Arquivo de outubro, 2013

Desista1É muito comum ouvirmos em nosso meio evangélico que o cristão em tudo deve perseverar, que precisa buscar seus sonhos e nunca, sob nenhuma circunstância, desistir. Não creio nisso. Simplesmente porque a Bíblia não diz isso. A perseverança deve ser na santidade e na obediência, sempre. “Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2.10). Mas, em se tratando de sonhos humanos, isso não se aplica. Lendo as Escrituras, vejo que o cristão deve ter ciência de que, em certas situações, chega um momento em que precisa desistir, abrir mão do que ele quer. Podemos ver muitos exemplos, como o de Jesus, que desistiu de pedir ao Pai que afastasse dele o cálice do sofrimento (Mt 26.36-46). Ou Paulo, que desistiu de orar a Deus pedindo que tirasse o espinho de sua carne (2Co 12.7-10). Sim, há ocasiões em que o Senhor espera que nos conformemos e entreguemos os pontos. Certas esperanças não devem ser alimentadas, em especial porque nosso coração é enganoso e não sabemos muitas vezes qual é a vontade divina. Assim, se o que almejamos difere do que Deus almeja, tenha a certeza: o melhor é desistir. Perca a tua esperança, pois ela está depositada em algo que não condiz com o querer do Senhor.

A pergunta imediata que se segue é: como posso saber se meu sonho está de acordo com que Deus quer? Há dois critérios principais: o que a Bíblia diz e a paz no coração.

A vontade de Deus está revelada nas Escrituras. Então conheça a Bíblia. Estude-a. Veja os princípios que ela defende. Nem sempre há uma resposta objetiva para a sua situação, mas há princípios bíblicos que podem responder teu questionamento e nortear teus sonhos e tuas metas. A resposta nem sempre vem num versículo claro, mas num conceito transmitido ao longo de toda a Escritura. Por exemplo: não existe nenhuma passagem bíblica que fale que não devemos fumar crack, mas há um princípio claro acerca dos cuidados que devemos ter com nosso corpo e com nossa mente. Ou, então, você tem aquela dúvida que assola milhões de solteiros: devo namorar aquela pessoa que não é cristã, na esperança de que ela vai se converter? É para persistir nesse relacionamento ou não? Aí você vai à Bíblia e vê que ela é clara sobre o fato de que esse é um namoro em jugo desigual (2Co 6.14-16), mas a Escritura não te dá a certeza de que o (a) jovem será salvo (a). Na dúvida, vá no certo, desista do erro (até porque Deus não precisa que você namore ninguém para que aquela alma seja alcançada, se o Espírito de Deus quiser salvá-la usará até uma mula).

O segundo critério é a paz no coração. Paulo escreveu: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração” (Cl 3.15). Portanto, se você vive uma situação de constante atribulação, é hora de pegar o primeiro retorno e dar no pé. Isso acontece muito, por exemplo, em relacionamentos afetivos. Sabe esses namoros que mais parecem dramalhões mexicanos, com arroubos de sofrimento, fins e recomeços, rompimentos dramáticos e voltas novelescas? Onde está a paz? Se não há paz, não insista, desista. Ou quando tem de fechar um negócio mas fica em agonia sobre se assina o contrato ou não? Ou, ainda, na decisão entre seguir a carreira que vai realizar você ou a que vai te dar dinheiro? Não insista no que agonia, desista.

Desista2Quando comecei a pensar no assunto para escrever este post, calhou que assisti ao belíssimo filme “A vida secreta das palavras”. Durante o longa-metragem, um personagem menciona um livreto curto e exuberante, “Cartas de amor de uma freira portuguesa”, de Mariana Alcoforado, e imediatamente me lembrei que essa obra trata exatamente disso: a necessidade de abandonar sonhos que dominam nosso ser com fúria. Resolvi reler essa pequena coletânea de cartas enviadas por uma freira ao homem que ama, que jamais voltou a encontrar pessoalmente e com quem nunca pôde se casar. A história é real e, naturalmente, a experiência de Mariana tem aspectos nada louváveis em termos cristãos (como você perceberá na leitura), mas a mensagem sobre a importância da desistência em certas situações está lá com uma força sem igual na literatura. Resolvi compartilhar o curto PDF desse livreto. Você pode fazer o download gratuito clicando neste link: < Cartas-de-Amor-de-uma-Freira-Portuguesa >. Minha recomendação é que reflita sobre a trajetória de Mariana, da total esperança à desistência. Em sua última carta, fica claro que desistir da esperança seria a única decisão que daria a ela forças para seguir vivendo. Não sei dizer se a distância do amado lhe trouxe a paz que ela desejava ao coração, mas pelo menos trouxe um tipo de paz meio genérico, catatônico e artificial – porém, suficiente para lhe dar forças para seguir.

Temos de saber a hora de render nossa vontade. Se Deus diz “não”… é não. Se insistirmos no “sim”, só o que conseguiremos é uma vida de sofrimento e dor à espera de algo que jamais chegará.

Recomendo que leia o livreto. É uma leitura que não dura mais que 15 ou 20 minutos. Depois sinta em si o sofrimento e a frustração de Mariana. Em seguida, veja se o melhor não foi ela dar adeus a seu sonho, que alimentou tão desesperadamente por tanto tempo. Por fim, pense se na tua vida há algum sonho que esteja sendo alimentado à toa, porque vai contra o desejo do coração de Deus. Se você tiver a convicção que perseverar nesse objetivo é a vontade do Senhor, vá em frente. Mas… e se não for? Nessa hora, entregue-se em sacrifício vivo ao Senhor e diga: “Seja feita a tua vontade” (Mt 6.10). E, se a vontade dele for que você abra mão de certos objetivos e sonhos, perceba que abandoná-los não significa falta de fé, de fidelidade ou de perseverança: é o cumprimento da boa, perfeita e agradável vontade de Deus e, certamente, é o que te trará felicidade.

Persista. Mas, se não for da vontade do Senhor, desista. E, aí sim, você estará cumprindo a vontade do Senhor. Sabendo que, muitas vezes, a desistência do que você tanto queria pode se tornar a maior bênção da sua vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Flor1Todos nós vivemos a vida com um certo grau de rotina. Acordamos, fazemos nossas orações, tomamos café, escovamos os dentes, vamos estudar ou trabalhar, voltamos para casa, jantamos, lemos um bom livro, voltamos a dormir. Normal, sem novidades. Mas também todos temos ocasiões em que essa rotina é quebrada por momentos fundamentais, fatos marcantes de nossa trajetória que ficam infinitamente cravados na lembrança ou que mudam para sempre nosso destino. Se eu te perguntasse quais os momentos mais decisivos da sua vida, você me faria uma lista de uns dez a quinze eventos: primeiro beijo, nascimento dos filhos, dia do casamento, noite de núpcias, data em que aceitou Jesus, batismo em águas, primeira viagem ao exterior, o dia em que recebeu o diagnóstico de uma doença mortal. Coisas assim. Sempre acontecimentos como esses compõem a lista dos eventos mais memoráveis de sua vida. Fiz essa experiência com algumas pessoas e, sempre, a lista tem mais ou menos essa quantidade de fatos. Dez, quinze. Em casos raros, vinte. Mas… em tantas décadas de vida, só isso? Como pode alguém ter apenas vinte eventos marcantes ao longo de trinta, quarenta, setenta anos de vida? Pensei um pouco sobre isso e acredito que nossas listas são tão limitadas porque não prestamos atenção à grandiosidade dos pequenos momentos.

Muitas vezes, há instantes que nos passam despercebidos, mas que são extremamente significativos. Aquele por do sol de beleza indescritível. O minuto em que você chegou ao ponto final de um livro esplêndido. Aquele café sentado Arpoadorna Colombo do Forte de Copacabana, bem de manhãzinha. O despertar espreguiçado naquele sábado de sol, céu lindo e pássaros cantando na janela. O entardecer de verão, quando as cigarras começam sua sinfonia. O momento em que fica com a cabeça no colo da pessoa amada, em silêncio, só desfrutando da presença. O instante em que leva à boca sua comida preferida, à beira da praia, num jantar de férias. A emoção de ouvir um violino tocar sua música preferida no Theatro Municipal. As lágrimas ao rever pela milésima vez seu filme favorito do Chaplin. O cheiro da sua livraria preferida. Momentos marcantes, essenciais para nossa vitalidade, mas que, por ter aparência de rotina e aspecto de normalidade, não entram na nossa lista dos mais marcantes.

Gostaria de convidar você a repensar os momentos mais marcantes da sua vida. Esqueça os clichês. Comece a analisar a majestade que há na aparente insignificância. E você verá que a tua existência é composta pela soma de uma sucessão de instantes magníficos.

Se você parar para pensar, verá que foi de pequenos eventos que grandes acontecimentos surgiram na história da humanidade. De instantes como outros quaisquer brotaram fatos que mudaram os rumos da civilização. E na sua vida? Você consegue identificar como momentos de aparente pequena importância definem os rumos da sua trajetória? Se consegue, valorize-os.

Às vezes faço um exercício de imaginação. Penso que sou um morador de Jerusalém, dois mil anos atrás, saindo de casa num dia normal e passando ao lado de um local onde criminosos rotineiramente eram executados. Eu poderia estar com pressa, atrasado para um compromisso qualquer, e mal daria atenção para mais aqueles dentre tantos criminosos mortos pelo Império Romano. Seria uma cena comum em um dia comum, entre tantos dias comuns. Nem olharia direito para a crucificação, preocupado com o grande evento da Páscoa, que ocorreria dia seguinte. Aquilo sim seria algo importante. Aquela crucificação era irrelevante. Agora, para você, que conhece a história toda, eu pergunto: era mesmo?

É num dia como outro qualquer que você conhecerá o único amor da sua vida. É numa noite comum que você comporá aquela música que entrará na história das artes. É do nada, quando você menos espera, que seu filho dirá a primeira palavra. É numa manhã chata que você descobre que passou para a faculdade que queria. É num período entediante que toca o telefone e é aquela pessoa querida que você não vê há anos. Todos momentos rotineiros. Todos momentos especiais. É numa noite chuvosa e incômoda que você verá o filme mais emocionante de sua vida. É num passeio qualquer que você verá a flor mais bela que já viu. Parece pouca coisa, papo de poeta meloso? Não para quem sabe apreciar a beleza que Deus semeou em cada pequeno dente de leão que flutua ao sabor do vento.

Arpoador1A Bíblia usa três imagens para definir nossa vida. Diz que ela é como uma neblina (Tg 4.14), como um sopro e como uma sombra que passa (Sl 144.4). Meu irmão, minha irmã, nossa vida terrena se esvai numa rapidez inexplicável. Quando você se dá conta, já é um idoso. Assim, num estalar de dedos. Os dias voam. Preste atenção nos minutos aparentemente insignificantes de sua vida. E viva-os ao máximo. Não desperdice um segundo sequer, pois você corre o risco de chegar ao fim da caminhada lamentando tudo o que poderia ter vivido e não viveu, porque ficou esperando eventos grandiosos e acontecimentos espetaculares enquanto podia ter saído da inércia para viver de forma destemida cada segundo da jornada. Se você tiver a coragem de não desperdiçar seus dias sobrevivendo um após o outro, como quem vira páginas de um livro desimportante, aí sim sua vida terá valido a pena.

Viva em plenitude cada momento, mesmo aqueles que parecem sem função. Se fizer isso, sua jornada nesta terra será marcada pela permanente grandiosidade das pequenas coisas.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

wordsPela primeira vez na história do APENAS não farei uma reflexão sobre algo ligado à Igreja e às coisas de Deus. Bem, pelo menos não diretamente. Acabei de assistir a um filme que me impactou demais: “As palavras” (The words), roteirizado e dirigido por Brian Klugman e Lee Sternthal. É a história de um escritor medíocre que descobre por acaso o manuscrito de um livro profundo e genial, o pública como seu e torna-se um sucesso instantâneo. Só que ele acaba sendo procurado pelo verdadeiro autor da história. O que se segue é uma das reflexões mais profundas e belas a que já assisti no cinema sobre questões como a relação entre a emoção e as palavras, entre a verdade e a mentira, entre a vida e a arte e sobre relacionamentos. É um fantástico mergulho na sensibilidade humana, nas contradições que todos nós temos e em aspectos essenciais de nossa vida.

Eu tinha pensado em discorrer sobre o filme, as suas mensagens e seu impacto sobre nossa alma, mas cheguei à conclusão de que o melhor que posso fazer é recomendar que você assista ao longa-metragem e encontre as profundas implicações que ele aborda – de acordo com a sua própria realidade e as suas experiências.

Então fica a recomendação: “As palavras” (2012) está na programação do Telecine ou nas locadoras. No elenco estão Bradley Cooper, Dennis Quaid, Olivia Wilde, Zoe Saldana e o sempre brilhante Jeremy Irons.

Eu disse que o assunto nada tinha a ver com as coisas de Deus? Bem… cá entre nós, se você conseguir mergulhar às profundidades que este filme proporciona, tenho certeza que a experiência trará belas reflexões para sua vida espiritual.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Ausencia1É muito comum ouvirmos irmãos reclamarem, tristes, porque não estão sentindo a presença de Deus. É interessante isso, porque as últimas palavras que Jesus disse antes de ascender ao céu foram precisamente: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20). Geralmente, numa despedida, as pessoas deixam para falar ao final o que há de mais importante a ser dito, para que aquilo ecoe para sempre nos ouvidos do receptor. É comum darmos atenção às últimas palavras de alguém que está para morrer, pois entendemos que há um significado especial naquilo que será a mensagem derradeira dele. Logo, Jesus não deixou para dizer essas exatas palavras por último à toa. Elas deveriam ecoar diariamente em nossa mente: o século ainda não se consumou, portanto Jesus está conosco. Jesus está conosco, meu irmão, minha irmã. Jesus está com você. E note algo: o Mestre disse “todos os dias”. E o hoje faz parte dos “todos os dias”. Logo, Jesus está hoje com você.

Então temos aqui um conflito. De um lado, Jesus fez questão de deixar ecoando na sua mente a absoluta e irrefutável certeza de que ele estaria com você hoje. Do outro lado está você, triste, porque diz que não sente a presença de Jesus hoje. Não creio que Jesus tenha mentido. Então a questão não é se ele está ou não com você (pois ele está, como afirmou que estaria), o problema é que há em você uma percepção da ausência dele. E isso tem de ser resolvido.

Foto gentilmente cedida por giselli m. (ficamaisessedia.blogspot.com )Presença é algo incrivelmente forte. Proporcionalmente, a ausência também. Quem é que nunca “morreu de saudade” de alguém? E repare: associar saudade a morte fala muito sobre a força que tem a ausência de um ente amado. Quando amamos, a presença se torna imprescindível. Amor sem presença é um universo inteiro dentro do peito composto só de espaços vazios: sem Sol, sem Lua, sem estrelas, nada – um vácuo escuro e silencioso.

Corremos para encontrar nosso amor. Armamos esquemas para poder estar juntos alguns minutinhos a mais por dia. Pegamos aviões para passar um fim de semana que seja com o amado que mora em outra cidade. Mandamos torpedos. Enviamos e-mails. Aguardamos, aflitos, sinais de vida de quem amamos: é só o telefone tocar ou o barulhinho de chegada de e-mail soar que o coração dispara. O amor exige presença.

Nunca me esqueço de uma conversa ocorrida meses atrás com uma pessoa querida que tinha perdido seu noivo de forma trágica. Ela me disse: “Sei que ele morreu há muitos anos, mas até hoje eu o amo”. Que coisa forte! Impacta-me e me emociona pensar nisso. E eu via nela o sofrimento da ausência compulsória. O mesmo ocorre quando pessoas amadas vivem geograficamente longe. Meu irmão de sangue mora em outro continente, para onde foi há mais de vinte anos. Se você me perguntar se a dor da partida dele arrefeceu com o tempo eu te diria num piscar de olhos: não! Nós nos falamos pela internet com certa regularidade, de dois em dois anos ele vem com a família ao Brasil e de tempos em tempos vou visitá-lo, mas cada adeus é uma punhalada no coração. Não, ainda não me acostumei à ausência dele, mesmo depois de mais de duas décadas e muitos reencontros. Distância nos faz, de saudade… morrer. Ausência machuca. Ausência de alguém que amamos é um doloroso e sufocante terror. Eu odeio a ausência.

Ausencia5Fiquei na dúvida se daria a este texto o título de “A ausência da presença” ou “A presença da ausência”. Após refletir um pouco, optei pelo segundo, porque, embora pareçam similares, há uma diferença substancial no peso de cada um. Uma presença ausente fala de alguém que deixou um vazio. Isso é doloroso, mas se refere a algo que não é. Só que a presença da ausência é muito mais forte, mais dolorosa, mais nefasta. Porque se refere à presença do vazio deixado por quem não está. Algo que é. E está ali, assombrando, machucando. O vazio torna-se um personagem palpável, concreto, sólido, espinhoso, agressivo. Não é apenas uma suave ausência. É a terrível presença do nada. “A ausência da presença” me lembra um salão vazio e silencioso, algo que, apesar de ruim, é suportável. Já “A presença da ausência” me remete a um salão lotado, cheio, absolutamente tomado por uma ausência que se faz presente e é barulhenta, ruidosa, espaçosa – insuportável.

