Posts com Tag ‘Glória de Deus’

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

o vídeo 5 da série HOMILEO já está no ar. Nele faço uma breve reflexão sobre como devemos lidar com os elogios. Elogiar uma pessoa é roubar a glória de Deus ou incentivá-la à soberba?

Se esta reflexão abençoar você, por favor, passe adiante a mensagem para pessoas que você acredita que serão beneficiadas por ela. Para assistir, basta clicar no link: https://youtu.be/EOs9SJGBAqs

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari

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DoençaDomingo passado fiquei profundamente tocado ao saber que uma irmã da igreja recebeu a notícia de que está com câncer. A previsão é de pelo menos um ano e meio de tratamento, quimioterapia e tudo o mais a que tem de se submeter alguém que é acometido por essa moléstia. Jovem, cristã, casada com o baterista do grupo de louvor… oramos juntos durante o culto – eu, ela e seu marido. Choramos. Pedimos a cura. E meus olhos demoraram algum tempo para secar, pois parecia que conseguia sentir em mim a dor e a ansiedade daquele casal, já em antecipação pelos meses de batalha que terão pela frente. Esse episódio me afundou em reflexão sobre uma das questões mais antigas entre os cristãos: como aceitar a ideia de um Deus bondoso e misericordioso deixar seus filhos enfrentarem doenças que causam dor e sofrimento? Eu tenho uma teoria.

Para falar sobre isso, antes de mais nada devemos nos lembrar de que estamos vivos e, como tal, sujeitos a todo tipo de doença. Parece meio óbvio, mas – acredite – para muitos não é. Há uma crença disseminada em muitas igrejas, com base em Isaías 53, de que Jesus curou todas as doenças do universo Doença1na cruz e basta termos fé que o interruptor da cura será acionado. Não acredito nisso. Acredito que, em sua soberania, Deus é capaz de me manter doente por mais que eu tenha a fé maior do mundo (se quiser se aprofundar no assunto, pode ler o post “E quando Deus não cura? – Parte 2/2“). Acredito no “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Enquanto estamos vivos, habitaremos em corpos frágeis, aglomerados de tecidos e líquidos sujeitos a doença, degradação, falência, decadência. A salvação não blinda nossos corpos contra bactérias, vírus, torções, multiplicação descontrolada de células (tumores), fraturas, amputações, dores e centenas de outros tipos de problemas de saúde que podemos ter. A salvação é espiritual e não corpórea. Salvos e não salvos ficarão doentes do mesmo modo. A vida nos prova que isso é fato.

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Se você não crê nisso, pense em uma coisa. Islâmicos ficam doentes e são curados. Espíritas ficam doentes e são curados. Budistas ficam doentes e são curados. Hindus ficam doentes e são curados. Xintoístas ficam doentes e são curados. Candomblecistas ficam doentes e são curados. Satanistas ficam doentes e são curados. Ateus ficam doentes e são curados. Cristãos ficam doentes e são curados. Simplesmente porque todos os fieis de todas as religiões fazem parte do mesmo grupo de seres: humanos. E humanos ficam doentes. Humanos produzem anticorpos. Humanos reagem a  medicamentos. Humanos ficam curados. E humanos também morrem.

Doença2Meu pastor eventualmente diz: exceto por um acidente ou um assassinato, ninguém “morre de morte”. Todos morremos de doenças. De falhas no funcionamento do organismo. Desconsidere quem morre por fatores de origem externa, como tiros, facadas, atropelamentos, afogamentos ou similares. Os demais morrerão de AVC, infarto, malária, dengue hemorrágica, pneumonia e centenas de outros tipos de problemas orgânicos. Ninguém morre de velhice: velhos morrem porque seus organismos não comportam mais a vida e, por isso, algo falha, uma doença os acomete e chega o momento da partida desta existência material. Se todos os cristãos fossem ser curados de tudo, nenhum de nós morreria. Lembre-se de que todo mundo que um dia foi curado de algo – seja por atendimento médico ou por um milagre – no fim acabará sucumbindo a outro mal. Ou você acha que Lázaro, o irmão de Maria e Marta, está vivo até hoje?

Então, somos espíritos infinitos que habitam corpos finitos. Vamos adoecer. Vamos morrer. É bom estarmos cientes disso.

Você poderia dizer: “Ok, Maurício, tudo bem, todos vamos ficar doentes e morrer um dia, mas precisamos sofrer tanto com certas doenças tão terríveis?”. Vamos analisar alguns casos bíblicos. Miriã, a irmã de Moisés, ficou leprosa, pela vontade do Senhor. Jó, o homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal, ficou cheio de tumores na pele, pela vontade do Senhor. Doença3O próprio Lázaro, um dos melhores amigos de Jesus, adoeceu, como explicou o Mestre, “para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela [a doença] glorificado”. O cego de nascença de João 9 carregava essa condição por anos, para, segundo Jesus, “que se manifestem nele as obras de Deus”. Até aqui falamos de lepra, tumores, cegueiras e uma doença mortal indefinida, todas enfermidades terríveis. Mas tem mais: muitos são os relatos, de Êxodo a Juízes, de circunstâncias em que o Senhor amoroso enviou doenças, pragas e pestes ao seu povo, o povo eleito, o povo escolhido, para que aprendesse que não havia outro Deus além dele e abandonasse a idolatria. E não nos esqueçamos do espinho na carne de Paulo que, é possível, talvez fosse uma doença. E estamos falando do grande apóstolo Paulo, o homem que foi arrebatado ao céu… mas para quem a graça de Deus bastava.

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Agora eu pergunto a você: o que têm em comum todas essas circunstâncias, em que, pela ação direta de Deus, membros do seu povo, pessoas que ele amava e a quem queria bem –  Miriã, Lázaro, Jó e tantos outros – acabaram sendo acometidos por doenças horríveis e que causaram tanto sofrimento? O que vejo em comum a todos esses casos é o desejo do Senhor de que venhamos a aprender lições importantes por meio das enfermidades.

Veja: Miriã foi vencida pela soberba e a lepra veio para lhe ensinar humildade. Paulo (se é que o espinho na carne foi uma moléstia) recebeu a lição de que a graça de Deus é o que há de mais importante. O povo israelita sofreu muitas vezes com pestes para aprender que a obediência e a fidelidade ao Todo-poderoso são vitais. Jó sofreu para que bilhões de judeus e cristãos ao longo dos milênios aprendessem com sua história sobre a soberania divina. O cego e Lázaro padeceram para que bilhões de indivíduos aprendessem que o mais importante de tudo é a glória de Deus.

Doenças e aprendizado andam de mãos dadas desde o Éden. Andavam na época do Antigo Testamento, continuaram andando após a vinda de Jesus, andam ainda em nossos dias e seguirão andando até a consumação do século. Deus sabe que somos pó e, muitas e muitas vezes, o aprendizado sobre a obediência, a graça e a glória de Deus vêm mediante um instrumento pedagógico chamado doença (que, infelizmente, carrega a reboque dor e sofrimento).

Muitos poderiam dizer que esse tipo de pensamento não coaduna com a essência de um Deus que é amor. É exatamente por isso que precisamos entender os fatos do dia a dia pela óptica do Senhor e não pela dos homens. CoDoença4mpreenda uma coisa: quando o Pai olha para você, ele não está enxergando somente os míseros 70 anos de vida durante os quais a sua alma estará na terra – tão preciosos aos seus olhos humanos. Ele está vendo de uma perspectiva muito mais elevada, o Senhor contempla os milhões, bilhões, trilhões, quatrilhões de anos que você terá de vida eterna. Se essa matemática lhe parece nebulosa, perceba que, se a eternidade tivesse apenas 1 milhão de anos de duração, nela caberiam 14.285 vezes o tempo de vida de alguém que vive na terra 70 anos. E, lembre-se que a eternidade vai durar milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de milhões (e por aí vai, indefinidamente) de anos. Ou seja: uma eternidade que tivesse somente 1 milhão de anos equivaleria a 14.285 vidas terrenas.

Diante disso, sinceramente, o que você acha que é mais importante para o Senhor? Suas poucas décadas aqui ou sua existência eterna? Se for preciso fazer você enfrentar alguns anos de aperto agora que promoverão um aprendizado benéfico para toda a eternidade, o que você acha que ele fará? No lugar dele, o que você faria?

Doenla5Eu estava brincando de massinha de modelar com minha filha de 2 anos quando vi que ela ia enfiar um pedaço daquela substância tóxica na boca (e, se eu não visse, possivelmente engolir). Num reflexo, dei um grito. A pobrezinha tomou um susto, pois não está acostumada a ouvir papai gritar com ela. Paralisou. Fez beicinho. E começou a chorar. Tomei-a em meus braços, a acalmei e depois lhe expliquei a razão de ter gritado com ela: evitar um mal maior. Ela compreendeu, enxugou as lágrimas, apertou meu pescoço num abraço e me deu um beijo. Quase nunca grito com ela, mas se você me perguntar se eu gritaria de novo se tivesse de reviver aquela situação, afirmo que berraria quantas vezes fosse necessário, pois a amo e prefiro que ela sofra um pouquinho por algum tempo do que sofra muito por muito tempo. Por que com Deus seria diferente? O amor de Deus por nós é tão, mas tão grande, que ele deixa que fiquemos doentes.

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Deus olha para mim e você sempre, sempre e sempre a partir da perspectiva da eternidade. Ele quer nosso bem eterno. Se para isso for preciso que soframos um tanto de tempo nesta vida terrena e, assim, aprendamos importantes lições que impactarão diretamente nosso relacionamento e nossa intimidade com o Senhor pelos zilhões de anos que teremos entre a doença e a eternidade, afirmo que Deus nos enfermaria quantas vezes fosse necessário. Por quê? Em linguagem bíblica, “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.17-18).

Sim, ficaremos doentes. Sim, homens bons e íntegros, cristãos fieis, servos cheios de fé… todos ficarão doentes. Sim, todos os que adoecerem sofrerão. Sim, devemos orar pelos enfermos na esperança de sua restauração. Sim, remédios curarão muitos. Sim, milagres curarão alguns. Sim, muitos morrerão. Sim, no fim todos morreremos. O que fará a diferença é o quanto teremos capacidade de tirar de aprendizado de toda a dor e o sofrimento que precisaremos encarar.

Doença5Quando Jó finalmente parou de questionar as razões de sua doença e aprendeu o que Deus queria que ele aprendesse, disse: “Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber.  […] Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.  Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.3-6). Quatro versículos depois, Deus acaba com o sofrimento de Jó. Será coincidência? É por isso que eu sempre recomendo: se você está doente, junto à oração pela cura ore a Deus perguntando o que Ele quer que você aprenda com aquela enfermidade. Há uma grande chance de seu sofrimento ser abreviado se você aprender o mais rápido possível o que Deus quer que você aprenda. Essa é uma certeza canônica? Não, a Bíblia não afirma isso. Mas é no que eu creio.

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Que em meio à doença aprendamos mais sobre santidade. Sobre obediência. Sobre a graça de Jesus. E, por fim, sobre a glória de Deus.

Doença6Eu choro pela minha irmã que recebeu o diagnóstico de câncer. Fico muito, muito triste – e domingo fiz um compromisso comigo mesmo de orar diariamente por ela. Não queria que ela passasse por isso. Jesus, na noite de sua paixão, entrou em depressão a tal ponto por causa do sofrimento que teria de enfrentar que Mateus 26 registra: ele “começou a entristecer-se e a angustiar-se” e disse a seus amigos: “A minha alma está profundamente triste até à morte”. Pois a dor… dói. E de sentir dor quem gosta? Mas o sofrimento de Jesus trouxe benefícios eternos. O Pai sabia disso e, por essa razão, não afastou de seu Filho amado o cálice do sofrimento. Por isso, muitas vezes o compassivo e bom Deus deixa que também nós bebamos do cálice do nosso sofrimento: para que aprendamos algo que virá a trazer benefícios eternos. O que cada um de nós tem de aprender com nossas doenças? Não faço ideia (para cada pessoa há um aprendizado específico). Mas Deus faz.

De minha parte, sei que a graça dele nos basta. E que a ele seja dada toda a glória, pelos séculos dos séculos.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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Vivemos uma época da História da Igreja em que é muito fácil nos deixar levar pela tentação de voltar nossas atenções para discussões acerca das instituições e estruturas eclesiásticas e nos esquecermos de questões que – pelo relato dos evangelhos – preocuparam e ocuparam muito mais o tempo de Jesus. Em nossos dias, “apologética” está muito na moda e sobram ambientes em que, em nome de uma suposta “defesa da fé”, se fala bastante contra igrejas, denominações e grupos eclesiásticos (e escrevo entre aspas porque 90% do que se apresenta na Internet hoje como “apologética” na verdade são só agressões e fofocas que não contribuem de fato para a saúde espiritual da Igreja). O que tenho refletido muito nos últimos tempos é sobre o risco real em que caímos de nos preocuparmos tanto em discutir aspectos relacionados às instituições eclesiásticas que pecamos por desviar nossas atenções do que mais importa para Deus: o indivíduo.

É evidente que discutir questões ligadas à instituição é importante. Afinal, se não combatemos a Teologia da Prosperidade, os desmandos de certas igrejas neopentecostais, as heresias e outros graves problemas que deformam a Igreja de Nosso Senhor estamos permitindo que milhares de pessoas sejam enganadas e mal discipuladas. Mas quando voltamos excessivamente os olhos para isso, acabamos tão preocupados com o macro que os detalhes que mais importam tornam-se periféricos, quando deveria ser o contrário.

Recentemente decidi reler todo o Novo Testamento. E tive uma percepção bem interessante. Se formos prestar atenção no foco das preocupações de Jesus e dos apóstolos, se formos ao cerne do Sermão do Monte, das epístolas paulinas, das gerais e dos livros de Atos e Apocalipse, veremos que a esmagadora maioria dos problemas apontados, os grandes desmandos, as orientações, as pregações e palestras eram quase que em sua totalidade voltadas para questões pessoais. Raramente vemos exortações contra grupos ou instituições. É a alma humana que está em debate na maior parte do Novo Testamento. Evidentemente, à luz da pessoa de Cristo e da glória do Pai.

Jesus diz uma única vez que um enfermo foi curado para a glória de Deus. Se formos ver os outros milagres de Cristo perceberemos que estavam ligados a um aspecto da personalidade do Senhor: compaixão.  Jesus perdoa pecadores. Jesus sara os que clamam a Ele em lágrimas. Jesus ensina sobre o Reino sempre em relação ao aspecto humano e individual. Jesus está o tempo todo preocupado com pessoas. Que têm nome, cheiro, dores, depressões, noites insones, desesperança, falta de paz. Mesmo quando fala dos publicanos e fariseus Ele não está criticando o grupo como um todo ou questionando sua existência, mas sim atacando aspectos falhos do coração daqueles homens, como a hipocrisia e a ganância. Tanto que chama Paulo, um fariseu, não para abandonar o farisaísmo, mas para se converter de seus caminhos pessoais equivocados.

Não vemos Jesus investir seu tempo criticando o governo romano, a organização do templo ou as sinagogas. Pelo contrário, manda pagar o tributo aos dominadores, vai às sinagogas e segue religiosamente a liturgia de culto praticada nas mesmas, não discute sobre a legitimidade do partido fariseu contra o saduceu (ou vice-versa) ou levanta bandeiras contra os essênios. Sempre vemos Jesus falar sobre questões concernentes ao indivíduo. Ele quer ensinar pessoas, se preocupa em alimentá-las, se condói do enfermo, tem misericórdia do possesso, deseja que João, Maria, Antônio, Beto e Sheila sejam alcançados pelas boas novas, perdoados e salvos. Ele não quer salvar um grupo impessoal. Quer dar vida a almas.

O mesmo vemos nas motivações de Paulo. Repare que em suas epístolas ele se preocupa não em saudar ou enviar saudações dos “adeptos da Missão Integral”, dos “ortodoxos”, os “membros da igreja emergente”, os “irmãozinhos pentecostais” ou “os que congregam nas igrejas históricas”. Ele saúda pelo nome. Menciona Estéfanas, Fortunato, Acaio, Tíquico, Onésimo, Aristarco, Marcos, Epafra, Lucas, Ninfa, Prisca, Áquila, Onesíforo, Erasto, Trófimo, Êubulo, Prudente, Lino, Cláudia e tantos outros. Do mesmo modo, não critica grupos organizados ou escolas de pensamento nefastas, mas dirige suas tristezas a pessoas como Demas e Alexandre, o latoeiro. Nomes. Gente. Almas.

Sou de Paulo. Sou de Apolo. E o que disse Paulo sobre isso? “Acaso Cristo está dividido?” (1 Co 1.13a).  João escreveu suas epístolas para combater os gnósticos, grupo herético dito cristão que pregava que Jesus não era Deus feito carne. Mesmo assim sua primeira carta, por exemplo, é extremamente pessoal. “Filhinhos” e “amados” são as duas formas mais usadas pelo apóstolo para se dirigir aos seus destinatários. E se você lê com atenção tudo o que ele escreve contra os ensinamentos dos gnósticos é sempre tendo em vista aspecto individuais dos ensinamentos espúrios e como eles afetavam pessoas. Essa carta, que podemos considerar como sendo a mais motivada por aspectos institucionais de todo o Novo Testamento, é extremamente preocupada com o indivíduo.  A releia com atenção e você verá. Os “filhinhos”. Os “amados”. E nenhuma escola de pensamento ou doutrinária é filha ou amada de ninguém. Pessoas são.

Nas sete cartas à igrejas de Apocalipse vemos referências institucionais, isso é fato (prova que essa discussão não pode ser menosprezada): aos nicolaítas e aos que seguem a doutrina de Balaão. Mas, de resto, fala a todo tempo sobre questões do coração, como o abandono do primeiro amor, a fidelidade, obras, amor, fé, serviço, perseverança. Menciona até mesmo uma tal Jezabel pelo nome, por estar pervertendo os irmãos.

A conclusão é que Deus está preocupado com pessoas. Comigo. Com você. Com quem você ama. Com quem você odeia. Com arrependimento e redenção de indivíduos. Jesus não vai salvar os membros desta ou daquela denominação, mandar todos os calvinistas para o Céu ou condenar todos os adeptos da equivocada Confissão Positiva para o inferno. O que está escrito no Livro da Vida são nomes de indivíduos. Nomes de gente. Nomes com rosto, CPF, é o filho do Zezinho da padaria e a mãe da sua amiga Carla, da escola. Gente que tem mau hálito ou que acorda de mau humor, indivíduos que falam “pobrema” e almas que moram em condomínios de luxo. O porteiro do seu prédio. O lixeiro da sua rua. O jardineiro que você nunca cumprimentou. O empregado que você jamais abraça.  O manobrista que todo dia guarda a chave do seu carro mas você nem sabe seu nome. Quando pensa em nós, o que a Bíblia transparece não é que Ele pensa em “nós”: pensa no “eu” e no “você”, cujos fios de cabelo Deus sabe de cor quantos temos.

Por muito tempo devotei muita atenção para grupos. Não que eles não sejam importantes, repito, mas hoje estou muitíssimo mais preocupado com o indivíduo. Quero chegar antes de o culto começar na igreja e cumprimentar aquela irmã cheia de olheiras sentada na última fila da igreja. Perguntar se está tudo bem – e ouvir sua resposta de fato e não por uma obrigação pseudopiedosa. Quero gastar tempo que seria meu para ir na casa da senhora doente e que não tem amigos, doar-me e não apenas aparentar estar preocupado. Quero ir ao hospital orar com o irmão de uma conhecida que está padecendo de Aids – contraída numa relação homossexual. Órfãos e viúvas em suas tribulações são pessoas. É o Carlinhos, que perdeu os pais num acidente de carro, e a Dona Rute, cujo marido teve um infarte fulminante.

Nossas igrejas estão abarrotadas de pessoas carentes, solitárias, pecadoras, infelizes. Meu papel como cristão é refletir o amor de Cristo dando-lhes calor humano. Estendendo perdão. Pacificando as animosidades. Me fazendo presente nos períodos de sofrimento. Pois aprendi o que é passar momentos terríveis, depressivos e assustadoramente solitários e nem um único cristão telefonar para saber como estou. E isso é igreja que diz glorificar Deus mas só o faz da boca para fora, pois se esqueceu do próximo – que não é uma entidade autômata, com número de série: é uma alma humana.

Enquanto não amarmos de fato, perdoarmos de fato, nos doarmos de fato e enxergarmos de fato a dor do ser humano que cruza conosco no corredor da igreja ou do supermercado… estamos frequentando a igreja para que mesmo? Glorificar Deus? Como se fosse possível uma coisa sem a outra.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

* Uma versão reduzida deste artigo foi publicada originalmente na revista Igreja.

LuaPaoMoro num apartamento simples, pequeno, sem luxos, no Rio de Janeiro, num prédio velho, sem playground nem garagem. Mas meu cantinho tem uma característica que o torna especial para mim: as janelas. A de meu quarto dá para um pequeno bosque que fica no condomínio de trás, o que me permite despertar com o trinado dos passarinhos e o farfalhar da copa das árvores. Já a da sala me permite ver o Pão-de-Açúcar e a baía de Guanabara, uma paisagem encantadora de dia e especialmente bela e iluminada à noite. No ano-novo ela oferece um benefício a mais: sem precisar me espremer junto à multidão para assistir aos shows de fogos, posso ver da minha janela ao mesmo tempo os da Urca, de Niterói, da Enseada de Botafogo e uma boa parte dos de Copacabana. Essa virada de ano foi igual à de todos os anos anteriores. Mas com um diferencial: no céu, bem acima do Pão-de-Açúcar, brilhava uma Lua cheia lindíssima, como há muito eu não via.

Os parentes que admiravam os fogos ao meu lado não cessavam de comentar a beleza deles, com olhos que se voltavam ávidos de um lado para o outro, de um pedaço do céu para o outro, à procura de um espocar que fosse mais surpreendente do que o anterior. Mas confesso que, pela primeira vez, os fogos não me chamaram tanto a atenção. Não sei se a chegada de meu 41o aniversário ou mesmo um sentimento de melancolia que essa data sempre me traz têm a ver com isso, mas quando dei por mim eu simplesmente havia recuado, me sentado no sofá da sala e estava com o olhar fixo naquela lindíssima lua, que pairava imóvel no céu, por cima das cabeças de todos. E não pude me furtar de pensar naquele instante que, não importa o que os homens façam: a beleza da obra das mãos do Criador será sempre maior.

Lua2A prefeitura deve ter gasto alguns milhares de reais para organizar as queimas de fogos, ao custo de grande parte dos nossos impostos. Já Deus nos presenteou com a Lua por sua graça, a custo zero. A cada ano o investimento do Município na pirotecnia é maior, para incrementar o turismo e, consequentemente, aumentar a arrecadação municipal. Tudo não passa, no fundo, de uma questão financeira. Já o Senhor não nos pede nada em troca: a Lua não foi feita tão bela para que déssemos qualquer coisa como pagamento ao grande tapeceiro do universo. Foi um presente, dado por amor.

O amor de Deus se exprime em pequenas coisas, muitas das quais nem reparamos de tão triviais que se tornam: não notamos como é gostoso o cheiro de café pela manhã, a artística mistura de cores em uma árvore florida, o som do mar batendo nas pedras do Arpoador, a Lua emocionante desbancando o que de melhor o homem pode fazer. Como outdoors sem importância, essas pequenas maravilhas cotidianas normalmente desfilam ante nossos olhos de forma fugaz, sem que prestemos muita atenção a elas e lhes tributemos o devido valor. A poesia de Deus geralmente passa despercebida por nós, homens de concreto que somos, cheios de preocupações pragmáticas e tão dedicados ao dinheiro que temos de ganhar e com nossas vaidades inúteis.

Lua3Neste ano que começa, nada será novo. Continuaremos seguindo com nossas vidas, sem grandes mudanças porque o calendário virou. As passagens de ano são meras convenções cronológicas baseadas em astronomia, mas na prática absolutamente nada muda. Einstein já descobriu décadas atrás que o tempo é curvo e não linear. Mas gostamos da ideia de que o placar zerou e podemos começar tudo de novo – o que não vai acontecer. O tempo não para. A vida segue. O fluxo é constante. É bonita a alegria da virada de ano, mas no dia 2 de janeiro nos damos conta de que tudo segue como disse o sábio em Eclesiastes: “O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós” (Ec 1.9,10).

Os fogos um dia vão cessar. Mas a Lua seguirá embelezando o céu até o fim dos tempos. A vaidade humana passará, mas a bondade de Deus permanecerá indefinidamente. Os anos deixarão de ser contados, mas a eternidade prosseguirá com infinitude. As obras das nossas mãos serão carcomidas pela traça e a ferrugem, mas as realizações do Senhor serão lembradas pelos anjos e pelos santos para todo o sempre. Por isso, enquanto todos se deslumbram com aquilo que é temporal e fugaz, dou dois passos para trás, sento-me no sofá e contemplo o que perdurará pelos séculos dos séculos. E não, não estou falando da Lua. Falo de algo que brilhará eternamente, desbancando tudo o que o homem venha a realizar: a resplandecente graça de Jesus Cristo e a ofuscante glória do Criador do universo.

Lua1Que nunca nos esqueçamos que nada sobre Jesus pode ser substituído por algo ligado aos homens. Não há beleza humana comparável à divina. Não há fama, fortuna, glamour, benefício ou prazer proporcionados por este mundo que se comparem a um abraço do Pai celestial. E, acima de tudo, não há nada nem ninguém que suplante em nossas vidas a presença de Jesus de Nazaré. Que a Lua nunca nos deixe esquecer disso. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). Tal como a Ceia nos lembra do que o Senhor fez por nós e o arco-íris nos lembra do que o Senhor não fará mais a nós, sempre que eu olhar para a Lua cheia me lembrarei de quem o Senhor é – apesar de nós.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Mauricio

Perdao1Há alguns dias uma pessoa me pediu perdão. Foi alguém que me causou mal meses atrás ao fazer afirmações a meu respeito que foram muito além de quem eu sou, de minhas atitudes e das verdadeiras intenções de meu coração. Confesso que eu jamais esperaria que, passado tanto tempo, chegasse aquele e-mail, com palavras tão cristãs: “Por ser essa vil pecadora, peço-lhe humildemente perdão por tudo o que lhe fiz, por ter deixado o mal exercer o domínio da minha vida, quando permiti que o pecado entrasse em meu coração (…) A vida não para pra gente consertar os erros, porque erros não se consertam, apenas os confessamos e esperamos que pela misericórdia sejamos perdoados”. Admito que fiquei muito comovido.  Muito, muito, muito. Chorei uma manhã inteira. Pois, embora o perdão seja um dos alicerces do Evangelho, poucos são os que têm a grandeza de realmente superar seu orgulho e reconhecer os erros. Mesmo que no passado aquela pessoa tenha apresentado para pessoas importantes em minha vida uma imagem distorcida de mim e de meus atos, no presente seu gesto tornou-a admirável aos meus olhos. E tenho certeza que muito mais aos olhos de Deus.

Existe uma ideia de que admitir um erro e pedir perdão seria “se rebaixar”. Mas é exatamente o contrário: é um gesto de bravura, humildade bem-aventurada e que prova crescimento espiritual de um servo de Deus. Quando li o email eu não perdoei tal pessoa – pois já a tinha perdoado meses antes em meu coração e em oração. Mas a fiz saber que estava perdoada e aproveitei para também lhe pedir perdão por todo mal que porventura lhe tivesse feito. Quer saber? Foi um dos sentimentos mais maravilhosos que tive em toda a minha vida. Pois, ao perdoar e pedir perdão, o Reino de Deus se fez presente, o Evangelho genuíno se manifestou e eu creio piamente que os anjos no Céu sorriram e festejaram.

Perdao2É certo e seguro, meu irmão, minha irmã, que há alguém a quem você deve pedir perdão. Eu mesmo creio que tenho no mínimo umas 50 pessoas de quem preciso lavar os pés. Dificilmente existe um ser humano que não tenha de humilhar-se por algum mal feito ao próximo, alguma injustiça cometida, algo que disse e provocou feridas. O que é bom, entenda, pois a humilhação aos olhos de Deus é totalmente diferente da humilhação aos olhos dos homens, não é um ato de inferiorizar-se, é um ato sublime. Você pode ter julgado alguém erradamente. Ou difamado essa pessoa. Pode ter tirado dela algo que não lhe pertence. Pode ter magoado seu coração. Pode ter mentido. Pode ter machucado fisicamente. Pode ter prejudicado financeiramente. Pode tê-la passado para trás no trabalho. Pode ter sido injusto em alguma situação. Pode ter feito fofoca sobre ela. Pode ter tomado seu cargo na igreja. Pode ter agido contra ela por inveja ou interesses materiais. Pode ter feito milhões e milhões de coisas que prejudicaram ou magoaram alguém.

A boa notícia é que pedir perdão está ao seu alcance.

Perdao3Em sua carta aos colossenses (3.13,14), Paulo descreve o caminho da grandeza: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós”. O apóstolo não diz que conviver com pessoas pecadoras é fácil. Conviver comigo, que sou um tremendo pecador, é muito difícil, eu sei. Admiro quem me suporta. Mas quem o faz está cumprindo esse mandamento divino. Temos de suportar-nos e não segregarmos. Esse é o primeiro passo. Em seguida, vem o xeque-mate: temos de nos perdoar mutuamente. Não somente ficar esperando que nos peçam perdão: devemos tomar a iniciativa. Nesse sentido, essa pessoa que me pediu perdão foi muito mais grandiosa do que eu, pois deu o primeiro passo, ainda mais sem saber que já tinha sido perdoada e submetendo-se a possíveis reações hostis que eu poderia ter.

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E isso é algo que precisamos ter em mente: nunca esperar o outro vir até nós, importa que façamos a nossa parte. Peça perdão sem esperar ser perdoado ou sem esperar uma boa reação. Faça o que tem de fazer. Faça o que é certo. Faça Jesus se orgulhar de você. Mas se alguém vier primeiro até você e pedir perdão de coração contrito… perdoe. Não importa a dimensão do mal cometido. Importa, isso sim, a dimensão da graça de Deus. Você não faz ideia do bem que perdoar promove em nosso coração. Pedir perdão, então, é algo libertador. Magnânimo. Engrandecedor. Não perca uma oportunidade sequer de fazê-lo, é um dos maiores prazeres e das maiores alegrias que um cristão pode sentir. É, literalmente, divino.

Tudo isso caminha na contramão da nossa cultura. A sociedade prega que devemos estar sempre por cima e manter nosso orgulho. Só que, para o Senhor, é o contrário: “Os insensatos zombam da ideia de reparar o pecado cometido, mas a boa vontade está entre os justos” (Provérbios 14.9). No Reino de Deus, o que te faz grande é se pôr por baixo. Preferir os outros em honra. Humilhar-se para ser exaltado. Tomar na cara sem revidar. Em tudo isso Deus agirá em favor de Seus filhos que procederem conforme o padrão do Reino e não o deste mundo.

Perdao4Quando tais falácias foram ditas a meu respeito tempos atrás, eu poderia ter revidado, retaliado, me defendido, posto a boca no trombone – ou seja, ter agido conforme a raiva e o ódio do mundo. Mas já tinham me ensinado àquela altura que o caminho da Cruz é o de não devolver mal com mal, fazer o bem a quem nos faz mal, orar e abençoar quem nos persegue. E, o mais difícil de tudo: não se defender. Mesmo que rangendo os dentes, suportar tudo calado. Não ficar tentando desmentir exageros ditos a seu respeito e que não condizem com a realidade. E por quê? Simplesmente porque foi o que Jesus fez. É a atitude bíblica, como Paulo deixa claro em Romanos 12. Tenho certeza de que a opção de suportar em silêncio, sem me defender ou dar o troco, pesou no mundo espiritual para o bem de todos e, enfim, para esse pedido de perdão. Que me permitiu levar a essa pessoa a paz de saber que já estava perdoada e também lhe pedir perdão por qualquer mal que lhe tenha feito. Em resumo: para fazer o Evangelho entrar em ação e ter consequência.

Deus criou mecanismos perfeitos de funcionamento das coisas: quando não revidamos Ele nos abençoa. Quando não devolvemos mal com mal Ele nos abençoa. Quando aguentamos o vitupério em silêncio sem nos defendermos Ele nos abençoa. Quando temos a grandeza de pedir perdão Ele nos abençoa. Quando concedemos perdão Ele nos abençoa. O modo de ser e agir do Reino é maravilhoso. É lindo. Nunca será defendido nos filmes de Hollywood ou nas novelas da televisão, somente nas páginas das Escrituras. As atitudes cristãs fazem as pessoas se aproximarem entre si. Fazem as pessoas se aproximarem de Deus. Dá a elas a aparência de Cristo. Se agirmos sempre como Jesus agiu estaremos pondo no rosto do manso Cordeiro um largo sorriso.

Perdao5Você fez mal a alguém, meu irmão, minha irmã, mesmo que tenha sido sem querer ou num momento impulsivo ou de raiva? Não perca tempo: peça perdão ainda hoje. Alguém te feriu muito? Não perca tempo: perdoe-o antes mesmo que ele lhe peça perdão. Disseram que você fez muito mais do que fez – ou mesmo o que não fez? Ou mesmo acreditaram no que foi dito sem ao menos lhe perguntar se tudo condiz com a realidade? Entregue nas mãos do Pai de amor, como o Filho de amor fez. E, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, não abra a boca. Entregue a situação para Deus e espere. É difícil? Pode ser, mas é cristão.

O Natal está chegando. Esse pedido de perdão chegou em boa hora, pois me lembrou enfaticamente do significado primordial dessa celebração cristã. A vinda do Verbo para reconciliar, perdoar, unir, restaurar. Domingo passado estive em um culto na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro e, ao som do belíssimo “Gloria”  de Vivaldi, entoado por um grande coral e um lindo órgão, chorei novamente, emocionado, lembrando-me do real sentido do Natal. Ali agradeci a Deus por ter-se dado por nós e nos ensinado a ser como Ele é. Perdoador. Manso. Humilde. Amoroso. Contrito. Um embaixador da paz.

Gostaria de terminar com a letra desse hino de Vivaldi, que resume bem a gratidão que sinto neste momento e o que todos devemos dizer ao Senhor – palavras que o coral de anjos cantou ao anunciar o nascimento de Jesus aos pastores no campo próximo a Belém (Lucas 2.14):

Perdao6Gloria, gloria! Gloria, gloria in excelsis Deo!
(Glória, glória! Glória, glória a Deus nas alturas!)

Peça perdão a quem precisa pedir. Hoje. Agora. Já. Não espere. Não perca tempo. Não condicione isso a qualquer coisa: nunca diga “só pedirei perdão se…”. Não! Passe a mão num telefone, escreva um email, vá até a outra pessoa… e aja conforme o coração de Jesus. Não espere um segundo mais. Eu te asseguro que isso te fará admirável aos olhos dos homens. E, muito mais, de Deus.

[Mais sobre perdão, no post A dieta do perdão]

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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Tenho aprendido muitas coisas sobre Deus com a paternidade. Uma delas são os benefícios proporcionados pelas dificuldades da vida. É muito comum em nosso meio ouvirmos dos irmãos que, se estão passando “pela prova”, é porque Deus está descontente, castigando por algum pecado cometido ou algo assim. Uma das correntes mais fortes é a que atribui as dificuldades ao diabo. “O inimigo está furioso”, “o diabo se levantou contra minha vida”, “estou na luta contra os demônios”, “o devorador não está me dando descanso”… são muitas variações do mesmo tema. Mas, quanto mais eu vivo, menos acredito que as dificuldades da vida são fruto do ódio de Satanás e cada vez mais me convenço de que são fruto do amor de Deus.

Minha filha completa dois anos esta semana. A cada dia que passa vejo o quanto facilitar as coisas para ela a prejudica. Um exemplo que considero clássico, e que vou usar aqui para exemplificar minha reflexão, é quando ela deixa escapulir algum brinquedo para baixo da mesa de nossa sala – o que é algo muito frequente, pois a mesa fica ao lado da área onde mais brinca. É difícil resgatar o brinquedo, pois a mesa acaba formando um labirinto de pernas de cadeiras e as laterais são limitadas por uma parede. É realmente complicado pegar algo que caia ali embaixo. Por isso, no início a tendência imediata dela era me olhar com aquela cara de gato de botas do Shrek e, sem se mexer, pedir com voz melosa: “Pa-paaaai…”, já esperando que eu me levantasse, tirasse todas as barreiras da frente, pegasse o brinquedinho e desse de bandeja na mãozinha dela.

Confesso: no princípio minha ignorância me levava a fazer exatamente isso. Mas, lendo livros especializados e observando, comecei a notar que ela tornava-se cada dia mais dependente de mim em montes de coisas e, sempre que podia, em vez de se esforçar soltava aquele “pa-paaaai…”, tentando me comover para conseguir o que queria sem muito esforço. Foi quando percebi que ajudá-la não a estava ajudando. E muito menos a preparando para a vida. Pois a vida não nos dá as coisas de mão beijada. Mudei então de estratégia. Em vez de levantar e sempre tratar minha filha como uma bonequinha de cristal, tentando protegê-la das próprias gotas de suor, passei a incentivá-la. Frases de encorajamento como “vai lá, filha, eu sei que você consegue”, “tenho certeza de que você é capaz de pegar sozinha” e outras similares passaram a ser a tônica.

E a dificuldade passou a fazê-la crescer como pessoa. Comecei a reparar que aquela bebezinha que estava se tornando uma pequena preguiçosa agora punha os neurônios para funcionar, por vezes engatinhando pelas cadeiras e descobrindo itinerários e formas de chegar onde queria, por vezes arrastando as cadeiras do lugar para abrir caminho, em outras vezes dando a volta na mesa para se aproximar pelo outro lado. Sua mudança foi incrível – como consequência da mudança na forma como papai lidava com ela. De repente parece que  deslanchou como pessoa. Tornou-se mais confiante e independente. Passou a ter mais proatividade e a solucionar suas dificuldades sem ficar dependendo dos outros. Vi que até seu relacionamento com as pessoas mudou para melhor: a timidez diminuiu, parou de agarrar-se tanto ao meu pescoço quando chegava perto de um estranho, tornou-se mais sociável e até mais generosa. Parou de pensar tanto em si e começou a compartilhar mais as suas coisas com os outros, de seus brinquedos a sua comida. Em resumo, começou a se formar diante de meus olhos um ser humano que merece muito mais a minha admiração do que quem ela estava a caminho de se tornar caso eu ficasse facilitando demais a sua vida.

Quando via que ela empacava, eu procurava levá-la a achar soluções sem oferecer respostas prontas. Em vez de dizer “vá por ali” eu perguntava “será que não tem um caminho melhor?”. E deixava que ela raciocinasse e encontrasse seus próprios caminhos. E, lógico, se em algum momento ela ficava presa ou algo assim, de um salto eu a tomava nos braços e a confortava. Conversava com ela, tentava perguntar se ela sabia por que razão tinha se metido naquela situação e tentava mostrar outras possibilidades. Nunca de mão beijada. Sempre conduzindo-a e encorajando-a para, por méritos próprios, ela obter êxito, ganhar confiança, crescer, amadurecer. Encorajamento e elogios todas as vezes, com muita ênfase e festa.

Naturalmente eu fico sempre de olho.  Sempre zelei por sua segurança, não deixava que pegasse em facas ou chegasse perto do fogo aceso. Mas passei a procurar torná-la participante das atividades, a desafiando a encontrar as soluções que eu já conheço e poderia dar mastigado a ela. E sempre – sempre – respeitando o fato de que ela não sou eu e que tem que seguir por seus próprios passos e não necessariamente pelos que eu creio serem os melhores. Notei que às vezes eu dizia “e se você der a volta, filha?” e ela parava, pensava e tomava outro caminho para chegar aonde queria. Claro que ainda é uma criança. Mas se eu continuar a tratá-la como criança para sempre é uma criança que ela sempre será.

Com um ano e meio de vida, eu já não lavava mais as suas mãos. Comprei um banquinho e a ensinei a subir, enxaguar, ensaboar, secar, descer, dobrar o banco e o guardar no lugar. Faço meu café a quatro mãos, pois é ela quem apertava todos os botões da máquina – extremamente sorridente por ter ajudado a fazer o café do papai com seus próprios talentos e suas ações. Ela não faz ideia do que seja medo do escuro, entra e sai de lugares com a luz apagada com a maior tranquilidade, tateando paredes e móveis para cumprir sua meta, pois desenvolveu segurança suficiente para isso.

Da primeira vez que me pediu um suco eu, em vez de lhe entregar o copo pronto, a sentei ao meu lado e mostrei como se espreme uma laranja (na mão, sem ser no espremedor elétrico). E ela adorou! Como, aliás, adora descobrir que é capaz de realizar as coisas. Superar as dificuldades tornou-se, literalmente, um prazer para ela, uma aventura. Se sobe em algum lugar alto e depois não consegue descer, eu pergunto “e agora?” e ela fica pensando por um longo tempo, arrisca algumas tentativas, vira de costas, estica a perna e… consegue. Fico ali, ao lado, as mãos a um palmo dela para que não caia, mas só lhe dou segurança, procuro ao máximo não interferir. Caso contrário ela vai crescer pensando que o papai vai estar sempre ali pra resolver tudo. E, em vez de ajudar, eu estaria estragando a futura adulta que um dia ela se tornará.

Não sou um daqueles pais corujas que acham seus filhos perfeitos. Não: meus pés estão no chão, conheço as falhas de minha filha e sei que ela não é nenhuma criança prodígio, é normal como qualquer outra. Mas consigo enxergar sua evolução como pessoa. Noto que hoje ela não se deixa abater com facilidade ante os becos sem saída, não tem nenhuma preguiça (eu sou muito mais preguiçoso do que ela) e é capaz de, com confiança em si e uma segurança sólida, realizar as tarefas mais complicadas para alguém da sua idade – com intensa vontade de não desistir na primeira ou na segunda dificuldades. Nem sempre ela consegue – e nem eu espero isso. Mas o que me alegra é que ela sempre tenta, tem iniciativa e corre atrás. Não senta no chão e chora. Dá o seu melhor. E, quando consegue… seus olhos brilham e o sorriso de felicidade contagia. Naturalmente, sou o primeiro a ser contagiado.

Ela também é muito edificada pelo “não”. Quando quer que papai compre uma guloseima, um brinquedo ou qualquer outra coisa, na maioria das vezes sou obrigado a me recusar. “Desculpe, filhinha, papai está sem dinheiro”. Ela fica triste, por vezes insiste ou até chora, mas sou obrigado a manter o meu “não”. Isso tem mostrado a ela que a vida muitas e muitas vezes não nos dará o que queremos. É simples assim e temos de nos conformar com os dissabores que virão pela frente.

Hoje, quando ela fala “pa-paaaai…” não é mais para pedir facilidades. É sempre para pedir um abraço, um beijo, uma demonstração de afeto. Pois em seu curto tempo sobre a terra já descobriu que um pai não é uma mina de bênçãos, mas alguém que mostra caminhos, está presente nas emergências e, acima de tudo, é uma fonte inesgotável de amor. Aliás, deixe-me consertar: nem sempre é para pedir um abraço, um beijo, uma demonstração de afeto. Muitas vezes, é para oferecer um abraço, um beijo, uma demonstração de afeto. Pois ela já aprendeu que um pai que orienta, ampara e está sempre junto nas dificuldades – em vez de fazer as coisas por ela – toma essa atitude por amor. E ela se sente amada em toda e qualquer dificuldade.

Mais do que nunca, hoje acredito que o mesmo se dá com o Pai celestial.

Quando olho para as dificuldades da vida tenho a nítida sensação de que Deus faz o mesmo conosco. Ele não nos dá as coisas de bandeja. Permite que cadeiras e pianos fiquem no caminho e pergunta “e agora? Como você vai resolver isso?”. Pois creio que o Senhor quer que cresçamos, amadureçamos, nos solidifiquemos. Moleza não nos ajuda em nada. Tenho primos cujos pais eram os mais ricos da família, foram mimados a vida inteira e ouvi mais de uma vez meus tios dizerem que “queriam dar a eles aquilo que eles próprios não tiveram”. Hoje meus tios não estão mais entre nós. E de todos os primos da familia logo esses são os mais desajustados, sem rumo na vida, perdidos. Pois não passaram pela escola da dificuldade.

Não, não creio que o diabo nos infernize tanto quanto imaginamos. Pois ele não é bobo e sabe como as dificuldades nos fazem crescer e nos aproximam de Deus. O que é tudo o que Satanás não quer. O objetivo do diabo é que nossas almas vão para o inferno e não que nosso carro quebre ou percamos o emprego. Acredito muito mais que o inimigo quer nos dar boa vida aqui para perecermos mais adiante do que criar mil dificuldades que nos façam crescer. Simplesmente não faz sentido. Se tudo está calmo demais nos meus dias… começo a desconfiar. Quando Satanás fustigou Jó foi para que blasfemasse contra Deus e não porque queria sadicamente ver aquele homem sofrer. Satanás, acredite, não é tão raso assim. Ele pensa grande, pensa lá na frente e age sempre preocupado com a eternidade. Deus também.

Deus permite que no mundo tenhamos aflições. Mas ele está sempre ao nosso lado, para nos dizer “mas tende bom ânimo…”. Deus permite a dor e o sofrimento, mas está com as mãos sempre a um palmo de nós, para nos dizer “a minha graça te basta”. Deus permite que passemos por situações em que nos sentimos perdidos num labirinto, sem saber para onde ir ou o que fazer, mas Ele está conosco todos os dias, até a consumação do século, para nos dizer “entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele…”. Deus permite grandes apertos, para que nos tornemos cristãos maduros na fé o suficiente a ponto de dizer  “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!”

O título deste post é “Superando as dificuldades da vida”. Mas, pensando bem… não tenho muita certeza se superá-las é o que Deus deseja de nós. Creio que aprender com elas seja algo muito mais produtivo para a eternidade.

As dificuldades da vida não são prova de que Deus nos abandonou. As dificuldades da vida não são prova de que Deus é mau. As dificuldades da vida não são prova de que Deus abriu mão de sua soberania. As dificuldades da vida não são prova de que Deus não existe. As dificuldades da vida não são prova de que Deus quer nos castigar.

Por tudo o que já vivi como pai, hoje creio firmemente que as dificuldades da vida são, isso sim, uma das maiores provas do amor de Deus por nós.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Miseravel1Qual é o momento mais importante da nossa caminhada de fé? Para uns, é o instante da conversão. Para outros, é o dia do batismo. Há também os que consideram o momento mais importante a hora da morte, quando finalmente darão o glorioso passo de entrada na casa do Pai. Cada pessoa elege aquele ponto da trajetória com o Senhor que mais marcou sua vida. Tenho também o meu. Claro que sei que todos esses momentos são fundamentais e memoráveis, mas entendo que a conversão e a morte, por exemplo, são os momentos mais importantes de nossa vida. Mas em se tratando da caminhada de fé, ou seja, do bom combate, da nossa trajetória de vida com Jesus, há um dia em que tudo muda e, por isso, o tenho guardado num lugar especial do coração. É quando cai a ficha e você, como Paulo, exclama: “Miserável homem que sou!”.

Naturalmente, na hora da conversão existe uma dose dessa percepção. É quando, pela ação do Espírito Santo, nos enxergamos como condenados ao inferno e dissociados de Deus e, assim, somos rendidos ao Evangelho da graça. Mas há uma diferença entre se perceber um pecador perdido e se perceber um cristão miserável. Pois muitos são convertidos a Cristo, ganham a cidadania do Reino dos Céus, são adotados como filhos de Deus e, a partir daí, deveriam passar a viver de acordo com a natureza de Jesus, sendo mansos e humildes. Mas a realidade nos mostra que muitos e muitos são os que começam a se considerar quase super-heróis. Mais que vencedores. Vitoriosos. Filhos do Rei. Tanques blindados. Bombas atômicas a serviço dos céus, prontos para arrebentar com os ímpios e com os “menos espirituais”. Vestem uma capa de grandeza e passam a considerar o resto da humanidade parte de um segundo escalão de pessoas. É como se manifesta um pecado muito comum a nós, cristãos: a soberba espiritual.

Já vi muitos assim. Arrogantes. Impiedosos. Cujo maior prazer é apontar o cisco no olho do outro. E confesso: eu mesmo já fui assim. Pois não entendia que todo homem de Deus é, antes de tudo, também um homem. Humano. E, como tal, cheio de falhas, crenças equivocadas, arrogância, vaidade e montes e montes e montes de defeitos. Se você é um cristão sincero, olhará para dentro de si e verá o quão problemático e falho é. Mas eu me via como “o eleito”, “o escolhido”. Algo à parte dos demais, tão espiritualmente certo em tudo e muito superior aos cristãos “menos santos”. Falava dos que cometiam pecados (diferentes dos meus, pois eu também sempre pecava) como fracos, frios, fariseus, lobos em pele de ovelha, crentes em quem não se pode confiar. Eu era o tal. Eles eram o joio. Que tremendo bobo eu era, só rindo de mim.

Miseravel2Porque um dia a realidade despencou na minha cabeça como uma bigorna. E foi quando as escamas caíram de meus olhos e enxerguei que, mesmo sendo cristão há muitos anos, continuava sendo um miserável. Que não era melhor do que ninguém. Que meus dons, talentos, ministérios, qualidades, santidade e tudo o mais que havia em mim não era mérito meu, mas do Pai das luzes. Ele me concedeu como empréstimo, não sou dono de nada e posso perdê-los a qualquer hora. Por outro lado, o pecado que cometo é sim mérito (ou demérito) meu. Ou seja: no dia em que você, como cristão, vê claramente que tudo o que tem de bom vem de Deus e o que tem de mau vem de si… aí exclama: “Miserável homem que eu sou!”.

Passei a amar muito mais o apóstolo Paulo quando compreendi como nunca antes o que ele diz em Romanos 7.14ss: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado”.

Prestou muita atenção ao que leu agora? Paulo – o grande apóstolo Paulo, o homem que foi arrebatado e viu o Céu ainda em vida – vivenciou esse magnífico momento: como cristão, mesmo já com anos de convertido, enxergou o que tantos e tantos em nossas igrejas ainda nãos viram: que nós…

1. Somos carnais
2. Somos vendidos à escravidão do pecado
3. Agimos de modo incompreensível aos nossos próprios olhos
4. Fazemos o que detestamos e não o que preferiríamos
5. Somos habitação do pecado (que percepção assustadora, pois sabemos que também somos habitação do Espírito Santo)
6. Somos fantoches do pecado, que nos leva a agir contrariando o que cremos e o que queremos viver
7. Temos membros obedientes a uma lei que guerreia contra a lei da nossa mente
8. Somos prisioneiros da lei do pecado que está em nossos membros
9. Mesmo salvos, somos miseráveis – pois vivemos dominados pelo pecado

Em outras palavras, mesmo cristãos nós somos miseráveis, pois vivemos o tempo todo sob a sombra de nossa própria pecaminosidade. O dicionário revela o que “miserável” significa: desprezível, torpe, vil, insignificante, reles, ínfimo, desgraçado, infeliz, mísero. Uau. Que soco na boca do estômago de nossa soberba espiritual.

A percepção dessa realidade é extremamente humilhante, nos põe em nosso devido lugar e nos conduz a um ambiente espiritual de profunda submissão a Deus e desapego de nós mesmos. Paulo teve essa percepção: mesmo sendo cristão era um miservável pecador. Alguém que o Senhor precisava permitir ser afligido por um mensageiro de Satanás esbofeteador para que não se exaltasse pela grandeza das revelações que recebeu. Um mero humano, como eu e você.

Miseravel3Honestamente? Quanto mais leio as epístolas paulinas, mais admiro Paulo. E mais me apiedo dos crentes que se apresentam como anjos de santidade. Pois não chegaram ainda ao sublime ponto de admitir que são miseráveis. Vejo muitos que são assim. E isso gera em mim um sentimento misto de pena com tristeza, confesso. Creio ser muito mais digno, bíblico e honesto reconhecer com a boca no megafone: sou cristão, salvo somente pela graça imerecida de Deus, mas ao mesmo tempo carrego o corpo dessa morte amarrado nas costas – o que faz de mim um miserável pecador. Que depende única e exclusivamente da misericórdia do Senhor para continuar respirando, quanto mais entrar no Céu. Pois sei o mal que há em mim e como meu lado sombrio é feio, disforme e animalesco. Como você se enxerga, meu irmão, minha irmã? Você se orgulha da sua santidade ou se abate pela sua natureza humana pecadora?

Chega a ser muito entristecedor ver os “crentes sem mácula” metendo dedos na cara “dos que pecam”, sendo que carregam na alma lodo do pior tipo. Isso é um dos pecados mais falados e criticados por Jesus: a hipocrisia. Já vivi nesse mundo, sei de perto o que é. E reconheço esse meu pecado com temor diante do PaiMiseravel4: pequei por me achar menos pecador do que os demais pecadores. Miserável homem que sou. Ah, que bendito dia em que o Espírito Santo me fez reproduzir essas palavras do apóstolo Paulo! Dia em que enxerguei que não é porque aceitei Jesus que virei um ser angelical, mas que continuo sendo um pecador compulsivo e incorrigivel, totalmente dependente da graça. A diferença é que, sabendo da miserabilidade que existe em mim, consigo chegar com humildade aos pés do Senhor, banhá-los em lágrimas e enxugá-los com meus cabelos. No passado, o crentão que eu era ficaria de pé, nariz levantado, peito estufado,  ao lado do Rei dos Reis, e diria: “E aí, Paizão, tamos numa boa, né? Sou teu eleito, meu chapa, gente boa igual a mim não há. E vamos lá mandar esses crentes carnais pro inferno, julguemos juntos, eu e o Senhor, os meus irmãos, pois estou a fim de ver sangue!”.

Sim, aquele foi o dia mais importante. Pois na conversão eu fui salvo, mas me sentia o tal por isso. No batismo saí das águas me achando o puro, o imaculado. Mas no dia em que caí em mim, vi que mesmo salvo continuo pecando sem parar, caí de joelhos, tremi e murmurei: miserável… homem… que… sou…

Gosto de pensar que após a morte irei para o Céu. Não por mim, que não valho nada, mas pela Cruz. Só pela Cruz. Pela graça. Pelo amor. Pelo perdão. Por Jesus. E, ao chegar lá, pode ser que eu ouça “bem-vindo, servo bom e fiel”. Mas acredito muito mais que vou ouvir: “Bem-vindo, miserável pecador. Você não tem mérito algum, mas por causa do sacrifício de meu Filho eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!”.

Paulo estava certo: somos miseráveis. Eu, você, todos os cristãos. E bendito seja o Senhor, que pela graça um dia nos chamou para sua maravilhosa luz e tempos depois iluminou a nossa realidade de cristãos pecadores. Não é o seu caso? Então clame a Deus, na esperança de que Ele te mostre o quão miserável você é. Acredite: é uma das maiores bênçãos para a alma que você poderá receber ao longo de toda a sua vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
mz

Lele1De vez em quando convido pessoas queridas para contar aqui no APENAS algo que creio que vai edificar a sua vida, meu irmão, minha irmã. Tenho uma amiga chamada Alessandra (a dançarina da foto ao lado), membro da igreja em que congrego, cuja vida me humilha. Se você tem o hábito de ler os comentários deixados aqui no blog já deve ter visto algo que ela escreveu, assinado com o apelido com que a costumamos chamar, Lelê. Dona de um enorme coração, sempre faz elogios ao que aqui é escrito, mas a vida dela é um post tão mais maravilhoso do que qualquer texto que eu possa escrever que confesso que fico constrangido e me sinto indigno todas as vezes em que ela escreve palavras elogiosas. De verdade, sem falsa modéstia. Conhecendo a vida e as lutas de Lelê, soube que ela fez algo no último fim de semana que banhou meu rosto em lágrimas. Eu, que tive um ano muito difícil, chorei e reclamei tanto aos pés do Senhor e me senti tão mal em tantos momentos, olhei para a foto que Lelê postou na Internet (e que reproduzo ao final deste post) e, ao vê-la, conhecendo a luta de sua vida… me senti um gigantesco reclamão. Um murmurador. Ela é um exemplo tão grande para mim que eu já quis lançar um livro com a história magnífica de sua trajetória. Infelizmente não foi possível, mas hoje quero publicar a síntese da caminhada de Lelê, contada por ela própria. Para honrar essa amiga extraordinária que Deus me deu e para glorificar Deus pela obra extraordinária que Ele fez na vida dessa minha amiga. É um relato um pouquinho grande, mas, acredite, vale a pena ler até a última linha. Passo a palavra a Lelê:

“Me chamo Alessandra e sou convertida há mais de 15 anos. Minha vida era a mais normal possível: eu estudava, dançava como profissão e como hobby e estava me descobrindo em todos os sentidos. Tive um encontro supremo com Deus quando tinha 21 anos. Sim, com 21 anos eu renasci para a vida e para as pessoas. Com aquela idade eu tinha responsabilidade de gente grande. Fazia faculdade, curso de inglês e francês, dançava em duas companias de dança e ainda dava conta de administrar a minha casa. Estava tudo “bem” deste jeito.

Naquele tempo confesso que a minha vida com Deus era morna. Eu orava quando era do meu interesse, apesar de ir todo domingo à igreja, mas não cria de fato que Deus poderia transformar a minha vida. E costumo dizer que as pessoas se aproximam do Senhor pelo amor ou pela dor. Dito e feito! Deus não quer metade de nada, ele não queria o meu coração pela metade – muito menos a minha doação e minha entrega. E eu, intensa como era, já me sentia incomodada com a situação.

Deus escolheu o dia 12 de junho para fazer a virada que eu merecia e poderia suportar, sem que ao menos disconfiasse que algo tão trágico poderia acontecer. O dia começou igual aos demais, acordei às 6h, fui para a faculdade e voltei para casa. O único fato fora do normal é que meu pai estava viajando e eu fiquei com o carro, o que facilitava muito o deslocamento. Estava indo ao shopping perto de casa.

E tudo aLele5conteceu ali mesmo, no sinal de trânsito: sofri um AVC hemorrágico, um derrame cerebral. Sim, eu, com 21 anos de idade, bailarina em ascenção, sem vício algum, sem ter nenhum indício, carregava uma bomba relógio na cabeça. Uma veia que teve má-formação, localizada em uma parte nobre do cérebro, onde não se pode fazer nenhuma intervenção, estava pronta para estourar a qualquer momento. Deus quis assim – para mostrar a todos que só Ele tinha o poder para me restaurar.

Desmaiei ao voltante. Me levaram ao hospital público que fica bem perto do local ocorrido. Imagine a situação: uma menina saudável e toda serelepe em um dia no outro estava entre a vida e morte no hospital. Pode haver quem pense que isso foi uma grande fatalidade. Eu prefiro acreditar que Deus cumpriu o seu propósito na minha vida. Os médicos que me atenderam me desenganaram. Disseram que o local da hemorragia era nobre e que a dimensão do derrame era a de uma bola de tênis. Em resumo, só um milagre me salvaria.

O tempo em que passei inconsciente era terrível para as pessoas que estavam na ânsia por algum milagre. Deus foi muito fiel comigo. E, um dia, eu simplesmente acordei. E só acordei, pois não conseguia fazer nada sozinha. Respirar, falar, sentar, andar e mexer o corpo era para pessoas que tinham controle do seu corpo. Não pra mim. Nesse momento eu renasci, pois tive que aprender a fazer tudo de novo, já que meu corpo não respondia aos estímulos. Foi muito lenta a minha recuperação. Os médicos me diziam horrores, que levaria dez anos para voltar a andar, falar, estudar – e isso se eu fosse uma pessoa muito disciplinada. Assim renasceu Lelê.

Lele6Quando acordei, tive a certeza de que Deus estava me dando uma nova chance de viver e que teria de caminhar segundo a Sua vontade. Renasci sedenta por cumprir o propósito de Deus. Ele me deu uma nova chance de viver, tive que reaprender a fazer TUDO. Sentar, levantar, andar, respirar, falar, escovar os dentes. Algumas ações, conseguia fazer com muita dificuldade; outras eu tive que reaprender na marra. Tudo o que é corriqueiro para qualquer ser humano com mais de cinco anos era muito difícil para mim.

E Deus nunca me abandonou, eu sabia que ele estava ao meu lado em todos os momentos. Nos inúmeros tombos, nas palavras que não conseguia pronunciar, quando eu queria comer algo e a comida caía da minha boca, quando desejava falar alguma coisa mas a palavra saía em outro tom. Até quando eu queria somente ir ao banheiro e não conseguia ir com as minhas próprias pernas.

Depois de muitos anos de lapidação de movimentos, cheguei na zona de conforto. Já conseguia andar (devagar), falar, escrever (com a mão esquerda, eu que sou destra), comer, respirar e – o melhor – ter vontade própria. E nesse estágio eu poderia escolher viver uma vida “muito mais ou menos” ou então correr atrás da minha qualidade de vida. Escolhi a minha qualidade de vida. Foi quando listei TUDO o que eu fazia antes do meu acidente e que eu não conseguia fazer mais. A lista era muito maior do que esta, mas aqui vão alguns dos pontos:

1. Colocar e tirar brincos e cordões
2. Prender meu cabelo
3. Andar sem segurar em nada e falar ao mesmo tempo
4. Dirigir
5. Dançar sapateado
6. Nadar
7. Correr

Lele3Eu não consegui fazer todas essas coisas rápido, algumas delas demorei muitos anos. Mas gostaria de me ater ao ato de correr – e você já vai entender por quê. Nunca tive muita resistência respiratória. No máximo conseguia correr 100 metros, cansava e parava. Todas as pessoas que olham pra mim hoje notam que algo de estranho aconteceu comigo. Eu ainda ando mancando e, se não me forçar a usar o meu lado direito, consigo fazer todas as atividades sem ele. Mas correr era quase uma questão de honra. Eu moro em um condominio e, quando descia para fazer a minha atividade física diária, olhava para as pessoas correndo e sempre me perguntava: “Será que um dia vou correr?”

Anos e anos se passaram, o meu andar ficou menos vagaroso e comecei a trotar, buscando maior gasto calórico. Mas o medo de cair era o que me impedia de ir mais rápido. Bolei um plano: eu marchava entre um quebra-mola e outro e andava no trecho seguinte – e assim eu fiz por mais de dois anos. Mas eu precisava ir além. Aquela velha história da acomodação: eu poderia me contentar com o fato de andar rápido. Mas não quis.

No meu trabalho existe um programa de qualidade de vida para funcionários e eles sempre anunciam as Corridas Adidas. Todos meus colegas que foram amaram e minha vontade ficou ainda mais latente. O medo de falhar era grande, mas a minha busca pelo meu objetivo era maior. Contei toda a minha história para o meu treinador e ele se dispôs a correr ao meu lado. Tomei coragem e fui encarar os cinco quilômetros do percurso.

A cada quilômetro que passava eu me lembrava de uma fase da minha vida. Do tempo em que era completamente dependente de tudo e todos, que não tinha a opção de decidir se queria ou não fazer as coisas. E o primeiro quilômetro simplesmente passou.

Correndo estava e assim continuei. No segundo, me lembrei da dificuldade que era para andar e da dificuldade que tive de provar para as pessoas que só estava com limitações físicas. A minha mente, o raciocínio e a consciencia, continuava preservada. Mas, hoje em dia, não preciso provar mais nada para ninguém. E assim passou o terceiro quilômetro.

No quarto recordei que já tinha conseguido uma qualidade de vida excelente, mas não me contentei com tudo que eu tinha. Eu queria mais. Essa sim foi a parte mais cansativa. E, nessa hora, me lembrei de Deus. Ele não me abandonou jamais, sempre me dando forças, me sustentando quando eu caía e me levantando com a sua destra fiel.

Eu já enxergava a linha de chegada e o sucesso da prova dependia só de mim. Deus já tinha me capacitado para completar com êxito e eu também estava me preparando há tempos. Deus sempre foi fiel e não iria me desamparar nessa hora. Estava perto de acabar o trajeto quando lembrei que voltei a dirigir o carro que eu mesma comprei com o salário do meu próprio trabalho, tudo graças ao Senhor. Deus sempre soube de todas as minhas aflições. Por quantas e quantas noites eu chorei no quarto, sozinha, clamando a Deus por ajuda, porque estava muito cansada de viver, de provar o tempo todo para as pessoas que estava lúcida. Chorei na luta por um emprego e hoje trabalho em uma multinacional. Chorei muito, mas Deus sempre esteve ao meu lado, enxugando todas as minhas lágrimas.

Ultrapassei, enfim, a linha de chegada.

Lele4

Deus sempre foi muito fiel comigo, desde o meu nascimento até o dia de hoje. Quando olho pra trás e vejo onde cheguei, tenho mais certeza de que sem Deus eu nem teria saído do estado de coma – muito menos conseguiria realizar todas essas peripécias.

Com este testemunho gostaria de enfatizar a misericórdia do Senhor. Assim como Ele teve muita comigo, Ele também tem muita com você. Abra seu coração, ore sem cessar, leia a Bíblia e pratique tudo o que está escrito. Você não vai se arrepender. Que estas simples palavras exaltem o nome de Deus, pois é Dele toda a honra e glória.

Lelê.”

Obrigado, amiga, por ser uma pregação em forma de gente. Que me recorda sempre da bondade de Deus e me faz sentir tão ingrato ao Senhor por minhas lutas tão pequenas.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Cada civilização contém conceitos que são considerados as maiores virtudes entre as pessoas que a formam. Na Grécia antiga, por exemplo, o poder de argumentação era tão valorizado que existiam escolas voltadas especificamente para ensinar a debater. Em certas tribos aborígenes, trair alguém antes de matá-la dava status, como revela o livro O totem da paz. Também não são poucas as sociedades ao longo da História em que os mais fortes fisicamente são e foram os mais louvados. A espiritualidade e a obediência ao Alcorão são bem vistas em culturas islâmicas. Em certas sociedades orientais, a honra era vista como o valor principal de um homem. E na nossa? O que dá destaque a um indivíduo na cultura ocidental do século 21, em que eu e você estamos imersos? Basicamente o que chamo de “os três F”: fama, fortuna e físico. Quer ser o maior entre os seus semelhantes no Brasil de hoje? Então seja famoso: destaque-se, apareça mais que os outros, seja venerado, que muitos olhos se voltem para você. Ou então ganhe muito dinheiro, ostente carros caríssimos, more numa mansão, demonstre como você é bem-sucedido financeiramente. Por fim, tenha um aspecto físico invejável, seja por uma beleza natural ou por recursos como malhação, cirurgias plásticas, implante de silicone, botox, cabelos bem cortados – ou ainda, por roupas e sapatos caríssimos e da grife que está na moda. Pronto. Você será visto com destaque, valorizado, bajulado, invejado, amado. Mas… e no Reino de Deus? O que destaca alguém? Acredite: o exato oposto daquilo que dá destaque a um indivíduo na cultura ocidental do século 21:

Humildade.

O pecado de Satanás foi a arrogância. Ele quis ser mais do que era. Deu no que deu. Podemos contrastar sua atitude com a do grande profeta João Batista, sobre quem o próprio Jesus disse: “Eu lhes digo que entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João” (Lc 7.28). Sendo João isso tudo, ele mesmo afirmou: “Depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de curvar-me e desamarrar as correias das suas sandálias” (Mc 1.7). João sabia quem era. Mas, mesmo sendo o maior de todos os que haviam nascido em toda a história da humanidade, ele conhecia seu lugar. Sabia que era pó. Que exemplo para todos nós…

Nossa civilização nos condicionou a querer sempre um lugar de destaque. Um emprego que nos projete. Títulos. Nosso nome escrito em letras de neon. Elogios. Um ego muito bem nutrido por palavras que mostrem como nós somos grandiosos. Mas o que Jesus ensina contraria de frente essa mentalidade: “Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança. (Mt 5.5). Que diferença! E a afirmação que não deixa dúvida alguma (peço que você leia essas palavras de Jesus com muita atenção): Quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus” (Mt 18.4). Humildade na terra, grandeza no Céu. Diminuir para crescer.

Jesus é o único digno de abrir o livro, Jesus é o maior, Jesus é maravilhoso, Jesus é o Altíssimo, Jesus é Criador, Jesus é o Caminho, Jesus é amor, Jesus é o santíssimo, Jesus é o Onipotente, Jesus é tudo. No entanto: “Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus;  assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura.  Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura.  […] Disse Pedro: “Não; nunca lavarás os meus pés”. Jesus respondeu: “Se eu não os lavar, você não terá parte comigo”.  […] Então lhes perguntou: “Vocês entendem o que lhes fiz?  […] Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros.  Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (Jo 13.1-15).

Permita-me perguntar: qual foi a última vez que você seguiu esse exemplo e “lavou os pés” de alguém menor do que você?

Entre nós, cristãos, certas características nos dão destaque no meio dos irmãos. O santo se acha mais santo do que os outros. O que ora muito crê que isso o torna mais especial do que os demais. O pecador condena quem julga que é mais pecador do que ele. O que tem um cargo na igreja se acha mais do que o que não tem. O que manifesta um dom se acha mais agraciado por Deus. Em resumo, eu e você não estamos isentos de nos acharmos os tais porque fazemos ou somos algo que nos põe numa posição de destaque.

Já parou para pensar por que os cristãos são tão fascinados por escândalos? Já parou para pensar por que amamos falar sobre aquele pastor famoso que caiu em adultério? Já parou para pensar por que comentamos salivando que a cantora gospel famosa rastejou no palco? Já parou para pensar por que temos um prazer indizível em comentar o último pecado que fulano cometeu? Em suma, já parou para pensar por que temos o prazer sádico de tricotar entre nós quando algum outro cristão incorre em desgraça?

Porque isso faz com que nós nos sintamos superiores.

Pura e simplesmente isso. É um sentimento mesquinho que, até inconscientemente, nos faz pensar “não sou tão mau assim, afinal fulano é um tremendo pecador, muito mais do que eu, que vivo tão corretamente”. É por isso que a maioria prefere segregar o pecador e não lhe dar um único telefonema para saber como ele está em vez de se aproximar, amar, dar ombro, dar afeto, ajudar em sua restauração: porque gostamos demais de nós mesmos para gostarmos dos outros.

Certa vez entrevistei o ator e comediante Jerry Lewis. Perguntei a ele como explicava seu sucesso. Sua resposta foi simples: “Todo filme que faço se baseia num princípio: um homem em apuros.  E cada pessoa do público fica feliz porque quem está naquela situação embaraçosa ou complicada é outro e não ela mesma”. Ou seja: rimos da desgraça do outro porque isso nos faz nos sentirmos melhor conosco. Não fosse assim, como explicar o sucesso das videocassetadas? Pessoas se arrebentando no chão, levando tombos, sendo atropeladas, pegando fogo… e nós daqui caindo na gargalhada. Os cristãos, inclusive – sejamos honestos. Como explicar esse contrassenso absoluto? Simples: a desgraça alcançou o outro e não nós.

Quando o outro peca isso faz dele inferior aos olhos dos cristãos. Portanto, um pecado que tornou alguém um escândalo faz com que eu, que também peco todos os dias mas não virei escândalo, me sinta melhor, mais feliz comigo mesmo. Superior. Maior. Sinto orgulho de mim mesmo, essa é a grande verdade. No entanto, as palavras de Paulo atravessam nosso sentimento de superioridade como uma espada afiada: “Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza” (2 Co 11.30).

Essa é a proposta do Evangelho. Reconhecer nossa fraqueza. Reconhecer nossa falibilidade. Pois, enquanto nos achamos mais especiais do que os demais, sofreremos do traiçoeiro pecado do “orgulho santo” – o orgulho do que há de bom em nós, o orgulho até de nossa “santidade”, tão maior do que a dos demais. Mas se nos achamos tão melhores do que os outros, não abrimos espaço para nos escancararmos para Deus, como Paulo fez: “Miserável homem que eu sou!” (Rm 7.24). Não. Diremos em nosso íntimo (sem falar em voz alta, para não pegar mal): “Magnífico homem que eu sou!”. Assim, nos sentiremos mais. Nos sentiremos os eleitos, os profetas, os escolhidos, os queridinhos do Pai. Nos sentiremos superiores. E nos sentiremos aliviados por não sermos tão ruins como os outros. Só que… com isso, não reconhecemos nossas fraquezas e não reconhecemos que o pior dos pecadores não é pior do que nós. E no dia em que estivermos diante do trono de Deus para prestar contas de tudo o que fizemos e falamos, será que o que ouviremos dele é “você é realmente o tal”?

Prefiro ficar com Paulo, que em Romanos 7.18 confessa com uma humildade que não encontramos em quase ninguém em nossos dias: “Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo”. Não é à toa que Paulo foi Paulo. Pois, talvez lembrado pelo espinho na carne, reconhecia que só a graça lhe bastava e que só a graça fazia dele um vaso de barro com a excelência do fôlego de vida em si.

Fico muito triste ao ver cristãos que se acham mais do que outros, seja por que razões forem. E oro por muitos que conheço e que são assim. Ore por mim também, por favor, pois não sou melhor do que meus pais. Em vez de nos acusarmos, nos rebaixarmos e nos segregarmos, amemo-nos mais e oremos mais uns pelos outros. No grande e terrível dia em que estaremos diante do Justo Juiz, que ele olhe para nós e veja a cruz de Cristo. Porque, se Ele olhar para quem nós realmente somos (e não para quem achamos que somos) nada nos restará a não ser choro e ranger de dentes.

Sou um pecador, mas se puder fazer algo por você, meu irmão pecador, minha irmã pecadora, tentarei. E não te desprezarei pelo fato de que você pecou um pecado diferente do meu e que ingenuamente considero pior. Pois… quem sou eu? “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10). Quem sou eu…

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício.

O blog APENAS, após 1 ano e 6 meses no ar, alcançou a marca de meio milhão de acessos. Isso significa que foram realizadas mais de 500 mil leituras dentre as 204 reflexões aqui postadas (sem considerar os irmãos que assinam e recebem os posts direto por e-mail). Como tudo isso são números, é uma excelente oportunidade para pensarmos sobre o assunto, tão controverso no que tange à Igreja: números são relevantes para o Evangelho? Muitos seguem a linha de que o importante é ganhar o maior número possível de almas para Cristo, portanto igrejas abarrotadas de gente e grandes eventos seriam sinal de sucesso na obra de Deus. Assim, se certa igreja ou ministério cresce em quantidade de membros, tamanho do santuário, número de congregações ou conta bancária, então supõe-se estar agradando a Deus. Já outros tantos defendem que o que importa é a qualidade dos discípulos, que é preferível ter grupos, comunidades ou igrejas pequenas e bem pastoreadas, de modo que o líder possa estar mais próximo de cada ovelha, mesmo que não haja tanta multiplicação de membresia. Afinal: em se tratando do Evangelho o que importa é quantidade ou qualidade?

O grande erro que muitos cometem é achar que temos de escolher entre um ou outro. Mas não temos. Essa não é uma questão de escolha, mas de prioridade. Ou seja: o que tem mais peso.

Claro que quantidade importa, no sentido que todos queremos que o maior número possível de almas seja resgatado do inferno. Negar isso seria hipocrisia. Mas defendo que a qualidade é infinitamente mais importante – e explico por quê. Não fico impressionado por shows e cruzadas que reúnem milhares de pessoas. Catedrais suntuosas também não enchem meus olhos, só me mostram que certo grupo eclesiástico teve dinheiro suficiente para realizar aquela obra. Megaigrejas não me geram interjeições: são paredes grandes e só. Meu blog ter tantos mil acessos em xis meses muito menos me faz sentir especial – nada de bom que escrevo seria escrito sem a iluminação do Espírito Santo. Nada disso me toca, e por uma simples razão: não consigo enxergar na Bíblia base para dizer que arrebatar multidões é o propósito do Reino de Deus.

Repare: em Mateus 22.14 descobrimos que “muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”. Já em Mateus 7.13,14, Jesus escancara: “Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela”. Leia com calma e veja que verdade fulminante: poucos são os escolhidos. Poucos são os que entram pela porta da vida. Em outras palavras: poucos são os que vão para o Céu. E, se há milhões nas igrejas, isso só significa que muitos dos que estão ali não vão entrar na Glória de Cristo. São membros de igrejas mas não são salvos. Isso me entistece tanto quanto a você, mas é uma dedução lógica e óbvia, a partir do que Jesus afirmou – e da qual não há como fugir simplesmente porque me dói.

Que diferença entre essas afirmações de Jesus e as frases triunfalistas que dizem que vamos “ganhar o Brasil para Cristo”, não é? Chocado? Você ainda acha difícil crer que poucos serão salvos? Então preste atenção ao que o próprio Cristo diz a esse respeito, em Lucas 13.23-27: “Alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que são salvos? Respondeu-lhes: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão. Quando o dono da casa se tiver levantado e fechado a porta, e vós, do lado de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a porta, ele vos responderá: Não sei donde sois. Então, direis: Comíamos e bebíamos na tua presença, e ensinavas em nossas ruas. Mas ele vos dirá: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniquidades”. É uma verdade dura: muitos dos que frequentam igrejas e se acham salvos não são. As catedrais podem estar abarrotadas, mas o Paraíso terá bem menos gente do que se supõe. Você, atônito, pergunta então: “Mas e aí? O que essa percepção deve provocar em nós?”.

Primeiro, em nada isso deve diminuir nosso fervor evangelístico. Pois você nunca sabe quem será salvo. Então temos que seguir pregando a tempo e fora de tempo para toda criatura. Mas… não só pregar, como Marcos 16 parece sugerir. Pois Mateus 28.19,20 nos mostra a Grande Comissão como um todo: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”.

A grande missão da Igreja não é, assim, ganhar almas: é fazer discípulos. E discípulos não são pessoas que frequentam aulas pré-batismais. Discípulos são gente que vai caminhar por anos, ombro a ombro, com cristãos mais experientes, aprendendo na convivência a ser um servo bom e fiel de Jesus de Nazaré. Para se formar um discípulo é preciso tempo, dedicação, atenção, abnegação. E não é possível fazer isso com multidões sem nome. Só se faz isso em grupos onde há possibilidade de os irmãos se relacionarem intimamente.

Nas igrejas faraônicas isso não ocorre. Grandes números impossibilitam isso. Imagine que cada pessoa que lê os posts que escrevo no APENAS me mandasse um e-mail com questões pessoais ligadas a cada texto. Só no dia em que publiquei, por exemplo, o recente artigo  “Perfeito amor“, teria de responder a mais de 3.100 e-mails – o que é virtualmente impossível. Imagine então, o pastor de uma igreja com 3.100 membros… como os pastoreará? Como dará atenção a cada um? Como os visitará em casa? Como os conhecerá pelo nome e sarará suas feridas?

Uma pergunta fundamental que envolve essa discussão e que, portanto, devemos nos fazer é: o que faremos ao chegar no Céu? Muitos têm aquela imagem de que vamos nos deitar em edredons de nuvens fofas e ficar de papo pro ar pela eternidade. Não creio. Nós passamos nove meses na barriga de nossa mãe sendo formados e preparados não para permanecer ali, mas para desempenharmos bem nossa vida pós-nascimento. E penso que passamos 70 anos, em média, nesta terra sendo formados e preparados para desempenharmos bem nossa vida pós-morte. Haverá coisas a se fazer no Céu. E penso que esta vida existe tão somente como uma preparação para a próxima. Meus erros e acertos nesta terra servem para formar o caráter que terei no dia em que, pela graça de Deus, entrar pelos portões do Paraíso – despido, já, da natureza pecaminosa corruptível.

Por tudo isso penso que Deus quer salvar pessoas para que sejamos bem preparados, nos tornando, assim, discípulos fieis. Não consigo ver o Senhor convocando um enorme exército despreparado para estar com ele na eternidade. O vejo mais separando para si um destacamento de elite, como era a guarda pretoriana na antiga Roma. Poucos, mas bem preparados. Poucos, mas espirituais. Poucos, mas santos. Poucos, mas cheios do fruto do Espírito. Poucos, mas que demonstram um autêntico amor pelo próximo. Poucos, mas que carregam consigo as cicatrizes de uma vida de aprendizado adquirido com muito suor, dor, pecados seguidos de arrependimento, perdões, humilhações e outros fatores que formam nosso caráter cristão.

Não, números não me enchem os olhos. Simplesmente porque não creio que encham os de Deus. Pastor querido, você se gaba de que sua igreja tem muitos membros? A pergunta certa é: como é a qualidade da vida espiritual deles? Quando quebro um braço, prefiro ter um único médico bem preparado ao meu lado do que mil pessoas que não sabem engessá-lo.

Chegamos a meio milhão de acessos. Louvo a Deus por isso. Mas se há qualquer mérito neste blog não está nem nas qualidades extremamente questionáveis do pecador que aqui escreve textos e muito menos no número de assinantes ou de cliques. Pois, se as milhares de pessoas que passaram por aqui leram algum texto mas nada mudou para melhor em suas vidas, o APENAS tem como único número relevante o seu valor: zero à esquerda. Mas se houve 1 só alma que foi abençoada, edificada, incomodada, transformada ou levada ao arrependimento pelas palavras aqui escritas… então o blog teve algum valor para o Reino de Deus. Qualidade acima de tudo. E, se houver quantidade com qualidade, ótimo.

Pois o que importa para qualquer espaço onde se fale do Evangelho – seja uma igreja, um livro, uma revista ou um blog – é aproximar almas humanas de Deus e torná-los mais íntimos um do outro. Se um blog tem 500 mil acessos e não aproxima ninguém de Deus nem ajuda a sarar as feridas da alma humana, seria preferível ter tido apenas 1 acesso com consequência. Pois, ao fazer isso, teria cumprido a razão da existência do homem e de tudo o que fazemos: glorificar Deus. Porque nada que você faça na vida vai glorificar mais ao Senhor do que amar o próximo e conduzi-lo à intimidade com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Mauricio.