Arquivo da categoria ‘Evangélicos’

Pedro trai Jesus. Comete o pecado sobre o qual o Senhor alertara que quem o cometesse seria negado diante do Pai. Entenda, o que Pedro fez não foi pouca coisa. Suas ações tinham consequências eternas gravíssimas! Para piorar, ele tornou-se o apóstolo que mais traiu Cristo: se Judas o fez uma vez; Pedro traiu três vezes.

Sim, foi fundo o poço em que Pedro se atirou. Se o pescador estivesse em uma de nossas igrejas, hoje, não é difícil imaginar o que lhe aconteceria. Rejeição coletiva. Cochichos pelos cantos. Disciplina eclesiástica. Humilhação pública. Proibição de exercer cargos. Memes de internet. Notas em sites de fofoca gospel. Apedrejamento nas redes sociais. Escândalo. Não negue, você sabe que é assim que agimos com nossos pecadores da vez.

Assim é como nós agimos. Jesus, não.

Para Jesus, tudo se resolve com o conceito mais importante de todo o evangelho: “Tu me amas?”.

Sim, a solução, para Cristo, é o amor. Amor que gera arrependimento sincero. Mudança de rumo. Restauração. Renovação. Recomeço. Foi o amor que cobriu a multidão de pecados de Pedro. Não foram a exposição pública, o deboche dos santos juízes, o apedrejamento dos justos inerrantes, uma nota pública de repúdio, o boicote dos moralistas. Nada disso: amor.

“Tu me amas?” é um tapa na cara dos irmãos mais velhos do filho pródigo, ávidos por justiçamento, sedentos pelo cumprimento de uma moral que eles mesmos jamais conseguem cumprir – e ainda assim não saem da internet, dos púlpitos e dos congressos desfilando rosários de lições. Quando tudo o que Cristo exige é amor. Amor vivo, transformador, sacrificial. Que torna apologistas grosseiros em homens mansos, pastores abusivos em amigos restauradores, teólogos verborrágicos em irmãos que edificam, líderes vaidosos em homens que priorizam o rebanho a seus interesses pessoais e familiares. Amor que muda tudo, seca os pés do Mestre com os cabelos e redefine a jornada.

Muitos rejeitam o amor como a solução para os males deste mundo. Ou não entenderam o amor bíblico ou são incapazes de amar. Felizmente, para esses e todos os demais pecadores que somos, resta uma esperança: que Jesus nos pergunte uma e somente uma coisa: “Tu me amas?”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Ao longo de 2 mil anos de história, a Igreja cristã tem vivido um fenômeno que se assemelha ao movimento de um pêndulo: sempre que há uma ênfase em algo, no momento seguinte existe uma reação forte no sentido oposto. Assim, se o pêndulo foi para a esquerda, na fase seguinte as pessoas o lançarão com força para a direita. E assim por diante.

À idade das trevas se seguiu o escolasticismo. Aos abusos papais se seguiu a Reforma. À Reforma se seguiu à contrarreforma. Ao liberalismo teológico se seguiu a neo-ortodoxia. Etc. E, hoje, temos vivido um problema similar.

Em meio a esta época de extrema polarização em que vivemos, gigantesca parcela da Igreja está irada. Só sabe brigar. Acha que ser cristão é ficar metendo o malho nos outros. Aí surgiu uma geração de jovens pregadores teologicamente despreparados que falam enormes bobagens teológicas e também falam de amor. O resultado? A igreja irada reage aos erros teológicos dessa geração, lança o pêndulo com força para o outro lado e cai surrando em quem prega sobre amor. Enfatiza a ira e a justiça de Deus e passa a qualificar a pregação sobre amor como coisa de “pastor coach”. E aí está o perigo.

Dizer que o ser humano é o centro do coração de Deus e que tem o mesmo valor que Jesus é um erro assustador. Mas qualificar a pregação sobre amor como coisa de “pastor coach” é igualmente assombroso e perigoso. Como ignorar sobre o grande mandamento verdades como: “Um dia, profecia, línguas e conhecimento desaparecerão e cessarão, mas o amor durará para sempre” (1Co 13.8); “Três coisas, na verdade, permanecerão: a fé, a esperança e o amor, e a maior delas é o amor” (v. 13); “Acima de tudo, revistam-se do amor que une todos nós em perfeita harmonia” (Cl 3.14); “O alvo de minha instrução é o amor que vem de um coração puro, de uma consciência limpa e de uma fé sincera” (1Tm 1.5); “Acima de tudo, amem uns aos outros sinceramente, pois o amor cobre muitos pecados” (1Pe 4.8)?

Não se corrige um erro com outro. Deus é amor e a pregação do autêntico amor de Deus tem de ser onipresente. Cuidado com o pêndulo. E cuidado para que seu zelo não crie um falso evangelho – o “evangelho” de um Deus que só quer saber de brigar e que se esqueceu do que é amar.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Você já ouviu falar de Gandhi, hindu pacifista que, utilizando a filosofia da não violência, liderou – e conquistou – a independência da Índia. Enquanto os exércitos ingleses vinham com porretes, ele revidava com jejuns, inteligência, bons argumentos e manifestações pacíficas. Gandhi disse: “A não violência nunca pode ser usada como um escudo para a covardia, é uma arma para os bravos”.

Em seus anos estudando na Inglaterra, ele teve contato com o cristianismo. Indagado sobre se a fé cristã não o atraía, ele respondeu que o Cristo sim, mas a incompatibilidade entre os ensinamentos de Jesus e a prática dos cristãos o mantinha afastado. Sobre certo cristão que conheceu, Gandhi disse: “Ele pecava com olhos abertos, e mostrava-me que isso nem ao menos o deixava angustiado”.

Vejo o exemplo e as palavras de Gandhi, um hindu pagão, e os comparo com muitos de meus irmãos e irmãs em Cristo de nossos dias. Por alguma razão bizarra, enorme quantidade de cristãos passou a acreditar que belicosidade é o caminho para as conquistas do evangelho.

Esse ramo da igreja se espelha no péssimo exemplo de líderes cristãos violentos, a quem consideram pessoas corajosas e destemidas. Quanto mais os tais líderes berram, cospem e batem na mesa, mais “ungidos” lhes parecem. Jogam no lixo as virtudes do fruto do Espírito e fazem malabarismos teológicos para justificar agressões e ataques aos “inimigos da fé” como se a agressividade e o ódio fossem virtudes. A Bíblia, para eles, não é centrada na cruz, mas no azorrague de Cristo.

Esquecem dos mártires do Coliseu. Esquecem das palavras de Jesus a Pedro após esse decepar a orelha de Malco. Esquecem do fiasco que foi o uso da violência por cristãos nas Cruzadas. Esquecem do Sermão do Monte. Esquecem de Romanos 12. Esquecem de 2Timóteo 2.24-26. E promovem a beligerância, a agressividade e o confronto como armas divinas contra o que é anticristão. Usam as armas do diabo “em nome de Jesus”.

Não tenho nenhuma esperança de que minhas palavras mudarão o coração desses. Eu não tenho esse poder. Como convencer adeptos da briga, do berro e do confronto de que amor, paz, amabilidade, bondade, mansidão e autocontrole são o DNA da fé cristã se já estão convencidos de que é pela força do muque e do grito que a fé cristã triunfará? Eu não tenho esse poder, só o Espírito Santo tem. Meu discurso, para eles, é piada e motivo de chacota. Sempre haverá argumentos na linha “se um ladrão entrar na sua casa, você vai vencê-lo com gentileza?”. Non sequitur, Gandhi que o diga.

Temo por aonde levará esse tipo de pensamento, que valida a violência e a agressividade “em nome de Jesus”. Virtudes como amabilidade, gentileza, mansidão e pacificação são vistas por esse setor da igrejas como “coisa de mulherzinha” ou de “cristãos afeminados”. Crente bom, para eles, é o que transpira testosterona, soca a mesa e demonstra coragem pelo embate.

Só que não foi isso que Jesus ensinou.

Gandhi, um hindu que pagou com a vida por seus ideais, compreendeu o cristianismo melhor do que muitos cristãos – e enxergou as contradições evidentes da prática que não se apoia no texto sagrado. Sem usar agressividade, derrotou o poderoso império britânico. Os mártires da Igreja primitiva entraram pelos portões da eternidade entregando o pescoço ao aço e às feras, sem revidar. Já os cruzados e inquisidores criaram capítulos vergonhosos da história da igreja porque preferiram a espada e o fogo. E, apesar de tudo isso, ainda precisamos falar dessas coisas em pleno século 21 como se fossem novidade.

Que Deus se apiede de sua noiva e perdoe aqueles que lançam lama sobre o belo evangelho do Príncipe da Paz, o Manso Cordeiro. O pseudoevangelho da brutalidade é escândalo para o mundo – não por sua mensagem confrontar os valores mundanos, mas por ser exatamente igual ao mundo. Por deixar patente que não há diferença no modo de agir desse setor da igreja e o modo de agir do mundo. Só o que muda são as causas defendidas. Os meios são os mesmos: violência, guerra, agressão, ofensas, dedo na cara, confronto.

E isso não é coragem. Isso é pecado. O que me faz lembrar das palavras de Gandhi: “Ele pecava com olhos abertos, e mostrava-me que isso nem ao menos o deixava angustiado”. A história se repete.

No fim, essa é uma questão individual. Só existiram Cruzadas porque, um a um, indivíduos se tornaram cruzados. E, hoje, só haverá guerras santas, “jihads gospel”, se indivíduos se juntarem às fileiras dos apoiadores da violência. No fim, essa será sempre uma decisão individual.

A pergunta que resta é: qual evangelho você apoiará? O dos fiéis mártires pacificadores ou o dos violentos cruzados do berro e do soco na mesa?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Meus olhos correm pela Bíblia procurando passagens que sirvam de base para que cristãos vivam brigando. Não encontro. Comparo o comportamento de frequentadores de igrejas brigões (o que inclui muitos pastores) com a descrição que Jesus faz de gente bem-aventurada e não encontro compatibilidade. Isso me lança em reflexões.

É um fato: vivemos uma geração de cristãos esquisitíssimos, que acham que viver brigando é uma possibilidade bíblica aceitável. Fazem de brigas com o marido, a família, os “amigos” das redes sociais um hábito. E creem que é um comportamento bonito aos olhos do Deus que nos ordena: “O servo do Senhor não deve viver brigando, mas ser amável com todos, apto a ensinar e paciente” (2Tm.2.24).

Deixe-me repetir: “O servo do Senhor não deve viver brigando”.

Não é um pedido, é uma ordem de Deus.

De onde veio esse pensamento bizarro? Talvez de judaizantes que se baseiam no comportamento guerreiro da Israel do AT. Talvez da ideia alucinada de que, porque Jesus derrubou as mesas dos cambistas, nós podemos ser briguentos. Talvez porque é mais fácil arranjar desculpas bíblicas para continuar sendo tão bruto depois da conversão como antes dela, para não ter de lutar contra sua natureza. Seja a razão que for, justificativas são muitas para ser um adepto das brigas “em nome de Jesus”. Aceitáveis? Nenhuma.

A explicação é que somos, ao mesmo tempo, habitação do Espírito Santo e do pecado. Se vivermos pelo Espírito, seremos pacificadores, autocontrolados e mansos. Porém, se vivermos pela carne, seremos brigões, petulantes, escravos do pecado. Cada um de nós precisa fazer uma autoavaliação. Será que vivemos brigando? Preferimos ter razão a ter paz? Então, precisamos urgentemente tratar essa inclinação. Como? Buscando a face do Príncipe da Paz. Humilhando-se diante do Manso Cordeiro. Arrependendo-se.

E que aquele que nos “chamou para viver em paz” (1Co 7.15) mude nosso coração de pedra em um de carne, disposto a boas obras e a viver como, de fato, ele nos chamou para viver: em paz.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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Quando eu era jovem, acreditava que viver era ter doses diárias de emoção. Fosse pelo beijo de uma mulher, pelos gritos da plateia da sua banda de rock, pela repercussão de sua reportagem, pela festança desregrada. Eu era tolo, eu sei. O fato é que por muitos anos acreditei que viver emoções era a meta da vida. Um dia sem emoções seria perdido, inútil.

Até que fui salvo.

Mas, talvez porque não ensinam essas coisas no seminário, achei que tinha de continuar caçando emoções – só que emoções “gospel” – e por isso cometi erros e perdi muito tempo. Tolo. Hoje, tenho cabelos grisalhos. Na rua, para minha estranheza, me tratam por “senhor”. Adolescentes me chamam de “tio”. E as bolsas sob os olhos, fruto de anos de noites mal dormidas lendo, escrevendo e meditando, me dão uma aparência envelhecida. Fato é que meus anos me fizeram passar por um interessante processo de maturação.

Não busco mais emoções. Descobri que uma vida bem vivida não é sinônimo de dias alucinados à caça da nova dose de emoção. O que os anos, as dores, os erros e as alegrias me ensinaram é que a verdadeira felicidade não vem de emoções, mas de algo extraordinário chamado… paz.

Ainda gosto de emoções. Não me furto de desejar um coração acelerado. É bom, quem não gosta? Mas percebi que elas não são o asfalto da estrada: a paz é. A paz de uma consciência tranquila, um jardim florido ao canto dos bem-te-vis, um dever cumprido, uma paisagem tocante, um cafuné, a certeza de uma boa chegada.

Paz não é um luxo, é essência da vida com o “Deus da paz” (Rm 16.20). Tanto que é fruto do Espírito (Gl 5.22-23). Paz era, para Cristo, foco (Lc 10.5; 24.36; Jo 20.19,21,26). Paulo repetidamente desejava paz às pessoas (Rm15.33; 2 Ts 3.16; Ef 6.23), assim como João (3 Jo 1.15) e Pedro (1 Pe 5.14).

Se você é jovem, eis o conselho de um velho: não construa sua vida sobre o alicerce gelatinoso da caça à emoção. Antes, faça da busca da paz a sua base. É possível que, hoje, você não compreenda, mas, quando seus cabelos ficarem brancos e sua pele enrugar, você entenderá. E aí olhará para trás e se dará conta de quanto tempo perdeu correndo atrás do vento.

Pois emoção é vento. Já paz é oxigênio.

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Maurício Zágari
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Já parou para pensar que planos para o futuro Moisés fazia aos 39 anos? Príncipe, morando no bem-bom do palácio, paparicado por servos, sem precisar trabalhar para viver, tendo do bom e do melhor. Imagino que ele fizesse planos como dar um pulinho no Nilo para se banhar, participar de um campeonato de corrida de bigas, comprar uma espada nova, casar com uma nobre egípcia, construir um palacete bacana.

Mas aí, aos 40 anos, seus planos foram destruídos, quando teve de fugir do Egito. Virou trabalhador braçal, casou com a filha de um pastor, passou a morar em tendas e a falar outro idioma. Tudo diferente.

Aí, aos 79 anos, quais seriam seus planos para o futuro? Creio que se aposentar do pastoreio e desfrutar de uma vida tranquila, sentado na cadeira de balanço com Zípora, brincando com os netinhos e vendo o pôr do sol. Mas, aí, vem Deus no ano seguinte e muda tudo. Libertador. Confronto com o Faraó. Deserto. Uau.

A história de Moisés é uma entre tantas na Bíblia que mostram como devemos estar preparados para ter nossos planos totalmente transformados por Deus do dia para a noite. José. Jó. Pedro. Paulo. E tantos outros, que tinham planos absolutamente diferentes e foram surpreendidos por futuros radicalmente transformados por Deus.

Jesus falou sobre isso (Lc 12.16-20), chamando de louco quem deposita as esperanças nos próprios planos. Eu mesmo aprendi isso na carne: não foi nem uma, nem duas vezes em que achei que tinha chegado ao local preparado para mim por Deus em seus propósitos e, quando vi, ele transformou absolutamente tudo, sem que eu pudesse fazer nada.

Faça planos. Trace metas. Planeje percursos. Mas nunca deixe de fora da equação o fator mais importante: o propósito de Deus para sua vida. Porque, se os seus planos forem diferentes dos de Deus (e, provavelmente, são), ele mudará tudo, de forma rápida e, por vezes, assustadora.

Esteja preparado para ser frustrado pelo Senhor. Porém, que isso não lhe faça mal. Afinal, saber que tudo mudou porque Deus quis fazer cumprir sua boa, agradável e perfeita vontade em sua vida não é motivo de frustração e tristeza, mas de alegria, realização e glória eterna.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari
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Título duro o desse post, não é? Até choca um pouco, eu sei. Para o meu alívio, não fui eu quem disse isso, foi o próprio Cristo. Como assim? Já chego lá, vamos por partes.

Conheço muitos pastores, pessoas que decidiram abraçar o púlpito e o pastoreio de vidas como missão. Muitos são homens dedicados, apaixonados por Jesus, que amam o próximo e têm um inequívoco chamado pastoral. São sérios, responsáveis, devotados e íntegros. Porém, esse meu contato tão próximo com tantos pastores mostrou-me, também, uma realidade dura e triste, mas para a qual não podemos fechar os olhos: existem maus pastores. E a experiência me ensinou um teste infalível para identificá-los.

A Bíblia ensina o que todos sabemos ser parte do perfil de um bom pastor, em passagens como 1Tm 3.2‭-‬7 e Tt 1.6‭-‬9: ele não pode ser arrogante, briguento ou violento; não deve buscar lucro desonesto; tem de ser justo; e deve ser amável, pacífico e desapegado do dinheiro, entre outras coisas. Para além disso, a prática da vida me mostrou um meio certeiro de testar se o coração de um pastor está de fato em Deus ou se perdeu-se no meio do caminho e precisa de uma recauchutagem. É um meio que, até hoje, nunca falhou: o confronto entre a vontade de Deus e a família do pastor. Permita-me explicar melhor.

Há um fato entranhável do evangelho: o Pai entregou o próprio Filho ao sofrimento e à morte para que seus propósitos se cumprissem. Em outras palavras, o propósito divino falou mais alto que o bem-estar “familiar”. Do mesmo modo, o pastor que tem um coração sintonizado com o de Deus sempre colocará os propósitos e os interesses do Senhor acima dos benefícios da própria família. Sempre. Pois, ao fazer isso, ele prova que de fato ama Deus sobre todas as coisas.

Um pastor verdadeiramente vocacionado tomará medidas disciplinares contra pessoas de sua própria família, se for preciso para cumprir a justiça. Já o mau pastor não hesitará um segundo antes de proteger os familiares que estão em erro, mesmo que isso signifique ir contra a justiça de Deus. O teste é infalível, acredite. Já vi acontecer diversas vezes.

Pastores para quem há dois pesos e duas medidas na hora de lidar com alguém de dentro ou de fora de sua família traem o chamado pastoral. Pois Deus não faz acepção de pessoas. A justiça de Deus é suprafamiliar. E antes importa agradar a Deus que aos homens. Infelizmente, muitos sucumbem. Na hora em que são confrontados por situações que exigem deles se indispor com familiares, remover benefícios ou discipliná-los (sempre em amor, é óbvio), agem como o reprovável Eli: fecham os olhos, distorcem a verdade, abafam problemas, agem de modo diferente de como agiriam se a situação envolvesse um membro da igreja com quem não tem vínculos familiares.

O nepotismo tendencioso, que é pecado por ser injustiça, machuca muitas pessoas nas igrejas. Pastores tomam partido de gente da família sem ouvir outros lados da história. Favorecem parentes com benefícios que não estendem a outros. Abafam erros de seus filhos para não ter dor de cabeça. Põem familiares em posições para as quais não têm chamado por questões financeiras. E por aí vai.

Nunca avalio um pastor somente por sua homilética ou sua teologia, pelo número de membros de sua igreja ou por seu carisma. A vida me ensinou a sempre observar se ele trata os familiares com privilégios que não estende a outros, ou seja, se ele exerce a justiça com os parentes, doa a quem doer. Se ele falha nisso, já sei que há problemas em seus critérios de pastoreio. É tiro e queda. E, via de regra, mais cedo ou mais tarde, esse pastor machucará pessoas. Por vezes, muitas pessoas. Não falha, acredite. Pois falta de justiça é falta de Deus.

E por que estou falando sobre esse assunto tão incômodo? Por amor. Amor a você, que é pastor e está equivocado em seus caminhos, e às ovelhas que pastoreia. Pois ainda há tempo de mudar.

Meu irmão, minha irmã, se você exerce o ministério pastoral, lembre-se de que justiça é uma das colunas do evangelho. Deus é sumamente justo e assim devem ser seus embaixadores na terra. Ame sua família, ela é uma bênção divina, de valor incalculável. Mas não a ame mais do que ao próprio e justo Deus. Se percebe que tem injustamente privilegiado parentes, em detrimento das demais pessoas, está em tempo de se arrepender, confessar a Deus o seu pecado e mudar de atitude.

E se você não é pastor, nem pense em usar este texto para sair falando mal de pastores que conhece e erram nesse aspecto: este texto não é uma desculpa para você mandar indiretas e afundar ainda mais quem já está na lama; antes, é um chamado urgente para a intercessão. Ore por seu pastor. Ore pelo pastor injusto. Ore pelo pastor partidário. Ore pelo pastor nepotista. Ore pelo pastor tendencioso. Ore pelo pastor parcial. Meta menos o malho e ore mais. O falatório não resolve nada, mas a sua oração pode muito em seus efeitos. Deus não te chamou para pôr o dedo na cara das pessoas, mas para interceder por elas, a fim de que, se o pastoreio delas estiver com prioridades invertidas, Deus as chame ao arrependimento e as livre das garras do maligno.

A Igreja precisa desesperadamente de bons pastores. E os maus pastores precisam desesperadamente das nossas orações, pois suas ações tendenciosas os tornaram indignos de Cristo. Por quê? Porque o próprio Jesus disse: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim não é digno de mim; e quem ama seu filho ou sua filha mais que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37).

Façamos a nossa parte, para que nossos pastores sejam sempre dignos de Jesus.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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A ideia de que ser homem com H maiúsculo, másculo, macho significa ser um brucutu destemperado, que arrota alto, vive na academia puxando ferro e manda ver no palavreado como um neanderthal é tão verdadeira quanto dizer que ser cristão significa usar saia comprida, não depilar a perna, usar cabelos até a cintura e ser homofóbico: estereótipos tolos que só atrapalham nossa relação com Deus, com o próximo e conosco. ⁣ ⁣ Ser um homem de verdade, à luz da Bíblia, não tem absolutamente nada a ver com ser um ogro verborrágico, que valoriza músculos acima de sabedoria e paz. ⁣ ⁣

Ser um homem de verdade, à luz da Bíblia, é ter postura e caráter e tratar o próximo como gostaria de ser tratado. É saber reconhecer os erros, se arrepender e pedir perdão. É buscar a justiça com amor, promover a verdade com mansidão e estimular a conciliação com paciência. ⁣ ⁣

Ser um macho à luz da Bíblia é ser macho como Jesus. ⁣ ⁣

Jesus é nosso exemplo para tudo, inclusive para a masculinidade. Ele tratou as crianças com doçura, as mulheres com dignidade, os amigos com amor, os inimigos com intercessão e perdão. ⁣ ⁣

O conceito de masculinidade bíblica parece ter se perdido e assimilado tolices extrabíblicas. Muito se associa masculinidade – nas igrejas! – ao discurso ferino e incisivo, ao olhar agressivo e pesado, ao punho erguido e ao pisão duro. ⁣ ⁣

Mas firmeza não é isso. ⁣ ⁣

É possível, e desejável, ser firme dizendo “olhai os lírios do campo”, “ame seus inimigos” e “não pague mal com mal”.

Aí vem alguém e diz: “Mas e o episódio dos vendilhões do templo?”, como se aquele episódio fosse suficiente para derrubar tudo o que Jesus falou sobre como a humanidade precisa agir e se comportar. Não entendem que a divindade de Cristo lhe dá prerrogativas que o ser humano não tem, que Deus pode matar e se irar, mas que se o homem mata, fere um dos dez mandamentos e, se alimenta a ira e a põe em prática, pratica obra da carne e peca. Tomam um episódio sem ver a teologia por trás, sem analisar os princípios bíblicos do evangelho, sem considerar a hermenêutica bíblica, distorcendo a natureza do Príncipe da paz e todo o conjunto de seus ensinamentos. E acham que o episódio dos vendilhões é suficiente para transformar Jesus num ser que apoia a violência, a agressividade e a brutalidade. Que visão triste do que é a masculinidade de Jesus.

Ser macho como Jesus não é viver irado, mas em amor. Não é ser carrancudo, mas alegre. Não é viver comprando briga, mas pacificando. ⁣Não é ser explosivo, mas paciente.⁣ Não é ser altivo e mal-encarado, mas amável e bondoso.⁣ Não é ser fiel a um cânone machista, mas fiel à Escritura. ⁣Não é ser brigão, mas manso e humilde de coração. Não é ser impulsivo, mas ter domínio próprio e não reagir na base da fúria.

Enquanto associarmos masculinidade ao comportamento de lutadores de UFC, brutamontes e guerreiros em campos de batalha, seremos tudo, menos machos como Deus nos criou para ser. Seremos, somente, sombras tristes da real natureza do Cristo, que não nos ensinou a ser grosseiros cabras machos, mas santos cordeiros da paz.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari
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