OLYMPUS DIGITAL CAMERAQuem ama também vivencia um fenômeno interessante: carrega perenemente o ser amado dentro de seu peito. O amor cria um vínculo constante e diário de presença do outro: na mente, no coração, na alma. Há uma canção que traduz bem esse fenômeno, quando o cantor diz “onde está você agora além de aqui, dentro de mim?”. É exatamente isso. Na ausência há uma presença assombrosa do ser amado, que habita pensamentos, lembranças e sentimentos com a constância do pulsar de um coração. Só que é uma presença sem resposta, pois o outro está longe. Não se pode tocar no outro, conversar com ele, olhar em seus olhos. É ter uma fome que jamais se sacia – até que, um dia, a presença se faz percebida de modo concreto.

Creio que esse é o caso de quem diz que não está sentindo a presença de Deus: anseia-se desesperadamente por uma presença mais palpável do que a que há naquele momento. Jesus está ali. Mas seu servo considera aquilo insuficiente. É como se dissesse: “Deus, por favor, pegue um avião e venha até aqui para que eu possa te tocar, abraçar, beijar e olhar dentro de teus olhos!”. Só que Deus não faz isso. Na verdade, nunca fará. Então há dois caminhos: ou o servo que se sente abandonado se conforma ou busca meios de perceber a presença divina. E que meios são esses?

Oração e estudo da Bíblia.

Ora, Zágari, isso não é nenhuma novidade! Isso estou cansado de saber e não precisava ter lido este post enorme para que você me diga o que é óbvio! Sim, concordo, é óbvio. E é óbvio porque é como Cristo se faz presente entre nós desde que ascendeu aos céus. É na comunicação com ele que você se aperceberá de sua presença. Pois ele está aí, juntinho de você. Você é que não se dá conta! E, por isso, não “sente a presença de Deus”. É como pôr a mão no fogo e não sentir o calor. Quer sentir o calor desse fogo? Ore. Estude as Escrituras. E as portas da percepção dessa presença se abrirão. Se é óbvio… basta pôr o óbvio em prática.

Ausência de quem se ama é uma das piores dores do mundo. Querido, querida, não se inflija essa dor pelo fato de supor que está ausente alguém que, na verdade, está presente. Ele afirmou que estaria. Ele está. Seu pecado não o expulsou. Ele não disse que estaria conosco todos os dias “menos naqueles em que você pecar”. Não. Todos os dias são todos os dias. E, cá entre nós, a gente peca… todos os dias.

Jesus é contigo. Ele está bem aí em você. Não sofra pela ausência de quem não está ausente. O que falta é você se dar conta – pela oração e pela Palavra – de que ele não foi a lugar algum. E permanece com você todos os dias, até a consumação do século.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Doente1Imagine que você recebe o diagnóstico de um problema de saúde que te levará à morte em cerca de dois a três anos. Você se trata por alguns meses, faz tudo o que os médicos mandam, toma remédios, esgota todas as possibilidades de tratamento, mas, ao final, descobre que não adiantou nada. O quadro só piorou. O mal é inoperável. Transplante não resolveria. Nada a fazer. É apenas uma questão de se conformar e usufruir do tempo que tem. O que você faria?

Sei que essa não é uma pergunta muito original, muitas vezes já ouvi algo do tipo: “Se o mundo fosse acabar amanhã o que você faria hoje?”. Mas isso sempre esteve muito no campo da irrealidade, da urgência e até da brincadeira. Só que… pense numa possibilidade real. Concreta. Um fim não tão imediato mas em curto prazo, três anos no máximo. Isso daria tempo para atitudes mais pensadas, ações consequentes, e não aquela coisa de “ah, eu torraria todo meu dinheiro numa noite só”. Estou propondo uma pergunta consciente e realista: você recebeu o diagnóstico de uma disfunção letal, as alternativas extremas que a medicina oferecem são arriscadas demais e, um dia, os médicos, constrangidos, te informam que você tem cerca de três anos de vida. Com muita sorte, quatro. E aí?

No início você ficará deprimido, é normal – os especialistas explicam que o luto dura em torno de um ano e meio a dois anos. Mas sugiro um esforço para que isso se abrevie, afinal, você não vai querer passar todo o tempo que lhe resta em depressão. Um bom remédio prescrito por um psiquiatra vai te ajudar, junto com terapia e aconselhamento pastoral. Desabafar com pessoas de confiança também ajuda – mas só aquelas que tiverem estrutura emocional para saber da situacão, caso contrário, contar será pior do que manter sigilo (pois, em vez de apoio, você só terá ao seu lado ataques de choro e olhares de pena). Agora, passados os efeitos do choque inicial, é hora de se levantar e decidir o que fazer.

