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Flor1Todos nós vivemos a vida com um certo grau de rotina. Acordamos, fazemos nossas orações, tomamos café, escovamos os dentes, vamos estudar ou trabalhar, voltamos para casa, jantamos, lemos um bom livro, voltamos a dormir. Normal, sem novidades. Mas também todos temos ocasiões em que essa rotina é quebrada por momentos fundamentais, fatos marcantes de nossa trajetória que ficam infinitamente cravados na lembrança ou que mudam para sempre nosso destino. Se eu te perguntasse quais os momentos mais decisivos da sua vida, você me faria uma lista de uns dez a quinze eventos: primeiro beijo, nascimento dos filhos, dia do casamento, noite de núpcias, data em que aceitou Jesus, batismo em águas, primeira viagem ao exterior, o dia em que recebeu o diagnóstico de uma doença mortal. Coisas assim. Sempre acontecimentos como esses compõem a lista dos eventos mais memoráveis de sua vida. Fiz essa experiência com algumas pessoas e, sempre, a lista tem mais ou menos essa quantidade de fatos. Dez, quinze. Em casos raros, vinte. Mas… em tantas décadas de vida, só isso? Como pode alguém ter apenas vinte eventos marcantes ao longo de trinta, quarenta, setenta anos de vida? Pensei um pouco sobre isso e acredito que nossas listas são tão limitadas porque não prestamos atenção à grandiosidade dos pequenos momentos.

Muitas vezes, há instantes que nos passam despercebidos, mas que são extremamente significativos. Aquele por do sol de beleza indescritível. O minuto em que você chegou ao ponto final de um livro esplêndido. Aquele café sentado Arpoadorna Colombo do Forte de Copacabana, bem de manhãzinha. O despertar espreguiçado naquele sábado de sol, céu lindo e pássaros cantando na janela. O entardecer de verão, quando as cigarras começam sua sinfonia. O momento em que fica com a cabeça no colo da pessoa amada, em silêncio, só desfrutando da presença. O instante em que leva à boca sua comida preferida, à beira da praia, num jantar de férias. A emoção de ouvir um violino tocar sua música preferida no Theatro Municipal. As lágrimas ao rever pela milésima vez seu filme favorito do Chaplin. O cheiro da sua livraria preferida. Momentos marcantes, essenciais para nossa vitalidade, mas que, por ter aparência de rotina e aspecto de normalidade, não entram na nossa lista dos mais marcantes.

Gostaria de convidar você a repensar os momentos mais marcantes da sua vida. Esqueça os clichês. Comece a analisar a majestade que há na aparente insignificância. E você verá que a tua existência é composta pela soma de uma sucessão de instantes magníficos.

Se você parar para pensar, verá que foi de pequenos eventos que grandes acontecimentos surgiram na história da humanidade. De instantes como outros quaisquer brotaram fatos que mudaram os rumos da civilização. E na sua vida? Você consegue identificar como momentos de aparente pequena importância definem os rumos da sua trajetória? Se consegue, valorize-os.

Às vezes faço um exercício de imaginação. Penso que sou um morador de Jerusalém, dois mil anos atrás, saindo de casa num dia normal e passando ao lado de um local onde criminosos rotineiramente eram executados. Eu poderia estar com pressa, atrasado para um compromisso qualquer, e mal daria atenção para mais aqueles dentre tantos criminosos mortos pelo Império Romano. Seria uma cena comum em um dia comum, entre tantos dias comuns. Nem olharia direito para a crucificação, preocupado com o grande evento da Páscoa, que ocorreria dia seguinte. Aquilo sim seria algo importante. Aquela crucificação era irrelevante. Agora, para você, que conhece a história toda, eu pergunto: era mesmo?

É num dia como outro qualquer que você conhecerá o único amor da sua vida. É numa noite comum que você comporá aquela música que entrará na história das artes. É do nada, quando você menos espera, que seu filho dirá a primeira palavra. É numa manhã chata que você descobre que passou para a faculdade que queria. É num período entediante que toca o telefone e é aquela pessoa querida que você não vê há anos. Todos momentos rotineiros. Todos momentos especiais. É numa noite chuvosa e incômoda que você verá o filme mais emocionante de sua vida. É num passeio qualquer que você verá a flor mais bela que já viu. Parece pouca coisa, papo de poeta meloso? Não para quem sabe apreciar a beleza que Deus semeou em cada pequeno dente de leão que flutua ao sabor do vento.

Arpoador1A Bíblia usa três imagens para definir nossa vida. Diz que ela é como uma neblina (Tg 4.14), como um sopro e como uma sombra que passa (Sl 144.4). Meu irmão, minha irmã, nossa vida terrena se esvai numa rapidez inexplicável. Quando você se dá conta, já é um idoso. Assim, num estalar de dedos. Os dias voam. Preste atenção nos minutos aparentemente insignificantes de sua vida. E viva-os ao máximo. Não desperdice um segundo sequer, pois você corre o risco de chegar ao fim da caminhada lamentando tudo o que poderia ter vivido e não viveu, porque ficou esperando eventos grandiosos e acontecimentos espetaculares enquanto podia ter saído da inércia para viver de forma destemida cada segundo da jornada. Se você tiver a coragem de não desperdiçar seus dias sobrevivendo um após o outro, como quem vira páginas de um livro desimportante, aí sim sua vida terá valido a pena.

Viva em plenitude cada momento, mesmo aqueles que parecem sem função. Se fizer isso, sua jornada nesta terra será marcada pela permanente grandiosidade das pequenas coisas.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício