Posts com Tag ‘Apóstolo Paulo’

Maquiagem correta pode ajudar a destacar o sorriso na correria cotidianaAlegria é uma das virtudes que somos capazes de vivenciar quando o Espírito Santo manifesta em nós o seu fruto (Gl 5.22-23). A princípio, quando tomamos conhecimento desse fato, temos a sensação de que seguir Cristo significa, naturalmente, ser constantemente alegre. Só que tem um porém: Jesus jamais prometeu que seríamos. Não seremos, e, se alguém lhe garante uma alegria interminável nesta vida, pode ter certeza: é uma promessa que não se cumprirá. Abraçar o evangelho implica em negar a si mesmo, tomar a sua cruz diariamente e seguir Cristo (Lc 9.23). Isso fala de dificuldades, de esforço, de sofrimento. Todos os salvos sofrerão. Todos os salvos terão momentos de agonia, lamento, dor, luto… tristeza. Isso é líquido e certo. É um fato bíblico e um fato da vida. Bem, diante disso, é possível explicar essa aparente contradição? Temos o Espírito de Deus em nós, ele manifesta seu fruto em nossa vida, seu fruto inclui alegria, mas, estranhamente… vivemos muitos momentos de profunda tristeza. Isso tem explicação? Creio que sim, e te convido a pensar junto comigo.

Jesus não foi alegre o tempo todo. Pedro não foi alegre o tempo todo. João não foi alegre o tempo todo. Paulo não foi alegre o tempo todo. Nenhum dos apóstolos foi alegre o tempo todo. Os mártires da Igreja primitiva não foram alegres o tempo todo. Agostinho não foi alegre o tempo todo. Lutero não foi alegre o tempo todo. Calvino não foi alegre o tempo todo. Eu não sou alegre o tempo todo. Você não é alegre o tempo todo. Ninguém é alegre o tempo todo. Bem, o que tudo isso tem em comum?

“O tempo todo”.

Esse é o xis da questão. O fruto do Espírito inclui virtudes como paz, paciência e domínio próprio, por exemplo, mas ninguém tem paz o tempo todo, nem é paciente o tempo todo, tampouco domina-se o tempo todo. Assim, o grande problema é associar a crença em Jesus à manifestação constante e ininterrupta dessas virtudes. Elas se manifestarão, mas não… o tempo todo.

Alegria2Só que nós vivemos em uma sociedade hedonista, que prega que nossa vida tem obrigatoriamente de ser uma felicidade que não acaba. Basta olhar as redes sociais – ou qualquer outra forma de exposição da pseudovida privada – dos seus amigos. Você não tem a impressão, por aquilo que eles dizem e, principalmente, pelas fotos que postam, de que todos vivem uma existência espetacular, recheada de beleza, emoções, viagens, aventuras, celebrações, alegrias inacabáveis? Acredite: não vivem. Mas, inconscientemente, sentem-se obrigados socialmente a expor ao mundo como são alegres o tempo inteiro, caso contrário seriam considerados fracassados, incompetentes, amaldiçoados ou qualquer coisa do gênero. Não quero que ninguém descubra que eu não vivo uma vida espetacularmente alegre, logo, a forma que tenho de fazer isso é postar onde todos possam ver meu sorriso constante, inapagável, feliz e contente. E, muitas vezes, artificial. Fazemos isso praticamente sem pensar, sem maldade, no automático, simplesmente porque nos ensinaram a vida inteira que viver é estar 24 horas por dia encharcado de endorfinas, desfrutando cada segundo numa ascendente de emoção, realização, euforia, gozo, júbilo. Assim, uma vida bem vivida seria como estar de domingo a domingo em um parque de diversões: exultante, feliz, alegre!

Só que não é assim que acontece.

Toda e qualquer pessoa vive em altos e baixos. Tem picos de humor. Momentos de tristeza. Quedas nos níveis de adrenalina. Problemas. Tribulações. Falta de alegria. Isso é normal. Não é agradável, mas é normal e previsível. Só que todos nos dizem que temos de estar sempre, sempre e sempre alegres! Não tem como não entrar numa crise existencial diante disso. “Todos dizem que uma vida plena é marcada por uma alegria sem fim, mas isso não acontece comigo; logo, minha vida é uma droga e minha fé, um fracasso”.

Errado.

Se você vive uma vida marcada pela alternância de momentos alegres e tristes, parabéns: você é humano como qualquer outro. E é aí que entra a alegria que é fruto do Espírito.

Alegria4Pense bem. Você acha de fato que a alegria que Paulo descreve como resultado de uma vida de intimidade com o Espírito Santo é aquela que se manifesta numa montanha russa, numa festa, numa viagem a um local paradisíaco, num jantar com amigos recheado de piadas, ao assistir a um filme de comédia? Essa é a alegria natural, inerente ao ser humano. Tanto que qualquer indivíduo, cristão ou não cristão, sente esse tipo de alegria. Seria como dizer que a paz que sentimos deitados numa rede, pegando um ventinho e tomando água de coco é sobrenatural. Não é. É natural e humana. Creio que o fruto do Espírito se manifesta sobrenaturalmente quando precisamos de uma injeção de algo que vai além de nossas forças. É quando não tenho domínio próprio e estou quase caindo em tentação que Deus me dá uma temperança que parece ir além do que eu conseguiria. É quando estou atribulado que sinto a paz espiritual, fruto da presença divina. É quando quero matar meu inimigo aos chutes e pontapés que o Espírito manifesta em mim amor e, só com essa infusão sobrenatural, consigo fazer-lhe o bem.

Assim, creio que a alegria que é fruto do Espírito é aquela que vem quando temos tudo para estar tristes. É sobrenatural. Como isso é possível? Porque ela brota da certeza de que no mundo teremos aflições mas Jesus venceu o mundo (Jo 16.33). De saber que ele está conosco todos os dias, mesmo nos mais terríveis, até a Alegria3consumação do século (Mt 28.20), e que não está alheio a absolutamente nada do que estamos passando. De ter a certeza de que “Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá” (Sl 139.8-10). É alegrar-se como resultado de sermos galhos enxertados na videira verdadeira. A certeza da presença de Cristo em nós, junto com a certeza de que ele jamais  remove seus olhos de nossa vida… eis a razão de nossa alegria. E alegria eterna, que independe das circunstâncias da vida.

Por isso, mesmo nos momentos de mais desesperante tristeza, essa alegria que flui do Espírito de Deus para nós estará presente. Parece contraditório? Acredite, não é. É uma alegria não eufórica, mas pacífica. Calma. Amena. É uma brisa, não um vendaval. Não é sair saltando de júbilo como qualquer pessoa numa balada, aos gritos de euforia, é… um suave sorriso. Aquela alegria que nos faz suspirar em meio às lágrimas. A alegria humana é inerente ao homem e se manifesta naturalmente quando é óbvio que estaremos alegres. A alegria espiritual é inerente ao Espírito e se manifesta sobrenaturalmente em momentos inesperados.

E, acima de tudo, a alegria que é fruto do Espírito é aquela que vem de saber que, como estamos em Cristo, temos a vida eterna. Ouça as palavras dos lábios de Jesus: “Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus” (Lc 10.20). Está sofrendo? Alegre-se, você tem a vida eterna. Está com dor? Alegre-se, você tem a vida eterna. Está triste? Alegre-se, você tem a vida eterna. Tá tudo ruim? Alegre-se, você tem a vida eterna! É uma alegria que existe em meio à tristeza, como uma flor que brota no solo seco do sertão.

A vida na terra é difícil, muito difícil. Numerosos momentos ruins estão pela frente. Situações de enorme aflição virão. Nessas horas você ficará triste. Mas, olha… tenha bom ânimo. Jesus venceu. E a vitória dele te dá a vida eterna. Aí vem o Espírito Santo e manifesta o fruto dele na tua vida. É quando você se lembra que Jesus está com os olhos postos em ti e que ele tem morada preparada no céu, com teu nome na porta. Seria isso motivo de alegria?

