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Ausencia1É muito comum ouvirmos irmãos reclamarem, tristes, porque não estão sentindo a presença de Deus. É interessante isso, porque as últimas palavras que Jesus disse antes de ascender ao céu foram precisamente: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20). Geralmente, numa despedida, as pessoas deixam para falar ao final o que há de mais importante a ser dito, para que aquilo ecoe para sempre nos ouvidos do receptor. É comum darmos atenção às últimas palavras de alguém que está para morrer, pois entendemos que há um significado especial naquilo que será a mensagem derradeira dele. Logo, Jesus não deixou para dizer essas exatas palavras por último à toa. Elas deveriam ecoar diariamente em nossa mente: o século ainda não se consumou, portanto Jesus está conosco. Jesus está conosco, meu irmão, minha irmã. Jesus está com você. E note algo: o Mestre disse “todos os dias”. E o hoje faz parte dos “todos os dias”. Logo, Jesus está hoje com você.

Então temos aqui um conflito. De um lado, Jesus fez questão de deixar ecoando na sua mente a absoluta e irrefutável certeza de que ele estaria com você hoje. Do outro lado está você, triste, porque diz que não sente a presença de Jesus hoje. Não creio que Jesus tenha mentido. Então a questão não é se ele está ou não com você (pois ele está, como afirmou que estaria), o problema é que há em você uma percepção da ausência dele. E isso tem de ser resolvido.

Foto gentilmente cedida por giselli m. (ficamaisessedia.blogspot.com )Presença é algo incrivelmente forte. Proporcionalmente, a ausência também. Quem é que nunca “morreu de saudade” de alguém? E repare: associar saudade a morte fala muito sobre a força que tem a ausência de um ente amado. Quando amamos, a presença se torna imprescindível. Amor sem presença é um universo inteiro dentro do peito composto só de espaços vazios: sem Sol, sem Lua, sem estrelas, nada – um vácuo escuro e silencioso.

Corremos para encontrar nosso amor. Armamos esquemas para poder estar juntos alguns minutinhos a mais por dia. Pegamos aviões para passar um fim de semana que seja com o amado que mora em outra cidade. Mandamos torpedos. Enviamos e-mails. Aguardamos, aflitos, sinais de vida de quem amamos: é só o telefone tocar ou o barulhinho de chegada de e-mail soar que o coração dispara. O amor exige presença.

Nunca me esqueço de uma conversa ocorrida meses atrás com uma pessoa querida que tinha perdido seu noivo de forma trágica. Ela me disse: “Sei que ele morreu há muitos anos, mas até hoje eu o amo”. Que coisa forte! Impacta-me e me emociona pensar nisso. E eu via nela o sofrimento da ausência compulsória. O mesmo ocorre quando pessoas amadas vivem geograficamente longe. Meu irmão de sangue mora em outro continente, para onde foi há mais de vinte anos. Se você me perguntar se a dor da partida dele arrefeceu com o tempo eu te diria num piscar de olhos: não! Nós nos falamos pela internet com certa regularidade, de dois em dois anos ele vem com a família ao Brasil e de tempos em tempos vou visitá-lo, mas cada adeus é uma punhalada no coração. Não, ainda não me acostumei à ausência dele, mesmo depois de mais de duas décadas e muitos reencontros. Distância nos faz, de saudade… morrer. Ausência machuca. Ausência de alguém que amamos é um doloroso e sufocante terror. Eu odeio a ausência.

Ausencia5Fiquei na dúvida se daria a este texto o título de “A ausência da presença” ou “A presença da ausência”. Após refletir um pouco, optei pelo segundo, porque, embora pareçam similares, há uma diferença substancial no peso de cada um. Uma presença ausente fala de alguém que deixou um vazio. Isso é doloroso, mas se refere a algo que não é. Só que a presença da ausência é muito mais forte, mais dolorosa, mais nefasta. Porque se refere à presença do vazio deixado por quem não está. Algo que é. E está ali, assombrando, machucando. O vazio torna-se um personagem palpável, concreto, sólido, espinhoso, agressivo. Não é apenas uma suave ausência. É a terrível presença do nada. “A ausência da presença” me lembra um salão vazio e silencioso, algo que, apesar de ruim, é suportável. Já “A presença da ausência” me remete a um salão lotado, cheio, absolutamente tomado por uma ausência que se faz presente e é barulhenta, ruidosa, espaçosa – insuportável.

OLYMPUS DIGITAL CAMERAQuem ama também vivencia um fenômeno interessante: carrega perenemente o ser amado dentro de seu peito. O amor cria um vínculo constante e diário de presença do outro: na mente, no coração, na alma. Há uma canção que traduz bem esse fenômeno, quando o cantor diz “onde está você agora além de aqui, dentro de mim?”. É exatamente isso. Na ausência há uma presença assombrosa do ser amado, que habita pensamentos, lembranças e sentimentos com a constância do pulsar de um coração. Só que é uma presença sem resposta, pois o outro está longe. Não se pode tocar no outro, conversar com ele, olhar em seus olhos. É ter uma fome que jamais se sacia – até que, um dia, a presença se faz percebida de modo concreto.

Creio que esse é o caso de quem diz que não está sentindo a presença de Deus: anseia-se desesperadamente por uma presença mais palpável do que a que há naquele momento. Jesus está ali. Mas seu servo considera aquilo insuficiente. É como se dissesse: “Deus, por favor, pegue um avião e venha até aqui para que eu possa te tocar, abraçar, beijar e olhar dentro de teus olhos!”. Só que Deus não faz isso. Na verdade, nunca fará. Então há dois caminhos: ou o servo que se sente abandonado se conforma ou busca meios de perceber a presença divina. E que meios são esses?

Oração e estudo da Bíblia.

Ora, Zágari, isso não é nenhuma novidade! Isso estou cansado de saber e não precisava ter lido este post enorme para que você me diga o que é óbvio! Sim, concordo, é óbvio. E é óbvio porque é como Cristo se faz presente entre nós desde que ascendeu aos céus. É na comunicação com ele que você se aperceberá de sua presença. Pois ele está aí, juntinho de você. Você é que não se dá conta! E, por isso, não “sente a presença de Deus”. É como pôr a mão no fogo e não sentir o calor. Quer sentir o calor desse fogo? Ore. Estude as Escrituras. E as portas da percepção dessa presença se abrirão. Se é óbvio… basta pôr o óbvio em prática.

Ausência de quem se ama é uma das piores dores do mundo. Querido, querida, não se inflija essa dor pelo fato de supor que está ausente alguém que, na verdade, está presente. Ele afirmou que estaria. Ele está. Seu pecado não o expulsou. Ele não disse que estaria conosco todos os dias “menos naqueles em que você pecar”. Não. Todos os dias são todos os dias. E, cá entre nós, a gente peca… todos os dias.

Jesus é contigo. Ele está bem aí em você. Não sofra pela ausência de quem não está ausente. O que falta é você se dar conta – pela oração e pela Palavra – de que ele não foi a lugar algum. E permanece com você todos os dias, até a consumação do século.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício