Doente1Imagine que você recebe o diagnóstico de um problema de saúde que te levará à morte em cerca de dois a três anos. Você se trata por alguns meses, faz tudo o que os médicos mandam, toma remédios, esgota todas as possibilidades de tratamento, mas, ao final, descobre que não adiantou nada. O quadro só piorou. O mal é inoperável. Transplante não resolveria. Nada a fazer. É apenas uma questão de se conformar e usufruir do tempo que tem. O que você faria?

Sei que essa não é uma pergunta muito original, muitas vezes já ouvi algo do tipo: “Se o mundo fosse acabar amanhã o que você faria hoje?”. Mas isso sempre esteve muito no campo da irrealidade, da urgência e até da brincadeira. Só que… pense numa possibilidade real. Concreta. Um fim não tão imediato mas em curto prazo, três anos no máximo. Isso daria tempo para atitudes mais pensadas, ações consequentes, e não aquela coisa de “ah, eu torraria todo meu dinheiro numa noite só”. Estou propondo uma pergunta consciente e realista: você recebeu o diagnóstico de uma disfunção letal, as alternativas extremas que a medicina oferecem são arriscadas demais e, um dia, os médicos, constrangidos, te informam que você tem cerca de três anos de vida. Com muita sorte, quatro. E aí?

No início você ficará deprimido, é normal – os especialistas explicam que o luto dura em torno de um ano e meio a dois anos. Mas sugiro um esforço para que isso se abrevie, afinal, você não vai querer passar todo o tempo que lhe resta em depressão. Um bom remédio prescrito por um psiquiatra vai te ajudar, junto com terapia e aconselhamento pastoral. Desabafar com pessoas de confiança também ajuda – mas só aquelas que tiverem estrutura emocional para saber da situacão, caso contrário, contar será pior do que manter sigilo (pois, em vez de apoio, você só terá ao seu lado ataques de choro e olhares de pena). Agora, passados os efeitos do choque inicial, é hora de se levantar e decidir o que fazer.

No imaginário popular, descobrir que a morte tem data marcada para chegar está associado a um descontrole total. As respostas que você ouve por aí são as mais desvairadas. Mas um cristão tem de pensar diferente. Venho refletindo sobre isso e cheguei a uma teoria sobre o que é importante fazer nesse tempo que lhe resta. Na verdade, penso em duas coisas.

Doente2Primeira: faça o que é certo. Se houve pessoas que você prejudicou, aja da forma que for necessária para consertar as coisas. Promova a união. Ponha sua vida em ordem. Ajude a pôr a vida dos que te são caros em ordem. Peça perdão a quem feriu. Perdoe quem te fez mal. Abandone pecados recorrentes. Ajude o próximo. Devote-se ao outro. Tente edificar o máximo de vidas que puder. Dê todo carinho e amor do mundo aos seus filhos, para que, mesmo após a sua partida, você deixe marcas positivas neles. Aconselhe amigos com problemas. Em outras palavras: viva como um bom cristão, para que, de algum modo, ajude aqueles que ainda permanecerão por mais tempo do que você nesta terra. Algumas dessas atitudes poderão exigir sacrifícios, mas, convenhamos, você terá em breve muito tempo para se recuperar do sofrimento e dos desafios que fazer o que é certo vai promover.

Segunda: deixe um legado. Deus não te pôs no mundo só para que você coma, durma, ganhe dinheiro, assista a futebol, vá ao cinema, perca tempo em redes sociais, jogue videogame e fim. Nada disso. Sua curta passagem pela terra precisa ter um significado maior. Algo que ecoeDoente3 pelos anos a seguir. Que edifique vidas. Se você quer escrever um ou mais livros que permanecerão abençoando pessoas após sua partida, corra e escreva (e nada de dizer que não tem tempo, você pode dormir mais tarde ou acordar mais cedo, por exemplo). Se você deseja plantar um belo jardim, que trará paz e beleza às pessoas, mãos à obra. Se quer compor canções ou poesias, não adie: o mundo precisa de arte. Se seu sonho é abrir uma igreja, abra, Deus dará um jeito de pôr boas pessoas ali para cuidar do rebanho. Se tem vontade de lecionar, ensine, passe adiante tudo o que aprendeu ao longo da vida. Você pode até mesmo criar um blog e deixar textos para a posteridade, que ainda daqui a muitos anos poderão abençoar uma ou outra pessoa – e não escreva futilidades, mas só o que promove a edificação. Deixe uma herança que, de algum modo, vai registrar sua passagem pela terra – sempre com foco no próximo. Em curtas palavras: plante uma semente.

É claro que você não conseguirá acertar tudo. Sua humanidade não desaparecerá só porque você descobriu que porta uma síndrome letal. Ainda vai errar, tropeçar, pecar. Mas isso pode ser usado para te ensinar muito mais sobre o amor de Deus ainda nesta vida. Não seria esse, aliás, um dos poucos benefícios dos pecados que cometemos? Aprender mais sobre a compaixão divina? Desfrutar mais do caráter de Deus? Conhecer a graça face a face?

Doente4Fazer o que é certo e deixar um legado. Pelas minhas reflexões, essa é a melhor forma de desfrutar de seus últimos anos de vida. Eu peço a Deus que você não passe por isso, que viva ainda anos longos, produtivos e felizes. Mas não custa nada começar a viver hoje como se descobrisse que seu coração vai parar de funcionar em dois a três anos. Pois, com isso, você terá uma vida extremamente significativa. Imagine que maravilha seria se pudesse perpetuar o que se propôs a realizar nesse curto período por duas, três, quatro décadas? Com certeza sua passagem pela terra seria memorável. Nem todos terão a oportunidade de viver tanto, alguns o Senhor decide chamar precocemente para junto de si. Mas, se você for agraciado com longevidade, desfrute de modo abnegado, devotado e piedoso dos anos que Deus te dá. Abra mão de si pelo próximo. Faça o melhor por quem ama. Dedique-se ao bem-estar das outras pessoas. E plante um legado. As futuras gerações agradecem, pois você terá feito parte da construção de um mundo melhor. E, acredito eu, você será recebido no céu com um lindo sorriso.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

comentários
  1. Elber disse:

    Olá Mauricio,
    Excelente post,você falou exatamente aquilo que penso.
    Parabens…e vamos viver intensamente até o momento que o nosso coração parar ou ser transformado.
    Abraços.
    Deus abençoe.

  2. Paz meu irmão!! Tudo bem?
    Olha, acho difícil dar uma resposta pra isso, você brilhantemente traçou a linha de tempo mais correta que se pode (ou se deve) ter nesse casos: choque inicial – reflexão – fim!
    Mas eu, sem querer parecer “santarrão” demais ou demagogo, seria primeiro batido pela tristeza de deixar as pessoas que amo; mas confesso meu irmão: Não gosto desse mundo; viver aqui me causa muita dor … tenho minhas limitações e mesmo sendo cristão, elas me açoitam dia após dia. Por isso, a morte iminente seria descansar disso tudo e só em pensar em ser recebido pelo meu Senhor, meu coração se aperta e tenho vontade de chorar. Perdoe-me se parece vitimismo da minha parte, mas sei que você vai me entender. Celebro a vida todos os dias pela manhã e agradeço todos os dias à noite; mas às vezes invejo aqueles que descem à terra para ascender aos céus!
    Abração mano!!!

    • Oi, Alexandre,
      .
      claro que te entendo, querido. Quem gosta de dores, não é? Mas algo que descobri é que Deus tem cada um de nossos dias contados e nada do que façamos vai acrescentar um dia a mais ou a menos em nossa jornada. A vida é tão frágil, Alexandre! Viva, porque na vida há muito o que podemos fazer. Quando o dia chegar… siga vivendo, lá na nova morada.
      .
      Abraço, com afeto, no amor de Deus,
      mz

  3. Olá irmão,

    O mundo precisa de mais pessoas que tem esse tipo de discernimento, que são guiadas pelo Espírito do Senhor. Agradeço à Deus por nos abençoar usando sua vida.

    Fika com Deus!!!

  4. Iara Souza disse:

    Pra corroborar com os meus pensamentos desta manhã, leio este texto. Você, sempre pontual em suas reflexões!
    Ontem o dia foi recheado!
    Pude ver o sorriso no rosto da minha mãe por ter conseguido satisfazer um desejo do seu coração. Ver a pessoa que mais amamos feliz com uma conquista não tem preço! :’)
    Depois tive o desprazer de não alcançar algo que só dependia de mim. :s
    Fiquei muito injuriada! Chorei de indignação!
    Aí, fui fazer a vez de tia e deixar minha sobrinha na aula de dança. Enquanto esperava sua aula terminar, fui fazer hora na casa de uma amiga. Esta mora em frente uma igreja, na qual estava tendo um velório. Mais uma vítima do trânsito…
    Conversando, ela me contou que foi vítima da violência da cidade de São Luís. Roubaram-lhe o celular!
    E, diante de tudo, fui refletindo sobre minha atitude horas antes…
    O fato é que muitas vezes as chateações diárias que passamos são nada perto de quem perdeu um ente querido, perto de quem não terá mais a possibilidade de “acordar bem cedo e ver o dia a nascer”.
    Nasce um novo dia!
    Nasce uma nova oportunidade!
    É possível que venham novas chateações, como é possível que tudo corra bem.
    É possível recomeçar!
    É possível reaprender!
    É possível correr pro abraço!
    É possível correr para os braços de quem anuncia o Seu cuidado todas as manhãs…
    É possível olhar pra Ele e agradecer por tudo o que foi bom e por tudo o que foi ruim.
    É possível sentir Sua misericórdia embalando-nos em mais um novo dia…
    Afinal “nem todos terão a oportunidade de viver tanto, alguns o Senhor decide chamar precocemente para junto de si. Mas, se você for agraciado com longevidade, desfrute de modo abnegado, devotado e piedoso dos anos que Deus te dá. Abra mão de si pelo próximo. Faça o melhor por quem ama. Dedique-se ao bem-estar das outras pessoas. E plante um legado. As futuras gerações agradecem, pois você terá feito parte da construção de um mundo melhor. E, acredito eu, você será recebido no céu com um lindo sorriso.”

    Obrigada pelo texto, querido Zágari!
    Um grande abraço!
    Fica na paz!
    =)

    • Oi, Iara, tudo joia?
      .
      que bom que o texto chegou aos teus olhos num momento em que teu coração estava em sintonia com ele. Fico feliz por você estar vivenciando esse processo de maturidade, reflexão e aproximação das verdades sagradas. Belo comentário, muto obrigado.
      .
      Um beijo fraterno, na paz de Deus,
      mz

  5. Olá de novo!

    Sei que você conhece essa música, mas pode ser que ainda não tenha visto o vídeo. Recomendo!!

    • Oi, Edina,
      .
      vi o video quando você o postou nos comentários anteriormente, você não recebeu a resposta? Perdoe-me por isso.
      .
      Lindo esse video, emocionante. Nunca tinha pensado sobre “Amazing Grace” por essa perspectiva.
      .
      Obrigado por compartilhar. Deus te abençoe,
      mz

  6. solange vieira disse:

    Oi Maruricio !
    Quanto tempo me resta? ontem me perguntava sobre isso ,pensei, devia ter ouvido mais, falado menos, amado mais, enfim deveria ter sido melhor, lendo esse post, concluo ,tempo de arrumar a casa (vida), pensar nas heranças do SENHOR (filhos,neta),o que vou deixar ? o que eles serão quando crescer? nossos exemplos?.
    Essas reflexões vieram com a doença e com a meia idade, caminho sem volta para a 3a idade.
    Estou em construção isso é certo, mais a obra se completará e o legado ficará.
    Louvado seja DEUS por sempre te usar.
    Deus te abençoe.

    • Olá, Solange,
      .
      fico contente que você esteja refletindo sobre questões tão importante, minha irmã. Estou certo que boas coisas resultarão das tuas elucubrações.
      .
      Abraço carinhoso, no amor de Deus,
      mz

  7. João Vitor Alves Cardoso disse:

    Excelente postagem,nos lembra sobra a importância de não desperdiçar as nossas vidas e diluí-las totalmente em Cristo.Sempre penso como tenho utilizado a minha vida.
    Parabéns Mauricio!!!!!!!

    Obs:Você não se cansa de responder os meus posts não?

    • Oi, João,
      .
      muito obrigado pelo carinho, querido. Fico feliz pela tua percepção e grato por tuas palavras.
      .
      Sobre sua pergunta, acho que vou cansar de responder teus comentários quando você se cansar de escrevê-los. 😉
      .
      Abraço carinhoso, no amor de Deus,
      mz

  8. Cristina Monteiro disse:

    Muito significativo o seu texto , gostei muito !

  9. Jacy disse:

    Oi, Maurício!

    Sabe mano, estava a refletir estes dias sobre o que você abordou perfeitamente no post: a brevidade da vida. Recentemente, pouco mais de um mês, o Senhor chamou precocemente para junto de si uma grande amiga minha. Uma doença letal a alcançou e perdurou por 2 anos e 3 meses. Neste curto espaço de tempo a vida dela imprimiu-se em um legado eterno para os que a amavam. Glória a Deus pela sua vida e pela certeza de que ela descansa com Ele.
    Quanto a mim, penso que tenho muito que endireitar na minha vida. Certamente, decisões erradas geram consequências indesejáveis, mas a fé me anima a olhar para o Alto, deixando as coisas que para trás ficam.

    Ah, Maurício, como eu desejo errar menos e amar mais! Ser reconstruída pela Graça! 🙂

    Paz, meu querido mano!

    • Oi, Jacy,
      .
      teu desejo é o de todos nós, mana. É olhar para a cruz, tropeçar montes de vezes mas não parar de avançar. Sigamos.
      .
      Abraço carinhoso, na paz de Deus,
      mz

  10. isac disse:

    “Tens medo de morrer mal, mas o mal viver não tens! corrige o mal viver, temes o mal morrer. Não pode morrer mal quem bem viveu. Pois o prêmio de uma boa vida é eterno. (Agostinho)”

    Maurício, Esta é uma verdade que penso iguamente a você. muitos tem perdido tempo com as coisas furteis dessa vida. Paulo disse que devemos aproveitar bem as oportunidades. Jerermias disse que devemos trazer a memória só o que é bom, o que trará esperança. que muitos de nós venhamos aprender com esse lindo post. Abraço Irmão! Te Amo!

  11. Valderi disse:

    Imagine que você recebe o diagnóstico de um problema de saúde que te levará à morte em cerca de dois a três anos….. O mal é inoperável. Transplante não resolveria. Nada a fazer. É apenas uma questão de se conformar e usufruir do tempo que tem. O que você faria?

    Resposta:

    Por eu ser cristão, clamaria a Cristo, aquele que nunca deixou alguém sofrer para testar a fé. Mas se não cresse, e achasse que os médicos tem a palavra final, só esperaria a morte.

  12. Dayana disse:

    Olá, Maurício, mais uma vez suas palavras foram certas, mas como seria excelente a pratica do seu texto sem o assombro da morte. Mas… paciência e misericórdia rs…Como diz o velho ditado: “Antes tarde do que nunca!” E felizes são aqueles que encontraram tempo para concertar o que errou, ainda que seja movido pelo anuncio da morte. Abraço.

    • Olá, Dayana,
      .
      sem dúvida, o ideal seria viver a vida pensando na vida. Infelizmente, somente o confronto com a finitude e o juízo tem a capacidade de despertar muitos. Prossigamos rumo ao alvo.
      .
      Abraço pra ti, no amor maior,
      mz

  13. Marco Juric disse:

    Sempre posts TOP!

    Abração mano!!!!

  14. Leandro Almeida disse:

    De fato, refletir sobre a brevidade da vida, na perspectiva cristã, é libertador. Começa por nos fazer meditar no excesso de preocupações e ansiedades que carregamos sem nos darmos conta.

    Agradeço pelo texto.

  15. MARCOS FALCON disse:

    Grande Zaggão !! A paz !
    Ao ler esse post, pude perceber o quanto nos acomodamos no nosso dia a dia , deixando de frutificar na obra do Senhor, com afazeres desnecessários ! Que despertemos enquanto temos tempo . valeu! tamos juntos!!rs

  16. Claudio disse:

    Zágari,

    Eu te amo meu irmão. Brigo com você e discordo muito, mas, algo tenho para lhe falar: Você tem uma sensibilidade não vista no nosso tempo. Suas reflexões são profundas!!! Bem, ao mesmo tempo fiquei triste, não com o texto e, sim, com o que ele representa, achei a estória muito parecida com um irmão que amo, um amigo a distância, se eu pudesse, daria a minha vida sem significado para que ele pudesse dar significado na vida dos outros, mas, sei de uma coisa: Deus é bom!!! Deus é perfeito, não erra, justo e nos ama. E se este for realmente o propósito DELE, o conforto, o consolo e o aprendizado sarará muitas feridas, inclusive, as de seus familiares e amigos..
    Que a graça e a paz de CRISTO seja contigo, varão mui amado!

  17. Jailton Neto disse:

    Por incrível que pareça estava pensando este assunto ontem após vim da Igreja, e percebo que vale apena fazer o bem ao próximo e deixar um legado de verdadeiro cristão para a futura geração.

  18. fernanda disse:

    AMEI!!!

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