Alegria6Não busque a alegria segundo o mundo, essa é vaidade e correr atrás do vento. Alegria segundo o mundo é aquela que demonstramos em fotografias posadas e com sorrisos ensaiados. A alegria que é fruto do Espírito é aquela que não fotografamos, pois ela é muito maior do que uma lente pode captar. E, em geral, se manifesta nas horas em que não estamos acostumados a fotografar: no hospital, no orfanato, no desemprego, no susto, na dor, na crise matrimonial, no velório, na casa de recuperação, na depressão, no sofrimento. Pois é nas horas mais terríveis que Jesus sussurra em nosso ouvido: “Alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1Pe 4.13).

Você ainda terá muita alegria. Mas não o tempo todo. A tristeza dará as caras com frequência. Mas o Espírito Santo te alegrará muitas vezes, frutificando em tua lembrança que Jesus é contigo e te dá a vida eterna. Afinal, “a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2Co 4.17).

A alegria humana passa. A alegria divina dura para sempre. E ela está ao teu alcance – basta viver dia após dia aos pés de Jesus.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

DoençaDomingo passado fiquei profundamente tocado ao saber que uma irmã da igreja recebeu a notícia de que está com câncer. A previsão é de pelo menos um ano e meio de tratamento, quimioterapia e tudo o mais a que tem de se submeter alguém que é acometido por essa moléstia. Jovem, cristã, casada com o baterista do grupo de louvor… oramos juntos durante o culto – eu, ela e seu marido. Choramos. Pedimos a cura. E meus olhos demoraram algum tempo para secar, pois parecia que conseguia sentir em mim a dor e a ansiedade daquele casal, já em antecipação pelos meses de batalha que terão pela frente. Esse episódio me afundou em reflexão sobre uma das questões mais antigas entre os cristãos: como aceitar a ideia de um Deus bondoso e misericordioso deixar seus filhos enfrentarem doenças que causam dor e sofrimento? Eu tenho uma teoria.

Para falar sobre isso, antes de mais nada devemos nos lembrar de que estamos vivos e, como tal, sujeitos a todo tipo de doença. Parece meio óbvio, mas – acredite – para muitos não é. Há uma crença disseminada em muitas igrejas, com base em Isaías 53, de que Jesus curou todas as doenças do universo Doença1na cruz e basta termos fé que o interruptor da cura será acionado. Não acredito nisso. Acredito que, em sua soberania, Deus é capaz de me manter doente por mais que eu tenha a fé maior do mundo (se quiser se aprofundar no assunto, pode ler o post “E quando Deus não cura? – Parte 2/2“). Acredito no “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Enquanto estamos vivos, habitaremos em corpos frágeis, aglomerados de tecidos e líquidos sujeitos a doença, degradação, falência, decadência. A salvação não blinda nossos corpos contra bactérias, vírus, torções, multiplicação descontrolada de células (tumores), fraturas, amputações, dores e centenas de outros tipos de problemas de saúde que podemos ter. A salvação é espiritual e não corpórea. Salvos e não salvos ficarão doentes do mesmo modo. A vida nos prova que isso é fato.

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Se você não crê nisso, pense em uma coisa. Islâmicos ficam doentes e são curados. Espíritas ficam doentes e são curados. Budistas ficam doentes e são curados. Hindus ficam doentes e são curados. Xintoístas ficam doentes e são curados. Candomblecistas ficam doentes e são curados. Satanistas ficam doentes e são curados. Ateus ficam doentes e são curados. Cristãos ficam doentes e são curados. Simplesmente porque todos os fieis de todas as religiões fazem parte do mesmo grupo de seres: humanos. E humanos ficam doentes. Humanos produzem anticorpos. Humanos reagem a  medicamentos. Humanos ficam curados. E humanos também morrem.

Doença2Meu pastor eventualmente diz: exceto por um acidente ou um assassinato, ninguém “morre de morte”. Todos morremos de doenças. De falhas no funcionamento do organismo. Desconsidere quem morre por fatores de origem externa, como tiros, facadas, atropelamentos, afogamentos ou similares. Os demais morrerão de AVC, infarto, malária, dengue hemorrágica, pneumonia e centenas de outros tipos de problemas orgânicos. Ninguém morre de velhice: velhos morrem porque seus organismos não comportam mais a vida e, por isso, algo falha, uma doença os acomete e chega o momento da partida desta existência material. Se todos os cristãos fossem ser curados de tudo, nenhum de nós morreria. Lembre-se de que todo mundo que um dia foi curado de algo – seja por atendimento médico ou por um milagre – no fim acabará sucumbindo a outro mal. Ou você acha que Lázaro, o irmão de Maria e Marta, está vivo até hoje?

Então, somos espíritos infinitos que habitam corpos finitos. Vamos adoecer. Vamos morrer. É bom estarmos cientes disso.

Você poderia dizer: “Ok, Maurício, tudo bem, todos vamos ficar doentes e morrer um dia, mas precisamos sofrer tanto com certas doenças tão terríveis?”. Vamos analisar alguns casos bíblicos. Miriã, a irmã de Moisés, ficou leprosa, pela vontade do Senhor. Jó, o homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal, ficou cheio de tumores na pele, pela vontade do Senhor. Doença3O próprio Lázaro, um dos melhores amigos de Jesus, adoeceu, como explicou o Mestre, “para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela [a doença] glorificado”. O cego de nascença de João 9 carregava essa condição por anos, para, segundo Jesus, “que se manifestem nele as obras de Deus”. Até aqui falamos de lepra, tumores, cegueiras e uma doença mortal indefinida, todas enfermidades terríveis. Mas tem mais: muitos são os relatos, de Êxodo a Juízes, de circunstâncias em que o Senhor amoroso enviou doenças, pragas e pestes ao seu povo, o povo eleito, o povo escolhido, para que aprendesse que não havia outro Deus além dele e abandonasse a idolatria. E não nos esqueçamos do espinho na carne de Paulo que, é possível, talvez fosse uma doença. E estamos falando do grande apóstolo Paulo, o homem que foi arrebatado ao céu… mas para quem a graça de Deus bastava.

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Agora eu pergunto a você: o que têm em comum todas essas circunstâncias, em que, pela ação direta de Deus, membros do seu povo, pessoas que ele amava e a quem queria bem –  Miriã, Lázaro, Jó e tantos outros – acabaram sendo acometidos por doenças horríveis e que causaram tanto sofrimento? O que vejo em comum a todos esses casos é o desejo do Senhor de que venhamos a aprender lições importantes por meio das enfermidades.

Veja: Miriã foi vencida pela soberba e a lepra veio para lhe ensinar humildade. Paulo (se é que o espinho na carne foi uma moléstia) recebeu a lição de que a graça de Deus é o que há de mais importante. O povo israelita sofreu muitas vezes com pestes para aprender que a obediência e a fidelidade ao Todo-poderoso são vitais. Jó sofreu para que bilhões de judeus e cristãos ao longo dos milênios aprendessem com sua história sobre a soberania divina. O cego e Lázaro padeceram para que bilhões de indivíduos aprendessem que o mais importante de tudo é a glória de Deus.

Doenças e aprendizado andam de mãos dadas desde o Éden. Andavam na época do Antigo Testamento, continuaram andando após a vinda de Jesus, andam ainda em nossos dias e seguirão andando até a consumação do século. Deus sabe que somos pó e, muitas e muitas vezes, o aprendizado sobre a obediência, a graça e a glória de Deus vêm mediante um instrumento pedagógico chamado doença (que, infelizmente, carrega a reboque dor e sofrimento).

Muitos poderiam dizer que esse tipo de pensamento não coaduna com a essência de um Deus que é amor. É exatamente por isso que precisamos entender os fatos do dia a dia pela óptica do Senhor e não pela dos homens. CoDoença4mpreenda uma coisa: quando o Pai olha para você, ele não está enxergando somente os míseros 70 anos de vida durante os quais a sua alma estará na terra – tão preciosos aos seus olhos humanos. Ele está vendo de uma perspectiva muito mais elevada, o Senhor contempla os milhões, bilhões, trilhões, quatrilhões de anos que você terá de vida eterna. Se essa matemática lhe parece nebulosa, perceba que, se a eternidade tivesse apenas 1 milhão de anos de duração, nela caberiam 14.285 vezes o tempo de vida de alguém que vive na terra 70 anos. E, lembre-se que a eternidade vai durar milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de milhões (e por aí vai, indefinidamente) de anos. Ou seja: uma eternidade que tivesse somente 1 milhão de anos equivaleria a 14.285 vidas terrenas.

Diante disso, sinceramente, o que você acha que é mais importante para o Senhor? Suas poucas décadas aqui ou sua existência eterna? Se for preciso fazer você enfrentar alguns anos de aperto agora que promoverão um aprendizado benéfico para toda a eternidade, o que você acha que ele fará? No lugar dele, o que você faria?

Doenla5Eu estava brincando de massinha de modelar com minha filha de 2 anos quando vi que ela ia enfiar um pedaço daquela substância tóxica na boca (e, se eu não visse, possivelmente engolir). Num reflexo, dei um grito. A pobrezinha tomou um susto, pois não está acostumada a ouvir papai gritar com ela. Paralisou. Fez beicinho. E começou a chorar. Tomei-a em meus braços, a acalmei e depois lhe expliquei a razão de ter gritado com ela: evitar um mal maior. Ela compreendeu, enxugou as lágrimas, apertou meu pescoço num abraço e me deu um beijo. Quase nunca grito com ela, mas se você me perguntar se eu gritaria de novo se tivesse de reviver aquela situação, afirmo que berraria quantas vezes fosse necessário, pois a amo e prefiro que ela sofra um pouquinho por algum tempo do que sofra muito por muito tempo. Por que com Deus seria diferente? O amor de Deus por nós é tão, mas tão grande, que ele deixa que fiquemos doentes.

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Deus olha para mim e você sempre, sempre e sempre a partir da perspectiva da eternidade. Ele quer nosso bem eterno. Se para isso for preciso que soframos um tanto de tempo nesta vida terrena e, assim, aprendamos importantes lições que impactarão diretamente nosso relacionamento e nossa intimidade com o Senhor pelos zilhões de anos que teremos entre a doença e a eternidade, afirmo que Deus nos enfermaria quantas vezes fosse necessário. Por quê? Em linguagem bíblica, “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.17-18).

Sim, ficaremos doentes. Sim, homens bons e íntegros, cristãos fieis, servos cheios de fé… todos ficarão doentes. Sim, todos os que adoecerem sofrerão. Sim, devemos orar pelos enfermos na esperança de sua restauração. Sim, remédios curarão muitos. Sim, milagres curarão alguns. Sim, muitos morrerão. Sim, no fim todos morreremos. O que fará a diferença é o quanto teremos capacidade de tirar de aprendizado de toda a dor e o sofrimento que precisaremos encarar.

Doença5Quando Jó finalmente parou de questionar as razões de sua doença e aprendeu o que Deus queria que ele aprendesse, disse: “Certo é que falei de coisas que eu não entendia, coisas tão maravilhosas que eu não poderia saber.  […] Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram.  Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.3-6). Quatro versículos depois, Deus acaba com o sofrimento de Jó. Será coincidência? É por isso que eu sempre recomendo: se você está doente, junto à oração pela cura ore a Deus perguntando o que Ele quer que você aprenda com aquela enfermidade. Há uma grande chance de seu sofrimento ser abreviado se você aprender o mais rápido possível o que Deus quer que você aprenda. Essa é uma certeza canônica? Não, a Bíblia não afirma isso. Mas é no que eu creio.

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Que em meio à doença aprendamos mais sobre santidade. Sobre obediência. Sobre a graça de Jesus. E, por fim, sobre a glória de Deus.

Doença6Eu choro pela minha irmã que recebeu o diagnóstico de câncer. Fico muito, muito triste – e domingo fiz um compromisso comigo mesmo de orar diariamente por ela. Não queria que ela passasse por isso. Jesus, na noite de sua paixão, entrou em depressão a tal ponto por causa do sofrimento que teria de enfrentar que Mateus 26 registra: ele “começou a entristecer-se e a angustiar-se” e disse a seus amigos: “A minha alma está profundamente triste até à morte”. Pois a dor… dói. E de sentir dor quem gosta? Mas o sofrimento de Jesus trouxe benefícios eternos. O Pai sabia disso e, por essa razão, não afastou de seu Filho amado o cálice do sofrimento. Por isso, muitas vezes o compassivo e bom Deus deixa que também nós bebamos do cálice do nosso sofrimento: para que aprendamos algo que virá a trazer benefícios eternos. O que cada um de nós tem de aprender com nossas doenças? Não faço ideia (para cada pessoa há um aprendizado específico). Mas Deus faz.

De minha parte, sei que a graça dele nos basta. E que a ele seja dada toda a glória, pelos séculos dos séculos.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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Apenas1Para sermos cristãos verdadeiros, temos que viver em honestidade com Deus e sua Palavra, sem querer maquiar a proposta da piedade com cores mais brilhantes do que de fato são. Por isso, precisamos olhar as boas-novas de Jesus com sinceridade absoluta. E isso inclui desfrutar de todas as bênçãos e promessas da fé – mas também arcar com o preço caro que custa seguir Jesus. Tenho pensado sobre o comentário de um irmão querido que compartilhou suas impressões sobre o que escrevo no APENAS. Ele disse que alguns de meus textos dão a impressão de que a vida do cristão é um mar de sofrimento. Não é bem assim. Mas também é.

O fato é que o evangelho pressupõe sim sofrimento. Esqueça por um momento as pregações que ouviu de pastores triunfalistas, que se promovem fazendo somente sermões para você se sentir bem, do tipo “a vida do cristão é um mar de rosas”. Vamos dar ouvidos a quem tem autoridade desinteressada sobre o assunto. O apóstolo Paulo diz em Filipenses 1.21: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro”. Ou seja, o sentido da vida é Jesus. Ele é a razão de viver, a meta, o alvo, o objetivo, o motivo de levantarmos da cama pela manhã, o foco de tudo o que fazemos no dia a dia. Tudo o que realizamos, falamos, deixamos de fazer, criamos, defendemos; todas as nossas ações, enfim, devem ter como motivo principal ir após Cristo.

Apenas2E o que significa “viver Cristo”, “ir após Cristo”? Em Marcos 8.34, num ensinamento que é citado em duas outras passagens bíblicas, é o próprio Jesus quem esclarece: “Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Então viver Cristo significa, antes de tudo, negar a si mesmo. Pare e pense em toda a sua profundidade o que isso implica: dizer não para si. Para seus desejos, suas vontades, seus objetivos pessoais e suas inclinações e pôr os desígnios do Senhor em primeiro lugar. É amar a Deus sobre todas as coisas… de fato.

A segunda parte da definição de Cristo sobre o que deve fazer quem quiser vivê-lo é “tomar a sua cruz”. Uma cruz do tipo que era usado no Império Romano na época da morte de Jesus pesava cerca de 90 quilos. Se você não consegue dimensionar o quão pesado é isso, imagine-se carregando 90 sacos de feijão. Minha filha pesa hoje 12 quilos e só Deus sabe as dores que sinto nas costas por pegá-la no colo. Carregar uma cruz exigiria, assim, o esforço de transportar sobre um ombro 7,5 filhas! Não consigo imaginar como isso seria humanamente possível. E não consigo imaginar como alguém pode crer que isso seja um mar de rosas. Não é: é duro, exige esforço e pressupõe sofrimento.

Portanto, vemos que ser um cristão, que significa viver Cristo, exige a negação de si mesmo e um sofrimento análogo ao de carregar uma cruz. É aí que fica claro o aspecto dolorido de nossa fé, o mar de sofrimento. Mas, se você já está desanimando por perceber a dureza de caminhar pelo estreito Caminho que leva à Porta estreita, surge então a parte final do que significa ir após Cristo: o mar de rosas do “…e siga-me”. E é aí que está nossa esperança.

Apenas3Seguir significa ir de um ponto “A” até um ponto “B” atrás de alguém. No caso da jornada cristã, o ponto “A” é o momento exato em que Jesus nos reconciliou com o Pai, quando fomos salvos. E o ponto “B”? Jesus ascendeu ao Céu e é lá que o Onipresente está, como viu Estêvão: à direita de Deus em sua glória eterna. Portanto, se o seguirmos esse será o destino final: o Céu. E, então, Deus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).

Essas passagens resumem bem o que significa a caminhada do cristão: uma vida pedregosa, com bons e maus momentos, com dores e sofrimentos sim, com alegrias e boas recordações sim, mas sem nenhuma promessa de riqueza material, ausência de problemas, eliminação de doenças, nada disso. Ser cristão não é viver isento de sofrimento – quem promete isso está ensinando autoajuda gospel e não o evangelho puro e simples. Pelo contrário, Jesus nos afirma que para ir após Ele temos de negar-nos e carregar uma pesada cruz. Não, não será um mar de rosas.

Apenas4Você certamente já leu na Bíblia que Jesus pediu que tivéssemos bom ânimo, pois Ele sabia que neste mundo teríamos aflições. Todos, indistintamente, cristãos ou não. A diferença é que nós, que fomos chamado das trevas para a luz, temos a esperança de seguir até onde Cristo está, o ponto “B”, o destino final: a glória celeste, a paz eterna, a alegria sem fim de se ver na presença do Criador do universo.

Portanto, para todo aquele que está em Cristo e cuja vida tem sido um mar de sofrimento, não espere falsas promessas. De mim você não as ouvirá. Mas posso te dar a certeza de que, após nadar no mar do sofrimento terreno, na eternidade você se banhará nas águas da vida do mar de rosas – a mesma certeza que Paulo nos dá em 1 Coríntios 2.9: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”.

Você ama Jesus? Então prepare-se para dias melhores. Melhores, perfeitos e eternos.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
mz

Vivemos na era do cristianismo de massa. Boas igrejas são as enormes. As com milhares de membros. A celebrada congregação do Pr. David Yonggi Cho, na Coreia do Sul, é tão monumental que quem se senta nos lugares mais altos tem à disposição televisores individuais  para enxergar o pregador. Vivemos a era dos grandes eventos evangelísticos, dos enormes shows na praia de Copacabana, da separação pastor-na-plataforma/membro-na-plateia. É um cristianismo externamente vibrante e ululante mas internamente vazio e frágil. Essa é nossa era. Um pastor é considerado “bom” se a congregação dele cresce a cada dia em número de membros – e ele é tão “bom” que nem conhece o nome de seu gigantesco rebanho. O pastor que cuida de perto das ovelhas, as visita, sabe o nome de seus filhos mas não gera um crescimento numérico recebe a ordem de retornar à sede, pois “não está sabendo fazer o trabalho”. Ou “não tem ministério”. Ou “não tem unção”. Em resumo, não é “bom”. Essa é a nossa era. Mas… quero lhe fazer um convite. Vamos viajar a uma outra era e analisá-la em comparação com a nossa.

O ano é cerca de 57 d.C. Um pregador escreve uma carta para uma igreja da qual é mentor. Seu nome é Paulo de Tarso. Um homem do mais elevado grau dentro da hierarquia eclesiástica da época, apóstolo, doutor da lei, chamado pessoalmente pelo Senhor, alguém que conversou de boca com o próprio Jesus, eleito entre milhares para ser arrebatado ao céu e ver coisas inefáveis. Um indivíduo que tinha tudo para subir no salto alto, exigir ser chamado de mil adjetivos alimentadores de vaidade, entrar pela porta dos fundos para não sofrer o assédio dos membros e olhar para a massa como… a massa – um amontoado de rostos sem nome. E para que saber seus nomes, não é? O que importa é subir no púlpito, pregar e descer do púlpito pela portinha lateral. Importante demais para se misturar, que isso fique ao cargo dos auxiliares.

A carta que ele escreve vai para a igreja de Roma. Se fosse hoje, não seria uma carta, mas uma transmissão pela TV, um editorial na revista da denominação, um devocional matinal na rádio de propriedade da igreja. Seria dirigida aos “irmãos e irmãs” ou a “meu amigo, minha amiga”. Mas naquela época não havia essa tecnologia. Só havia cartas. É de se supor, pela mentalidade de nossa era, que o grande apóstolo Paulo escreveu então para o líder máximo da igreja romana, seja ele o pastor, o bispo, o presbítero. Será?

Te convido para analisar Romanos 16, o último capítulo da epístola. Vamos ver como aquele importante homem de Deus tratou as massas sem nome da igreja Romana:

“Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive”. Hmmm, nada mal, Febe deve ser uma alta dignatária da igreja romana, para merecer ter seu nome mencionado por tão reverendo homem. Prossigamos:

“Saudai Priscila e Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça; e isto lhes agradeço, não somente eu, mas também todas as igrejas dos gentios”. Mais dois nomes. Mas, também, o casal arriscou a vida pelo grande apóstolo, não é de admirar que os tenha citado nominalmente. Mas deve parar por aí, Paulo é muito ocupado, não tem tempo de se dedicar a indivíduos, tem uma enorme rede de igrejas espalhadas pela Ásia Menor para administrar. Não é…? Continuemos.

“Saudai meu querido Epêneto, primícias da Ásia para Cristo”. Estranho. Outro que Paulo conhece pelo nome.

“Saudai Maria, que muito trabalhou por vós”. Hmmm.

“Saudai Andrônico e Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos e estavam em Cristo antes de mim”. (Silêncio)

“Saudai Amplíato, meu dileto amigo no Senhor”. (O-O)

“Saudai Urbano, que é nosso cooperador em Cristo”.

“E também meu amado Estáquis”.

“Saudai Apeles, aprovado em Cristo”.

“Saudai os da casa de Aristóbulo. Saudai meu parente Herodião. Saudai os da casa de Narciso, que estão no Senhor. Saudai Trifena e Trifosa, as quais trabalhavam no Senhor. Saudai a estimada Pérside, que também muito trabalhou no Senhor. Saudai Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para mim. Saudai Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que se reúnem com eles. Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, Olimpas e todos os santos que se reúnem com eles”.

Até aqui contei pelo menos 27 nomes. Há algo errado. Quem explica? Como pode? Como compreender à luz do cristianismo da nossa era essa intimidade, essa proximidade, esse carinho, esse afeto, esse…

…amor?

Como entender que um pregador de tal envergadura ministerial conheceria as pessoas da igreja pelo nome? Seriam grandes dizimistas? Dignatários do governo? Intelectuais e artistas famosos? Não, eram pessoas comuns. Então como explicar tanto amor vindo de um homem com tamanha intimidade com Jesus?!

A explicação é exatamente essa: Paulo era um homem de tamanha intimidade com Jesus.

Quem conhece intimamente Cristo preocupa-se em conhecer intimamente sua noiva. A noiva por quem Ele deu a própria vida numa cruz. Quem é intimo do Senhor preocupa-se com aqueles que lhe são caros. Um ministro do presidente do Brasil não está no cargo para servir somente o presidente, mas para servir também os brasileiros. É algo indissociável. Dizer que ama Deus e não amar cada um de Seus filhos é uma prova de que, na verdade, só ama Deus da boca para fora.

Deus conhece você pelo nome. Importa que quem pastoreie sua vida também o conheça pelo nome. Se foi por falta de oportunidade ou porque você chega e sai do culto sem nunca ter se apresentado… faça isso. Vá até seu pastor e lhe diga: “Quero ser discipulado”. Megaigrejas não permitem isso. Quem avalia um pastor pelo crescimento numérico da congregação que ele pastoreia não entendeu nada do que Paulo ensinou. Em vez de apenas contar o número de membros ou batizados na igreja que ele lidera, para se perceber seu tônus ministerial deve-se conversar com as ovelhas dele. Perguntar se o pastor já foi a sua casa. Se já conversou sobre sua vida. Se já o amparou em momentos de angústia. Se desce da torre de marfim para o nível do chão. Se sua com o povo. Se chora com os pequenos. Se abraça os malcheirosos. Se beija os pecadores arrependidos. Se os conhece pelo nome. Esse é o bom pastor. Os outros podem ser bons pregadores ou bons qualquer-outra-coisa. Mas pastores?

O bom pastor sabe a razão de conhecer as ovelhas pelo nome: pois, ao fazer isso, está glorificando com sua vida – como bem mostra Romanos 16.27 – o “Deus único e sábio”, a quem “seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos”.

Amém…

Paz a todos vocês que estão em Cristo: Eliana, Marco, Luiz Felipe, Bianca, Lelê, Carla, Robson, Nanda, Alexandre, Isabelle, Poliana, Luiz Fernando, Cranudo, Fábio, Solange, Felipe, João, Danila, Ricardo, Jacy, Amanda, José, Gamaliel, Elinton, Luciene, Gutemberg, Alfredo, Tarciso, Alex, Dayana, Rodrigo, Juliana, Teresa, Edson, Artimes, Willian, Ruben, Marcos, Líbia, Anderson, Luiz Henrique, Carina, Regina, Katia, Katiana, Elias, Renan, Daniel, Gessé, Davi, Gleiscon, Raquel, Simone e tantos outros que só não menciono aqui por falta de espaço.

O mano, Maurício.

Miseravel1Qual é o momento mais importante da nossa caminhada de fé? Para uns, é o instante da conversão. Para outros, é o dia do batismo. Há também os que consideram o momento mais importante a hora da morte, quando finalmente darão o glorioso passo de entrada na casa do Pai. Cada pessoa elege aquele ponto da trajetória com o Senhor que mais marcou sua vida. Tenho também o meu. Claro que sei que todos esses momentos são fundamentais e memoráveis, mas entendo que a conversão e a morte, por exemplo, são os momentos mais importantes de nossa vida. Mas em se tratando da caminhada de fé, ou seja, do bom combate, da nossa trajetória de vida com Jesus, há um dia em que tudo muda e, por isso, o tenho guardado num lugar especial do coração. É quando cai a ficha e você, como Paulo, exclama: “Miserável homem que sou!”.

Naturalmente, na hora da conversão existe uma dose dessa percepção. É quando, pela ação do Espírito Santo, nos enxergamos como condenados ao inferno e dissociados de Deus e, assim, somos rendidos ao Evangelho da graça. Mas há uma diferença entre se perceber um pecador perdido e se perceber um cristão miserável. Pois muitos são convertidos a Cristo, ganham a cidadania do Reino dos Céus, são adotados como filhos de Deus e, a partir daí, deveriam passar a viver de acordo com a natureza de Jesus, sendo mansos e humildes. Mas a realidade nos mostra que muitos e muitos são os que começam a se considerar quase super-heróis. Mais que vencedores. Vitoriosos. Filhos do Rei. Tanques blindados. Bombas atômicas a serviço dos céus, prontos para arrebentar com os ímpios e com os “menos espirituais”. Vestem uma capa de grandeza e passam a considerar o resto da humanidade parte de um segundo escalão de pessoas. É como se manifesta um pecado muito comum a nós, cristãos: a soberba espiritual.

Já vi muitos assim. Arrogantes. Impiedosos. Cujo maior prazer é apontar o cisco no olho do outro. E confesso: eu mesmo já fui assim. Pois não entendia que todo homem de Deus é, antes de tudo, também um homem. Humano. E, como tal, cheio de falhas, crenças equivocadas, arrogância, vaidade e montes e montes e montes de defeitos. Se você é um cristão sincero, olhará para dentro de si e verá o quão problemático e falho é. Mas eu me via como “o eleito”, “o escolhido”. Algo à parte dos demais, tão espiritualmente certo em tudo e muito superior aos cristãos “menos santos”. Falava dos que cometiam pecados (diferentes dos meus, pois eu também sempre pecava) como fracos, frios, fariseus, lobos em pele de ovelha, crentes em quem não se pode confiar. Eu era o tal. Eles eram o joio. Que tremendo bobo eu era, só rindo de mim.

Miseravel2Porque um dia a realidade despencou na minha cabeça como uma bigorna. E foi quando as escamas caíram de meus olhos e enxerguei que, mesmo sendo cristão há muitos anos, continuava sendo um miserável. Que não era melhor do que ninguém. Que meus dons, talentos, ministérios, qualidades, santidade e tudo o mais que havia em mim não era mérito meu, mas do Pai das luzes. Ele me concedeu como empréstimo, não sou dono de nada e posso perdê-los a qualquer hora. Por outro lado, o pecado que cometo é sim mérito (ou demérito) meu. Ou seja: no dia em que você, como cristão, vê claramente que tudo o que tem de bom vem de Deus e o que tem de mau vem de si… aí exclama: “Miserável homem que eu sou!”.

Passei a amar muito mais o apóstolo Paulo quando compreendi como nunca antes o que ele diz em Romanos 7.14ss: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado”.

Prestou muita atenção ao que leu agora? Paulo – o grande apóstolo Paulo, o homem que foi arrebatado e viu o Céu ainda em vida – vivenciou esse magnífico momento: como cristão, mesmo já com anos de convertido, enxergou o que tantos e tantos em nossas igrejas ainda nãos viram: que nós…

1. Somos carnais
2. Somos vendidos à escravidão do pecado
3. Agimos de modo incompreensível aos nossos próprios olhos
4. Fazemos o que detestamos e não o que preferiríamos
5. Somos habitação do pecado (que percepção assustadora, pois sabemos que também somos habitação do Espírito Santo)
6. Somos fantoches do pecado, que nos leva a agir contrariando o que cremos e o que queremos viver
7. Temos membros obedientes a uma lei que guerreia contra a lei da nossa mente
8. Somos prisioneiros da lei do pecado que está em nossos membros
9. Mesmo salvos, somos miseráveis – pois vivemos dominados pelo pecado

Em outras palavras, mesmo cristãos nós somos miseráveis, pois vivemos o tempo todo sob a sombra de nossa própria pecaminosidade. O dicionário revela o que “miserável” significa: desprezível, torpe, vil, insignificante, reles, ínfimo, desgraçado, infeliz, mísero. Uau. Que soco na boca do estômago de nossa soberba espiritual.

A percepção dessa realidade é extremamente humilhante, nos põe em nosso devido lugar e nos conduz a um ambiente espiritual de profunda submissão a Deus e desapego de nós mesmos. Paulo teve essa percepção: mesmo sendo cristão era um miservável pecador. Alguém que o Senhor precisava permitir ser afligido por um mensageiro de Satanás esbofeteador para que não se exaltasse pela grandeza das revelações que recebeu. Um mero humano, como eu e você.

Miseravel3Honestamente? Quanto mais leio as epístolas paulinas, mais admiro Paulo. E mais me apiedo dos crentes que se apresentam como anjos de santidade. Pois não chegaram ainda ao sublime ponto de admitir que são miseráveis. Vejo muitos que são assim. E isso gera em mim um sentimento misto de pena com tristeza, confesso. Creio ser muito mais digno, bíblico e honesto reconhecer com a boca no megafone: sou cristão, salvo somente pela graça imerecida de Deus, mas ao mesmo tempo carrego o corpo dessa morte amarrado nas costas – o que faz de mim um miserável pecador. Que depende única e exclusivamente da misericórdia do Senhor para continuar respirando, quanto mais entrar no Céu. Pois sei o mal que há em mim e como meu lado sombrio é feio, disforme e animalesco. Como você se enxerga, meu irmão, minha irmã? Você se orgulha da sua santidade ou se abate pela sua natureza humana pecadora?

Chega a ser muito entristecedor ver os “crentes sem mácula” metendo dedos na cara “dos que pecam”, sendo que carregam na alma lodo do pior tipo. Isso é um dos pecados mais falados e criticados por Jesus: a hipocrisia. Já vivi nesse mundo, sei de perto o que é. E reconheço esse meu pecado com temor diante do PaiMiseravel4: pequei por me achar menos pecador do que os demais pecadores. Miserável homem que sou. Ah, que bendito dia em que o Espírito Santo me fez reproduzir essas palavras do apóstolo Paulo! Dia em que enxerguei que não é porque aceitei Jesus que virei um ser angelical, mas que continuo sendo um pecador compulsivo e incorrigivel, totalmente dependente da graça. A diferença é que, sabendo da miserabilidade que existe em mim, consigo chegar com humildade aos pés do Senhor, banhá-los em lágrimas e enxugá-los com meus cabelos. No passado, o crentão que eu era ficaria de pé, nariz levantado, peito estufado,  ao lado do Rei dos Reis, e diria: “E aí, Paizão, tamos numa boa, né? Sou teu eleito, meu chapa, gente boa igual a mim não há. E vamos lá mandar esses crentes carnais pro inferno, julguemos juntos, eu e o Senhor, os meus irmãos, pois estou a fim de ver sangue!”.

Sim, aquele foi o dia mais importante. Pois na conversão eu fui salvo, mas me sentia o tal por isso. No batismo saí das águas me achando o puro, o imaculado. Mas no dia em que caí em mim, vi que mesmo salvo continuo pecando sem parar, caí de joelhos, tremi e murmurei: miserável… homem… que… sou…

Gosto de pensar que após a morte irei para o Céu. Não por mim, que não valho nada, mas pela Cruz. Só pela Cruz. Pela graça. Pelo amor. Pelo perdão. Por Jesus. E, ao chegar lá, pode ser que eu ouça “bem-vindo, servo bom e fiel”. Mas acredito muito mais que vou ouvir: “Bem-vindo, miserável pecador. Você não tem mérito algum, mas por causa do sacrifício de meu Filho eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!”.

Paulo estava certo: somos miseráveis. Eu, você, todos os cristãos. E bendito seja o Senhor, que pela graça um dia nos chamou para sua maravilhosa luz e tempos depois iluminou a nossa realidade de cristãos pecadores. Não é o seu caso? Então clame a Deus, na esperança de que Ele te mostre o quão miserável você é. Acredite: é uma das maiores bênçãos para a alma que você poderá receber ao longo de toda a sua vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
mz

Cada civilização contém conceitos que são considerados as maiores virtudes entre as pessoas que a formam. Na Grécia antiga, por exemplo, o poder de argumentação era tão valorizado que existiam escolas voltadas especificamente para ensinar a debater. Em certas tribos aborígenes, trair alguém antes de matá-la dava status, como revela o livro O totem da paz. Também não são poucas as sociedades ao longo da História em que os mais fortes fisicamente são e foram os mais louvados. A espiritualidade e a obediência ao Alcorão são bem vistas em culturas islâmicas. Em certas sociedades orientais, a honra era vista como o valor principal de um homem. E na nossa? O que dá destaque a um indivíduo na cultura ocidental do século 21, em que eu e você estamos imersos? Basicamente o que chamo de “os três F”: fama, fortuna e físico. Quer ser o maior entre os seus semelhantes no Brasil de hoje? Então seja famoso: destaque-se, apareça mais que os outros, seja venerado, que muitos olhos se voltem para você. Ou então ganhe muito dinheiro, ostente carros caríssimos, more numa mansão, demonstre como você é bem-sucedido financeiramente. Por fim, tenha um aspecto físico invejável, seja por uma beleza natural ou por recursos como malhação, cirurgias plásticas, implante de silicone, botox, cabelos bem cortados – ou ainda, por roupas e sapatos caríssimos e da grife que está na moda. Pronto. Você será visto com destaque, valorizado, bajulado, invejado, amado. Mas… e no Reino de Deus? O que destaca alguém? Acredite: o exato oposto daquilo que dá destaque a um indivíduo na cultura ocidental do século 21:

Humildade.

O pecado de Satanás foi a arrogância. Ele quis ser mais do que era. Deu no que deu. Podemos contrastar sua atitude com a do grande profeta João Batista, sobre quem o próprio Jesus disse: “Eu lhes digo que entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João” (Lc 7.28). Sendo João isso tudo, ele mesmo afirmou: “Depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de curvar-me e desamarrar as correias das suas sandálias” (Mc 1.7). João sabia quem era. Mas, mesmo sendo o maior de todos os que haviam nascido em toda a história da humanidade, ele conhecia seu lugar. Sabia que era pó. Que exemplo para todos nós…

Nossa civilização nos condicionou a querer sempre um lugar de destaque. Um emprego que nos projete. Títulos. Nosso nome escrito em letras de neon. Elogios. Um ego muito bem nutrido por palavras que mostrem como nós somos grandiosos. Mas o que Jesus ensina contraria de frente essa mentalidade: “Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança. (Mt 5.5). Que diferença! E a afirmação que não deixa dúvida alguma (peço que você leia essas palavras de Jesus com muita atenção): Quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus” (Mt 18.4). Humildade na terra, grandeza no Céu. Diminuir para crescer.

Jesus é o único digno de abrir o livro, Jesus é o maior, Jesus é maravilhoso, Jesus é o Altíssimo, Jesus é Criador, Jesus é o Caminho, Jesus é amor, Jesus é o santíssimo, Jesus é o Onipotente, Jesus é tudo. No entanto: “Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus;  assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura.  Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura.  […] Disse Pedro: “Não; nunca lavarás os meus pés”. Jesus respondeu: “Se eu não os lavar, você não terá parte comigo”.  […] Então lhes perguntou: “Vocês entendem o que lhes fiz?  […] Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros.  Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz” (Jo 13.1-15).

Permita-me perguntar: qual foi a última vez que você seguiu esse exemplo e “lavou os pés” de alguém menor do que você?

Entre nós, cristãos, certas características nos dão destaque no meio dos irmãos. O santo se acha mais santo do que os outros. O que ora muito crê que isso o torna mais especial do que os demais. O pecador condena quem julga que é mais pecador do que ele. O que tem um cargo na igreja se acha mais do que o que não tem. O que manifesta um dom se acha mais agraciado por Deus. Em resumo, eu e você não estamos isentos de nos acharmos os tais porque fazemos ou somos algo que nos põe numa posição de destaque.

Já parou para pensar por que os cristãos são tão fascinados por escândalos? Já parou para pensar por que amamos falar sobre aquele pastor famoso que caiu em adultério? Já parou para pensar por que comentamos salivando que a cantora gospel famosa rastejou no palco? Já parou para pensar por que temos um prazer indizível em comentar o último pecado que fulano cometeu? Em suma, já parou para pensar por que temos o prazer sádico de tricotar entre nós quando algum outro cristão incorre em desgraça?

Porque isso faz com que nós nos sintamos superiores.

Pura e simplesmente isso. É um sentimento mesquinho que, até inconscientemente, nos faz pensar “não sou tão mau assim, afinal fulano é um tremendo pecador, muito mais do que eu, que vivo tão corretamente”. É por isso que a maioria prefere segregar o pecador e não lhe dar um único telefonema para saber como ele está em vez de se aproximar, amar, dar ombro, dar afeto, ajudar em sua restauração: porque gostamos demais de nós mesmos para gostarmos dos outros.

Certa vez entrevistei o ator e comediante Jerry Lewis. Perguntei a ele como explicava seu sucesso. Sua resposta foi simples: “Todo filme que faço se baseia num princípio: um homem em apuros.  E cada pessoa do público fica feliz porque quem está naquela situação embaraçosa ou complicada é outro e não ela mesma”. Ou seja: rimos da desgraça do outro porque isso nos faz nos sentirmos melhor conosco. Não fosse assim, como explicar o sucesso das videocassetadas? Pessoas se arrebentando no chão, levando tombos, sendo atropeladas, pegando fogo… e nós daqui caindo na gargalhada. Os cristãos, inclusive – sejamos honestos. Como explicar esse contrassenso absoluto? Simples: a desgraça alcançou o outro e não nós.

Quando o outro peca isso faz dele inferior aos olhos dos cristãos. Portanto, um pecado que tornou alguém um escândalo faz com que eu, que também peco todos os dias mas não virei escândalo, me sinta melhor, mais feliz comigo mesmo. Superior. Maior. Sinto orgulho de mim mesmo, essa é a grande verdade. No entanto, as palavras de Paulo atravessam nosso sentimento de superioridade como uma espada afiada: “Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza” (2 Co 11.30).

Essa é a proposta do Evangelho. Reconhecer nossa fraqueza. Reconhecer nossa falibilidade. Pois, enquanto nos achamos mais especiais do que os demais, sofreremos do traiçoeiro pecado do “orgulho santo” – o orgulho do que há de bom em nós, o orgulho até de nossa “santidade”, tão maior do que a dos demais. Mas se nos achamos tão melhores do que os outros, não abrimos espaço para nos escancararmos para Deus, como Paulo fez: “Miserável homem que eu sou!” (Rm 7.24). Não. Diremos em nosso íntimo (sem falar em voz alta, para não pegar mal): “Magnífico homem que eu sou!”. Assim, nos sentiremos mais. Nos sentiremos os eleitos, os profetas, os escolhidos, os queridinhos do Pai. Nos sentiremos superiores. E nos sentiremos aliviados por não sermos tão ruins como os outros. Só que… com isso, não reconhecemos nossas fraquezas e não reconhecemos que o pior dos pecadores não é pior do que nós. E no dia em que estivermos diante do trono de Deus para prestar contas de tudo o que fizemos e falamos, será que o que ouviremos dele é “você é realmente o tal”?

Prefiro ficar com Paulo, que em Romanos 7.18 confessa com uma humildade que não encontramos em quase ninguém em nossos dias: “Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo”. Não é à toa que Paulo foi Paulo. Pois, talvez lembrado pelo espinho na carne, reconhecia que só a graça lhe bastava e que só a graça fazia dele um vaso de barro com a excelência do fôlego de vida em si.

Fico muito triste ao ver cristãos que se acham mais do que outros, seja por que razões forem. E oro por muitos que conheço e que são assim. Ore por mim também, por favor, pois não sou melhor do que meus pais. Em vez de nos acusarmos, nos rebaixarmos e nos segregarmos, amemo-nos mais e oremos mais uns pelos outros. No grande e terrível dia em que estaremos diante do Justo Juiz, que ele olhe para nós e veja a cruz de Cristo. Porque, se Ele olhar para quem nós realmente somos (e não para quem achamos que somos) nada nos restará a não ser choro e ranger de dentes.

Sou um pecador, mas se puder fazer algo por você, meu irmão pecador, minha irmã pecadora, tentarei. E não te desprezarei pelo fato de que você pecou um pecado diferente do meu e que ingenuamente considero pior. Pois… quem sou eu? “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10). Quem sou eu…

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício.

Quando você é convertido pelo Senhor, aprende a ser cristão imitando outros cristãos, da mesma maneira que uma criança aprende a falar: copiando os mais antigos. Por isso, aprendemos a orar do modo que ouvimos os outros orar. E, em nossos dias, a oração tem sido basicamente ególatra: eu, eu, eu e, por fim, eu. “Deus, o meu emprego, a minha casa, a minha família, a minha filha, o meu carro, a minha vida espiritual, o dom que eu quero receber, me dá, me dá, me dá, EU QUERO DE VOLTA O QUE É MEU!!!”. Perdemos o hábito de interceder. Orar pelos outros parece um negócio secundário na igreja egoísta em que vivemos. Por isso, sempre que agradecemos ao Pai é pelo que ganhamos, pela “bênção recebida”, pela “graça alcançada”, pela “MINHA VITÓRIA!!!”. E esquecemos de agradecer pelo que Deus NÃO nos deu.

“Ahn?! Como assim, Zágari?! Como é que vou agradecer pelo que NÃO recebi?”. Primeiro, meu irmão, minha irmã, porque é bíblico: Paulo nos ensina em 1 Tessalonicenses 5.18: “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco“.  E tudo é tudo, não é só naquilo em que fomos atendidos. O autor da carta aos Hebreus cita no capítulo 11 uma lista de homens e mulheres que são dignos de nota por sua fé, e acerca deles afirma: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra“.

Uau. Repare que esses servos de Deus morreram sem obter as promessas. Ou seja: não as experimentaram em vida. E ainda assim foram elogiados. Se o autor aos Hebreus vivesse em nossos dias, possivelmente diria “Todos estes morreram sem fé, pois não obtiveram as promessas; vendo-as, porém, de longe, ficaram fulos da vida com Deus, pois decretaram a vitória, tomaram posse da bênção mas não receberam o que queriam e se esqueceram de que eram peregrinos sobre a terra”.

Certa vez voei de helicóptero sobre o Rio de Janeiro, cidade na qual, graças ao bom Deus, vivo há 40 anos. E me impressionei como, vista de cima, havia tantos e tantos lugares que eu não conhecia, nunca tinha reparado, passagens entre ruas, comunidades e casas escondidas… foi revelador. Deus vê as coisas assim, de um modo que não enxergamos. Por isso, muito do que pedimos não recebemos. “Deleita-te no Senhor e Ele satisfará os desejos do teu coração“, diz o salmista no Salmo 37.4, fazendo parecer que Deus nos dará tudo o que nós, seus filhos mimados, pedirmos. Mas nos esquecemos de continuar a leitura e ver alguns versículos à frente: “Mais vale o pouco do justo que a abundância de muitos ímpios“.

Se Deus te dá pouco, glorifique-o. Se Deus não te dá o que você pediu em oração, glorifique-o. Se Deus parece não escutar teus apelos, glorifique-o. Se pedes, buscas e bates e não recebes, glorifique-o. Você o tem e Ele te tem – quer mais do que isso? Se você não recebe o que pediu é porque Deus, de seu helicóptero de onisciência, enxerga o que você não enxerga. Vê o que há depois da curva. Por isso, faça como o homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal: quando sua oração não é atendida, prostre-se, adore o Altíssimo e diga: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!“.

Peça. É bíblico. Jesus nos ensinou a fazê-lo no Pai Nosso. Mas peça sabendo que pode nunca ser atendido. E fique feliz por isso. Pois se você, que tem a visão do futuro e das circunstâncias limitadas, ora e o Pai não te concede, pode ser que seja Deus concedendo o que você pediu em outra oração sua: “Mas livra-nos do mal…“. E, principalmente, esta: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu“. Queremos e solicitamos a Deus que faça Sua vontade – que é boa, perfeita e agradável – mas se Ele faz e ela contraria a nossa vontade nos chateamos. Ou seja: pedimos uma coisa mais excelente do que outra que pedimos depois. O Criador nos atende. E ficamos chateados. Quem nos entende?

Meu irmão, minha irmã, peça. Ore. Clame. Suplique. Mas se sua oração não for atendida, erga as mãos para o Céu, agradeça, adore a Deus e saiba que não recebeu o que pediu porque você tem um Pai que cuida de ti. Pois, afinal, como Paulo deixa muito claro em Romanos 8.28: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito“. Você ama a Deus? Foi chamado  segundo o seu propósito? Então o fato de o Senhor não atender tua oração é a maior bênção que Ele poderia te dar. Seja grato. E ore, agradecido: “Obrigado, Pai, pelo que NÃO me deu”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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“Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado“? (Sl 51.1,2)

Li recentemente em um blog a reprodução de um velho texto de um antigo líder religioso cristão. O artigo atesta, em resumo, que “o sentimento de culpa do pecador se opõe à graça de Deus”. Que seriam conceitos excludentes, opostos. Li o referido texto, de 2003, e cheguei a uma conclusão: esse argumento está errado. Bem errado, na verdade. Segundo o artigo, “é sem culpa que nós temos que tratar dos nossos pecados. Pois com culpa apenas os aumentaremos e os fixaremos mais profundamente em nós…como ‘pecados próprios’“. O autor propõe uma graça que desmaterializa a culpa previamente. Já eu entendo que a graça vem em sequência à culpa, como a borracha que apaga o erro. Em suma: entendo biblicamente que a graça de Deus não exclui a culpa do pecador, mas vem como o bálsamo que irá curar as dores dessa culpa e transformá-la em vida e paz.

Acredito que o pastor que escreveu o texto o fez com a melhor das boas intenções. O artigo foi escrito na tentativa de aliviar do coração dos pecadores o peso da culpa de pecados cometidos. Seria uma atitude amável e louvável, se não usasse de um argumento antibíblico. O conceito de culpa é tão execrado pelas pessoas por uma razão bem clara: ele se contrapõe frontalmente ao desejo de ser feliz. Pois culpa gera tristeza. E tristeza é o contrário de felicidade.

E a verdade é que vivemos na era do pseudoevangelho da felicidade, que afirma que o cristão tem que viver “feliz da vida”. Logo, a ideia de que o cristão sentir culpa pode ser algo benéfico como resultado da ação graciosa de Deus (e não em oposição à graça) é ofensiva ao cristão do século 21. Pois eu e você queremos seguir Jesus para sermos felizes, para fugir da tristeza, para nos livrarmos de toda a culpa e assim alcançar o máximo de felicidade que a vida com Cristo poderia nos proporcionar.

Só que há um porém. Se deixarmos de lado a poesia que existe no discurso da “graça anticulpa” e formos olhar para onde realmente importa, a Bíblia, veremos que a proposta de Cristo é que, se a tristeza for necessária, que venha! Jesus jamais, em nenhum lugar de todos os quatro Evangelhos, propõe fora do porvir uma vida de felicidade livre de culpa e de tristeza.

Culpa que funciona como canal da graça

Como funciona então – biblicamente – essa relação entre culpa e graça? A sequência é até bastante lógica:

1. O cristão peca.
2. O Espírito Santo o convence do pecado, da justiça e do juízo.
3. Esse convencimento faz brotar no coração do pecador, adivinhe você, culpa.
4. A percepção dessa culpa o leva ao arrependimento mediante a ação graciosa do Espírito Santo.
5. A confissão do pecado, motivada pela dor da culpa, aciona a ação intercessória de Cristo junto ao Pai e o pecado é lançado no mar do esquecimento.

Porém, pela proposta do texto em questão, automaticamente a graça vem e nos leva a lidar com aquele pecado com uma certa leveza. Afinal, propõe ele, a salvação já nos teria libertado da culpa de ter pecado.

Mas, se assim fosse, como entender as palavras do rei Davi no Salmo 51, rasgado pela culpa após ter adulterado com Bate-Seba e causado a morte de Urias, “tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado“?

Fato é que a nossa sociedade pós-freudiana pintou a culpa como sendo um mal terrível. Um dos grandes vilões dos nossos dias, geradora de neuroses e infelicidade. Mas a verdade é que, na Bíblia, longe dos consultórios dos psicólogos, a culpa é um mal necessário. Aliás, fundamental. Sem que o pecador seja incomodado pela culpa gerada pelo toque do Espírito (que nos convence do nosso pecado) ele não alcançará arrependimento. Mostre-me um cristão sem sentimento de culpa e lhe mostrarei um cristão que não se arrepende de seus pecados.

Quando o profeta Natã é usado pelo Espírito Santo para mostrar a Davi que ele é réu de pecado, o rei, assolado por seu sentimento de culpa, escreve nos versículos 11 a 14 do mesmo Salmo: “Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer. Então ensinarei os teus caminhos aos transgressores, para que os pecadores se voltem para ti. Livra-me da culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a minha língua aclamará a tua justiça“.

Será que, ao ler essas comoventes palavras de um pecador que busca desesperadamente o perdão, motivado pelo sentimento gracioso de culpa que o levou ao arrependimento, você concordaria com o que o prezado pastor escreveu em seu texto, que “é sem culpa que nós temos que tratar dos nossos pecados“? Lamento, eu não. A culpa redentora da Davi soa mais forte ao meu coração, visto que foi usada como canal da graça de Deus.

A tristeza que alegra Deus

O apóstolo Paulo, ao escrever aos cristãos de Corinto em 2 Co 7.8-11, deixa claro: “Mesmo que a minha carta lhes tenha causado tristeza, não me arrependo. É verdade que a princípio me arrependi, pois percebi que a minha carta os entristeceu, ainda que por pouco tempo. Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus não produz remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a tristeza segundo o mundo produz morte. Vejam o que esta tristeza segundo Deus produziu em vocês: que dedicação, que desculpas, que indignação, que temor, que saudade, que preocupação, que desejo de ver a justiça feita! Em tudo vocês se mostraram inocentes a esse respeito“.

Paulo está dizendo que a tristeza levou os cristãos que estavam em pecado ao arrependimento. E diz claramente:  “vocês se entristeceram como Deus desejava“, ou seja, a tristeza daqueles cristãos que estavam em pecado, que foram alcançados pela graça, que se viram imersos em culpa… era desejo de Deus! Paulo afirma que o Deus de toda a graça queria que os cristãos de Corinto ficassem tristes por estarem pecando, isto é, que sentissem culpa pelo pecado e mudassem de atitude para que esse sentimento fosse deletado. E o apóstolo usa uma expressão absolutamente fora de moda nos nossos dias e que destoa totalmente do texto que motivou este post: “tristeza segundo Deus“. Ou seja, uma tristeza que vem da graça de Deus e que nos leva a sentir culpa pelo pecado e, logo, tristeza – que por sua vez leva ao arrependimento.

Fato é que o Deus da graça pode usar a culpa como um grande elemento transformador. Ver-se culpado de uma transgressão, como Davi se viu, revela em nós a ação da graça e nos desperta para as consequências do pecado, da justiça e do juízo. E não o contrário. E é essa percepção que gera a vida – mediante nosso arrependimento, nossa posterior confissão de pecados e por fim nossa reconciliação com o Pai.

Freud X Bíblia

Nós, cristãos, temos que abandonar o conceito fredudiano de culpa como elemento destruidor e passarmos a abraçar o conceito bíblico e cristão de culpa como elemento transformador. Para Freud, culpa gera neuroses. Para o Deus da graça, culpa gera tristeza que leva ao arrependimento dos pecados. E, com isso, vida.

Por isso, perdoem-me se discordo da afirmação do pastor que escreveu que “é sem culpa que nós temos que tratar dos nossos pecados. Pois com culpa apenas os aumentaremos e os fixaremos mais profundamente em nós…como ‘pecados próprios’“. Respeito a opinião dele, mas acredito exatamente o contrário: que é com culpa que temos de tratar dos nossos pecados – pois ela é um santo remédio. A culpa age como um combustível para buscarmos com a mesma contrição de Davi o Deus Todo-Poderoso que nos livra da culpa e somente mediante esse contato deixaremos de ser escravos dela – por meio da ação perdoadora, reconciliadora e justificadora do Jesus ressurreto.

Assim, por mais curioso que seja, é justamente a culpa que nos livrará da culpa, pela ação de Deus. E, querido irmão, querida irmã, isso sim é graça: ser culpado mas ser absolvido da culpa sem nenhum merecimento. Pois tudo é mérito da Cruz.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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