Arquivo da categoria ‘Fruto do Espírito’

Pedro trai Jesus. Comete o pecado sobre o qual o Senhor alertara que quem o cometesse seria negado diante do Pai. Entenda, o que Pedro fez não foi pouca coisa. Suas ações tinham consequências eternas gravíssimas! Para piorar, ele tornou-se o apóstolo que mais traiu Cristo: se Judas o fez uma vez; Pedro traiu três vezes.

Sim, foi fundo o poço em que Pedro se atirou. Se o pescador estivesse em uma de nossas igrejas, hoje, não é difícil imaginar o que lhe aconteceria. Rejeição coletiva. Cochichos pelos cantos. Disciplina eclesiástica. Humilhação pública. Proibição de exercer cargos. Memes de internet. Notas em sites de fofoca gospel. Apedrejamento nas redes sociais. Escândalo. Não negue, você sabe que é assim que agimos com nossos pecadores da vez.

Assim é como nós agimos. Jesus, não.

Para Jesus, tudo se resolve com o conceito mais importante de todo o evangelho: “Tu me amas?”.

Sim, a solução, para Cristo, é o amor. Amor que gera arrependimento sincero. Mudança de rumo. Restauração. Renovação. Recomeço. Foi o amor que cobriu a multidão de pecados de Pedro. Não foram a exposição pública, o deboche dos santos juízes, o apedrejamento dos justos inerrantes, uma nota pública de repúdio, o boicote dos moralistas. Nada disso: amor.

“Tu me amas?” é um tapa na cara dos irmãos mais velhos do filho pródigo, ávidos por justiçamento, sedentos pelo cumprimento de uma moral que eles mesmos jamais conseguem cumprir – e ainda assim não saem da internet, dos púlpitos e dos congressos desfilando rosários de lições. Quando tudo o que Cristo exige é amor. Amor vivo, transformador, sacrificial. Que torna apologistas grosseiros em homens mansos, pastores abusivos em amigos restauradores, teólogos verborrágicos em irmãos que edificam, líderes vaidosos em homens que priorizam o rebanho a seus interesses pessoais e familiares. Amor que muda tudo, seca os pés do Mestre com os cabelos e redefine a jornada.

Muitos rejeitam o amor como a solução para os males deste mundo. Ou não entenderam o amor bíblico ou são incapazes de amar. Felizmente, para esses e todos os demais pecadores que somos, resta uma esperança: que Jesus nos pergunte uma e somente uma coisa: “Tu me amas?”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Você já ouviu falar de Gandhi, hindu pacifista que, utilizando a filosofia da não violência, liderou – e conquistou – a independência da Índia. Enquanto os exércitos ingleses vinham com porretes, ele revidava com jejuns, inteligência, bons argumentos e manifestações pacíficas. Gandhi disse: “A não violência nunca pode ser usada como um escudo para a covardia, é uma arma para os bravos”.

Em seus anos estudando na Inglaterra, ele teve contato com o cristianismo. Indagado sobre se a fé cristã não o atraía, ele respondeu que o Cristo sim, mas a incompatibilidade entre os ensinamentos de Jesus e a prática dos cristãos o mantinha afastado. Sobre certo cristão que conheceu, Gandhi disse: “Ele pecava com olhos abertos, e mostrava-me que isso nem ao menos o deixava angustiado”.

Vejo o exemplo e as palavras de Gandhi, um hindu pagão, e os comparo com muitos de meus irmãos e irmãs em Cristo de nossos dias. Por alguma razão bizarra, enorme quantidade de cristãos passou a acreditar que belicosidade é o caminho para as conquistas do evangelho.

Esse ramo da igreja se espelha no péssimo exemplo de líderes cristãos violentos, a quem consideram pessoas corajosas e destemidas. Quanto mais os tais líderes berram, cospem e batem na mesa, mais “ungidos” lhes parecem. Jogam no lixo as virtudes do fruto do Espírito e fazem malabarismos teológicos para justificar agressões e ataques aos “inimigos da fé” como se a agressividade e o ódio fossem virtudes. A Bíblia, para eles, não é centrada na cruz, mas no azorrague de Cristo.

Esquecem dos mártires do Coliseu. Esquecem das palavras de Jesus a Pedro após esse decepar a orelha de Malco. Esquecem do fiasco que foi o uso da violência por cristãos nas Cruzadas. Esquecem do Sermão do Monte. Esquecem de Romanos 12. Esquecem de 2Timóteo 2.24-26. E promovem a beligerância, a agressividade e o confronto como armas divinas contra o que é anticristão. Usam as armas do diabo “em nome de Jesus”.

