um blog, ao postar textos e fotos no facebook, ao pedir ao Senhor um(a) namorado(a), ao acordar pela manhã e viver mais um dia? Só ao responder com sinceridade essas perguntas você poderá determinar se é uma pessoa de sucesso ou não. Mais ainda: se somos cristãos, a nossa motivação sempre, sempre e sempre deve ser ajustada aos padrões bíblicos. Portanto, resultados positivos de empreendimentos que realizamos não farão de nós pessoas bem-sucedidas caso estejam em desacordo com a vontade de Deus. Permita-me dar alguns exemplos.

sucesso0O mundo estabelece como um dos principais fatores determinantes de sucesso o enriquecimento financeiro. Mas Jesus disse: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mt 6.19-20). Diante disso, se você estabelece como meta na vida ajuntar tesouros na terra, sem se preocupar em ajuntar tesouros no céu, por mais que se torne um bilionário você será um fracassado. Outro exemplo: a Bíblia estabelece numerosas vezes que o padrão cristão é não devolver mal com mal. “Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens” (Rm 12.17); “Evitai que alguém retribua a outrem mal por mal; pelo contrário, segui sempre o bem entre vós e para com todos” (1Ts 5.15); “Quanto àquele que paga o bem com o mal, não se apartará o mal da sua casa” (Pv 17.13). Assim, por mais que alguém se considere bem-sucedido por ter conseguido se vingar de uma pessoa que lhe fez mal, diante de Deus ele será um grande fracasso.

sucesso2Os exemplos seriam muitos. Mas acredito que podemos resumir tudo o que a Bíblia define como sucesso em um único versículo: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Assim, faça você o que fizer, se lucrou financeiramente, obteve fama, foi elogiado, recebeu aplausos ou o que for, mas não realizou seus empreendimentos tendo como finalidade primordial a glória de Deus… considere-se um enorme fracassado. Por outro lado, se você trabalha, estuda, produz, canta, prega, escreve, se casa, fatura, labuta na obra do Senhor ou faz qualquer outra coisa com a motivação de glorificar a Deus, então todas as suas conquistas serão estrondosos sucessos. E o que é glorificar a Deus? Em essência, é cumprir o grande mandamento: amá-lo sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Portanto, tudo o que você realiza por amor ao Pai celestial e por amor ao seu próximo representa glória para o Senhor e faz de você um sucesso total.

E nunca podemos nos esquecer de uma realidade suprema: qualquer sucesso que tenhamos não é nosso, é de Deus. Tiago foi no cerne dessa verdade: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Se o seu “sucesso” te envaidecer ou te fizer orgulhoso, soberbo ou altivo, você é o maior dos fracassados, pois está se vangloriando por algo que nem mesmo é mérito seu: é fruto da graça de Deus.

sucesso5Escrevo livros e posts deste blog para abençoar a sua vida e tentar ajudar de algum modo a conformá-lo mais à imagem de Cristo. E faço isso por amor a Deus e por amor a você. Se meus escritos alcançam essa meta, então pode me considerar um homem de sucesso, a despeito de quantos de meus livros forem vendidos e de quantos assinantes tiver este blog. Isso é o que vale para mim. E para você? O que você faz tem por motivação Deus e o próximo ou sua própria vaidade ou o amor por si mesmo, pela fama e a fortuna? Responda isso com toda sinceridade e você descobrirá se é bem-sucedido ou um fracassado. Ah, sim, e para terminar este texto, deixei por último uma imagem do que eu considero sucesso para uma pessoa – não segundo o Google ou o senso comum da sociedade, mas segundo a Bíblia sagrada. Compare esta última foto com as demais que ilustram este post e diga qual representa mais “sucesso” para você. A sua escolha vai dizer muito sobre os conceitos que norteiam a sua vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Mauricio Zágari

< Enquanto a segunda edição não chega da gráfica, o livro está disponível on-line na loja virtual da Saraiva: http://www.saraiva.com.br/perdao-total-8187731.html >

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Gostaria de convidar você hoje a imaginar duas situações:

Situação 1:

A irmã chega ao gabinete para pedir aconselhamento pastoral. Ela começa a derramar seu coração e a conversar com o pastor:
– Pastor, estou muito triste.
– Veja bem, amada, se a irmã observar os pontos TULIP, de Calvino, vai poder compreender melhor as razões de sua situação.
– Ahn?!
– Analisando a depravação total do homem, torna-se factível compreendemos os reflexos hamartiológicos que lhe afligem.
– Sei… não, pastor, na verdade… bem, é que estou muito deprimida, sabe?
– Minha irmã, quando Tomás de Aquino cristianizou Aristóteles, ele sistematizou, à luz da revelação específica de Deus, a metodologia científica. Destarte, ciência e fé coadunam numa unidade que tem seu auge nas cinco vias em que Aquino deu provas imanentes do transcendente.
– Ahn… pastor, eu… éééé… Na verdade, pastor, tem horas em que o sofrimento é tanto que minha fé é abalada.
– Imagina, minha irmã! Segundo o pensamento do movente não movido, associado à ideia dos graus de perfeição e à contingência dos seres, fica transparente que sua cosmovisão distorcida carece de fundamento.
– (…)
– Não faça essa cara, amada! Anselmo de Cantuária foi claro sobre isso em seu “Credo ut intellegam”.
– Sei… Na verdade, pastor, eu queria saber se o senhor podia me dar uma palavra de esperança, entende? Alguma palavra da Bíblia…
– Sem dúvida, minha irmã. Perceba: segundo as melhores teologias sistemáticas, no que tange à esperança escatológica, podemos ter a segurança de que, a despeito da crença assumida, seja amilenista, pré-milenista ou pós-milenista, dentro da cosmovisão cristã é certo que o reino de Deus (que encontra sua expressão no “já” e no “ainda não”), se fará pragmatismo em sua vida, irmã!
– Ahn… Tá, pastor… Bom, sabe, obrigada, eu vou ali na outra igreja conversar com o pastor de lá.
– Que isso, irmã, não faça isso! Segundo a eclesiologia, a…
– Deixa, pastor, deixa. Obrigada, viu?
– Imagina, amada! Sempre que precisar, estou ao seu dispor! E que o Totalmente Outro apontado por Karl Barth manifeste sua graça sobre a irmã!
– Amém… eu acho…

Situação 2:

A irmã chega ao gabinete para pedir aconselhamento pastoral. Ela começa a derramar seu coração e a conversar com o pastor:
– Pastor, estou muito triste.
– Que isso, irmã! A vitória é tua!
– Ahn?!
– Claro! Toma posse da tua bênção e segue nessa fé pra Canaã!
– Sei… não, pastor, na verdade… bem, é que estou muito deprimida, sabe?
– Que falta de fé é essa, minha irmã! Tá amarrado! Repreende essa seta! Se a irmã tiver fé do tamanho do grão de mostarda Deus abrirá as águas e o varão de branco vai trazer numa bandeja de prata a tua vitóóóória!
– Sei… não, pastor, na verdade… bem, é que estou muito deprimida, sabe?
– Xiiii… A irmã deve estar em pecado. Crente de verdade não tem depressão, isso é coisa do Inimigo. É falta de fé, é opressão! Isaías 53, irmã, Isaías 53! Toma posse! A irmã tá muito carnal! Vamos agendar umas sessões de libertação.
– Ahn… pastor, eu… éééé… Na verdade, pastor, tem horas em que o sofrimento é tanto que minha fé é abalada.
– Então feche os olhos e cante comigo: “Rompendo em fééééé, minha vida se revestirá do teu poder!!! Rompendo em fééééé!!!!”. Canta, irmã! Isso! E vai dando glória! Dá glória, irmã! Dá glória!!!
– (…)
– Irmã de pouca fé! Solta o cabo da nau! E navega com fé em Jesus! E dá glória, irmã, dá glória!
– Sei… Na verdade, pastor, eu queria saber se o senhor podia me dar uma palavra de esperança, entende? Alguma palavra da Bíblia…
– Claro, amada! Lembre-se que não cai uma folha da árvore se Deus não deixar!
– Ahn… Tá, pastor… Bom, sabe, obrigada, eu vou ali na outra igreja conversar com o pastor de lá.
– Que isso, irmã! Tá desviada? Vou ter de botar a irmã em disciplina! A irmã anda vendo filmes da Disney?! Que história é essa de outra igreja, lá só tem crente frio, não tem poder de Deus!
– Deixa, pastor, deixa. Obrigada, viu?
– Amém, irmã, vai cantando vitória!!! Você é a menina dos olhos de Deus!!! Aleluiasss!!! E dá glória, irmã, dá glória!!!
– Amém… eu acho…

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O objetivo da reflexão de hoje é pensar sobre a importância do estudo da Teologia para a nossa vida prática de fé. As duas situações acima são uma caricatura do que vejo hoje em muitos e muitos âmbitos da Igreja brasileira: de um lado, os que idolatram a Teologia. De outro, os que demonizam a Teologia.

Acredito que o estudo da Teologia é essencial. Mas tenho certeza que só Teologia não basta. Teologia nos diz quem é o Curador das feridas, o Salvador das almas, o Restaurador; mas só o conhecimento sobre Ele não é suficiente: é preciso aplicação prática. Que só vem mediante o amor, lágrimas derramadas pelo próximo, mãos cheias de calos e pés sujos de barro.

Por outro lado, sem Teologia a devoção do crente é mirrada. A falta de estudo teológico nos deixa à mercê de um Deus que não sabemos quem é e, por isso, não sabemos como Ele deseja que nos relacionemos consigo e com o próximo. Só a prática não basta, visto que Deus se revelou pela Palavra e ela precisa ser compreendida e estudada. Isso só é possível mediante o conhecimento da Teologia.

Portanto, só Teologia é intelectualismo inútil e infantil; mas zero Teologia é misticismo inútil e infantil. Um coração cheio de Teologia mas destituído de amor é vaidoso, arrogante e egocêntrico. Um coração vazio de Teologia é ignorante, errático e perdido.

Há três tipos de indivíduos no meio dos cristãos e devemos escolher qual deles queremos ser:

1. Quem não ama pessoas prega só Teologia.

2. Quem odeia Teologia prega frases feitas e vazias.

3. Mas quem ama pessoas e também ama Teologia prega… o evangelho.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício