Posts com Tag ‘Filho pródigo’

No dia 1 de janeiro completei 47 anos. Isso significa que já passei da metade de minha vida sobre a terra. Nesse período de virada de ano e aniversário, por uma série de razões acabei refletindo muito sobre um assunto em especial: amizade. Fazendo uma retrospectiva desse quase meio século de vida, meditei muito sobre por que algumas pessoas que foram minhas amigas em algum momento continuam sendo minhas amigas e outras não. Eu me perguntei: o que fez com que o punhado de bons e constantes amigos que possuo há muitos anos não tenha aberto mão de se relacionar comigo, como a esmagadora maioria dos meus conhecidos fez? E, aqui, estendo a reflexão a você: na minha e na sua vida, por que alguém persevera em querer ser nosso amigo, quando poderia optar por não ser, como a maioria dos que cruzaram nosso caminho fizeram? Reflitamos um pouco sobre esse assunto tão espiritualmente necessário que é a amizade verdadeira.

Antes de tudo, é fundamental definirmos o que são “conhecidos” e o que são “amigos”. Conhecidos são aquelas pessoas que se relacionaram com você em alguma etapa de sua vida mas para quem, hoje, se você sumir do mapa, não fará muita diferença para elas. Já o amigo é aquela pessoa que sente a sua falta, que lhe telefona só para saber como você está e jogar conversa desinteressada fora, que não se conforma quando sua ausência se torna muito presente, que gosta de graça de sua companhia e de passar tempo com você e – principalmente – que, na hora da necessidade, abre mão de si mesmo por você.

Em outras palavras, a diferença fundamental do conhecido para o amigo é que, para o amigo, você está entre as prioridades de sua vida, enquanto para o conhecido você é só mais um. Para o amigo, você é imprescindível. Já para o conhecido você é secundário ou mesmo desnecessário, supérfluo.

Pensei, então, nos poucos amigos verdadeiros que tenho hoje e tentei concluir por que eles persistem na decisão de continuar sendo meus amigos (sim, ser amigo de alguém é uma opção, uma decisão consciente, e não obra do acaso ou do fluxo da vida). Foi quando cheguei à conclusão de que aqueles que hoje permanecem meus amigos e amigas de verdade são gente que reúne quatro características em comum, alguns há mais de 10 anos, outros, de 20 e, outros ainda, há mais de 30 anos. E que características são essas?

Em primeiro lugar, aqueles que se solidificaram como meus amigos após anos de amizade testada e confirmada foram aqueles que souberam me perdoar. Afinal, qualquer relacionamento próximo em algum momento gerará atritos entre as partes. A questão é: como esse relacionamento sobreviverá após o atrito? Em comparação, algumas pessoas que eu considerava meus amigos pularam fora do barco e me deram as costas tão logo foram confrontadas com uma das minhas muitas falhas de caráter. Já os meus amigos verdadeiros são aqueles que perceberam quão falho eu sou, me perdoaram e insistiram teimosamente em me amar.

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Em segundo lugar, meus amigos verdadeiros são aqueles que valorizam mais o que temos em comum do que as nossas diferenças. No que discordamos, fazemos piada e, no que concordamos, avançamos juntos. O nome disso é respeito. Por outro lado, gente que caminhou comigo em algum momento da vida mas não suportou o fato de termos diferenças em questões como religião, teologia, doutrinas, ideologia política, valores, gostos, comsovisões ou algo assim simplesmente me deletou de seu círculo íntimo de relacionamentos. Esses optaram conscientemente por não ser meus amigos, pois não consideraram que meu valor para eles era maior que suas opiniões pessoais.

Terceiro, os amigos verdadeiros que tenho foram aqueles que persistiram em compartilhar a jornada da vida comigo depois que aquilo que nos pôs em contato terminou. Foi gente que não limitou nosso contato a um curso, um ambiente de trabalho, um vínculo passageiro. Essas pessoas fizeram o contrário daquele companheirão da faculdade que, depois da formatura, nunca mais me procurou; do colega de trabalho que, depois da demissão, só manteve contato formal por redes sociais, sem nunca mais me procurar para estarmos juntos; ou daquele irmão da igreja ou do ministério que, depois que deixei de frequentar o mesmo ambiente, só quis saber de mim para pedir um favor ou algo assim. Amizades verdadeiras mantêm a cabeça acima das circunstâncias e se estendem para além dos contextos que nos aproximaram.

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Quarto e último, o amigo é aquele que persevera em manter você em sua convivência mesmo sem ganhar absolutamente nada com isso. Em outras palavras, o amigo verdadeiro é aquele para quem o relacionamento com você traz como lucro ou benefício pessoal, profissional, ministerial ou material… nada! Zero. Nadinha. Ele segue caminhando com você pela simples alegria da caminhada. Muitas vezes, até, pega mal para ele ser associado a você, ou estar junto de você lhe dá algum tipo de prejuízo ou desvantagem – mas, ainda assim, essa pessoa permanece ao seu lado. Isso ocorre porque a amizade verdadeira se baseia no amor e não nas vantagens pessoais. E, sempre é bom lembrar, o amor “não busca os seus próprios interesses” (1Co 13.5).

Portanto, eis os quatro pilares que, a meu ver, fizeram de meus amigos, amigos de verdade:

1. Perdão

2. Respeito às diferenças

3. Persistência na convivência após o fim das razões de ela se manter

4. Perseverança no relacionamento sem nenhum benefício próprio 

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Meu irmão, minha irmã, amizades são tesouros de valor inegociável. O amigo verdadeiro é alguém que, em algum momento da sua jornada, cruzou seu caminho e não se contentou em cruzá-lo, mas escolheu permanecer e persistir na ideia de que compartilhar a vida com você era importante, apesar de todos os seus muitos defeitos e pecados. É aquele cara que se tornou mais chegado que um irmão. Valorize essa pessoa.

Se alguém não faz questão de ser seu amigo, não se chateie, isso é normal. Deixe-o ir. Amizade por obrigação não é amizade, é um horror. Se uma pessoa optou por se conectar a outras pessoas e não a você, respeite isso. É um direito dela. O que deixo como recomendação é que, para aqueles que optaram por ser seus amigos, você seja o melhor amigo do mundo. Pois amizade não tem absolutamente nada a ver com a quantidade de relacionamentos, tem a ver com a qualidade deles. Portanto, construa suas amizades perdoando, relevando as diferenças, investindo na conexão interpessoal após o fim daquilo que os aproximou e sem esperar absolutamente nada em troca. Aliás… não é assim que Deus faz conosco?

Diariamente, ele nos perdoa.

Sendo totalmente diferente de nós, nos ama profundamente.

Investe teimosamente na conexão entre nós, até mesmo quando me torno a centésima ovelha ou o filho pródigo.

E nos ama perseverantemente, apesar de nosso relacionamento não beneficiá-lo de modo algum.

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Deus é nosso amigo, como um verdadeiro amigo deve ser. E, por isso, espera que também sejamos bons amigos do nosso próximo, replicando com as pessoas o que ele faz conosco. Isso tem tudo a ver com amar a Deus e ao próximo, o mandamento maior da nossa fé.

Peço a Deus que você tenha amigos bons e verdadeiros. Que construa relacionamentos sólidos e duradouros. E que possa desfrutar das melhores amizades, construindo suas conexões sobre esses quatro pilares. Só não se esqueça de que se, por um lado, você não pode obrigar ninguém a ser seu amigo verdadeiro, por outro lado tem todo o poder de ser o melhor e mais verdadeiro amigo do mundo para o próximo a quem você deve amar.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

Tudo o que Jesus pregou e ensinou durante seu ministério terreno foi teologia pura. Quando analisamos os sermões e as falas públicas de Cristo fica claríssimo que ele discorreu sobre escatologia, soteriologia, pneumatologia, eclesiologia, cristologia, hamartiologia e outras áreas de conhecimento da fé cristã. Isso é inegável. Por isso, desde a minha conversão, há 22 anos, me apaixonei pela teologia de Cristo e passei a devorar tudo o que pudesse a fim de aprender mais e mais. Porém, o que mudou tudo na minha vida cristã e refletiu diretamente naquilo que escrevo e prego foi analisar, há cerca de seis anos, a forma como Jesus abordou sua teologia: de maneira simples, em linguagem popular, usando metáforas do dia a dia das pessoas de seu tempo, contando historinhas de ficção… enfim, Jesus raramente complicou sua mensagem; pelo contrário, preferiu na maior parte do tempo simplificá-la. Logo, se somos imitadores de Cristo, devemos imitá-lo nisso também.
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Alguns exemplos: quando Jesus quis falar sobre o nosso exemplo pessoal para o mundo, usou a imagem do sal, algo que todos usavam no dia a dia de Israel para conservar seus alimentos (Mt 5.13). Também recorreu à imagem de uma lâmpada, usada por todos naquela cultura para iluminar suas casas (Mt 5.14). Simples. Compreensível. Ao alcance do entendimento de todos.
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Jesus flores pássarosQuando Jesus expôs verdades sobre a soberania e o cuidado de Deus na vida de seus filhos, falou sobre… passarinhos. “Por isso eu lhes digo que não se preocupem com a vida diária, se terão o suficiente para comer, beber ou vestir. A vida não é mais que comida, e o corpo não é mais que roupa? Observem os pássaros. Eles não plantam nem colhem, nem guardam alimento em celeiros, pois seu Pai celestial os alimenta. Acaso vocês não são muito mais valiosos que os pássaros?” (Mt 6.25-26). Outra imagem a que ele recorreu para tratar do mesmo assunto foi a de… flores. Belas e delicadas flores: “E por que se preocupar com a roupa? Observem como crescem os lírios do campo. Não trabalham nem fazem roupas e, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como eles. E, se Deus veste com tamanha beleza as flores silvestres que hoje estão aqui e amanhã são lançadas ao fogo, não será muito mais generoso com vocês, gente de pequena fé?” (Mt 6.28-30).
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Coisas simples. Cotidianas. Compreensíveis. Fáceis.
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As parábolas, por sua vez, são um exemplo espetacular da simplicidade da forma de Jesus apresentar as mais profundas verdades da espiritualidade cristã. Ao falar sobre assuntos teologicamente profundos – como pecado, arrependimento, justificação, Igreja e a doutrina de Deus -,  Jesus falou sobre família, um filho rebelde, herança, prostitutas, chiqueiro, festa, enfim, coisas que absolutamente todos que o escutavam entendiam. Enquanto os religiosos judeus de então se perdiam em complicadas, elaboradas e intermináveis discussões teológicas, com partidarismos rabínicos e segmentações doutrinárias, Jesus inventava histórias sobre alguém que perdeu dinheiro e sobre um pastor que busca uma ovelha que se desgarrou – brilhantes tratados soteriológico e hamartiológicos, elaborados para serem compreendidos por qualquer pessoa, da mais erudita à analfabeta (Lc 15).
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Confesso que me assusto quando vejo pessoas discutindo sobre o evangelho usando palavras incompreensíveis, com estruturas e esquemas rebuscados e dificílimos, em abordagens que simplesmente complicam aquilo que Jesus simplificou, indo na contramão do jeito de Cristo de expor sua teologia. Há espaço para o rebuscamento? Claro que há! Numa sala de aula de um seminário teológico ou num congresso acadêmico, onde todos os que ali estão falam aquela linguagem difícil e entendem os malabarismos de raciocínio utilizados, não há nenhum problema em se recorrer a um jeito erudito e complicado para um reles mortal. Mas, publicamente, não consigo enxergar absolutamente nenhuma razão para se complicar o que Jesus não complicou. O evangelho de Cristo foi anunciado e discutido por Cristo de modo fácil, falasse ele para pescadores, pastores, prostitutas, pedintes ou autoridades do governo.
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As pessoas que ouviam Jesus podiam não compreender plenamente as realidades espirituais que ele anunciava, por serem muito elevadas, mas ainda assim Cristo recorria a um formato e um linguajar facílimo para explicar tais realidades (como no vocabulário, na estrutura de exposição e no uso de imagens cotidianas de sentido simplificado). E por que não deveríamos nós fazer assim também? Jesus falava às multidões. E “multidão” pressupõe um grupo numeroso e diversificado de pessoas, entre elas, com absoluta certeza, gente simples, que precisava entender o evangelho com simplicidade. Afinal, uma mensagem que não é compreendida não é uma mensagem – são sons e palavras sem significado e, logo, são inúteis. Repito: inúteis.
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Fui confrontado recentemente com essa questão, ao ser convidado pela editora Mundo Cristão a escrever os estudos e os comentários de uma Bíblia, em parceria com meu amigo e editor Daniel Faria. Aceitei o desafio. Toda essa necessidade de simplificar, tudo o que escrevi até aqui neste post, martelou diariamente em minha mente durante o processo de escrita dos textos da Bíblia Sagrada Na Jornada com Cristo. Confesso que a tentação de escrever de forma difícil para ser admirado entre os intelectuais e acadêmicos foi grande. Já vi pessoas desdenharem quem escreve com simplicidade dizendo que “fulano é raso”, “beltrano é superficial” e acusações ignorantes semelhantes, pois confundem simplicidade com superficialidade. E ninguém gosta de ser desdenhado, não é? Mas precisei me agarrar à consciência de que, se temos de caminhar nos passos de Jesus, precisamos negar nosso ego, rejeitar nossa vaidade e pensar na eficiência da transmissão da mensagem e não no nosso status junto aos eruditos.
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Por essa razão, tudo o que escrevi na Bíblia Sagrada Na Jornada com Cristo tem como objetivo transmitir a mais profunda teologia cristã da maneira mais simples e compreensível possível, em textos que procurei tornar gostosos e prazeroso de ler, a fim de não só transmitir conhecimento teórico, mas conduzir o leitor a viver o evangelho na prática.
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Este mês é o lançamento da Bíblia Sagrada Na Jornada com Cristo. Se você me permite, gostaria de convidá-lo a lê-la e a presenteá-la ou indicá-la aos seus amigos que precisam entender mais sobre a fé cristã – em especial os recém-convertidos, a quem recomendo com ênfase a Bíblia Sagrada Na Jornada com Cristo. Não falo isso por interesse comercial nem nada do gênero, acredite, mas por real convicção de que os estudos e textos dessa obra podem auxiliar no crescimento e no conhecimento de todos aqueles que amam a Deus e sua Palavra mas têm dificuldade de entender teologia acadêmica ou não tiveram oportunidade de se aprofundar nela. Creia: você terminará a leitura compreendendo muito mais da fé cristã, por desfrutar de profundidade com simplicidade. Se desejar mais informações, clique neste link: < Bíblia Sagrada Na Jornada com Cristo >.
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Peço a Deus que, se vier a ler a Bíblia Sagrada Na Jornada com Cristo, seja muito edificado pelos textos e estudos que ela contém. Todos foram escritos com muito temor, tremor e amor. E com a preocupação de torná-a uma leitura agradável e fácil, simples na forma e profunda no conteúdo.
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Meu irmão, minha irmã, invista na simplicidade em sua vida de fé. Olhe os passarinhos. Olhe as flores do campo. Descubra as realidades da vida e da eternidade pelas belezas com que a graça de Deus nos presenteia. Ame o próximo do modo mais simples que puder: com um copo d´água no calor, um sorriso na tristeza, um abraço na solidão, uma lágrima solidária na dor. Ore com simplicidade. E lembre-se de que o Criador de tudo o que há nos bilhões de galáxias do espaço infinito escolheu salvar você não por meio de um gigantesco e complexo evento cósmico, mas por meio da morte de um carpinteiro pobre e maltratado em uma rude cruz de um canto distante e esquecido do mundo. Simples. Mas com resultados que ecoarão por toda a eternidade.
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Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >
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ristretto 1Eu tenho um ponto fraco: café. Confesso que sou um profundo apreciador dessa bebida e tomo muitas xícaras por dia. A máquina que faz meu café da manhã tem timer, que fica programado para alguns minutos antes de eu acordar, a fim de que o café esteja pronto e quente assim que meu despertador tocar. Além disso, tenho uma máquina de café espresso, daquelas que funcionam com cápsulas, pois, além de oferecer tipos de grãos diferentes e muito saborosos, permite que se faça uma xícara com bastante rapidez – durante um momento de concentração para trabalhar ou escrever, essa celeridade ajuda muito a não interromper um raciocínio no meio. Costumo pôr as cápsulas em uma espécie de suporte, que veio como brinde da Nestlé, e as vou pegando aos poucos. Qual não foi minha surpresa quando, há poucos dias, cheguei para tomar um café em uma tarde cinzenta e descobri que não havia mais dos sabores que costumo tomar (o ristretto ou o arpeggio), apenas cápsulas do lungo, um café para se tomar em canecas e não em xícaras. Pode parecer bobagem para você, mas, diante da ansiedade e da expectativa que eu estava para saborear o negro elixir divino, para mim foi um golpe baixo. Fiquei triste.

ristretto 2Voltei para minha mesa de trabalho e continuei a labuta. Mas sabe quando bate aquele inconformismo? Levantei, voltei à cozinha e fuxiquei no meio das cápsulas verdes do lungo. E, para meu delírio, eis que ali, posto por engano junto a elas, havia, escondida e soterrada, uma última cápsula negra do meu amado ristretto. É difícil explicar a alegria que foi. Fiz o café com um cuidado ímpar, apreciando o aroma como nunca, e o saboreei com gosto especial. É interessante isso, pois tinha o exato mesmo gosto de todos os outros ristrettos que sempre tomei, mas aquela xícara específica tinha um sabor de vitória, quase de júbilo, por representar a obtenção de algo que eu julgava perdido.

Jesus contou uma história que guarda certas similaridades com esse episódio: “Qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura atentamente, até encontrá-la? E quando a encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.8-10). Fiquei pensando na alegria descrita pelo texto bíblico, em comparação com a que senti ao encontrar minha cápsula de café perdida.

É importante olharmos o contexto em que Jesus relata essa parábola. Ele a cita entre a parábola da ovelha perdida e a do filho pródigo. Ambas tratam de pessoas que pertenciam ao rebanho ou à família e se afastaram. Logo, a dracma mencionada também é uma alusão a membros do Corpo de Cristo que se perdem. O “pecador” que Cristo menciona não é, portanto, alguém que nunca experimentou o amor de Deus, mas, sim, o filho que se perdeu por conta de seus pecados. Assim como qualquer pai, Deus não gosta que seus filhos se afastem. E, para solucionar esse problema, ele estabeleceu um mecanismo para trazer filhos perdidos de volta à casa do Pai, ao aprisco seguro: você. Mas só você não basta. É preciso que você esteja cheio de amor.

love 1Uma das coisas mais tristes que vejo são cristãos que partem em busca de pessoas que estão distantes de Cristo (sejam “inconversos” ou “desviados”) como se fosse uma obrigação ou uma “missão”. Trazer a ovelha de volta ao aprisco jamais deve ser uma ação motivada por qualquer coisa que não seja amor. Guardadas as devidas e enormes proporções, eu não busquei a cápsula de café porque me obrigaram ou porque havia uma “missão” envolvida nisso, mas porque me sentia extremamente motivado. O “ide” da Igreja, a Grande Comissão, nunca deve ser visto com uma ordenança pura e simples: é um chamado ao amor pelo próximo.

Se não compreendermos que esta ordem divina, “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt 28.19-20), é consequência direta desta outra ordem divina: “Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (Jo 13.34-35), não conseguiremos jamais levar a mensagem da cruz da volta ao lar para as pessoas do modo que Deus idealizou. Pois não consigo enxergar o Pai que “tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16) resgatando vidas por qualquer outra razão que não seja amor. Ele amou os que se foram, amou os que nunca vieram, e, por isso, devemos amá-los também. Só então, quando o amor for um fato transbordante, devemos partir em busca deles.

love 2O amor precede o evangelismo. O amor precede a busca dos que se desviaram. O amor precede o resgate dos apóstatas. O amor é o ponto de partida para a obra de Deus. Sem amor, tudo o que se faz para o Senhor é o mais puro e insosso ativismo religioso. Porque evangelizar não é “ganhar almas para Jesus”, evangelizar é “compartilhar um amor que transcende tanto tudo o que podemos entender que ninguém pode ficar indiferente a ele”. Ninguém “ganha almas para Jesus”. O que fazemos é servir de meio para que o amor de Jesus atraia irresistivelmente almas para si.

No que se refere a evangelizar e a trazer desviados de volta ao aprisco, o nosso papel, meu irmão, minha irmã, é sermos porta-vozes do amor de Deus. Nada mais do que isso. Devemos apontar para o amor celestial. Precisamos proclamar o amor, que produz a graça, que conduz à salvação. Ame. Ame sempre. Ame com todas as suas forças. Somente isso, e nada mais, poderá torná-lo o maior evangelista de todos os tempos.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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desigrejados 1Tenho visto diferentes irmãos em Cristo compartilhar pelas redes sociais a seguinte frase: “Quem sai da igreja por causa de pessoas nunca entrou lá por causa de Jesus“. Confesso que ler isso me deixou extremamente incomodado, chocado e chateado, pois me soa como uma frase bem pouco cristã e nada embasada naquilo que Jesus ensinou. É uma frase que não expressa amor. Vamos falar um pouco sobre ela, na esperança de que, se você já reproduziu essa afirmação ou mesmo se acredita nela, consiga perceber quão desumana ela é e, assim, pare de replicá-la.

Em primeiro lugar, permita-me dizer que esta reflexão não tem como objetivo entrar por discussões no campo de calvinismo versus arminianismo. O foco da minha abordagem não é se a pessoa que deixou de frequentar uma igreja era predestinada, se tinha livre-arbítrio e toda a discussão que considero desimportante na eterna querela entre os que creem e os que não creem na doutrina da eleição. E por que digo isso? Porque Jesus mesmo não deu muita atenção a essa questão. Repare que, independentemente de Jesus ser “calvinista” ou “arminiano”, o que os evangelhos mostram é que ele sempre destacou a importância de buscar a ovelha que se desgarrou do rebanho. Ponto. Isso é o que importa, a despeito da doutrina soteriológica que você siga. Afastou-se? Busque. Ponto final. E é aqui que a frase do título deste post torna-se tão repulsiva ao meu coração. Pois não consigo coadunar o que Cristo nos ensinou com essa afirmação.

desigrejados 2Temos de refletir muito bem sobre o que lemos por aí antes de acreditarmos naquilo e sairmos reproduzindo. E uma reflexão aprofundada sobre “Quem sai da igreja por causa de pessoas nunca entrou lá por causa de Jesus” me dá a nítida ideia que quem diz essa frase segue e deseja propagar o seguinte raciocínio: se um indivíduo se desgarrou do rebanho porque foi ferido, magoado, traído ou ofendido de algum modo por membros ou líderes da igreja, o problema não foi o que fizeram com ele, mas a fé inexistente dele em Cristo – e, portanto, podemos deixar esse “infiel” para lá. Se concordamos com essa frase, estamos acreditando que a pessoa em questão era um falso convertido, um simpatizante mas não praticante do evangelho. Em outras palavras, estamos tomando para nós o poder divino de perscrutar corações e afirmar quem é salvo e quem não é. Se eu assinar embaixo dessa frase, vou deixar de desejar que líderes opressores parem de oprimir os membros da igreja, ou que irmãos e irmãs que ferem irmãos e irmãs percebam seu erro, se arrependam e mudem. Pois estarei pondo toda a responsabilidade na conta do ofendido. Afinal, ele “nunca entrou lá por causa de Jesus”. O que é um absurdo.

Pense em Pedro. Naturalmente, a igreja como existe hoje não existia na época de Cristo, mas creio que podemos fazer uma boa analogia entre os “desviados” de hoje e o apóstolo no episódio em que ele negou Jesus. Se entendermos que “estar na igreja” é um equivalente a “caminhar em fidelidade aos princípios comuns à fé cristã”, podemos considerar que Pedro, ao trair Jesus três vezes, “deixou a igreja”. Ele negou o Salvador. E – repare –  o fez por causa de pessoas, com medo dos que disseram que ele era um cristão. Logo, pelo pensamento em questão, Pedro nunca fez parte “da igreja” por causa de Jesus. E sabemos que isso simplesmente não é verdade. Simão apenas fraquejou por um tempo, devido a problemas com as pessoas ao seu redor. Posteriormente, arrependeu-se, foi perdoado pelo Senhor e convocado a se tornar um pastor do rebanho de Cristo. Tenho consciência de que essa não é uma analogia perfeita, mas penso que passa uma visão bem honesta do quanto a afirmação do título deste post não condiz com a realidade.

“Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou? E, se porventura a encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por causa desta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos” (Mt 18.12-14). Eu leio isso e, dentro do contexto da passagem, fico imaginando se Jesus diria à ovelha perdida: “Olha só, se você se extraviou do resto do rebanho porque algumas dentre as outras 99 ficaram te mordendo, dando coices e esfolando sua lã, é porque você nunca fez parte do rebanho”. Sinceramente, você consegue imaginar o mesmo Messias que ensinou a parábola da dracma perdida e do filho pródigo dizendo isso? Eu não.

desigrejados 3Quem reproduz essa frase está dando as costas para a dor do próximo. Para os sentimentos das pessoas. Para a humanidade dos seres humanos. É alguém que não consegue chorar com os que choram. Que não entende a dor que é para um cristão ser traído por um sacerdote, ao ter os pecados que confessou a ele serem vazados para outras pessoas, ou ao ser perseguido dentro da igreja por discordar de forma legítima e ética da liderança. Que não empatiza com um irmão que foi maltratado por pessoas da igreja. Que não compreende como sofre alguém que é machucado no lugar onde deveria ser abraçado, cuidado e tratado. Jesus se revela por sua Palavra, que ecoa nas atitudes das cartas vivas que deveríamos ser nós, cristãos (2Co 3.2-3); porém, se essas cartas não tiverem a letra e a cor da tinta de Cristo, como querer que os feridos e magoados enxerguem o mesmo Cristo no lugar onde elas estão? Em outras palavras, se quem deveria ser o sal da terra não salga e a luz do mundo não brilha, a culpa é de quem sofreu danos infligidos por esse sal que arde e essa luz que queima?

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É claro que compreendo que um cristão sólido suportará pedradas e açoites. O cristão alicerçado na rocha ficará firme nas tempestades e nos vendavais, será lançado aos leões e entregará o pescoço à espada por amor ao Senhor. A Bíblia afirma isso e não sou eu quem vai discordar. Mas o que parece que os adeptos dessa frase sem coração se esquecem é que muitos e muitos dos que são enxotados da igreja “por pessoas” estão em início de caminhada de fé, ou ainda estão em desenvolvimento, não ganharam ainda tônus espiritual para aguentar as pancadas que sofreram no seio da igreja. Se para alguém que conhece Cristo há muitos anos e em profundidade já é difícil aguentar maus exemplos e más atitudes de líderes e irmãos, que dirá para quem ainda está em processo de conhecimento de Cristo e de aprofundamento de raízes.

desigrejados 4Meu irmão, minha irmã, temos de ser compassivos; isto é, de sentir em nós o sofrimento dos que estão sofrendo e não de ficar questionando a fé de quem já foi profundamente machucado por quem se diz cristão. Nosso papel como embaixadores de Cristo é sermos instrumentos de Deus para levantar o caído, restaurar o destruído, sarar o doente de alma, buscar o perdido. Jamais agir como essa frase cruel propõe. Fica aqui minha proposta para quem acredita que “Quem sai da igreja por causa de pessoas nunca entrou lá por causa de Jesus“: em vez de largar para lá esse indivíduo precioso e questionar a fé dele, parta em seu socorro e seja você aquele que mostrará que Cristo não é como aquelas pessoas que o feriram. Garanto que, assim, você estará agindo de modo muito, mas muito mais cristão – e poderá ajudar a cobrir uma multidão de pecados: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1Pe 4.8). Faça parte do grupo dos que dão de comer a quem tem fome e não dos que negam alimento a quem agoniza, faminto, à beira da estrada.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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Justo1“Não há justo, nem um sequer” (Rm 3.10). Esse pequeno trecho da carta de Paulo aos romanos deveria ser alvo de reflexões diárias de todo cristão. Mostra que toda a humanidade faz parte do mesmo grupo de indivíduos: gente imperfeita, errada, pecadora e desesperadamente carente de Deus. Da cruz. De Cristo. Ninguém é justo por si mesmo, mas somos feitos justos por meio do sangue de Jesus. Essa percepção deveria nos levar a uma posição de extrema humildade e misericórdia; afinal nenhum de nós é melhor do que o outro. “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10). Meu irmão, minha irmã, eu e você somos culpados de transgredir toda a lei de Deus. Toda. Consequentemente, não somos melhores que o ladrão da cruz, Pilatos, Judas, os fariseus, Herodes, Charles Manson, Adolf Hitler, Mussolini… quem você quiser. Aliás, eu, você, seu pastor, o líder de jovens da sua igreja, os cantores mais famosos, os líderes da sua denominação, a dirigente do círculo de oração, madre Teresa de Calcutá… não importa: estamos todos no mesmo barco, que mina água todos os dias e afunda no mar de pecados. A salvação está exclusivamente em Jesus. Só. Ele é o único caminho. O único justo por mérito próprio. Ser humano nenhum vale alguma coisa por mérito pessoal, o enorme valor que temos vem por graça, justificação, misericórdia, adoção, concessão divina. Nosso valor não é uma característica inata, é um presente que recebemos. Somos galhos secos, o que temos de bom vem da seiva que corre para nós a partir da árvore em que fomos enxertados: Cristo. Uma leitura recente me fez enxergar isso com uma clareza ainda maior do que antes.

David Yonggi ChoAo ler o último exemplar da revista Cristianismo Hoje, me deparei com reportagens que me chamaram a atenção. Primeiro, o pastor sul-coreano David Yonggi Cho (foto), líder da maior igreja evangélica do mundo, a Yoido Full Gospel Church, foi preso e condenado a três anos de prisão pelo desvio do equivalente a R$ 30 milhões da igreja. Ele admitiu que cometeu o crime “movido pelo interesse de suprir dificuldades financeiras da obra missionária”. Segundo, o papa católico romano Francisco confessou publicamente que furtou um crucifixo do corpo de um colega morto, em pleno velório, quando era bispo em Buenos Aires. “Enquanto espalhava as flores, peguei a cruz que estava sobre o rosário”, admitiu.

Em comum, as duas histórias nos falam de líderes religiosos (independente da teologia ou doutrina que professam) que são referência em suas linhas de atuação e exemplos para seus seguidores e que cometeram pecados que nenhum de nós esperava que cometessem. Muita gente fica chocada ao tomar conhecimento de situações como essas. Ouço comentários do tipo “como pode, mas logo ele!”. A mim, porém, nada disso espanta. Pelo simples e bíblico fato de que, assim como eu e você, todos os líderes religiosos são pecadores, cometem atrocidades, acertam e erram, escorregam e caem. Pois são humanos. Necessitam diariamente de perdão por seus pecados. São iguaizinhos a mim. E a você.

Justo2Cada vez que leio relatos como esses, simplesmente me entristeço e penso “É, a Bíblia está certa mesmo”. Somos pó. Nossa natureza humana é má. Precisamos desesperadamente de Jesus de Nazaré. Vejo grandes homens de Deus confessarem pecados que comprovam que são simplesmente homens e isso me leva a ouvir com cada vez maior tristeza discursos de pessoas que se consideram cristãos mais santos do que outros e que, por isso, falam do próximo com superioridade. A queda de gigantes me mostra que devemos sempre amparar-nos, do maior ao menor, pois estamos todos no mesmo nível. Dos que ocupam os mais elevados cargos na hierarquia eclesiástica aos iniciantes na fé, todos equivalemos: somos aglomerados de pele, ossos, sangue e pecados e carecemos da piedade de nossos irmãos e da misericórdia de Deus. Todos exalamos o odor da desobediência e precisamos desesperadamente do perfume de Cristo.

Entenda que a compreensão acerca de nossa falibilidade não deve nos tornar abertos ao pecado ou confortáveis com ele. A transgressão à vontade divina deve ser sempre evitada, precisa constantemente ser alvo de nossas pregações, exortações e alertas. Sempre. Sempre. Sempre. Santidade não se negocia. O que considero triste é a postura de superioridade que alguns de nós assumem, por se considerarem espiritualmente menos falíveis do que os outros. E não tenho o olhar entristecido para essa postura a partir de mim mesmo: sigo o exemplo de Jesus, que criticou diversas vezes a hipocrisia dos mestres da lei e fariseus durante seu ministério terreno. O que Cristo sempre denunciava nesses doutores da teologia era a hipocrisia: serem pecadores não arrependidos e ficarem rebaixando, discriminando e atacando outros pecadores. É a velha história da trave e do cisco no olho, que você já conhece. E hoje, dois mil anos depois, a história se repete.

Justo3Quando leio relatos da queda de homens de Deus, meu coração rasga. Não só pelo pecado em si desses líderes, mas por ver muitos e muitos irmãos que – inacreditavelmente – parecem se alegrar com a queda deles. Como se tombos alheios valorizassem estarmos de pé. Podemos, por favor, chorar por eles? Será que você consegue orar por cada indivíduo pecador como você e pedir ao Santo dos Santos que os restaure e use de compaixão para com suas vidas? Se eles fossem membros da sua igreja ou pessoas de sua convivência diária, o que você faria? Será que os procuraria e lhes levaria palavras de conforto, amor, graça e reconstrução? Ou daria as costas, se afastaria, os largaria à própria sorte? A resposta a essa pergunta revela se você vive a hipocrisia ou a piedade – peço a Deus que seja a piedade.

E sempre devemos inserir na equação sobre como vemos esses homens que pecaram o fator arrependimento. Uma vez que cada um deles se arrepende do erro, confessa e deixa o pecado, está perdoado por Deus. Como poderíamos nós não perdoá-los se o próprio Criador os perdoou? Se Jesus foi à cruz por eles? Esses indivíduos, quando restaurados, podem e devem continuar exercendo seu ministério. Continuam sendo úteis para o Senhor. Seus livros continuam sendo valiosos e importantes, sua pregação segue sendo relevante, sua vida e seu ministério não morreram. Se você tem dificuldades de concordar com isso, lembre-se dos seus próprios pecados. Nada disso é graça barata: é graça, em sua essência mais pura e bíblica.

Precisamos compreender que o evangelho não são boas-novas de hipocrisia ou de superioridade: são boas-novas de salvação. Pois o que a cruz nos mostra acima de qualquer outra coisa é que a humanidade é toda perdida, nasceu igualmente destinada à miséria espiritual e só pode encontrar o caminho da paz em Jesus de Nazaré. Isso nos faz elevar os olhos para os montes, para o único que é digno de abrir os selos. Nossa pecaminosidade coletiva destaca a gloriosa pureza do Cordeiro de Deus.

OXYGEN Volume 22Meu irmão, minha irmã, fuja do pecado. Esforce-se no poder de Deus para se libertar de práticas pecaminosas, de pensamentos maldosos e de tudo o que fere o Senhor. Viva uma vida dedicada à proclamação da santidade. Isso é bíblico e é o certo. Mas, em nome de Cristo, viva também uma vida devotada a levar indivíduos a se aproximar de Jesus. E isso não acontece falando mal ou pondo o dedo na cara: Cristo se manifesta por meio do amparo, do auxilio, do aconselhamento, da mútua sustentação, do chorar com quem chora, da piedade, da compaixão, do perdão, da restauração. Não acredito no evangelho do irmão do filho pródigo. Acredito no evangelho do pai do filho pródigo. Comparo a atitude daquele pai com a do seu obediente e leal filho mais velho e enxergo um retrato fiel das nossas atitudes hoje: de um lado, os que abraçam o pecador que retorna; de outro o que se entristece porque o pecador foi restaurado – é mais interessante apenas criticá-lo (afinal, nos sentimos menos pecadores do que ele). Uns querem promover o banquete; outros se recusam a entrar na mesma casa. Um é o evangelho do “Não há justo, nem um sequer”; o outro é a religião do “raça de víboras!”.

Podemos escolher que tipo de cristãos seremos: hipócritas ou graciosos. Jesus foi gracioso e repreendeu os hipócritas. Os fariseus e mestres da lei foram hipócritas e repreenderam o Gracioso. E você, como será?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Amor5Eu e minha filhinha estávamos nos divertindo a valer. Já era tarde e passava da hora de ela dormir, mas a brincadeira estava tão legal que é lógico que a pequena não queria ir para a cama. Só que faço questão de manter a disciplina de seu sono e, por isso, lhe informei que precisávamos parar. Você sabe como são as crianças: imediatamente o sorriso sumiu de seu rosto, ela fez um bico enorme, cruzou os braços e afundou o queixo no peito. Raro é o dia em que não lhe digo no mínimo uma três vezes que a amo. Ela também diz que me ama e sabe perfeitamente quanto seu amor é importante para mim. Por isso, naquele minuto, usou a estratégia da chantagem emocional para tentar ficar acordada por mais algum tempo, brincando comigo. Foi golpe baixo: “Eu não te amo mais, papai”, falou alto. Eu sei que ela disse isso da boca para fora, e a minha reação foi espontânea e imediata. Eu respondi, em voz baixa e acariciando seus cabelos: “Bebê, absolutamente nada do que você faça ou fale vai me fazer deixar de te amar. Meu amor por você é pelo resto da vida”. Percebi que ela não esperava por aquelas palavras. Relaxou a postura, encostou-se em mim, sorriu de canto de boca e me abraçou. Em pouco tempo estava na cama, sendo embalada por uma oração cantada pelo papai.

Nossas reações impensadas merecem atenção. Elas falam muito sobre nós, porque ocorrem sem planejamento, sem censura. Se você quiser saber como é o temperamento de alguém, dê nela um susto. Umas pessoas reagem gritando, outras saem correndo, outras partem para cima. Isso demonstra se são agressivas, defensivas, tímidas ou o que for. Do mesmo modo, reações espontâneas revelam verdades profundas. Depois desse episódio, fiquei pensando sobre o que eu disse a minha filha. Sei que soa como um lugar-comum dizer que nada abalará o amor de um pai pelo filho, mas, acredite, eu falei  aquilo de modo irrefletido e sei que partiu do fundo do meu coração. Foi uma verdade absoluta. Naquele instante, eu tive a plena convicção de que, mesmo que minha filha cometa as maiores atrocidades contra mim, meu amor por ela permanecerá.

Que dirá o amor do Aba, nosso Pai celestial.

Amor2Todos os dias, eu e você temos atitudes, pensamentos e posturas que trazem subentendido a afirmação para Deus: “Eu não te amo mais, papai”. Os pecados são a maior expressão disso. Desobedecemos ao Senhor, mesmo sabendo que Jesus disse: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama” (Jo 14.21). A conclusão é óbvia: se desobedecemos os mandamentos de Cristo, estamos lhe dizendo com nossas ações que não o amamos.

Outra forma de dizer a Deus que não o amamos é quando não o amamos sobre todas as coisas. Confuso? Explico: o maior mandamento é que amemos ao Senhor sobre todas as coisas. Quando estabelecemos prioridades em vez do nosso relacionamento com ele, não o estamos amando sobre todas as coisas. Como é sua vida de oração? Como anda seu estudo das Escrituras? Quem não ora nem estuda a Bíblia está dizendo ao Criador com sua atitude que não deseja se relacionar com ele, que ter intimidade com o Senhor não é prioritário. E isso é o descumprimento do primeiro mandamento.

E por aí vai. Além de pecados e prioridades equivocadas, é extensa a lista de posturas e pensamentos que se traduzem para Deus como falta de amor – como, por exemplo, a falta de fé e a busca do Senhor por interesses pessoais. Poderíamos gastar muito tempo aqui falando sobre todos os itens dessa lista, mas não é esse o foco do que eu gostaria de compartilhar. O que mais penso acerca desse assunto é na reação de Jesus a essas nossas demonstrações de desamor. Como o Senhor considera essas posturas?

Amor3Minhas palavras espontâneas a minha filha me fizeram compreender mais sobre o amor de um pai. Pois se eu, que sou mau, tenho esse sentimento com relação a quem gerei, que dirá nosso Pai com relação a nós. Pense: você não simplesmente brotou de um “espermatozoide divino”. O Senhor não esperou nove meses para ver como você seria. Não. Você é fruto de um projeto. Você foi planejado. Foi cuidadosamente pensado e idealizado pelo Criador. O salmista já disse, sob inspiração do Espírito Santo: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Digo isso com convicção. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir” (Sl 139.13-16).

Você é uma obra de arte. Deus idealizou absolutamente tudo o que diz respeito a sua pessoa antes mesmo de criar a primeira célula do seu corpo. Quando você não passava de um zigoto microscópico no útero de sua mãe, o Senhor já te amava com um amor profundo e inabalável. Ele olhava para aquele amontoado disforme de células e pensava: “Eis aqui o filho que eu amo”. Deus já tinha um propósito para a sua existência. Na verdade, antes que Gênesis 1.1 ocorresse, você já era realidade no coração do Todo-poderoso, e creio que ele ansiava pelo dia em que formaria sua vida. Você é precioso, amado, valioso e importante para o seu Pai.

Erramos sim. Muitas vezes cometemos atrocidades. Dizemos diariamente a Deus com nossas atitudes: “Eu não te amo mais, papai”. Chegamos a nos afastar dele, por amarmos mais o mundo e os prazeres da vida do que o nosso Criador. Só que o Pai está na janela, de olhos fixos no horizonte, à espera do Filho amado. E, quando temos a coragem de reconhecer nosso erro, ele se vira para nós e diz: “Bebê, absolutamente nada do que você faça ou fale vai me fazer deixar de te amar. Meu amor por você é pelo resto da vida”. Eu diria mais: é pela eternidade.

Como eu posso afirmar isso? Porque assim disse o Senhor: “Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei. Pois desci dos céus, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.37-40).

Amor4E se você acha que, por algo que tenha feito, o amor de Deus por você se acabou, por favor preste muita atenção a esta verdade irrefutável da Bíblia (recomendo que leia umas três vezes, pensando no que está lendo): “Nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38-39). Nada. Nada, nada, nada é capaz de separar você do amor de Deus. Nada.

Você é amado. Amado desde sempre e amado para sempre.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Mauricio

Ovelha1O Senhor não resgata ninguém para descartar depois. Se ele resgata é para tornar aquele indivíduo alguém útil e produtivo, um servo ativo na obra de Deus e plenamente capacitado e aprovado para atuar em prol do reino dos céus. É um absurdo achar que Jesus busca a ovelha perdida para fazer dela um peso morto, inútil. Esse é um pensamento antibíblico e, vamos concordar, impiedoso e maldoso. Mas hoje importa começar esta reflexão com palavras que não são minhas, mas de Jesus: “O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido. ‘O que acham vocês? Se alguém possui cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixará as noventa e nove nos montes, indo procurar a que se perdeu? E se conseguir encontrá-la, garanto-lhes que ele ficará mais contente com aquela ovelha do que com as noventa e nove que não se perderam’.” (Mt 18.11-13). No relato de Lucas, o Senhor emenda essa parábola com a da moeda perdida: “Qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura atentamente, até encontrá-la? E quando a encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.8-10). E, em seguida, Jesus fecha com chave de ouro, contando a famosa história do filho pródigo.

Creio que o conceito por trás desses ensinamentos está claro: se uma ovelha, alguém que se perdeu, um filho do Pai tropeça no meio do caminho, chafurda no pecado e é resgatado por Cristo, o nosso papel é exultar, festejar, juntar-nos a Deus e aos anjos na enorme alegria que representa o retorno dessa vida. Não consigo ver em nenhuma dessas passagens que nossa postura deva ser a de discriminar o arrependido que retornou – como fez o irmão mais velho do filho pródigo, alguém que, certamente, não compreendia o que significa amor nem graça.

Ovelha3Tendo dito isso, falemos sobre Jimmy Swaggart. Para as gerações mais novas, explico: ele é um evangelista que nos anos 1970 e 1980 lotava estádios por todo o mundo, tinha um ministério profícuo e famoso. Até que cometeu adultério. Pecou. Errou. O que fez foi feio. Horrível. Abominável. Nisso todos concordamos e não há espaço para discussão sobre a gravidade desse pecado (é possível até que seja tão grave como ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo e inveja, visto que sobre todos esses diz Gálatas 5.21 que “Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus”). Mas vamos adiante: consta que Swaggart se arrependeu, confessou e deixou sua transgressão. Diante disso, não sou o Espírito Santo para julgar o homem, simplesmente porque a Bíblia não me autoriza a isso. Se ele se arrependeu de fato, confessou e deixou, que autoridade tenho eu para condená-lo? Jesus o justificou e eu o condeno? Ai de mim se o fizer, como o Senhor mostra com apavorante clareza na parábola do credor incompassivo (Mt 18.21-35). Mas ninguém vinha dando muita atenção a isso por aqui pois, afinal, Swaggart deixou de estar presente na vida da Igreja brasileira há muitos e muitos anos.

Bem, até agora. A Sociedade Bíblica do Brasil lançou há algum tempo a “Bíblia de Estudo do Expositor – Jimmy Swaggart”, com comentários exclusivos escritos pelo próprio. Dei uma boa espiada no material e, acredite, é bastante bom. Uma ferramenta útil para o estudo das Escrituras, uma obra digna de ser lida por todo cristão interessado em compreender melhor a Palavra de Deus. Claro, não é perfeito. Mas – com exceção da Bíblia e de Jesus – existe algum livro ou ser humano na face da terra que seja?

Ovelha4Fiquei muito feliz quando tive contato com essa Bíblia de Estudo; aliás, duplamente feliz. Primeiro por ver um material do gênero à disposição da Igreja. E, segundo, por ver que não só o filho pródigo, Swaggart, tornou à casa do Pai, recebeu um anel no seu dedo, foi vestido de roupas novas e gerou alegria entre os anjos do céu, mas também porque ele ganhou a oportunidade de voltar a ser um membro produtivo do Corpo de Cristo – em prol da edificação do Corpo de Cristo. Bravo, palmas para Jesus, que cumpriu o milagre da justificação em mais uma alma que estava fora do aprisco, e palmas para o Espírito Santo, que convenceu a ovelha pedida do pecado, da justiça e do juízo. O Bom Pastor deixou as 99 ovelhas e foi atrás de Jimmy Swaggart. Consta que seu arrependimento foi sincero e Deus me livre de dizer que não foi, pois não compete a mim julgá-lo neste momento de sua vida. Os frutos até o momento não o condenam, pelo que me consta. E, vamos combinar: sendo eu este terrível pecador que sou, que moral tenho para lançar a primeira pedra?

Ovelha5No entanto, quando minha alegria ao ver essa dupla bênção aflorou, eis que baldes de água gelada foram lançados na minha cabeça. Pois foi só as pessoas tomarem conhecimento de que essa Bíblia de Estudo seria publicada e não demorou para alguns cristãos impiedosos se manifestarem, desmerecendo a obra, pelo fato de ser comentada pelo homem que um dia adulterou. Parece que preferiam que ele jamais voltasse a produzir nada para o reino. Perdoem-me, mas não consigo acreditar que seja isso o que o Senhor deseja: pelo meu entendimento bíblico, o perdão do pecado confessado e abandonado zera tudo: “O SENHOR é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor. Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades. Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões” (Sl 103.8-12). Isso, claro, é como Deus vê e faz. Mas para cristãos impiedosos não é assim: o cumprimento da sua justiça humana exige que se enterre aquele que Jesus desenterrou e que ele se torne inútil para a obra do Senhor. A justiça da cruz some nessa hora. Vale é a justiça do degredo ou, no mínimo, a do desmerecimento eterno.

É a filosofia do “não o resgate, mate. Mas, já que vai resgatar, pelo menos o esconda em algum porão. E, se não der, desmereça tudo o que ele vier a fazer…”.

Eu não deveria mais me espantar com isso. Afinal, já vi a impiedade se manifestar no seio da Igreja muitas e muitas vezes e de muitas e muitas maneiras. Não em poucas ocasiões testemunhei o apedrejamento de cristãos arrependidos de seus pecados por grupos que consideram seus próprios pecados menos graves do que os dos outros. Pior: vi gente que prossegue sem arrepender-se de suas iniquidades não confessadas acusar e desmerecer coisas feitas por iníquos que se arrependeram, confessaram e deixaram o pecado. O que não é novidade nenhuma, Jesus mesmo falou sobre isso (atente para o negrito):

“Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado” (Lc 18.9-14).

De tanto isso acontecer, eu não deveria mais me surpreender ao ver tantos cristãos justificados de seus pecados serem escorraçados por cristãos que não compreendem o alcance do perdão e da graça de Deus. Aliás, permita-me confessar o meu pecado: eu mesmo não entendia tempos atrás, encharcado de impiedade que eu era, até o dia em que as asas da graça divina se estenderam sobre minha vida e experimentei na pele e na alma o que é ser alvo da compaixão do Senhor. Então, de certo modo, entendo os impiedosos, pois já estive cego como eles estão. O que não quer dizer que eu não fique muito, mas muito triste com atitudes como essas.

Ovelha6É duro ver ovelhas que Jesus trouxe de volta ao aprisco se esforçando para fazer algo em prol da edificação da Igreja e observar o fruto do seu esforço ser desmerecido, desdenhado e boicotado por irmãos em Cristo. Gente que voa na jugular, sabotadores da redenção da cruz. Será que o pai do filho pródigo o recebeu de volta em casa para  ele ficar sentado o dia inteiro, sem fazer nada? O fato de o filho pródigo ter saído dos trilhos por uma fase faz dele imprestável pelo resto da vida? O que Jesus diria sobre isso? Quando Pedro traiu Cristo (três vezes, lembremos) e Jesus o perdoou, o que o Mestre disse ao apóstolo? “Tudo bem, mas nem ouse fazer a obra de Deus, esconda-se num canto e nunca mais faça nada”. É isso? Ou ele manda o pecador arrependido apascentar as suas ovelhas? Pare. Preste atenção: Jesus manda o pecador que o traiu três vezes fazer nada menos do que pastorear as suas ovelhas, cuidar delas, guiá-las. Que lição para todos nós!

Sinto arder na minha pele a tristeza por ver homens impiedosos depreciarem todo o esforço de Swaggart em elaborar essa Bíblia de Estudo, em vez de se alegrarem por ele estar ativo na edificação do Corpo de Cristo. Que tipo de gente faz isso? Que tipo de gente faz caretas e comentários maldosos e maquiavélicos porque alguém que estava perdido foi encontrado e voltou a ser útil? Deveriam estar se alegrando junto com os anjos no céu, por Deus!

E note algo: em momento algum estou falando de concordar ou discordar da teologia que ele prega, de suas crenças soteriológicas ou do que for. Minha reflexão passa longe disso. Estou falando de pecado, arrependimento e perdão de um cristão, algo que perpassa absolutamente toda e qualquer divergência teológica ou doutrinária.

Ovelha7Uma verdade: infelizmente, fala-se muito mais sobre graça do que se exerce graça. É lindo teologizar sobre graça. Mas… pôr em prática? É para poucos. Pois muitos preferem se juntar não ao pai do filho pródigo, mas aos apedrejadores da mulher adúltera.

Peço a Deus que sejamos mais piedosos. Perdoadores. Graciosos. Amorosos. Menos ferinos na língua que fustiga os outros e mais amáveis ao aplicar o bálsamo sobre as feridas dos que se embrenharam pelo espinheiro do pecado mas foram resgatados pela maravilhosa graça.

Volto a dizer: não sou o Espírito Santo para dizer o que se passa no coração de Jimmy Swaggart. Se ele abandonou a prática do pecado eu não posso garantir. Mas quero crer que sim. E, até que me provem o contrário, o sangue de Cristo repousa sobre a vida daquele homem, tornando-o inculpável. E herdeiro do céu.

A ovelha foge do aprisco. O Senhor parte em seu resgate. Ele a traz de volta. Os anjos no céu fazem festa. O banquete é servido. O Pai se alegra. E depois? Depois muitos de nós pegamos aquela ovelha e a espancamos com socos, murros, pontapés e cusparadas. Que linda lição de cristianismo.

Obrigado, Senhor, pela graça. Obrigado, Senhor, pelo perdão. Obrigado, Senhor, pela restauração. E tem misericórdia de mim, pois não sou melhor do que ninguém. Ó Deus, sê propício a mim, pecador…

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Nossos dias são como videoclipes de bandas de rock: alucinados, corridos, confusos, barulhentos, nonsense. TV, internet, games, apps… a lista não acaba. Impossível não querer que isso nos afete. Afeta. E, quando vemos, fomos sequestrados pelo turbilhão da vida pós-moderna. Fomos cooptados. Sugados. É quase uma lobotomia consciente. Mas, de repente, por meios que você jamais imaginaria, Deus põe o dedo sobre os lábios e diz: “Shhhhhhh, acalma-te e cala”.  Quando vem esse tranco, cessa o acelerar do coração, estanca-se  a produção de adrenalina e, motivados pelas mais diversas razões, paramos. Chega. Hora de respirar. Retroceder. Voltar para a retaguarda. Se esconder da humanidade. Correr para longe da multidão de vozes e buscar o isolamento, deixando Deus refazer tudo. E, em meio a todo o ruído ensurdecedor do silêncio que se apresenta quando isso ocorre você descobre algo encantador: a simplicidade.

Quem passa por isso experimenta uma época única e inédita na vida. Um período de introspecção, reflexão, oração; época de repensar, refazer, mudar, reconstruir. De buscar o silêncio e fugir do barulho. Em certos momentos, farfalhar de páginas e a voz dos meus pensamentos muitas vezes é o máximo a que me permito ou me foi permitido. Simplicidade. Em nossos dias, algo raro de se conseguir e muito desvalorizado. Uns são empurrados a viver a simplicidade pelas circunstâncias. Outros, por perdas. Outros, ainda, pela depressão. Ou a descoberta de uma doença terminal. Há os que busquem a vida monástica. Ou a reclusão urbana. Seja qual for a razão ou o meio, conseguir trancar-se ou ser trancado numa bolha em meio ao corre-corre da existência nos leva a um lugar psicológico e espiritual que é puro silêncio.

Simplicidade traz paz. É comida sem requinte, bate-papos triviais, vento nos cabelos, rir de piada sem graça, a incerteza dos planos do Alto para nós e a certeza de que a vida é muito mais do que nos fizeram crer. É viver com pouco dinheiro, descobrir que um punhado de amigos que se preocupam vale mais do que multidões de amigos da boca pra fora, que Dorothy estava certa ao bater seus calcanhares. E, quando a simplicidade te alcança, ali você descobre Deus como nunca antes. Deus é o ser mais complexo do mundo. Impossível compreendê-lo, desista. Como explicar alguém que não teve começo nem terá fim, que é um e três, que é amor e fogo consumidor, que vira homem sem deixar de ser glória? Não dá. Eu não consigo. Os que tentam acabam criando ídolos. Não, não consigo.  Mas tentei, por muito tempo tentei. Busquei nos livros. Busquei nas conferências. Busquei até os neurônios fritarem. E, sem querer, foi na simplicidade involuntária que percebi que o ser mais complexo do mundo é também o mais simples.  100% complexidade, 100% simplicidade.

A simplicidade de Deus está em muitas coisas. Está, por exemplo, em podermos chamá-lo de Pai. Há coisa mais simples do que deitar no colo de um pai e simplesmente desfrutar do afago nos cabelos? Consequentemente, também está na simplicidade do amor paterno. Saímos do chiqueiro, voltamos cabisbaixos para casa e lhe dizemos com o coração sincero que só queremos ser servos, absolutamente certos de que carregaremos para sempre a lama grudada em nossa alma. E Ele balança a cabeça ante nossa puerilidade e diz com carinho que não entendemos nada: o anel será posto em nosso dedo e o banquete estará na mesa.  É tão só isso que você fica paralisado, sem entender ou se ver digno de um amor tão simples, só deixando os lábios tremerem em silêncio enquanto as lágrimas descem por seu rosto. E você, perdoado, aprende a perdoar. Hoje entendo por que minha filha me beija e agarra meu pescoço após sair de um merecido castigo. Pois o amor de Deus é simples como o amor de uma criança. Quem complica somos nós, adultos bobos.

A simplicidade de Deus torna-se visível quando Ele não se apresenta como uma quimera de vinte tentáculos, dez olhos e fúria titânica, mas como o mais singelo dos animais: o manso Cordeiro. De balido baixo. Calmo. Pacífico. Não, não encontro mais Deus nos berros e barulhos, nos shows e nos gritos de êxtase. Tenho me encontrado com Ele nos momentos de penumbra, nos entardeceres na beira da praia,  nas manhãs de chuva em que – achamos – que não temos o que fazer, que o dia está monótono. Mas monotonia é simplicidade pedindo para ser explorada, é o Rei chamando para conversar. Pois Ele está conosco todos os dias, até a consumação do século, sejam dias de céu azul ou cinzentos. E saber isso basta. É simples. Não é complicado. Ele é e Ele está. Feliz é quem descobre isso a tempo. É no silêncio da oração sussurrada, na felicidade da lágrima de agonia, na alegria dos joelhos que doem contra o chão duro, na paz da vida destruída… que você olha Deus nos olhos. Jó olhou e viu. Pois nada mais ele tinha. Em meio a sua desgraça, só restou a Jó o monturo e o caco de telha. Sua vida, embora devastada, tornou-se simples. E, em meio à simplicidade, Jó vislumbrou a essência do Redentor e disse a Ele aquilo que todo cristão deveria dizer:

“Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42.3-6)

Por muito tempo busquei Deus na complexidade e hoje vejo o quanto isso me afastou dele. Não desejo mais um Deus complexo, frio e distante. Agora que descobri a simplicidade do carpinteiro de Nazaré quero vivê-la em sua plenitude, pois foi nela que meus olhos o viram. Não quero perder nunca mais esse reflexo em minhas retinas. E que eu morra depois de viver uma vida da qual o meu Salvador possa se orgulhar –  amando a ele e ao próximo, sem devolver mal com mal, depositando meu tesouro no lugar certo e tratando das feridas de quem estiver caído à beira do caminho. É hora de viver essa simplicidade, para que a hora de morrer faça sentido. Simples assim.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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