Não tenho nenhuma esperança de que minhas palavras mudarão o coração desses. Eu não tenho esse poder. Como convencer adeptos da briga, do berro e do confronto de que amor, paz, amabilidade, bondade, mansidão e autocontrole são o DNA da fé cristã se já estão convencidos de que é pela força do muque e do grito que a fé cristã triunfará? Eu não tenho esse poder, só o Espírito Santo tem. Meu discurso, para eles, é piada e motivo de chacota. Sempre haverá argumentos na linha “se um ladrão entrar na sua casa, você vai vencê-lo com gentileza?”. Non sequitur, Gandhi que o diga.

Temo por aonde levará esse tipo de pensamento, que valida a violência e a agressividade “em nome de Jesus”. Virtudes como amabilidade, gentileza, mansidão e pacificação são vistas por esse setor da igrejas como “coisa de mulherzinha” ou de “cristãos afeminados”. Crente bom, para eles, é o que transpira testosterona, soca a mesa e demonstra coragem pelo embate.

Só que não foi isso que Jesus ensinou.

Gandhi, um hindu que pagou com a vida por seus ideais, compreendeu o cristianismo melhor do que muitos cristãos – e enxergou as contradições evidentes da prática que não se apoia no texto sagrado. Sem usar agressividade, derrotou o poderoso império britânico. Os mártires da Igreja primitiva entraram pelos portões da eternidade entregando o pescoço ao aço e às feras, sem revidar. Já os cruzados e inquisidores criaram capítulos vergonhosos da história da igreja porque preferiram a espada e o fogo. E, apesar de tudo isso, ainda precisamos falar dessas coisas em pleno século 21 como se fossem novidade.

Que Deus se apiede de sua noiva e perdoe aqueles que lançam lama sobre o belo evangelho do Príncipe da Paz, o Manso Cordeiro. O pseudoevangelho da brutalidade é escândalo para o mundo – não por sua mensagem confrontar os valores mundanos, mas por ser exatamente igual ao mundo. Por deixar patente que não há diferença no modo de agir desse setor da igreja e o modo de agir do mundo. Só o que muda são as causas defendidas. Os meios são os mesmos: violência, guerra, agressão, ofensas, dedo na cara, confronto.

E isso não é coragem. Isso é pecado. O que me faz lembrar das palavras de Gandhi: “Ele pecava com olhos abertos, e mostrava-me que isso nem ao menos o deixava angustiado”. A história se repete.

No fim, essa é uma questão individual. Só existiram Cruzadas porque, um a um, indivíduos se tornaram cruzados. E, hoje, só haverá guerras santas, “jihads gospel”, se indivíduos se juntarem às fileiras dos apoiadores da violência. No fim, essa será sempre uma decisão individual.

A pergunta que resta é: qual evangelho você apoiará? O dos fiéis mártires pacificadores ou o dos violentos cruzados do berro e do soco na mesa?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Meus olhos correm pela Bíblia procurando passagens que sirvam de base para que cristãos vivam brigando. Não encontro. Comparo o comportamento de frequentadores de igrejas brigões (o que inclui muitos pastores) com a descrição que Jesus faz de gente bem-aventurada e não encontro compatibilidade. Isso me lança em reflexões.

É um fato: vivemos uma geração de cristãos esquisitíssimos, que acham que viver brigando é uma possibilidade bíblica aceitável. Fazem de brigas com o marido, a família, os “amigos” das redes sociais um hábito. E creem que é um comportamento bonito aos olhos do Deus que nos ordena: “O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente” (2Tm.2.24).

Deixe-me repetir: “O servo do Senhor não deve viver brigando”.

Não é um pedido, é uma ordem de Deus.

De onde veio esse pensamento bizarro? Talvez de judaizantes que se baseiam no comportamento guerreiro da Israel do AT. Talvez da ideia alucinada de que, porque Jesus derrubou as mesas dos cambistas, nós podemos ser briguentos. Talvez porque é mais fácil arranjar desculpas bíblicas para continuar sendo tão bruto depois da conversão como antes dela, para não ter de lutar contra sua natureza. Seja a razão que for, justificativas são muitas para ser um adepto das brigas “em nome de Jesus”. Aceitáveis? Nenhuma.

A explicação é que somos, ao mesmo tempo, habitação do Espírito Santo e do pecado. Se vivermos pelo Espírito, seremos pacificadores, autocontrolados e mansos. Porém, se vivermos pela carne, seremos brigões, petulantes, escravos do pecado. Cada um de nós precisa fazer uma autoavaliação. Será que vivemos brigando? Preferimos ter razão a ter paz? Então, precisamos urgentemente tratar essa inclinação. Como? Buscando a face do Príncipe da Paz. Humilhando-se diante do Manso Cordeiro. Arrependendo-se.

E que aquele que nos “chamou para viver em paz” (1Co 7.15) mude nosso coração de pedra em um de carne, disposto a boas obras e a viver como, de fato, ele nos chamou para viver: em paz.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Quando eu era jovem, acreditava que viver era ter doses diárias de emoção. Fosse pelo beijo de uma mulher, pelos gritos da plateia da sua banda de rock, pela repercussão de sua reportagem, pela festança desregrada. Eu era tolo, eu sei. O fato é que por muitos anos acreditei que viver emoções era a meta da vida. Um dia sem emoções seria perdido, inútil.

Até que fui salvo.

Mas, talvez porque não ensinam essas coisas no seminário, achei que tinha de continuar caçando emoções – só que emoções “gospel” – e por isso cometi erros e perdi muito tempo. Tolo. Hoje, tenho cabelos grisalhos. Na rua, para minha estranheza, me tratam por “senhor”. Adolescentes me chamam de “tio”. E as bolsas sob os olhos, fruto de anos de noites mal dormidas lendo, escrevendo e meditando, me dão uma aparência envelhecida. Fato é que meus anos me fizeram passar por um interessante processo de maturação.

Não busco mais emoções. Descobri que uma vida bem vivida não é sinônimo de dias alucinados à caça da nova dose de emoção. O que os anos, as dores, os erros e as alegrias me ensinaram é que a verdadeira felicidade não vem de emoções, mas de algo extraordinário chamado… paz.

Ainda gosto de emoções. Não me furto de desejar um coração acelerado. É bom, quem não gosta? Mas percebi que elas não são o asfalto da estrada: a paz é. A paz de uma consciência tranquila, um jardim florido ao canto dos bem-te-vis, um dever cumprido, uma paisagem tocante, um cafuné, a certeza de uma boa chegada.

Paz não é um luxo, é essência da vida com o “Deus da paz” (Rm 16.20). Tanto que é fruto do Espírito (Gl 5.22-23). Paz era, para Cristo, foco (Lc 10.5; 24.36; Jo 20.19,21,26). Paulo repetidamente desejava paz às pessoas (Rm15.33; 2 Ts 3.16; Ef 6.23), assim como João (3 Jo 1.15) e Pedro (1 Pe 5.14).

Se você é jovem, eis o conselho de um velho: não construa sua vida sobre o alicerce gelatinoso da caça à emoção. Antes, faça da busca da paz a sua base. É possível que, hoje, você não compreenda, mas, quando seus cabelos ficarem brancos e sua pele enrugar, você entenderá. E aí olhará para trás e se dará conta de quanto tempo perdeu correndo atrás do vento.

Pois emoção é vento. Já paz é oxigênio.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Eu confesso: nos últimos tempos senti muita, muita raiva. É uma raiva estranha, resultado de um grande caldo de decepção, desapontamento, tristeza, revolta. Não é algo bonito de se dizer, em especial por ser eu um cristão, mas não posso mentir. Fato é que sou humano, habitação do pecado, e sentimentos brotam no coração sem que eu possa controlar. Permita-me explicar.

Você deve ter tomado conhecimento do caso de George Floyd, ser humano americano que foi preso pela polícia, imobilizado, jogado no chão e, até onde se sabe, sufocado até a morte por policiais que se ajoelharam sobre ele. Eu havia lido as notícias sobre a história e me indignado. Mas foi só quando assisti ao vídeo que tomei ciência da extensão do horror. O homem implorava por sua vida, a ponto de chamar “Mamãe!”. Em coro com a população ao redor, ele pedia por sua vida, diante do olhar impassível de diabos vestidos de policiais. E ele morreu.

Eu chorei e chorei muito. A voz de George e das pessoas ao redor, clamando por sua vida diante de criaturas de Deus que não davam a mínima, rasgou meu coração. Logo, o choro deu lugar a indignação e raiva. Tentei segurar, mas não deu. Sim, senti raiva, muita raiva.

Os últimos meses têm sido um teste para meu cristianismo, minha capacidade de não deixar a raiva virar ira, meu desejo de ser sempre perdoador, minha força para amar e não devolver mal com mal. Não por causa da pandemia, mas por testemunhar em diversos âmbitos o pior do ser humano. O contexto apenas traz à tona o que já existe no coração de cada um e revela o que normalmente os lábios não têm coragem de falar. Pessoas que eu amei mostraram o pior de seu coração. Gente que eu admirava destilou palavras assustadoras. Cristãos promoveram pecados e injustiças como se fossem virtude. Que tempo! Que período! Que desafio!

Ontem, ver o vídeo da abominação de George Floyd foi a gota d’água. O acúmulo de decepção e incredulidade diante do que pessoas são capazes de fazer me levou ao chão, ao joelho, e a raiva transbordou na forma de uma poça de lágrimas no chão. Raiva, muita raiva.

Pode ser que você tenha sentido ou esteja sentindo raiva também. Por causa de política, da pandemia, de decepções, da situação econômica, do comportamento humano, dos rumos da vida. Talvez seu coração esteja pesado, com sentimentos nada bonitos, mas que você não consegue evitar. O que fazer diante do confronto entre nossa humanidade inclinada ao mal e a urgência de ser manso e humilde de coração, conformados à imagem do Cordeiro? Permita-me compartilhar algo sobre isso, que pode ajudá-lo.

Eu estava ali, rangendo os dentes de raiva pela tortura e morte de George Floyd, pela decepção com pessoas, pela maldade e o egoísmo do ser humano. Foi quando, em meio àquela oração doída e molhada, veio um pensamento em minha mente, certamente semeado pelo Santo Espírito de Deus: se eu permitisse que toda aquela raiva se enraizasse em meu coração, eu não seria em nada melhor do que os carrascos que assassinaram o pobre homem. E, se permitisse que a ira atravessasse aquela noite, eu estaria com meu joelho no pescoço de cada pessoa que me decepcionou. Eu me tornaria igual a quem tanto mal fez – a mim e a George.

A teologia cristã nos ensina a doutrina reformada da depravação total: não temos em nós mesmos a capacidade de vencer o mal e dependemos exclusivamente da graça do Cordeiro. Sou sujeito a essa depravação. Nasci imerso em pecado e sou sua habitação. Quando ouvi a voz do Espirito, clamei a ele, o outro habitante de meu coração, e pedi que me inundasse de paz, perdão, magnanimidade, amor, graça e abnegação, porque, por mim mesmo, eu não teria forças para isso.

Pedi que me inundasse de Cristo.

Foi quando veio uma paz que não consigo entender. Uma paz acompanhada da certeza de que não posso esperar o melhor do ser humano, porque cada indivíduo deste planeta é terrivelmente idólatra de si mesmo, perdidamente apaixonado pelos próprios interesses e, se eu sentir raiva cada vez que testemunhar o egoísmo e a malignidade das criaturas de Deus, acabarei sendo vencido pela semente do mal que há em mim.

Foi quando veio uma avassaladora sucessão de verdades bíblicas ao meu coração. Lembrei de que a vingança pertence ao Senhor. Que temos de amar até os inimigos. Que eu sou tão depravado quanto os mais egoísta dos homens e das mulheres. Que nosso descanso não está nesta vida. Que o perdão não é opcional, mas um mandamento. Que não há um justo, nem um sequer. Que felizes são os pacificadores. Que os piores dos seres humanos podem ser resgatados de sua maldade por Cristo. Que Deus é soberano sobre a terra e que meu Redentor há de se levantar sobre ela. Foi um tsunami de verdades que a raiva havia roubado da minha lembrança. E o tsunami trouxe a paz.

Levantei daquela poça com menos raiva. Ainda triste, mas sem raiva. Milagre desses que só Jesus de Nazaré é capaz de operar. Assim como, com uma frase, ele sarou o leproso, Jesus insuflou paz em meus pulmões e a certeza de que nada, absolutamente nada, está alheio aos seus olhos e ao seu coração. E de que ele não está de ouvidos fechados ao clamor dos seus filhos, nem de costas para os fatos que há na terra.

Ele é Emanuel, Deus conosco. Justo, amoroso, compassivo e bom.

Meu irmão, minha irmã, talvez você esteja com muita raiva em seu coração neste momento. Eu não te condeno, acredite, pois passei por isso e te entendo. Pessoas também me feriram. Situações também me abateram. A humanidade também me decepcionou. Mas, olha, deixa eu te dizer uma coisa, de igual para igual: Deus pode mudar isso. Como se irar e não pecar? Indo aos pés do Cordeiro, em pranto, confissão, humilhação e verdade, clamando e se entregando. Atire-se, com autenticidade. Não negue o que pesa em seu coração. E confie na ação sobrenatural de Deus, a única capaz de fazer com que a sua ira não atravesse o limite e triunfe, hedionda, como a obra da carne que ela é.

Cristo assassinou aquilo que assassinou George Floyd. Ele fez isso no Calvário, quando consumou tudo em si. Que os meus e os seus olhos estejam voltados menos para a barbárie e o egoísmo humanos e mais para a cruz do Gólgota, menos para o desdém pela vida alheia e mais para o amor que tanto amou a vida alheia que entregou o próprio Filho em sacrifício vivo. Meu irmão, minha irmã, eu e você não valemos mais do que aqueles policiais que fizeram mal a George nem que aquelas pessoas que nos fizeram mal. Somos igualmente depravados, egoístas, egocêntricos, vaidosos, raivosos. Mas, se Cristo vive em nós, podemos ser diferentes. Não pela força do nosso braço, mas pela extraordinária graça que esvazia a nossa raiva e nos conforma à natureza do manso Cordeiro.

E, quando isso acontece, após levantarmos da poça de lágrimas e nos deitarmos na cama, conseguimos dizer, antes que o sono da paz nos embale pela noite:

– Pai, perdoa, pois eles não sabem o que fazem.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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A ideia de que ser homem com H maiúsculo, másculo, macho significa ser um brucutu destemperado, que arrota alto, vive na academia puxando ferro e manda ver no palavreado como um neanderthal é tão verdadeira quanto dizer que ser cristão significa usar saia comprida, não depilar a perna, usar cabelos até a cintura e ser homofóbico: estereótipos tolos que só atrapalham nossa relação com Deus, com o próximo e conosco. ⁣ ⁣ Ser um homem de verdade, à luz da Bíblia, não tem absolutamente nada a ver com ser um ogro verborrágico, que valoriza músculos acima de sabedoria e paz. ⁣ ⁣

Ser um homem de verdade, à luz da Bíblia, é ter postura e caráter e tratar o próximo como gostaria de ser tratado. É saber reconhecer os erros, se arrepender e pedir perdão. É buscar a justiça com amor, promover a verdade com mansidão e estimular a conciliação com paciência. ⁣ ⁣

Ser um macho à luz da Bíblia é ser macho como Jesus. ⁣ ⁣

Jesus é nosso exemplo para tudo, inclusive para a masculinidade. Ele tratou as crianças com doçura, as mulheres com dignidade, os amigos com amor, os inimigos com intercessão e perdão. ⁣ ⁣

O conceito de masculinidade bíblica parece ter se perdido e assimilado tolices extrabíblicas. Muito se associa masculinidade – nas igrejas! – ao discurso ferino e incisivo, ao olhar agressivo e pesado, ao punho erguido e ao pisão duro. ⁣ ⁣

Mas firmeza não é isso. ⁣ ⁣

É possível, e desejável, ser firme dizendo “olhai os lírios do campo”, “ame seus inimigos” e “não pague mal com mal”.

Aí vem alguém e diz: “Mas e o episódio dos vendilhões do templo?”, como se aquele episódio fosse suficiente para derrubar tudo o que Jesus falou sobre como a humanidade precisa agir e se comportar. Não entendem que a divindade de Cristo lhe dá prerrogativas que o ser humano não tem, que Deus pode matar e se irar, mas que se o homem mata, fere um dos dez mandamentos e, se alimenta a ira e a põe em prática, pratica obra da carne e peca. Tomam um episódio sem ver a teologia por trás, sem analisar os princípios bíblicos do evangelho, sem considerar a hermenêutica bíblica, distorcendo a natureza do Príncipe da paz e todo o conjunto de seus ensinamentos. E acham que o episódio dos vendilhões é suficiente para transformar Jesus num ser que apoia a violência, a agressividade e a brutalidade. Que visão triste do que é a masculinidade de Jesus.

Ser macho como Jesus não é viver irado, mas em amor. Não é ser carrancudo, mas alegre. Não é viver comprando briga, mas pacificando. ⁣Não é ser explosivo, mas paciente.⁣ Não é ser altivo e mal-encarado, mas amável e bondoso.⁣ Não é ser fiel a um cânone machista, mas fiel à Escritura. ⁣Não é ser brigão, mas manso e humilde de coração. Não é ser impulsivo, mas ter domínio próprio e não reagir na base da fúria.

Enquanto associarmos masculinidade ao comportamento de lutadores de UFC, brutamontes e guerreiros em campos de batalha, seremos tudo, menos machos como Deus nos criou para ser. Seremos, somente, sombras tristes da real natureza do Cristo, que não nos ensinou a ser grosseiros cabras machos, mas santos cordeiros da paz.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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O Brasil inteiro está comentando a saída de Sergio Moro do governo e a repercussão das questões entre o ex-ministro e o presidente Jair Bolsonaro. Todos têm certezas, todos têm opiniões, todos correram para as redes sociais a fim de falar sobre o assunto, dizer o que pensam e criticar quem discorda. Se você me acompanha há algum tempo aqui no blog APENAS, sabe que não uso este espaço para falar de política – e assim pretendo continuar. Portanto, esta NÃO é uma reflexão sobre política, mas sobre o posicionamento dos cristãos diante dessa crise.

Por quê? Porque algo que percebi em 99,99% dos comentários de irmãos e irmãs em Cristo sobre o assunto foi a falta de um posicionamento cristão sobre o assunto. Muitas opiniões, pouca Bíblia.

Por isso, decidi dar a minha contribuição. E, pela minha visão, o que devemos fazer, neste momento, como brasileiros e como cristãos, é:

1. Oremos sem cessar.
2. Não devolvamos mal com mal.
3. Cuidemos para que toda palavra que sair de nossa boca seja temperada e só promova a edificação.
4. Não vivamos brigando.
5. Amemos nossos inimigos.
6. Sejamos um, como Cristo e o Pai são um.
7. Intercedamos pelos nossos governantes, para que tenhamos paz.
8. Exerçamos o domínio próprio.
9. Sejamos bem-aventurados pacificadores.
10. Sejamos humildes em nossas opiniões.
11. Tenhamos fome e sede de justiça.
12. Instruamos com mansidão e paciência aqueles que se opõem.
13. Não nos apressemos para falar.
14. Façamos ao outro o que gostaríamos que ele fizesse a nós.
15. Saiba que o Reino de Cristo não é deste mundo.
16. Tenha bom ânimo, apesar das aflições.
17. Lembre que nossa leve e momentânea tribulação produzirá para nós um peso eterno de glória.
18. Em tudo dê graças.
19. Conscientize-se de que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.
20. Jamais esqueça que Cristo está com você todos os dias, até a consumação dos séculos.

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Maurício Zágari
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Uma amiga minha está com enormes dificuldades de lidar com o isolamento e o medo destes dias de pandemia por conta do coronavírus e me procurou para questionar como poderia “manter a sanidade”. Essa pergunta ocupou meus pensamentos por algum tempo e, após alguma reflexão, cheguei a algumas sugestões que gostaria de compartilhar com você:

1. CONFIE EM DEUS. Lembre-se de que o Eterno continua sendo o mesmo de sempre: amoroso, bondoso, compassivo, amigo, cuidador. Não é porque há uma pandemia que ele deixou de ser quem sempre foi. Leia Sl 139.

2. SAIBA QUE A PANDEMIA VAI PASSAR. Esta não é a primeira desgraça da história humana. Enfrentamos peste negra, guerras, terremotos, tsunamis, destruição de civilizações, exílios… e, sempre, a sociedade se reergueu e seguiu adiante. Vai passar.

3. EXERCITE O FRUTO DO ESPÍRITO. Paulo listou em Gálatas 5.22-23 nove virtudes que definem um verdadeiro cristão. Mas elas não vêm automaticamente, carecem de amadurecimento. Então, veja a pandemia como uma oportunidade de amadurecer em paciência, amor, amabilidade, autocontrole, alegria e outras. Deus está ajudando você a crescer.

4. DIVIRTA-SE. Isolamento não é estagnação. Durante este período, faça aquilo que alegra seu coração: ouça música, dance, jogue com a família, conte piadas, veja filmes, faça amor com seu cônjuge, leia bons livros, pegue sol na janela. Produza endorfinas.

5. RELACIONE-SE. Uma das grandes dádivas deste período é que ele nos deu a oportunidade de quebrar o ciclo da correria do dia a dia. Com isso, você tem tempo para gastar horas pondo o papo em dia com os amigos de perto e de longe. Use telefone, Whatsapp, Zoom, Hangout, o que for. A cura da solidão são pessoas.

6. REFLITA. Romanos 12 nos propõe renovar a mente. Não há nada melhor para isso que gastar tempo analisando nossos erros e acertos. Invista o tempo que agora você tem de sobra para pensar em como ser uma pessoa melhor. Após a pandemia, quem você quer ser? O mesmo de antes? Por que não aproveitar este momento para se analisar e melhorar?

7. AME O PRÓXIMO. Seja útil. Descubra quem está em dificuldades e ajude financeiramente. Ampare os sofridos. Encoraje os desanimados. Alimente os famintos. Isso lhe dará enorme senso de propósito nestes dias.

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Maurício Zágari
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Sexta-feira passada, o Rio de Janeiro foi assolado por ventos fortíssimos, de cerca de 90 km/h. Começou como um assobio de filme de terror nas frestas da janela e, quando vi, o vendaval sacudia tudo com fúria. Comecei a ouvir, impotente, barulhos que vinham do terraço, sem que eu me atrevesse a subir para ver o que estava ocorrendo, por conta dos raios, do temporal e do receio de objetos voando. Resolvi aguardar pelo dia seguinte e assim o fiz. O que encontrei foi um cenário desolador.

Explico: passei o último ano cultivando plantas na laje do meu barraco. Adquiri mudas, sementes, vasos, terra, substrato, areia. Plantei, reguei, fertilizei, pus remédios contra pragas… fiz o que pude para ter plantas bonitas, saudáveis, floridas, frutíferas. Foram doze meses de erros e acertos, paciência, pesquisa, preocupação e dedicação. Semana passada, eu estava satisfeito, crendo que já tinha tudo de que precisava para as plantas crescerem e minha alma desfrutar da paz que a beleza da natureza proporciona. Mas, então, sem que eu esperasse, aconteceu a calamidade.

Sábado amanheceu e, logo cedo, subi. O cenário era desolador. Uma árvore estava tombada, com a terra do vaso espalhada pelo chão. Vasos tinham sido lançados à distância. A quantidade de galhos quebrados chegou perto do incontável. Uma trepadeira se soltara do poste e jazia, troncha, pendurada, torta. Montanhas de folhas e flores estavam espalhadas pelo chão, junto com cascas de pinho, arremessadas de seus vasos.

Além das plantas, uma mesa e cadeiras de plástico foram catapultadas à distância, jardineiras encontravam-se em locais bem diferentes dos originais, um espelho foi arremessado da parede e não quebrou por um milagre. Mas um quadro que minha mãe havia pintado com o retrato de minha esposa foi arrancado da parede, o vidro estilhaçou e a pintura foi arremessada pelo vento por cima da amurada, assoprada sabe Deus para onde. Provavelmente, deve estar caída em alguma calçada molhada, a alguns quarteirões de distância.

O resumo da ópera é que, sem contar os estragos causados aos objetos, um ano de cuidados com minhas plantas foram por água abaixo depois de duas horas de vendaval. Minha sensação imediata foi de impotência, frustração, decepção e desânimo. Ao olhar o cenário deixado pelo “furacão”, fui tomado de grande apatia. Olhei, paralisado, o desastre, sem saber por onde começar. E, então, tomado de enorme desânimo, simplesmente, dei as costas, deixei tudo como estava e fui para a cama.

Passei um bom tempo deitado, lamentando a vida e a má-sorte. Mas, passado um tempo, lembrei que, se eu não fizesse nada, tudo continuaria como estava. Respirei fundo, tentando aspirar um pouco de ânimo, enrijeci as pernas e subi novamente. Embaixo de uma chuva fina, dediquei as horas seguintes a catar incontáveis cacos, jogar muita coisa no lixo, levantar o que estava caído, recolher o que fora derramado, amarrar plantas soltas e quebradas, ajeitar o que ainda tinha jeito.

Ao fim de um longo tempo, terminei. Olhei em volta. A aparência do local não era bonita. Galhos desfolhados, tortos e remendados; chão imundo; vazios nas paredes onde antes havia quadros; sujeira para todo lado, um aspecto menos verde e florido que antes. Um cenário triste, desolador e desanimador – exatamente como acontece conosco em muitos momentos da vida.

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Meu irmão, minha irmã, de tempos em tempos, enfrentamos a mesma coisa em nossa jornada. Tudo parece bem, o céu está azul e ensolarado, há beleza ao redor e tudo parece caminhar para um futuro florido e frutífero. Até que, de repente, de forma inesperada e aterrorizante, vem um vendaval assustador. Tudo fica fora de lugar, o que antes estava limpo agora está sujo, projetos que subiam vigoroso para o alto se tornam galhos quebrados e murchos, e muito do que você vinha construindo é lançado ao chão e se esfacela ante a força das circunstâncias. Você tenta fazer algo, mas o vento vem de todos os lados, incontrolável, indomável, e destrói tudo por onde passa sem que você consiga segurá-lo. E, quando, finalmente, o vendaval cessa, o cenário que surge diante dos olhos é de assolação.

O que se segue, naturalmente, é desânimo. Vontade de desistir. Sentimento de solidão, impotência e frustração. Você pensa como aquilo foi possível, já que você se esforçou para fazer tudo certo, cultivou as coisas como deveria, dedicou-se e deu o melhor de si, mas… foi surpreendido pelo vendaval implacável. Seu longo esforço e sua suada dedicação não serviram de nada, pois em poucos instantes tudo veio abaixo.

E, cá entre nós, parece que Deus não fez nada para nos ajudar. Chegamos a pensar que pedimos pão e ele deu pedra, que pedimos peixe e ele deu serpente. Tal qual Jó, nos damos conta de que o que tínhamos não temos mais e que nosso sorriso desapareceu num piscar de olhos. Já se sentiu assim?

Porém, passado um tempo, é hora de catar os cacos e varrer o chão. E de entender que Deus permite vendavais como esse por propósitos muito elevados e, embora invisíveis, renovadores.

Demora, eu sei, mas é preciso. E lembre-se de que, nesse meio-tempo, Deus está ali, de ouvidos abertos para ouvi-lo. Cate as folhas mortas. Remende os galhos quebrados. Jogue o que não serve mais no lixo. E, uma vez mais, dê o seu melhor, para recuperar o jardim. Depois, tome um banho, calce meias quentes e tome um café forte. Faça tudo que pode fazer e deixe o resto aos pés da soberania de Deus. Os levitas puseram o pé no Jordão, isto é, fizeram a sua parte, mas quem abriu as águas do rio foi o Senhor.

Pode demorar um dia, ou dois. Talvez três. Ou uma semana. Um ano. Décadas. Mas, eventualmente, o céu se abrirá, o azul cobrirá sua cabeça como um edredom que aquece e o sol voltará a brilhar no jardim. As plantas novamente crescerão, as flores brotarão e as frutas ressurgirão nos galhos. Vassourada após vassourada, você removerá do chão os últimos resquícios de sujeira e novos quadros serão postos nas paredes, renovando o ambiente.

Tempos depois, aquele momento desolador não passará de uma lembrança de um entre tantos dias ruins que compõem, junto com os dias bons, essa coleção de tempos que chamamos de vida.

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Em tudo isso, resta-nos a gratidão. Que, em meio à assolação, nunca nos esqueçamos de que Deus não deixou de nos amar, segue nos acompanhando com seus olhos cor de graça misericordiosa e está sempre pronto a enxugar nossas lágrimas.

Você se dá conta, então, de que as folhas e as flores que o vendaval arrancou eram as mais frágeis, defeituosas e doentes, assim como, no vendaval da sua vida, as amizades verdadeiras serão reveladas pelo vendaval. Os interesseiros, bajuladores, incompassivos e falsos amigos serão varridos para longe pelas circunstâncias. Você perceberá que a terra derramada dos vasos era a que estava por cima, já ressecada pelo sol e sem nenhum nutriente, assim como, no vendaval da vida, muitas das prioridades que estavam no topo de seus dias serão descartadas, pois o caos sempre nos revela quando estamos valorizando o que já não tem nutrientes. Com o tempo, você se dará conta de que a assolação trouxe muitas bênçãos, que cumprem os desígnios divinos. Trouxe limpeza. Renovação. Conscientização. Amadurecimento. Novidade de vida.

Meu irmão, minha irmã, o vendaval acabou de passar. Meu terraço ainda está uma bagunça e a chuva ainda cai, fina e incômoda. Mas eu sei que meu Redentor vive e que sua graça, sua misericórdia e seu amor seguem imutáveis. Ele é bom e tem sempre os melhores propósitos, mesmo que soframos perdas e derramemos muitas e muitas lágrimas dos olhos.

Minha oração é que as lágrimas reguem as plantas destroçadas. Elas podem cair durante 41 capítulos, mas, ao fim, é preciso ter fé de que o capitulo 42 chegará, trazendo com ele sol, renovo, sorrisos e paz. E, então, você perceberá que suas lágrimas regaram as plantas destroçadas e contribuíram para que elas se tornassem, assim como foi com as filhas de Jó, as mais belas e admiráveis de toda a região.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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