No imaginário popular, descobrir que a morte tem data marcada para chegar está associado a um descontrole total. As respostas que você ouve por aí são as mais desvairadas. Mas um cristão tem de pensar diferente. Venho refletindo sobre isso e cheguei a uma teoria sobre o que é importante fazer nesse tempo que lhe resta. Na verdade, penso em duas coisas.

Doente2Primeira: faça o que é certo. Se houve pessoas que você prejudicou, aja da forma que for necessária para consertar as coisas. Promova a união. Ponha sua vida em ordem. Ajude a pôr a vida dos que te são caros em ordem. Peça perdão a quem feriu. Perdoe quem te fez mal. Abandone pecados recorrentes. Ajude o próximo. Devote-se ao outro. Tente edificar o máximo de vidas que puder. Dê todo carinho e amor do mundo aos seus filhos, para que, mesmo após a sua partida, você deixe marcas positivas neles. Aconselhe amigos com problemas. Em outras palavras: viva como um bom cristão, para que, de algum modo, ajude aqueles que ainda permanecerão por mais tempo do que você nesta terra. Algumas dessas atitudes poderão exigir sacrifícios, mas, convenhamos, você terá em breve muito tempo para se recuperar do sofrimento e dos desafios que fazer o que é certo vai promover.

Segunda: deixe um legado. Deus não te pôs no mundo só para que você coma, durma, ganhe dinheiro, assista a futebol, vá ao cinema, perca tempo em redes sociais, jogue videogame e fim. Nada disso. Sua curta passagem pela terra precisa ter um significado maior. Algo que ecoeDoente3 pelos anos a seguir. Que edifique vidas. Se você quer escrever um ou mais livros que permanecerão abençoando pessoas após sua partida, corra e escreva (e nada de dizer que não tem tempo, você pode dormir mais tarde ou acordar mais cedo, por exemplo). Se você deseja plantar um belo jardim, que trará paz e beleza às pessoas, mãos à obra. Se quer compor canções ou poesias, não adie: o mundo precisa de arte. Se seu sonho é abrir uma igreja, abra, Deus dará um jeito de pôr boas pessoas ali para cuidar do rebanho. Se tem vontade de lecionar, ensine, passe adiante tudo o que aprendeu ao longo da vida. Você pode até mesmo criar um blog e deixar textos para a posteridade, que ainda daqui a muitos anos poderão abençoar uma ou outra pessoa – e não escreva futilidades, mas só o que promove a edificação. Deixe uma herança que, de algum modo, vai registrar sua passagem pela terra – sempre com foco no próximo. Em curtas palavras: plante uma semente.

É claro que você não conseguirá acertar tudo. Sua humanidade não desaparecerá só porque você descobriu que porta uma síndrome letal. Ainda vai errar, tropeçar, pecar. Mas isso pode ser usado para te ensinar muito mais sobre o amor de Deus ainda nesta vida. Não seria esse, aliás, um dos poucos benefícios dos pecados que cometemos? Aprender mais sobre a compaixão divina? Desfrutar mais do caráter de Deus? Conhecer a graça face a face?

Doente4Fazer o que é certo e deixar um legado. Pelas minhas reflexões, essa é a melhor forma de desfrutar de seus últimos anos de vida. Eu peço a Deus que você não passe por isso, que viva ainda anos longos, produtivos e felizes. Mas não custa nada começar a viver hoje como se descobrisse que seu coração vai parar de funcionar em dois a três anos. Pois, com isso, você terá uma vida extremamente significativa. Imagine que maravilha seria se pudesse perpetuar o que se propôs a realizar nesse curto período por duas, três, quatro décadas? Com certeza sua passagem pela terra seria memorável. Nem todos terão a oportunidade de viver tanto, alguns o Senhor decide chamar precocemente para junto de si. Mas, se você for agraciado com longevidade, desfrute de modo abnegado, devotado e piedoso dos anos que Deus te dá. Abra mão de si pelo próximo. Faça o melhor por quem ama. Dedique-se ao bem-estar das outras pessoas. E plante um legado. As futuras gerações agradecem, pois você terá feito parte da construção de um mundo melhor. E, acredito eu, você será recebido no céu com um lindo sorriso.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício