Arquivo de junho, 2011

Não adiantou nada pedir, não é? Repare: eu fiz um pedido (não impus um mandamento), solicitei com educação (e não ameaçando com o fogo do inferno), não foi uma imposição feita dentro de uma igreja institucional maquiavélica por pastores tirânicos e ainda assim… cá está você, lendo este post. E por quê? Ninguém te obrigou, você certamente poderia estar fazendo muitas outras coisas neste momento, não vai render dinheiro ou conceder prestígio a você ler este artigo… enfim, não havia absolutamente nenhuma razão para você descumprir um pedido que fiz com tanta objetividade e educação: “Por gentileza, não leia este post!”. Então por que cargas d’água você o está lendo? Simples: pois ocorre dentro de você, de mim e de todas as pessoas uma guerra, cujo estopim é algo chamado “pecado”. É esse tal “pecado” que faz com que nós sempre queiramos fazer o que nos dá na telha e assumir as rédeas da nossa vida.

A resposta nua e crua é: você está lendo este post simplesmente porque você quis. E fim de papo.

Pecar é exatamente isso: uma tentativa de tomar das mãos de Deus a autoridade de decidir o que fazer. É dizer para Deus: “Quem manda aqui sou eu!”. Deus diz “não” e eu digo “sim”: pronto, pecado. Deus diz “azul” e eu digo “vermelho”: pronto, pecado. Deus diz “vida” e eu digo “morte”: pronto, pecado. Ou seja: pecar é dizer ao Criador que Ele tem mais é que ficar na dele, quietinho, e não se intrometer naquilo que estou a fim de fazer – e provavelmente farei. Quem manda aqui sou eu!

Estamos entranhados desse mal desde a mais tenra infância. Pode observar um bebê de seis meses de idade: você lhe diz “come” e ele dá um tapa na colher. E isso mesmo sabendo que descumprir normas é errado (Rm 3.20). Sabemos exatamente o que é certo e o que é errado só que, para o homem natural, tanto faz, desde que ele se dê bem.

Mas aí… ah, aí acontece uma coisa curiosa, estranha, miraculosa, emocionante: um certo dia, do nada, sem que esperemos, o Espírito Santo de Deus caminha até você, estende a mão, toca em seu coração, sopra em seu ouvido e diz… “Vem!”. Ah, que evento glorioso! Na hora em que Ele faz isso, as mãos e os pés de Jesus de Nazaré são cravados na cruz, o Messias grita de dor lancinante e cumpre-se Rm 4.25: “Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação”.

Sim! Pelo sofrimento agonizante do Cordeiro sem mancha somos justificados! Regenerados! Adotados! Salvos! Naquele momento glorioso nosso nome é escrito no livro da vida e recebemos as chaves da glória eterna! E, a partir daí, viveremos por todos os próximos anos libertos do pecado, caminhando pela graça, sem cometer mais atos malignos, sem destratar o próximo, sem desobedecer Deus, quase como anjinhos tocando suas liras em pureza de coração. Não falaremos mais mal de ninguém, não mentiremos mais, não odiaremos, não sentiremos inveja, não cobiçaremos a mulher ou o homem do próximo, pois estamos li-ber-tos-do-pe-ca-do! Aleluia!

Epa… peraí.

Calma.

Essa descrição não bate muito com o que eu vivo e com o que vejo ao meu redor entre os meus irmãos em Cristo. Agora fiquei confuso. Dezesseis anos atrás o Espírito Santo de Deus me disse “Mauricio, vem”. E eu fui. Racionalmente eu sei e confesso com meus lábios com toda certeza de coração: Jesus Cristo é o único Caminho, a Verdade e a Vida, não se vai ao Pai senão por Ele, que é meu Senhor e Salvador e, sem Ele, eu não teria nenhuma maneira de ir ao Céu: só pelo mérito de Jesus, por seu sacrifício na cruz, tenho acesso à vida eterna. Então, se isso tudo aconteceu… por que eu ainda minto, odeio, cobiço a mulher do próximo, sinto inveja, sou egoísta, dissimulado, materialista, tenho vontade de arrebentar algumas pessoas… por quê? Por que minha mente é povoada de pensamentos de ira, lascívia, rancor, desesperança, depressão, egocentrismo? Não era para eu ter sido liberto automaticamente de tudo isso?

Paulo diz em Rm 6.22: “Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna”. Ora, fui libertado do pecado! Eu sou escravo de Deus! Colho frutos de santidade! Então por que ainda tenho tanta vontade de pecar? Por que todos os dias eu moooooooorro de vontade de fazer um monte de coisas erradas? Será então que não fui salvo? Será que me desviei? Será que o diabo é mais forte que eu?

Nada disso. Há uma boa explicação.

A verdade é que quando somos justificados isso não nos livra da carne podre de que somos formados. Nosso espírito passa por uma metamorfose, da morte para a vida, mas nossa carne permanece igualzinha ao que era antes. Logo, onde antes não havia conflito (visto que carne e espírito queriam ambos chafurdar na lama e passear pelos campos de lixo, saltitantes, de mãos dadas) agora há uma guerra. Meu espírito manifesta em si o fruto do Espírito Santo de Gálatas 5.22,23, mas a minha carne anseia por toda concupiscência descrita em Gálatas 5.19-21, toda sorte de podridão.

Ou seja: a conversão é o início de uma guerra em nós. De nós contra nós.

É por causa dessa guerra que você não respeitou meu pedido educado de não ler este post. Pois embora seu espírito diga “faça ao seu próximo o que gostaria que fizessem a você”, sua carne diz “que se dane, quem vai saber? Faze o que tu queres pois é tudo da lei”.  E a guerra não para: você quer manter seu corpo santo mas a carne te faz acessar sites pornográficos na internet. Seu espírito lhe leva a perdoar a ofensa, mas a carne quer vingança. Seu espírito regenerado é generoso, mas sua carne é gananciosa. Seu espírito quer honrar seus superiores, mas sua carne quer falar mal dos teus chefes e dos teus pastores. E vivemos nesse cabo de guerra diariamente.

Você se identifica com essa realidade que estou descrevendo?

Se você respondeu sim, quero te dar uma noticia: parabéns, você faz parte do seleto grupo de pessoas que foram chamadas à salvação. Pois o homem que não foi chamado por Deus para estar entre os eleitos não enfrenta essa guerra. Ele faz o que é mau e não sofre nem um pouco com isso. Já os eleitos para a salvação fazem o que é mau mas se rasgam, se humilham, sofrem, se cobrem de cinza e pó, buscam no joelho o perdão dos pecados. Paulo mesmo confessou: “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.” (Rm 7.19).

Nunca conheci um homem de Deus sequer que não pecasse. Nunca conheci uma mulher de Deus sequer que não desobedecesse o Senhor. Eu, você, todos nós vivemos um conflito que durará até nosso último suspiro. Enquanto estivermos presos ao corpo desta morte, que é o pecado, vamos pecar. A diferença entre nós e os que não receberam o chamado do Espírito é que nós nos importamos, pois somos convencidos diariamente do pecado, da justiça e do juízo – e isso não vem de nós, é dom de Deus. E por nos importarmos, buscamos o perdão junto ao advogado que é Cristo e continuamos no campo de batalha. Pecando. Caindo. Sendo levantados. Na guerra. Atirando, recebendo socos, desferindo golpes, sendo feridos. E assim vamos, pelo Caminho estreito, rumo à Porta estreita, para o dia em que a carne deixará de existir e aí haverá só espirito. E só então será assinado o armistício e a guerra será ganha.

Jesus, na verdade, já ganhou a guerra, quando disse “está consumado”. Mas nós continuamos na batalha, até sermos convocados para entrar na morte, que é o início da vida eterna. Até lá, meu amigo, minha amiga, esta desgraça chamada carne continuará fazendo com que você leia posts que alguém pediu que você não lesse. Ou a ter pensamentos sexuais com aquela pessoa que não é seu cônjuge. Ou a escorregar um dinheirinho ilicito para o seu bolso. Ou a dizer para seus pais que vai passar a noite na casa do amigo para sair na balada. Ou a odiar quem é odioso quendo deveria amar. Ou a fazer qualquer outra coisa que deixa triste o coração de Deus.

É uma guerra terrível. E nessa guerra, existe um traidor em nosso meio. Existe alguém que faz parte do nosso exército e que milita contra nós. Seu nome é Justificativa. Sempre que pecamos, chega Justificativa querendo dar um jeitinho. Argumentar. “Deus perdoa”, lembra ele. “Ah, vai, você merece”, sugere. “Ninguém vai saber mesmo”, pisca o olho. “Você levantou a mão na hora do apelo, já está salvo, um pecadinho não vai fazer mal”, sussurra. “Você vai todo domingo ao culto, não é só esse pecadinho que vai te prejudicar”, garante. E assim, Justificativa vai arranjando sempre uma boa desculpa que te leve a pecar. Você, então, começa a dar ouvidos a ele e a fazer o que o traidor diz. Mas, de repente…

De repente chega o Espírito de Deus e diz, com voz mansa e suave: “Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10.26,27). E ao ouvir isso, tremo de cima a baixo. E me pergunto: da próxima vez que eu ler “Por gentileza, não leia este post!” qual será minha atitude?

Nessa hora de tentação, lembro que, no dia em que o Espírito me disse “Vem” ele me presenteou com armas que eu poderia usar nessa guerra. E, antes que eu leia qualquer post que me pediram para não ler, antes que adultere, que minta, que furte, que odeie, que cobice, que inveje, que mate, que defraude, que calunie, antes que cometa qualquer ato contra a santidade de Deus, vou procurar lançar mão das armas do Espírito: Oração. Jejum. Bons conselheiros. Bons livros. O cinto da verdade. A couraça da justiça. O evangelho da paz. O escudo da fé. O capacete da salvação. E a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.

E com essas armas na mão, Jesus só te pede uma única e singela gentileza: Vá e não peques mais.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Olá, meu nome é Mauricio Zágari e eu morro de vergonha de mim. Tenho vergonha demais de mim, pra dizer a verdade. Eu acreditava que era um bom cristão, que fazia as coisas direitinho, que cumpria a cartilha de Deus. Até que descobri que estou a anos-luz de distância de ser um cristão como Cristo quer que eu seja. E por causa disso me envergonho tanto que mal tenho coragem de sair de baixo dos cobertores pela manhã.

Se você pudesse acompanhar minha vida cristã ao longo de uma semana por meio de uma câmera escondida até que ficaria bem satisfeito. Eu oro e leio a Biblia com regularidade. Aliás, já li a Biblia inteirinha, de Gênesis a Apocalipse. Leio bons livros cristãos. Cursei dois seminários teológicos. Todo domingo ponho meu uniforme de crente e vou ao culto. Com gravata e tudo. Chego à igreja, sorrio para as pessoas, falo jargões evangélicos, beijo as velhinhas. Quando alguém me elogia por alguma razão mostro toda a minha humildade e digo “Soli Deo Gloria”. Sim, sou o supra sumo da humildade cristã, sempre dando glória a Deus quando me destacam alguma qualidade.

Começa o culto, eu canto louvores, levanto as mãos, aperto meus olhos como forma de mostrar como a música está me tocando e como estou adentrando no Santo dos Santos graças à imensa espiritualidade que transpiro por todos meus poros. Na hora de cumprimentar os irmãos faço minha melhor cara de piedade. Entrego o dízimo ao pastor e presto muita atenção ao que ele está pregando. Ao final canto mais um pouco e termino o culto desejando uma semana abençoada aos irmãos. Volto para casa, oro antes de cada refeição, cumpro tudo o que manda o figurino. Sou um crente legal à beça. Faço minhas caridades – e não espere que vá contar aqui, afinal o que a mão direita faz a esquerda não seve saber e sou tão certinho que jamais te contaria de que modo dou dinheiro aos pobres. Aí ponho minha cabeça no travesseiro à noite, após orar impondo as mãos sobre minha filha no berço, e me deito para sonhar com os anjinhos, satisfeitíssimo com minha perfeita vida cristã.

Só que, pela manhã, desperto com alguém me cutucando. Alguém que faz questão de me acordar me convencendo do pecado, da justiça e do juízo. Viro pro outro lado. “Me deixa quieto”, resmungo, “tou fazendo tudo direitinho”. Cubro a cabeça com o travesseiro… mas não adianta. Acordo morrendo de vergonha de mim. Pois esse alguém começa a lembrar-me de coisas que eu preferiria não lembrar. A primeira coisa que Ele me diz é: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Lc 10.27). Por mais sonado que eu esteja nessa hora percebo que nunca na minha vida amei Deus acima de todas as coisas, com 100% do meu coração e alma e forças. Sempre tive forças que poderia ter canalizado para minha relação com Deus… e não o fiz. Gosto muito dele, é verdade. Mas se eu o amasse tanto assim meu tempo seria menos dedicado a mim mesmo.

Falo de tempo pois ele é um bom termômetro das nossas prioridades: É naquilo que te é mais importante que você investe mais do seu tempo. E então comparo a quantidade de tempo que passo me relacionando intimamente com Deus e vejo quão pouco tempo de qualidade Ele tem recebido de mim. E ressalto “intimamente” pois não estou me referindo a aquelas orações clichês que todos fazemos, do tipo “Ó, Senhor meu Deus e meu Pai, Rei das galáxias, Senhor Deus eterno e inefável…”, mas sim a do tipo “Abba, Pai…”. Gasto tempo em comer; dormir; beber; jogar videogame; ver televisão; sair com amigos; namorar; escrever textos, livros e reportagens; trabalhar; fazer compras… E, por mais que eu ore diariamente, meu tempo de comunhão com o autor da minha vida é ridículo para quem eu deveria amar “de todo o meu coração, e de toda a minha alma, e de todas as minhas forças, e de todo o meu entendimento”. Tenho vergonha de mim por isso.

E quando eu achava que já tinha morrido suficientemente de vergonha vem aquele Alguém e sopra em meu ouvido: “E ao teu próximo como a ti mesmo”. Que piada. Chego a rir, com uma careta. Não, eu não amo meu próximo nem um centésimo do que amo a mim mesmo. Invisto em mim, busco o meu prazer, crio alternativas para me entreter, pago minha previdência, vou ao médico cuidar da minha saúde… cara, como eu me amo! Como eu cuido de mim! Não me desamparo, não me deixo ficar com fome, vou ao trabalho no ônibus mais caro porque, afinal, gosto tanto de mim que não me permitiria passar duas horas por dia num transporte que deixasse minhas costas doloridas. E então vejo as ações que faço pelo meu próximo que demonstram meu amor por ele e… morro de vergonha de mim. A verdade? Praticamente não faço nada pelo próximo. Aliás, pra não dizer que não faço, digo sempre um “tudo bem?” formal. E torço para que ele esteja bem mesmo, para que eu não tenha que ouvir suas lamúrias (afinal, ouvi-lo tomaria o tempo que EU poderia estar me lamuriando a ele).

Pensar nisso me faz morrer de vergonha. Então faço de tudo para não pensar. Pensar incomoda, afinal. Nos tira da zona de conforto. E, às vezes, até dói. E dói muito. Resolvo, então, como bom cristão, fazer meu devocional diário. Mas, miseravelmente, o trecho que leio da Palavra de Deus é “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33). Aí eu penso o quanto me preocupo mais com a promoção no trabalho, com o dissídio, com o imposto de renda, com a troca do meu carro por um que chame mais a atenção das pessoas e outras praticidades da vida que percebo que “Reino de Deus” parece um troço tão distante e efêmero, algo como pessoas vestidas de branco andando numa nuvem ou gente desocupada caminhando por uma bela estrada de tijolos dourados, como no filme “O Mágico de Oz”.

Cometo o pecado maior para quem não quer sentir vergonha de si: leio a Bíblia. E morro de vergonha de mim. Vejo o que Deus disse ao jovem rico e percebo que eu tomaria a mesma atitude que aquele rapaz se estivesse no lugar dele. Vejo a passagem da mulher adúltera e sinto ódio daqueles judeus legalistas que queriam apedreja-lá, mas… me dou conta de que se estivesse ali eu teria uma pedra em cada mão. Medito na passagem do rico e Lázaro e percebo com um tremor no corpo que o nome daquele rico bem poderia ser o meu. Me vejo sem nenhuma fé quando a tempestade sacode o barco em que Jesus dorme e sou o primeiro a correr a Ele para acordá-lo. Critico os apóstolos que discutem para saber quem se sentará à direita de Cristo no Reino dele e percebo envergonhado que estou entre eles, querendo o tal lugar de destaque. Caio ferrado no sono no Monte das Oliveiras, sem atentar ao sofrimento do Messias, e quando o galo canta três vezes é para mim que o Mestre dirige seu olhar – mesmo sabendo que chego no culto, todo domingo, e digo do começo ao fim: “Senhor, tu sabes que te amo”.

Aflito de vergonha, corro para o Sermão do Monte que, afinal de contas, é tão bonitinho, tão poético, me faz sentir tão bem. Parece poesia de Vinícius de Morais, Fernando Pessoa ou Clarice Lispector. Frasezinhas tão gostosinhas de ouvir! Quem sabe até acho algumas para tuitar. Mas, meu Deus, começo a ler e aí então é que a vergonha come minhas entranhas. Me procuro nas bem-aventuranças e não me encontro. Ouço o Mestre falar sobre ser sal da terra e luz do mundo e diagnostico o quão insípido e escuro tenho sido. Percebo que a minha justiça é igualzinha à dos escribas e fariaeus, que nutro rancor por muitas pessoas, que meu sim muitas vezes é não e meu não muitas vezes é talvez. Amo meus amigos e odeio meus inimigos. Vergonha, vergonha, vergonha…

Chego a Mateus 6 e diagnostico o quanto ando preocupado com o que haverei de comer e beber. Os lírios do campo? Ah, fala sério! Os pássaros que Deus alimenta? Eu não tenho penas, camarada. Por isso atravesso meus dias vivendo cada dia meu mal e mais o mal do mês que vem, do ano que vem, da minha velhice. E morro de vergonha de mim.  E tem mais: eu julgo o meu próximo sim. Todos os dias.

Leio então sobre dar a outra face, andar a segunda milha e deixar a capa e tento lembrar da última vez que fiz essas coisas. Não consigo. Não me lembro. Será que é porque praticamente nunca fiz isso? Mas se for para lembrar da última vez que dei o troco a quem me ofendeu, ah, isso é fácil! Lembro mole mole da última, da penúltima, da antepenúltima e das últimas centenas de vezes que paguei olho por olho e dente por dente.

Chega a um ponto em que a vergonha que sinto de mim é tão grande que não suporto mais e ponho a Bíblia na mesinha de cabeceira. Chega de Bíblia! Chega de olhar nesse espelho tão vergonhoso! Chega de olhar para dentro de mim. Chega de perceber como sou um cristão tão distante do que Jesus quer que eu seja! Pego então um livro de História da Igreja para, sei lá, dar uma espairecida. Gosto de História. Mas o que leio ali não ajuda muito.

Leio sobre os primeiros cristãos. Leio sobre Policarpo, que ao ser ameaçado com a fogueira caso não negasse Cristo responde ao seu acusador “O senhor me ameaça com um fogo que queima durante uma hora e logo se apaga. Mas o fogo do julgamento futuro e do castigo eterno reservado para os ímpios, esse o senhor ignora. Mas por que está se delongando? Faça tudo o que lhe agradar”. E, em seguida, ergue os olhos ao Céu e ora ao Senhor: “Ó Pai, eu te bendigo por me teres considerado digno de receber o meu prêmio entre os mártires”. Comparo sua atitude com a vergonha que sinto de entregar um folheto evangelistico a alguém na rua. Minha vontade é me esconder na primeira fresta do piso que encontrar. Ou num buraco de rato – o que seria bem mais adequado.

Leio sobre as histórias de vida e morte de mártires como Maturo, Santo, Blandina, Lourenço, Albano, Átalo, Romano e outros que foram destroçados por confessar sua fé em Cristo e minhas lágrimas denunciam minha vergonha. Não suportando mais minha fé tosca e interesseira, troco o livro de História por “O Livro dos Mártires”, de John Foxxe, e abro em qualquer página, aleatoriamente, que me faça esquecer meu cristianismo raso e ridículo. E ali encontro o relato do menininho que confessa Cristo ante as autoridades pagãs e por isso tem o couro do alto da sua cabeça arrancado, com cabelo e tudo. Leio então que, ao ver isso, grita sua mãe: “Aguenta, filhinho! Logo tu verás Aquele que te enfeitará a cabeça nua com uma coroa de glória eterna”, diante do que o menininho sente-se animado e recebe os açoites com um sorriso no rosto. As lágrimas descem de vergonha pela minha face e mal consigo chegar ao final do relato, que chega junto com o final da vida daquela criança admirável: “Ao chegarem ao local escolhido, os carrascos arrancaram o filho da sua mãe, que o tomara nos braços. A mãe, limitando-se a beijá-lo, entregou a criancinha. ‘Adeus’, disse ela. ‘Adeus, meu doce filhinho. Quando tiveres entrado no reino de Cristo, lá no teu abençoado estado lembra-te da tua mãe’. E enquanto o carrasco aplicava a espada ao pescoço da criancinha, ela cantou assim: Todo louvor do coração e da voz nós te rendemos, Senhor. Neste dia em que a morte deste santo recebes com muito amor.

Meu Deus…. meu Deus… meu Deus….

E morro, mas morro de vergonha ao perceber que estou lendo o livro deitado numa cama confortável, com música ambiente, edredom, refirgerante, um bom sanduíche e ar condicionado.

Leio sobre os cristãos que se venderam como escravos para poder pregar o Evangelho na Indonésia, onde, de outra forma, não conseguiriam entrar para levar a mensagem da Cruz. Entro no website do Ministério Missão Portas Abertas e descubro que milhares morrem todos os anos, nos nossos dias, em países onde há perseguição religiosa, como China, Coreia do Norte, países árabes… e não quero pensar nisso, pois me envergonha demais lembrar da minha preguiça de dirigir uma hora num carro com direção hidráulica para pregar o Evangelho em uma igreja num bairro um pouco mais afastado (e olha que provavelmente vão me dar uma gorda oferta para “me abençoar”). Que vergonha…

Então, como toda boa pessoa que quer esquecer das realidades da vida, me entrego às drogas. Nãos aquelas drogas proibidas e químicas, mas aquela droga viciante, burrificante e escapista chamada televisão. Quero ver qualquer besteira que me faça esquecer do meu cristianismo patético. Ligo a TV e está passando o programa de um pastor que grita, ofende e em vez de pregar o Evangelho dos mártires fala de prosperidade, dinheiro e produtos que você pode comprar no cartão ou no cheque pré. Mudo de canal e vejo um outro pastor batendo altos papos com um demônio em rede nacional. Com as mãos trêmulas, mudo novamente de canal, apressado, e assisto a uma sacerdotisa vestida como uma perua de Beverly Hills falando sobre como colher vitórias pra sua vida. Já com falta de ar, faço minha última tentativa e mudo, suando, para outro canal. O que vejo ali é o pior de todos os programas: é que, sem querer, em vez de mudar de canal apertei o botão “off” da TV, que desligou. É então que, diante da tela preta, o que vejo é minha própria imagem refletida nela. E morro de vergonha daquele que é o mais vergonhoso de tudo o que vira naquela televisão até então.

Então paro. Silencio. Fecho a porta do quarto. Me ponho de joelhos. A vergonha é tanta que minha oração não tem palavras, apenas choro. Sem coragem de abrir a boca, me contento em roubar palavras de um homem que três mil anos atrás morreu de vergonha de si mesmo ante Deus. E faço minhas as palavras dele, registradas no Salmo 51: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe. Sei que desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais branco do que a neve serei. Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria, e os ossos que esmagaste exultarão. Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer”.

Olá, meu nome é Mauricio Zágari e eu morro de vergonha de mim. Tenho vergonha demais de mim, pra dizer a verdade. Eu acreditava que era um bom cristão, que fazia as coisas direitinho, que cumpria a cartilha de Deus. Até que descobri que estou a anos-luz de distância de ser um cristão como Cristo quer que eu seja. E por causa disso me envergonho tanto que mal tenho coragem de sair de baixo dos cobertores pela manhã.

Mas tenho esperança de que consiga me converter sempre, dia após dia.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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É isso aí: estou farto de escândalos gospel. Basta! Nao aguento mais chegar na igreja ou na internet e, antes mesmo de escutar um “bom dia” ouvir de cara: “Soube da última?”.  Meu Deus, que está acontecendo conosco? Por que nós, o povo chamado para ser sal da terra e luz do mundo, vivemos caçando a última fofoca do meio evangélico, o mais recente disse-me-disse, o babado do momento?! Em que ponto a desgraça alheia se tornou tão importante para nós? Algo está errado conosco. Muito errado. E temos que mudar isso.

Na época de minha conversão eu me reunia com o grupo de jovens da minha igreja e conversávamos sobre assuntos essenciais da fé. Falávamos dos fundamentos do cristianismo, de operações do Espírito, de milagres, de testemunhos, dos nossos sonhos com Deus, das experiências que tivéramos aquela semana com o Senhor, daquilo que Jesus havia feito por nosso intermédio. Tirávamos dúvidas bíblicas, planejávamos estratégias evangelísticas e… orávamos! Orávamos muito. Por nossa igreja, nossos pastores, pelos departamentos da igreja, pela liderança, pelas atividades, pelos enfermos, pela salvação de almas. Por milhões de coisas que nos transportassem para a dimensão do Espírito. Tínhamos sede desesperada de Deus, Ele era nosso assunto predileto. Mesmo quando começávamos a falar de trivialidades, como futebol e outras perfumarias, a conversa acabava tomando um viés espiritual.

Mas hoje… hoje os irmãos se reúnem para comentar o último escândalo. Escândalos no ministério, então, fazem o maior sucesso: o pastor famoso da TV que enganou o povo com campanhas para comprar um jatinho. O pastor famoso do twitter que pregou heresias. O pastor emergente que lançou no youtube um vídeo irresponsável para promover seu último livro. O pastor que chamou outros pastores de “bundões”. O pastor que tinha caso com muitas meninas da igreja. O pastor que acusou outro pastor de ter casos com as recepcionistas de uma emissora de rádio. O pastor acusado que chama o acusador de “cachorro morto”. Escândalos, escândalos, escândalos.

Basta!

E no campo da política então! Os escândalos dão a tônica: é o pastor-deputado que sai no tapa com grupos gays. É o deputado daquela igreja xis que foi pego roubando. É o deputado da “bancada evangélica” flagrado recebendo propina. É o senador evangélico pego em maracutaias. É o vereador evangélico que bateu boca em público. Escândalos, escândalos, escândalos!

Meu Deus! Basta!

Que escândalos ocorram é previsível. Sempre houve e sempre continuará havendo. Pois onde há homens há pecado e quando o pecado se torna público há escândalos. O problema não é esse, em essência. O problema é o que está havendo com os nossos corações. Por que razões  nós adoramos esses escândalos?! Amamos falar dos que caíram. Apontamos o dedo para os que pecaram. Sorrimos com superioridade ao saber da queda daquele grande homem de Deus. Ficamos contentes de banir dos momentos de louvor o corinho daquele cantor gospel que foi pego fazendo o que não devia. Se sair em uma revista então! É a glória! Parece que o povo cristão tem sido acometido de um prazer sádico e sórdido de descobrir e comentar para o máximo possível de pessoas o último pecado que houve envolvendo alguma celebridade do meio evangélico. Quando deveria ser o contrário!

A Bíblia Sagrada nos ensina a chorar com os que choram. Por que em vez de sairmos comentando com todos os nossos irmãos sobre o pecado daquele pregador como velhinhas futriqueiras não nos lançamos sobre nossos joelhos e clamamos a Deus em meio a lágrimas pela restauração dele? A Palavra do Senhor nos ensina a tomar a adúltera pela mão, erguê-la da lama, dar-lhe amor e dizer “vai-te e não peques mais”. Mas o que temos feito? Se a adúltera já está com a cara na lama nós pisamos em sua cabeça e a afundamos ainda mais no lodo. Que vergonha que sinto de nós quando vejo isso acontecer!

Temos vivido o “evangelho” da videocassetada, em que morremos de rir com o irmão que se estabaca no chão. Mas Jesus nos diz para levantar o abatido! Temos de levantar quem caiu. Dar-lhe amor. Conduzi-lo ao arrependimento. Fazer dele novamente uma ovelha sem feridas, embora com cicatrizes. Mas o que temos feito? Temos enfiado nossos dedos nas chagas dos feridos e retorcido nossas mãos até que a ferida sangre novamente. Infeccione. E depois levamos nossas mãos ensanguentadas à igreja e as exibimos, orgulhosos, aos irmãos: “Já soube da última”?

Bem-aventurados os pacificadores, aqueles que trazem a paz em meio à tribulação, à desgraça, ao escândalo. Bem-aventurados os misericordiosos, aqueles que nutrem pesar profundo pela desventura do próximo. Mas temos sido perversos. Nunca oramos pelos que são pivôs dos escândalos. Quer ver? Quantas vezes você orou por aquele pastor que está pregando que Deus não está no controle de tudo? Quantas orações vocé já dirigiu ao Altíssimo suplicando que o pastor da TV que engana o povo com campanhas antibíblicas para arrecadar dinheiro se converta de seus maus caminhos, pare de pregar  prosperidade e volte à vereda da justiça? Quantas lágrimas você derramou intercedendo por aquele político que se diz evangélico para que ele de fato venha a ser salvo pelo Senhor Jesus? Quantos minutos você dedica em oração por aquele ministério de louvor que se transformou numa empresa da música para que volte a ter como foco o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo? E agora compare: quanto tempo você passou comentando, criticando e alimentando o interesse por esses casos escandalosos?

Nós somos os culpados. Eu e você. Pois temos nos entretido sadicamente com os escândalos. Temos alimentado os escândalos em nossas conversas, tuitadas e blogadas.

Mas tenho buscado fugir deles. Sei que preciso avançar mais nesse sentido, pois ainda há em mim a semente do sadismo de pisar na cabeça do caído e espalhar aos quatro ventos o pecado dos outros, confesso. Talvez, refletindo freudianamente sobre isso, seja porque, ao fazer isso, eu me sinta um pouco mais normal por ser tão miserável como aqueles que são pivôs de escândalos. Mas fato é que de nossa boca não devem sair palavras torpes. E isso não se refere apenas a palavrões. Refere-se a palavras que não edificam. “Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem” (Ef 4.29).

Temos de aprender a refrear a nossa língua. “A língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha. Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno” (Tg 3.5,6). E mais: a Bíblia deixa claro que vocé pode ser o cristão mais sem pecado do universo, mas se não consegue refrear a língua tudo o mais da sua fé é inútil, não serve para nada: “Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!” (Tg 1.26). Você consegue perceber a seriedade disso? O peso que isso tem no mundo espiritual?

Não estou com isso dizendo que devemos varrer a sujeira para baixo do tapete. Esconder o que está errado não é a solução. Crimes e heresias devem ser denunciados. O grande problema dos escândalos é a nossa sede de sangue, nosso detestável prazer oculto e disfarçado de querer ver o circo pegar fogo. O prazer que nós, cristãos, eu e você, temos demonstrado ao diagnosticar a sujeira. E a satisfação que demonstramos ao propagar esses escândalos para as demais pessoas. Ao ouvir sobre a queda de um irmão, a primeira coisa que deveríamos pensar é “o que posso fazer para reerguê-lo?” e não “para quem posso contar que ele caiu?”.

Basta. Por favor, não venha me falar de escândalos entre evangélicos. Se quiserem que eu ajude a orar pelos que caíram ou se desviaram, contem comigo. Caso contrário, poupem meus ouvidos de toda sorte de sordidez perversa e sádica. Há males em nosso meio? Há. Há hereges e falsos pastores em nosso meio? Sim. Há artistas gospel mais preocupados com seus cachês do que com a exaltação do Altissimo? Muitos. Há bandidos, assassinos, pecadores, mentirosos e adúlteros em nossas igrejas? Aos montes. A pergunta que se faz necessária aqui é: como devemos reagir a isso? Jogando lenha na fogueira ou pacificando? Ajudando a apagar os incêndios e socorrer os feridos ou arremessando barris de gasolina nas chamas?

Temos reagido irresponsavelmente e de modo nada cristão ao alimentar essa multidão de escândalos. E, ao propagar os escândalos, quem se torna escândalo somos nós.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

 

Sou a favor do aborto

Publicado: 20/06/2011 em Espiritualidade, Pecado

Acho muito curioso quando as mulheres que praticam abortos ou os indivíduos que defendem essa prática justificam-se usando o argumento de que “cada mulher é dona de seu próprio corpo” e, por isso, pode fazer o que quiser com ele. Esse é o argumento principal: já que o corpo é meu, tenho total soberania sobre ele. Isso incluiria o direito de aniquilar aquele ser humano que ali está alojado. Bem, existem algumas questões a serem consideradas sobre esse argumento.

Em primeiro lugar, biblicamente ninguém é dono de seu próprio corpo: seu dono é Deus, o autor da vida. Mas nao precisamos nem entrar pela teologia, até porque para um ateu esse argumento não tem nenhum valor, visto que não crê na Bíblia. Então caminhemos por outras veredas, como, por exemplo, o campo jurídico.

O argumento de que cada um é dono de seu próprio corpo mediante a lei é relativo. Quer ver? Quebre a lei. Cometa um crime. Você verá que quem vai decidir se seu corpo ficará trancafiado em uma cela por anos ou se ele terá o direito de continuar andando solto por aí será um juiz ou um júri – não você. Ou então complete 18 anos e veja se, salvo tendo você um bom pistolão, não será obrigado a levar seu corpo todos os dias, durante um ano, a um quartel, onde um militar qualquer vai obrigar seu corpo a fazer polichinelos e flexões, saltar obstáculos e coisas afins. Ou seja: mesmo que não estejamos falando em termos religiosos, a ideia de que seu corpo é propriedade exclusiva sua não passa de uma doce ilusão.

Tendo visto isso, chegamos à questão do aborto. Essa mesma ilusão leva milhares de mulheres a assassinar seus próprios filhos dentro de seus ventres, por achar que têm esse direito. A verdade, queira-se ou não, é que aquele indivíduo que está temporariamente dentro do corpo da mulher não faz parte do corpo dela. Nem de longe. Ou seja: mesmo que a teoria de que cada um seja proprietário de seu corpo fosse verdadeira, o ser humano que cresce dentro do organismo de uma grávida não faz parte do mesmo corpo.  Ou seja, é apenas um inquilino, que está ali para se alimentar por nove meses até chegar a hora de enxergar a luz do sol. Por meio de um cordão umbilical, aquela pessoinha apenas se alimenta e se oxigena.

E é extremamente fácil provar que um feto não faz parte do corpo da mãe. Consideremos o DNA. Toda e qualquer célula do seu corpo, amigo leitor, carrega em si o mesmo DNA, ou seja, o mesmo código genético. Sejam células do cabelo, da bochecha, da pele, do duodeno ou do osso do calcanhar. Agora, compare o DNA de qualquer mãe com o DNA de seu filho e você descobrirá que são diferentes. O que prova que geneticamente o corpo da mãe e o corpo do filho são entidades essencialmente distintas.

Vamos além: tipo sanguíneo. O meu é A negativo. O de minha mãe não. Se o sangue de minha mãe correr dentro de minhas veias eu entro em colapso e morro. E isso ocorre porque o sangue que percorre meu corpo é diferente do de minha mãe, o que é mais uma prova de que somos entidades distintas.

Pensemos agora em um assunto não muito agradável, mas ilustrativo: amputações. Sempre que você amputa uma parte de seu corpo, alguma funcionalidade se perde. Se decepar a mão direita, sendo você destro, por exemplo, terá de reaprender a escrever. Se amputar uma de suas pernas dependerá de algum prótese ou muleta para poder caminhar. Já no caso do aborto, o corpo da mãe-hospedeira não perde nenhuma funcionalidade. Isto é, em termos meramente funcionais, a remoção da criança não altera em nada o funcionamento do organismo da mãe. Mais uma prova de que trata-se de um ser humano completamente independente.

Em resumo: abortar sob o argumento de que a mãe tem direito sobre seu próprio corpo é uma tremenda desculpa esfarrapada para desculpar o indesculpável. É uma justificativa capenga e sem o menor nexo religioso, jurídico ou biológico para justificar o injustificável. Por uma única razão: aquele corpinho que cresce lindamente dentro do corpo da mãe não faz parte do corpo dela, apenas extrai dela o que precisa até se tornar uma criatura autônoma. É um ser humano absolutamente à parte. Logo, a mãe não tem direito algum de assassiná-lo sob o argumento de que tem direito sobre seu próprio corpo.

Mas sou a favor do aborto

Porém, como eu disse no título deste artigo, sou a favor do aborto. Sou 100% a favor. Tornei-me a favor do aborto em 1996, quando Jesus me converteu. Mas, antes que você queira me apedrejar, preciso explicar que não estou me referindo ao abominável, desumano e bárbaro aborto de seres humanos. Me refiro a um aborto que tem de ser feito todos os dias, dia após dia, durante toda a vida. Pois dentro de meu corpo cresce uma entidade que não pertence a ele, um parasita que não compartilha do meu DNA, que não tem o mesmo sangue que eu mas que se alimenta de minhas fraquezas e paixões, crescendo mais e mais dentro de mim. E, se eu não fizer um aborto todos os dias, constantemente, extirpando de mim esse elemento maligno initerruptamente, ele vai acabar sugando de mim toda a vida e me condenando à morte.

Seu nome é pecado.

A entidade que cresce dentro de uma mulher é resultado de uma união, a união de dois seres que estabeleceram um relacionamento e isso gerou aquela vida. Já a entidade que cresce dentro de mim é resultado de uma separação, a separação de dois seres que tiveram uma quebra de relacionamento e isso gerou aquele parasita. Foi quando Adão rompeu seu cordão umbilical com Deus que isso fez com que todos os seus descendentes passassem a nascer com aquele tumor espiritual dentro de si. Um tumor maligno que envenena, distorce nossa natureza e nos tira a saúde espiritual que inicialmente o Senhor planejou para toda a humanidade.

O pecado, assim como um feto, começa pequeno, às vezes imperceptível, e, quanto mais de nossa natureza humana lhe concedemos, mais ele cresce, fortalecendo-se e agigantando-se. Contrariando minha natureza de filho de Deus. Tentando deformar-me e me transformar em algo de um aspecto quasimódico.

No caso do feto, é a mãe que lhe transmite todo tipo de elementos necessários ao seu desenvolvimento: nutrientes, oxigênio e tudo o mais que o fará crescer e viver. Já no caso do pecado, tudo de que ele precisa para crescer e sobreviver é que não o abortemos. Basta deixa-lo ali, tranquilo em seu canto, quietinho, pois o mero contato dele com nossa natureza humana já lhe dá todo alimento de que necessita. Só que, ao contrário da relação entre uma mãe e seu filho, em que ela é quem lhe transfere elementos, é o pecado quem transmite ao seu hospedeiro todo tipo de elementos nocivos: imoralidade sexual, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a essas.

Se o feto que vive dentro de uma mulher não for abortado, crescerá tanto que um dia, após nove meses, deixará seu corpo. Mas, no caso do pecado, se ele não for abortado crescerá tanto que um dia poderá chegar ao ponto de se enraizar no seu organismo a tal ponto que tomará conta de sua vida. E, assim, assumirá o controle. Os braços do pecado crescerão por dentro dos seus, as pernas dele se desenvolverão por dentro das suas, o coração do pecado tomará lugar do seu e você começará a pensar com o cérebro do pecado. Como num filme de terror em que um parasita alienígena implantado no corpo de uma pessoa assume aos poucos sua identidade, assim é com o pecado: se não o abortarmos o quanto antes, em breve nossa natureza regenerada e justificada será substituída pela natureza pecaminosa. É o que 1 Tm 4.2 chama de consciência cauterizada.

Essa é a explicação para quando um obreiro frauda o imposto de renda ou a contabilidade de sua empresa. Ou quando um pastor abandona sua esposa. Ou quando uma mulher de Deus se rebela contra a autoridade de seu marido. Ou quando cristãos sinceros enveredam pela política partidária e se deixam corromper. Ou quando um conselho de uma igreja trabalha com caixa dois. Ou quando liderados conspiram contra seus líderes. Ou quando líderes enxergam os membros de sua igreja mais como dizimistas do que como almas. Ou quando um cristão não honra com sua palavra ou seus compromissos. Ou quando um pastor rouba. Ou quando um homem espiritual passa um cheque sem fundos. Ou quando um filho criado na igreja se rebela contra seus pais. Ou quando denominações evangélicas desqualificam outras denominações. Ou quando nosso sim deixa de ser sim e nosso não, não. Em qualquer um desses casos e muitos outros simplesmente aquele pecado maldito não foi abortado enquanto ainda era tempo.

A boa notícia

Mas há uma boa notícia: nunca é tarde para praticar esse aborto. Se você identifica que esse tumor maligno chamado pecado infiltrou-se de tal modo no organismo da sua alma a ponto de te afastar de Deus, há um local onde esse aborto pode ser praticado de forma legalizada e livre de efeitos colaterais.

Chama-se joelho.

Prostre-se. Humilhe-se. Suplique. Rasgue seu peito ante o Senhor e confesse a Ele tudo o que intoxica sua alma. E isso numa conversa franca e sem medos. Busque junto ao Espírito Santo a libertação desse pecado que tanto te envenena. Nunca é tarde demais para isso. Seja lá qual for o pecado que assola a sua vida, você pode neste exato instante submeter-se a uma cirurgia espiritual que vai eliminar totalmente esse parasita infeccioso. E estou falando isso para cristãos, pois muitos de nós que amamos de verdade a Cristo e ao Evangelho diversas vezes deixamos certos pecados crescerem em nós, alimentados por nossas fraquezas e paixões. E para expeli-los precisamos desesperadamente de Jesus.

Sou a favor do aborto do pecado. Foi para realizar esse aborto que Jesus se fez carne e veio até nós, para fazer aquilo que o anjo disse a José em Mateus 1.21: “Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Afinal, como o próprio Cristo afirmou, “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2.17). Ainda há tempo de buscar socorro junto ao médico dos médicos. Para aqueles que assim não fizerem, o próprio Cordeiro de Deus, que veio para tirar o pecado do mundo, dá, em Jo 8.21, o terrível diagnóstico: “Morrereis no vosso pecado”. Você, querido leitor, sabe exatamente qual é o pecado que tem infeccionado a sua alma. Mas a boa notícia é que a cura está à disposição. Cabe a você optar: morrer no pecado ou vê-lo abortado de sua alma. O que vai ser?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
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Ouço frequentemente uma conclamação feita nos mais variados recônditos do universo evangélico: Vamos ganhar o Brasil para Cristo!!! Bem, lamento informar, mas nós nunca vamos ganhar o Brasil para Cristo. E antes que você, espantadíssimo com minha falta de fé, me acuse de derrotismo ou mesmo de estar a serviço do mal, deixe-me explicar.

Como não acredito na doutrina da confissão positiva (o hábito antibíblico de “decretar a vitória”, “profetizar a bênção” e “tomar posse pela fé” que, se você não sabe, foi incorporado ao cristianismo a partir de práticas de religiões pagãs da Nova Era – mas essa é outra conversa) nao vejo dolo em fazer essa afirmação, que é fruto de uma observação bíblica, histórica e contextual. E justifico minha posição, apresentando aqui as razões pelas quais não creio que o Brasil será ganho para Cristo:

1. Aspectos biblicos:

A Bíblia nunca promete que nações inteiras se converteriam ao Senhor em nossos dias. Ela fala: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.14) mas em momento algum promete que isso resultaria em conversões em nível nacional. Anunciar o Evangelho é uma coisa. Ele resultar em conversões é algo bem diferente. Pelo contrário. A Palavra de Deus é clara ao afirmar que a minoria herdaria o Reino dos Céus:

–> “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mt 7.13,14).

–> “Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, serão poucos os salvos?’. Ele lhes disse: ‘Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta’. ‘Ele, porém, responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês’. “Então vocês dirão: ‘Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. “Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’.”. (Lucas 13.23-27).

–> “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12.32).

–> “Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos” (Mt 22.14).

Ou seja: não há na Bíblia nenhuma promessa ou sugestão de que haverá multidões de salvos entrando em nível nacional pelos portões do Céu. Não: a salvação é para poucos. Repare que na parábola do semeador (Mt 13) a maioria das sementes não frutifica, apenas uma pequena parte delas germina e dá frutos.

Gostaria eu que fosse diferente. E temos sempre que fazer de tudo e empreender todos os nossos esforços para que o máximo de pessoas receba a mensagem da Salvação. Temos que pregar o Evangelho a toda criatura. Mas no que tange à Biblia não posso afirmar o que ela não afirma só porque me faria sentir melhor. A verdade é o que é.

2. Aspectos históricos.

Fala-se muito de avivamento, de pátrias que foram sacudidas pelo poder do Espírito e que se transformaram em nações cristãs de fato, com milhares de conversões e manifestações inefáveis do poder de Deus. Isso é verdade. Moveres sobrenaturais de Deus levaram alguns países, em períodos determinados da História, a buscar coletivamente uma aproximação maior de Cristo e uma vida de santidade. Foi assim no Primeiro e no Segundo Grande Despertamentos dos séculos 18 e 19, por exemplo. Mas minha pergunta é: como estão essas nações hoje?

Espiritualmente falidas.

Os Estados Unidos, avivados pela pregação de bastiões como Jonathan Edwards e George Whitefield, são hoje um país cristão não-praticante, pérfido, devasso e sem nenhum tônus espiritual, que fez o que fez no Oriente Médio sob a direção de um presidente supostamente evangélico. Um país onde a Igreja tem aceito a ordenação de bispos cuja orientação sexual em outras épocas jamais seria aceita e que inventou a Teologia da Prosperidade. Um país espiritualmemte e moralmente em bancarrota, que exporta para o mundo filmes, programas de TV e músicas abomináveis pela moral bíblica.

Já a Inglaterra, país que na época de John Wesley se viu renovado espiritualmemte, hoje mal se lembra que há um Cristo. No restante da Europa, encontramos países como Espanha e Portugal, com menos de 1% de cristãos reformados. Nos berços da Reforma Protestante, Alemanha e Suíça, a Igreja evangélica tornou-se uma entidade fantasma, com igrejas vazias e nenhuma influência sobre a vida da sociedade.

E isso falando de nações que estão debaixo de nossos olhos. Se voltarmos alguns séculos no passado encontraremos os países do Oriente Médio com quase toda a população cristã. Você talvez não saiba disso, mas até o século VI d.C. regiões que hoje compõem países como Turquia, Irã, Iraque, Marrocos e Arábia Saudita, atualmente considerados não-alcançados pelo Evangelho, tinham suas populações quase que totalmente cristãs. Até que veio o islamismo e tomou esses países,  transformando-os em nações muçulmanas.

O resumo da ópera é que para se “ganhar uma nação para Cristo” é preciso um milagre. Não só um milagre de  conquista, mas um milagre de preservação. Ou seja: reconquista diária. E milagres são a exceção, não a regra.

3. Aspectos contextuais (atuais)

Este é o ponto principal desta reflexão. Para que se pregue o Evangelho a uma pessoa pecadora, mais do que proclamar a Verdade é preciso viver a Verdade. Mas não temos sido exemplo. Compartilho alguns sintomas que me mostram que a Igreja brasileira não está capacitada para ganhar a nação para Cristo:

●  A maior parte da Igreja visível no Brasil de hoje é espiritualmemte flácida e complacente com o pecado: o comportamento visível de muitos cristãos diante da sociedade não tem sido muito diferente do comportamento dos não cristãos. Em geral, somos agressivos, arrogantes, vingativos e egocêntricos. Fraudamos impostos, passamos cheques sem fundos, não honramos nossa palavra. Nossos seminaristas colam nas provas. Não cedemos lugar no ônibus para o idoso, fingimos que não vemos o mendigo, jamais emprestamos o ombro a um órfão sequer e muito menos a uma viúva. Articulamos dentro das igrejas para conseguir ocupar cargos de destaque. Muitas de nossas conversas são torpes, falamos mal dos outros pelas costas, jogamos irmãos contra irmãos, contamos anedotas pesadas e fazemos piada com a manifestação dos dons do Espírito Santo. E por aí vai. Uma Igreja assim não tem a menor moral de pregar o arrependimento de pecados para o mundo: primeiro ela própria tem de se arrepender.

● O evangélico brasileiro não gosta de ler. Lidos sob o poder e a iluminação de Deus, livros são o alicerce da transformação. Mas nossos jovens preferem videogames, televisão, internet e no máximo inutilidades como a série “Crepúsculo” do que livros essenciais para a formação de um caráter cristão. E sem uma mente bem formada nos tornamos incapazes de pensar uma nação. Quanto mais transformá-la. O poder de Deus age, mas age por intermédio de seres humanos – que precisam ter bagagem intelectual para explicar e transmitir. E ainda lemos muito menos do que deveríamos. E a qualidade do que lemos, em geral, deixa muito a desejar.

● Conhecemos muito pouco a Bíblia. Uma pesquisa recente feita entre os líderes de jovens de certa denominação mostrou que menos de 30% deles tinham lido a Bíblia toda. Repare: estamos falando de líderes! Aqueles que deveriam ensinar os outros! Se não lemos, não conhecemos, e se não conhecemos… o que vamos pregar? Nossa teologia é formada a partir daquilo que ouvimos em corinhos, assistimos em péssimos programas evangélicos de TV, lemos em frases soltas no twitter e em adesivos de automóveis. Mas são poucos os que realmente se dedicam ao estudo sistemático e aprofundado das Escrituras. Então vamos ganhar o Brasil pra Cristo, mas… que Cristo? Se não conhecemos o Cristo segundo as Escrituras o apresentam, que Cristo é esse que estamos pregando? Se não entendemos a Palavra por não conhecê-la, que Palavra é essa que estamos pregando? Sem conhecer a Bíblia não temos absolutamente nada a oferecer em termos espirituais à nação.

● Grande parte da Igreja evangélica brasileira é egocêntrica. Ora por si e pelos seus. Pede bens materiais, emprego, carro e casa própria em suas orações. Quer a cura de suas enfermidades. Mas não se dedica muito a interceder pelo próximo, orar pelo arrependimento dos pecados e buscar sanar os males da sociedade. Não ora pelos pobres. Não estende a mão ao faminto. Não olha para o próximo. Não se devota. Não considera o outro superior a si em honra. E ganhar uma nação para Cristo exige olhar, antes de tudo e antes de si mesmo… para a nação.

● A Igreja está hedonista. Quer prazer. Quer alegria. Quer ser feliz da vida. Quer emoção. Que louvores vazios mas emocionantes. Quer shows e não momentos de intimidade com Deus. Quer se sentir bem. Quer cultos que atendam às suas necessidades. Quer pregações que a faça sorrir. Quer enriquecer e ter uma vida abastada. Só que antes de ganhar uma nação para Cristo temos que chorar muito, nos humilhar, esquecer o que nos faz bem e buscar o que faz bem à nação. E orar. Orar! A Igreja hoje celebra muito, canta muito… mas ora de forma mirrada, esquelética. Só que pouca oração e muita celebração não farão nação alguma se converter. Se ganharmos o país para esse modelo de cristianismo o que faremos é transformar o Brasil numa grande rave gospel, com festa atrás de festa, celebração após celebração e pouca ou quase nenhuma vida íntima com Cristo.

● Grande parte da Igreja tem pregado um evangelho mentiroso.  O que se tem divulgado é um Jesus fictício, complacente, eternamente alegre e exultante, que nos garante “plenitude de alegria, todo dia”. Mas o Cristo de verdade quer que tomemos nossa cruz para segui-lo. Que morramos para nós mesmos. Que deixemos pai e mãe para ir após Ele. Mas a nação não quer fazer isso. E para ganhar a nação para Cristo ela tem que saber que terá de abrir mão de muita coisa, de esvaziar-se de suas vontades e desejos e seguir um caminho de renúncia e muitas vezes de sofrimento. Ganhar a nação para Cristo significa propor a ela: tome sua Cruz e siga-me. Arrependa-se de seus pecados, abra mão de seu eu e mude de vida. Honestamente: é isso que temos pregado?

● A Igreja está dividida. A Palavra nos diz que “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir” (Mc 3.24). Mas deixamos nossas paixões denominacionais suplantarem a unidade. Nós, pentecostais, fazemos piada com os tradicionais. Os tradicionais ridicularizam os pentecostais.  Todos menosprezamos os neopentecostais. Nos tornamos “anti” qualquer coisa que não sejamos nós mesmos. Nas tentativas de unir a Igreja perde-se tempo com discussões inócuas e vaidosas. Esquartejamos o Corpo de Cristo. E ainda assim queremos acrescentar uma nação inteira a esse Corpo? Como? Se não depusermos as hostilidades e buscarmos a unidade – verdadeira e sincera – uma nação ganha para Cristo sob esses moldes de igreja desunida seria um grande frankenstein.

● Nossas motivações são equivocadas. Queremos ganhar o Brasil pra Cristo não por amor às almas perdidas, mas sim para garantir nosso galardão no céu ou para finalmente fazermos parte do clube que representa a maioria e não a minoria. Queremos é estar por cima. Falta-nos, mais do que amor pelo Brasil, amor por cada brasileiro.

● Estamos tentando avançar na sociedade utilizando cargos políticos e legislações. Queremos ganhar o Brasil não para Cristo, mas para projetos de poder mascarados de cristianismo. E isso elegendo políticos supostamente comprometido com o Evangelho, fazendo marchas e protestos, usando de politicagens e chantagens políticas e organizando lobby no Planalto. E nada disso são armas espirituais. Nada disso nunca vai, de modo algum, glorificar o Senhor. Apenas cumprirá uma agenda política e nada mais.

Haveria muitos outros problemas que poderíamos desenvolver aqui, mas não quero me alongar mais. Não quero parecer um profeta do apocalipse, pintando um cenário pessimista. Minha intenção não é essa. Mas me atreveria a perguntar: será que os problemas que apontei acima são fruto da minha imaginação ou você consegue enxergá-los ao seu redor? Alguns poderiam dizer que o que escrevi não é nada edificante, mas… Há algo mais edificante que reconhecer nossos pecados para que possamos refletir sobre eles, arrepender-nos e consertar os erros? Não é isso que significa edificar? Construir? E, se preciso for, reconstruir? Parar de varrer a sujeira para baixo do tapete e acertar as coisas?

Há focos de resistência. Grupos que buscam viver uma espiritualidade real, profunda, desinteressada. Cristãos que se abraçam e se amam de modo entregue e que se devotam à causa de Cristo e ao próximo. Esses são o remanescente fiel. São o último alento. Mas estão reunidos em silêncio, buscando a face de Deus sem fazer balbúrdia. Eles são a semente da minha esperança.

Acredite: eu gostaria de que o Brasil fosse ganho para Cristo. Gostaria imensamente. Gostaria de viver numa pátria onde o Evangelho ditasse o procedimento das pessoas. Gostaria de poder afirmar: “Feliz é a minha nação, pois seu Deus é o Senhor”. Mas o que vejo ao meu redor não me permite fingir que está tudo bem. Não está. A Igreja de Cristo precisa se repensar e se acertar antes de empreender projetos de conquista. E isso urgentemente. Um exército desorganizado, desunido e despreparado não conquistaria nem um vilarejo, quanto mais uma nação.

Precisamos de um milagre. É caso de vida ou morte. E morte eterna. Precisamos nos arrepender dos caminhos pop e egoístas que estamos trilhando. Precisamos voltar a orar com um coração generoso. Precisamos nos humilhar. Precisamos clamar por misericórdia. Precisamos parar de tentar vencer o mundo no peito e na raça e tentar vencer, antes de qualquer outra coisa, nossas próprias concupiscências com o rosto no pó e os joelhos calejados. Essa luta não se vence com gritos, protestos, marchas, lobbies políticos e partidarismos, mas com lágrimas. Até caírem as escamas de nossos olhos e enxergarmos a dimensão espiritual que existe por trás da cortina da matéria continuaremos agindo como o servo de Eliseu, que não via o exército celestial do lado de fora de sua casa e desejava agir segundo os métodos do mundo e não os do Espírito.

Até lá, antes de pensarmos em ganhar o Brasil para Cristo, deveríamos nos preocupar em ganhar a nós mesmos para Ele. E isso diariamente. Pois é mediante a  transformação pessoal, de um a um, alma a alma, no campo do micro, que alcançaremos o macro. Caráter. Espiritualidade. Intimidade com Deus. Estudo aprofundado das Escrituras. Leitura de autores sérios. Menos exultações e mais contrição. Amor ao próximo de fato, comprovado em atos. Sem atitudes como essas, ganhar a nação para Cristo é um sonho distante. E, honestamente, impossível.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Quais são as consequências de vivermos o Evangelho na mesma época da História em que existe a televisão? Será que há alguma relação? Será que a TV afeta de algum modo a forma como pregamos e como o mundo recebe a nossa mensagem? TV ajuda a causa de Cristo? Ou atrapalha? Perguntas difíceis de responder, admito, e é exatamente por isso que desejo pensar junto com você sobre o assunto ao longo das próximas linhas. Antes, quero deixar claro que não creio que a televisão seja a “caixinha do diabo” nem que assistir a televisão seja pecado. No entanto, existem fatores envolvidos no processo de elaboração daquilo a que assistimos e na forma epistêmica como eu e você assimilamos o que é transmitido que têm relação direta com a nossa maneira de lidar com o Evangelho de Jesus Cristo.

Sendo objetivo, acredito que a televisão é uma praga dos nossos dias. Falo com um certo conhecimento de causa, afinal trabalhei nove anos na principal rede de televisão do país, como redator e editor de determinados programas. Se fosse contar todas as histórias sobre o que vi e vivi nos bastidores da TV e relatasse como muitos dos programas a que você assiste são feitos… provavelmente você nunca mais assistiria. Que é exatamente o que eu fiz. Já tem cerca de sete anos que optei por não assistir mais a telejornais, por exemplo. Novelas, a última que vi foi “Roque Santeiro”. Seriados, a esmagadora maioria… não, obrigado: sinto-me incapaz de ser cristão e rir, por exemplo, com as baixarias sexuais de séries como “Two and a half men”. Programas de auditório, me perdoem, mas creio que meu cérebro tem algum valor para ficar enchendo-o com aquele lixo. Videocassetadas? Isso para mim então é um grande mistério: como cristãos que deveriam amar o próximo e chorar com os que choram caem na gargalhada vendo seus semelhantes em situações de dor, humilhação e sofrimento? Não entendo. Fato é que a televisão tornou-se uma ferramenta tão burrificante da sociedade que as pessoas nem ao menos conseguem ter distanciamento suficiente para perceber isso. A esmagadora maioria realmente acredita que o “Fantástico” é o show da vida. Que o “CQC” é um programa genial. Que o “Pânico na TV” é engraçado. A televisão é uma tecnologia tão paralisante – inclusive para aqueles que fazem parte da Igreja – que às vezes me pego pensando o que teria acontecido com o Evangelho se a TV existisse na época de Jesus. Não seria interessante pensar sobre isso? Convido você então a entrar na máquina do tempo e fazer junto comigo um exercício de imaginação.

Televisão graças a Deus é algo que tem menos de cem anos de vida. Se tivesse sido inventada na época de Jesus provavelmente os apóstolos estariam tão envolvidos com os jogos do campeonato israelense de futebol que não teriam tempo para pregar a Palavra. “Poxa, Mestre, vamos ficar aqui por Cafarnaum mesmo, hoje tem XV de Jericó contra o XV de Samaria”, diria Pedro. Jesus esperaria pacientemente o fim do jogo e, após o apito final, quando fosse sair para pregar… “Peraí, Mestre, rapidinho, que agora vai ter a mesa redonda”.

No Sermão do Monte, não haveria mais do que dez pessoas ouvindo. Afinal, seria dia de jogo de vôlei de praia na arena montada às margens do Mar da Galileia e, vamos combinar, quem é que ia querer ficar horas sob o sol para ver alguém multiplicar pães e peixes se podia juntar a familia no quintal de casa, fazer um peixinho na brasa e um pão no alho e comemorar a vitória do seu time asistindo pela TV ao show do intervalo?

As parábolas de Jesus passariam despercebidas. Convenhamos que não teria graça nenhuma ficar ouvindo historinhas contadas verbalmente uma vez que na TV haveria seriados cheios de ação e adrenalina, como “Law and Order Sião”, “Zelotes fora da lei” e “Na mira da lança”. O povo, acostumado aos efeitos especiais e às recriações de histórias com atores famosos e muita computação gráfica, não veria graça nenhuma nas parábolas de Jesus, que teriam a pretensão de estimular nas pessoas uma coisa tão antiquada e em desuso como é a imaginação. Nada disso: o grande lance seriam os seriados com roteiros eletrizantes, filisteias seminuas e gladiadores que fariam suas próprias cenas de ação, sem dublês.

Os fariseus não conspirariam contra Jesus tentando pegá-lo em alguma blasfêmia – isso seria um modus operandi antiquado demais para a era da tecnologia. Lançariam sim uma campanha difamatória pelos telenoticiários, tentando desacreditá-lo junto à população. Para isso, acertariam em reuniões com executivos das emissoras de TV uma troca: investiriam pesado em anúncios nos intervalos comerciais e, em contrapartida, teriam a garantia de uma cobertura nada favorável ao ministério de Jesus. Logo surgiriam aqui e ali reportagens dizendo que Jesus tentou assediar a samaritana, que ele furtou dos cambistas do templo e que teria um filho ilegítimo com uma mulher em Caná para quem não pagava pensão. O Israel Repórter especial sobre sonegação de impostos apontaria Jesus como tendo dito “a César nada do que é de César e a Deus o que também é de César” – com diversos entrevistados corroborando terem presenciado essas afirmações e câmeras escondidas que mostrariam Jesus curando pessoas no sábado. Logo, o Senhor estaria sendo alvo da CPI da Taxação, liderada por Mateus, o publicano (naturalmente subornado para difamar o Mestre em troca da concessão de um canal de TV em alguma cidade do interior). Sim, o fascínio do poder da televisão criaria novos traidores.

A manipulação midiática seria tão grande que os jovens (incapazes de pensar por si mesmos, de tanto que em vez de ler bons livros gastariam seu tempo engolindo programas para adolescentes como “Malhação Judaica”) iriam para as ruas com as caras pintadas, exigindo a crucificação daquele arruaceiro. O Sinédrio poria Pilatos contra a parede, ameaçando-o com uma CPI (amplamente noticiada em todos os telejornais, claro, para acabar com sua carreira política), a não ser que ele cedesse e acabasse com a raça de Jesus. Temeroso de seu futuro político e da influência da mídia, Pilatos então mandaria açoitar Jesus.

Mas os anunciantes quereriam sangue! Afinal, Jesus transformou água em vinho e o lobby dos fabricantes de água mineral era forte em Israel, dada a escassez de água no território desértico. As grandes corporações da indústria de água mineral ameaçarariam as emissoras de TV de suspender o merchandising nas transmissões ao vivo dos eventos esportivos e os anúncios durante os programas de auditório de domingo. Até mesmo sugeririam que transfeririam suas contas milionárias para as redes de TV concorrentes da Filístia e da Galácia, onde sábado não era dia santo e por isso havia transmissões normais de televisão – ao contrário de Israel. E as emissoras da Palestina não poderiam arcar com esse prejuízo.

A gota d’água seria quando Judas concederia uma entrevista exclusiva, em que faria revelações bombásticas no telejornal das oito, denunciando Cristo e toda sua quadrilha. Com voz distorcida eletronicamente e o rosto em sombras, Judas incitaria a revolta popular contra o Messias, o que levaria diferentes grupos da sociedade a se levantar e organizar marchas contra a impunidade do tal subversivo, amplamente divulgadas por coberturas ao vivo na TV. Enfim, pressionado pela campanha das emissoras de TV e o lobby das indústrias de água mineral, Pilatos lavaria as mãos (claro que com a água da marca patrocinadora da transmissão ao vivo do julgamento, com direito a close do rótulo da garrafa em horário nobre) e sentenciaria Jesus à cruz. Não sem antes negociar os direitos da transmissão da crucificação com quatro emissoras diferentes de TV.

Mas fato é que a transmissão da crucificação acabaria sendo um fracasso em termos de Ibope. Por uma mera questão de timing: afinal, um evento tão comum como a execução de mais um rebelde judeu ganharia no máximo uma matéria de 30 segundos no jornal da tarde e, como acontece com todas matérias que vemos nos telejornais, o público esqueceria no dia seguinte. Se tanto. Provavelmente no mesmo dia. E, depois de anos transmitindo ao vivo crucificações, com comentários, replays, tira-teimas e repórteres no local entrevistando centuriões, parentes das vítimas e outros envolvidos naquele espetáculo, a coisa teria caído na mesmice. Quem queria ver mais um crucificado? A TV já mostrava tanta violência que aquilo tinha virado um entretenimento banal. Ninguém mais se importava com um morto a mais ou a menos. O público telespectador salivava por algo novo! A próxima novidade! O próximo show da tarde! A emissora até tentou convidar o médico Drauzio Varela para fazer comentários sobre a evolução do desfalecimento do condenado minuto a minuto, mas nem isso serviu para aumentar a audiência. Não, o público já não dava a mesma atenção e, com a queda no Ibope, as emissoras decidiram que transmitir crucificações já não era mais um bom negócio. Após a quarta temporada do “Show da Cruz”, o grande lance agora era a transmissão de corridas de bigas, que, afinal, tinham mais anunciantes.

Morreu então Jesus. Os direitos de transmissão ao vivo do sepultamento foram negociados em sigilo com José de Arimateia e os valores não foram divulgados para a imprensa, embora analistas econômicos especulassem com base em todo tipo de gráficos e projeções. Repórteres e equipes de TV se posicionaram na entrada do sepulcro, buscando o melhor ângulo para mostrar o evento.  A expectativa era grande, afinal esperava-se o tal terceiro dia e a anunciada ressurreição. Quando afinal o terceiro dia chegou ocorreu então um grande terremoto, os soldados que guardavam a entrada fugiram, a pedra rolou e… as equipes de reportagem todas saíram correndo para fazer a matéria do momento: o terremoto que tinha devastado a região, deixado milhares de mortos, provocado desabamentos e mobilizado a população. O morto era notícia velha. Que ressurreição o quê, o que dava Ibope agora eram as histórias de sobreviventes sob os escombros e cachorrinhos que vagavam por Jerusalém à procura de seus donos, mortos na tragédia. Jesus caiu no esquecimento.

Assim, quando ele saiu do sepulcro, havia um silêncio sepulcral no local. Ele esperava encontrar as mulheres que deveriam ter ido embalsamá-lo, mas… onde estavam elas? Em casa, naturalmente, pois, afinal, não dá pra competir com o último capítulo da novela, não é? Meio decepcionado, o Senhor – já ressurreto – foi então ao encontro dos discípulos na estrada de Emaús. Começaram a caminhar juntos pela estrada, comentando o último episódio da temporada de “House”, embora Jesus quisesse falar sobre os últimos acontecimentos em Jerusalém. Mas House e Cuddy estavam tendo um caso e não há Salvador do mundo que consiga ser mais interessante aos olhos do público do que algumas cenas picantes de sexo. Enfim os três chegariam à casa em Emaús e os dois constrangeriam aquele acompanhante a passar a noite com eles. Entrariam na casa e, na hora que Jesus partisse o pão… nada aconteceria. Ninguém o reconheceria. Simplesmente porque, como tinha se tornado hábito entre todas as famílias da Palestina, estariam todos jantando com os olhos totalmente pregados na TV, acompanhando “A Grande Família Judaica”. Nem repararam quando Jesus sumiu do ambiente, supondo que, provavelmente, tinha aproveitado o intervalo para ir ao banheiro.

Jesus então subiria aos céus, sob os olhares atentos daqueles que ficariam especulando se a ascenção era fato ou um truque de computação gráfica feito à base de efeitos especiais com cabos e chroma key. “Afinal, na era da televisão não dá pra acreditar em mais nada que se vê, né?!”, comentou alguém.

A Igreja da época da televisão começaria então a se propagar. Reunidos no cenáculo no dia de Pentecostes, três discípulos receberiam poder do alto (os outros 117 estariam na praça central de Jerusalém, assitindo no telão que a prefeitura montou à transmissão ao vivo de um show de Roberto Carlos – e com isso não há quem consiga competir). Pedro bem que tentou fazer um discurso para os povos ali reunidos para a Páscoa, mas não teve muito sucesso: começaram a mandar que aquele chato calasse a boca, afinal estava atrapalhando o programa, justo quando o rei da jovem guarda pretoriana cantava “Detalhes”. E quando, terminado o programa, os povos perceberam que aqueles cristãos estavam falando em outras línguas, alguém sugeriu com bom humor que ligassem a tecla sap.

Em seguida, começariam as viagens missionárias. Paulo e Barnabé teriam um sério desentendimento a respeito de qual participante do Big Brother Israel deveria ter saído da casa naquela semana e por isso não conseguiram mais fazer a obra juntos. Paulo perderia constantemente o barco que o levaria às cidades seguintes em suas três viagens, viciado que estaria em ficar até tarde assistindo ao Programa do Jô. E, convenhamos, uma igreja a mais ou a menos pra fundar não faria diferença, afinal depois era só transmitir o culto pela televisão. Ou por aquela nova tecnologia que estava surgindo, uma tal de internet.

Pensando nessa questão de transmitir o culto pela televisão, Paulo teria a brilhante ideia! Em vez de sair viajando por aí, o que era muito cansativo e fazia com que ele perdesse muitos episódios do “Video Show”, tudo o que ele teria de fazer era alugar espaços nas emissoras de TV e pregar o Evangelho a partir de um estúdio com ar condicionado localizado em Antioquia, com alcance para toda a Ásia Menor, por cabo ou via satélite. Que ideia primorosa! Ele escreveria algumas epístolas e mandaria como brinde para os irmãos que se tornassem parceiros de seu programa, concendendo-lhe doações generosas para manter o programa no ar. Pronto! Que viagens que nada! Bastaria se sentar atrás de uma mesa em um estúdio, pregar no primeiro bloco e vender DVDs com mensagens no segundo para manter seu ministério e pronto, estava cumprido o ide de Jesus. Ô glória!

Chegamos então ao Apocalipse, com o apóstolo João tendo sido condenado ao castigo mais severo que poderia haver naqueles dias. Apesar de ter rogado ao imperador que lhe impusesse uma pena mais leve, como o apedrejamento, a decapitação ou a crucificação, o pobre João recebeu a pena máxima: a prisão na ilha de Patmos onde, para seu terror absoluto, não havia TV! Nem a cabo, nem via satélite… nem mesmo TV aberta que fosse! Horror total! A suprema tortura! Dizem até que João ficou tão transtornado por ter que viver sem televisão que, na falta do que fazer, resolveu até orar – veja você.

E aqui acaba a fantasia.

Te convido então a uma reflexão séria, a partir dessa fábula jocosa mas não tão distante da realidade: se a TV existisse na época de Jesus, em que ela teria ajudado na propagação do Evangelho? Ou será que teria atrapalhado? Naturalmente, isso nos conduz à próxima pergunta: e hoje? De que modo a TV tem contribuído para a causa do Reino? O que ela tem feito pela formação e a edificação dos cristãos? De que modo tem sido uma ferramenta útil para o Evangelho? Será que ela tem ajudado de fato? Ou será que ela só atrapalha? As respostas você descobre após as cenas do próximo capítulo.

Ou, quem sabe, após uma ponderada e demorada reflexão. Coisa que o indivíduo que passa muito tempo vendo TV nunca consegue fazer.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Lembro-me de um episódio de minha infância que me marcou muito. Eu deveria ter cerca de 5 ou 6 anos de idade, quando meus pais me levaram a um evento cuja grande atração era o palhaço Carequinha. Em época pré-Xuxa, Carequinha era top. Fiquei emocionado ao vê-lo fazer suas estripulias. Mas em determinado momento ele me assombrou: aproximou-se de mim, inesperadamente, apertou meu nariz e… dele saiu uma moeda! Uau! Fiquei fascinado! Havia uma moeda em meu nariz e Carequinha a havia tirado, sob os aplausos da plateia. O tempo se passou e, mais velho, um dia descobri que na verdade tinha sido enganado: tudo não passava de uma mutreta. Um truque de mágica. Um engano. Um embuste. Ilusão.

Hoje, nós vivemos na Igreja uma ilusão análoga: a ideia de que números são importantes. Lamento informar, mas sem que se aperceba disso você idolatra números. E quando eu digo “você” me refiro a mim, a você e a toda a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Temos loucura por números. Salivamos por números. Achamos que números são a expressão máxima da bênção de Deus. Queremos quantidade, excesso, transbordamento. Só que – pasme – isso vai na contramão daquilo que Jesus almeja para nós. Não passa de moedinha caindo do nariz.

Nós, cristãos, desenvolvemos um péssimo hábito ao longo dos séculos e, em especial, nos últimos duzentos anos: associar excesso de números e empreitadas bem-sucedidas para o Reino de Deus. Podemos tirar um exemplo claro do universo virtual. Você, cristão, que trafega pelo twitter, facebook, orkut e similares, seja honesto, vive numa corrida desenfreada para ganhar “seguidores”, “followers”, “amigos”. Todo dia quem faz parte dessas comunidades cansa de ver aquelas pessoas que volta e meia postam “me segue que eu te sigo”, “descubra quem você segue e que não te segue” e coisas assim. Pois ter uma legião de pessoas que supostamente leem o que você escreve ou que querem ter o prazer da sua companhia naquele site de relacionamentos te confere o status de popular, de gente que tem o que dizer. De relevância. Ou seja: quanto mais “followers” ou “amigos” você tem, mais cool você é. Só que isso não passa de uma boba ilusão. Moedinha pingando do nariz.

Há cerca de um ano criei uma conta no twitter. De lá pra cá tive o privilégio de ter a companhia de 1.491 followers. Em teoria, são pessoas que me seguem porque lhes interessa o que tenho a dizer. E eu realmente acreditava nisso, até que inaugurei este blog. Eu o criei há 28 dias e nesse período recebi 3.752 visitas, com 8 textos postados. Isso dá uma média de 133 clics por dia ou, o que realmente importa, 468 por post. O único lugar em que anuncio que há novos posts no blog é no twitter. Logo, a conclusão natural é que dos 1.491 followers, apenas 468 se interessam por ler o que eu tenho a dizer. Ou seja, menos de um terço. Essa constatação desfez a ilusão que eu tinha de que 1.491 pessoas se interessam pelo que eu falo.

Ou seja: o número de seguidores que você tem no twitter, no facebook, no orkut ou onde quer que seja não passa de uma moedinha pingada de seu nariz. Não existe uma relação direta entre números e relevância. Não quer dizer que são indivíduos que de fato se interessam pelas suas palavras ou ideias e muito menos por seu valor. Uma pequena parte deles sim. Outra parte apenas te segue para ser seguido (e assim ter a ilusão, por sua vez, de que muitos se interessam por ela). Muitos criaram uma conta, te seguiram e depois nunca mais voltaram. Ou seja: os números das redes sociais são uma tremenda ilusão.

Na vida real

Esse exemplo das redes de relacionamento na verdade são um mero reflexo de valores que nós temos na vida real. E aqui voltamos para a questão da idolatria dos números entre os cristãos. Nós realmente acreditamos que uma igreja cheia, com milhares de membros, é sinal da bênção de Deus. Afinal, se numa igreja local há multidões de pessoas deve significar que o pastor prega demais, as vidas são abençoadas, o louvor é celestial, o Espírito Santo trabalha como nunca. Mas essa não é uma lógica cristã, é uma lógica mundana. É no mundo que pessoas que têm muito dinheiro são sinônimo de sucesso, mesmo que sejam indivíduos sem caráter, ofensivos, pérfidos, intratáveis. É no mundo que ter três carros na garagem, um cartão gold do banco e duas casas de campo fazem de você alguém admirável – seja você o crápula que for. Na Bíblia, isso não quer dizer nada. O Evangelho olha para esses números e diz “são apenas uma moedinha pingada do nariz”.

Mesmo assim, vemos a Igreja exultar porque no culto “tantas pessoas falaram em línguas”, sem nos perguntarmos de que modo Deus foi realmente glorificado por esse fato. “Ah, mas na igreja x caem tantos endemoniados todos os cultos”. Sim, mas… as pessoas libertas daqueles demônios são acompanhadas após esse fato para não abrirem suas almas novamente a eles? “Mas, Mauricio, no culto onde o pastor fulano pregou havia tantas centenas de pessoas em pé na igreja”. Ok, mas quantas saíram efetivamente transformadas daquela pregação? “Você já está me irritando, Mauricio, pois fato é que o programa de televisão do pastor beltrano é transmitido para milhões de pessoas”. Sim, mas quantas dessas abandonam seus pecados por causa disso? “Mauricio, chega! No culto do pastor fulano houve centenas de decisões por Cristo!”. Bem… eu sei que no tal culto centenas de pessoas foram à frente, mas isso não quer dizer que de fato arrependeram-se de seus pecados, foram justificadas pelo Cordeiro e viverão a partir daí em novidade de vida.

Eis aí o xis da questão: números enchem nossa boca, mas sua relevância beira o nada. Pois eles têm o poder de ser tremendamente ilusórios. Fazem-nos crer numa realidade que, na maioria das vezes, é uma irrealidade.

Mas existiria algum mal em valorizar números na Igreja? Bem, o cerne do problema é que a Bíblia mostra que Deus não está preocupado com números. “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram” (Mt 7.13,14). Que coisa! Que constatação impressionante! Os que entrarão no descanso eterno são poucos. São a minoria! Se o Céu tivesse uma conta no twitter, poderíamos dizer que ele tem muito poucos followers. Lucas 13.23-27 afirma que a página de Jesus no fecebook não tem muitos amigos: “Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, serão poucos os salvos?’. Ele lhes disse: ‘Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta’. ‘Ele, porém, responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês’. “Então vocês dirão: ‘Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. “Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’.”. Assim, estamos supervalorizando algo que Deus não valoriza.

Ou seja: na matemática do Reino de Deus, números são ilusão. O Céu trabalha com pequenas quantidades e, para mencionar o clichê, para Deus importa a qualidade da fé e sua profundidade, e não a quantidade dos que dizem ter fé. Até porque a parábola do joio e do trigo deixa claro que há em meio às igrejas inchadas muitos que são joio e não representam de fato resultados para a eternidade. Recentemente, conversando com um pastor, ele me disse que acredita que no máximo 30% de sua igreja sejam pessoas que irão para o Céu. Impressionante.

Assim, não importam igrejas lotadas, pois muitos estão ali pelos motivos errados. Não importam cantores gospel que atraem multidões, pois muitos estão ali apenas atrás de uma emoção e não de cultuar de fato Jesus de Nazaré. Não importam muitas “decisões” ao final de uma pregação seguida de um apelo, pois muitos foram à frente ou porque alguém lhes encheu a paciência para que fosse ou porque não entenderam direito a razão exata de ir à frente ou porque foram movidos por uma emoção de momento. Não importa que tantos foram batizados ao longo de um ano na igreja, pois muitos daqueles estarão fora dos caminhos do Senhor seis meses depois por não terem sido discipulados direito. Não importa o orçamento de uma igreja enorme e luxuosa, pois ela pode ter apenas isso, dinheiro e luxo, mas nada de espiritualidade. Não importa uma moeda pingada do nariz, pois ela na verdade caiu da manga do palhaço e não do nariz da criança.

Em Lucas 12.32, o grande pastor Jesus Cristo diz aos seus followers: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino”. Repare: pequeno rebanho. O rebanho que herdará o Reino é pequeno. O grupo dos salvos é pequeno. É minoria. Se fosse uma congregação terrena, seria uma daquelas igrejinhas sem vitrais, torres ou palcos com raio laser e som dolby surround. Provavelmente, seria uma daquelas igrejas em que entraríamos e pensaríamos “que igrejinha sem graça, o poder de Deus não deve estar aqui, o pastor não deve pregar bem, o louvor deve ser meio caído, afinal… não tem muita gente”. Essa lógica mundana tem guiado nossas ações para as coisas do Reino. E com isso erramos feio.

Você, que faz parte do pequeno rebanho, esqueça um pouco os números. Tire-os do altar. Lembre-se que Deus salvou no dilúvio um grupo ínfimo de pessoas. Que Israel era uma gota no oceano de povos no mundo. Que Jesus nunca se preocupou com a prosperidade material ou com o saldo no banco. Que aqueles que herdarão a salvação são uma pequena fração daqueles que hoje se dizem cristãos. Dê menos atenção ao apelo e mais ao discipulado. Invista seu tempo em um único novo-convertido, para que ele seja amparado, acompanhado e fortalecido de fato. Fuja de igrejas monstruosas, onde pessoas se tornam apenas… números.

Quando Jesus ressuscitou, uma mulher do pequeno rebanho foi até seu sepulcro. João 20.16 mostra que o Mestre, que tinha sido seguido por tantas multidões, virou-se para ela e lhe chamou pelo nome: “Maria!”. Jesus conhece cada um dos seus pelo nome. É uma vergonha nos preocuparmos mais com números do que com nomes. Jesus não se preocupa com milhões, se preocupa com a unidade, com o indivíduo, com o uno. Massas não lhe interessam. Lhe interessa você, com nome, sobrenome. E, ao contrário dos homens que associam números a resultados, sucesso e bênção, o Mestre nunca te enganará, nunca criará ilusões. Virará para você e dirá: “Tome aqui uma moeda, que vem da minha mão, não sai do teu nariz. Pode ser uma moedinha de pequeno valor, mas eu a entrego diretamente a você, pois te conheço pelo nome, filho amado”.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Deus não faz absolutamente nada à toa. Tudo o que Ele faz tem um propósito e uma razão de ser. Com isso em mente, vem a pergunta: por que Deus decidiu escolher logo um cordeiro para prefigurar e simbolizar Cristo? Por que Jesus é o Agnus Dei, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo? Por que não o texugo de Deus, o avestruz de Deus, a jaguatirica de Deus ou o camelo de Deus? Afinal, quando o Senhor transmitiu ao povo de Israel a Lei e instituiu o sacrifício levítico como um tipo daquele que haveria de vir tinha à disposição uma vasta fauna. Uma opção seria até mesmo o leão, visto que o Messias é o Leão de Judá. Faria sentido. Imagine: cada pecador teria de sacrificar um leão, demonstrando seus méritos de caçador para aprisionar a fera e levá-la até o templo. Seria um preço e tanto para expiar os pecados. Mas não, o animal escolhido como símbolo maior de Jesus foi… o insosso cordeiro. Por quê?

Depois de alguma reflexão e de analisar diferentes passagens da Biblia, conclui-se que a escolha provavelmente foi feita pelo caráter manso, pacífico e obediente desse animalzinho. Isaias 53.7 infere isso: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca”. Ou seja: o cordeiro é um animal calmo, que não revida, não ofende, não ataca, não agride.  Em resumo: é um animal que não exprime raiva.

Ah, que percepção magnifica! A própria essência do Salvador é antirraivosa. É plácida. É uma essência de amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, domínio próprio e… mansidão – que é o fruto do Espirito. E todos nós sabemos que devemos ser imitadores do Mestre. Que devemos ter o caráter de Cristo. Se por um lado essa percepção é fantástica, pois nos leva a perceber o que Deus quer que sejamos, por outro lado é assustadora, pois nos faz ver o quanto a noiva do Cordeiro está distante do que Deus quer que sejamos. Isso porque temos vivido uma crise crônica de… raiva.

Sim, a Igreja de Jesus Cristo está com raiva. Muita raiva. Eu e você nos tornamos pessoas raivosas e valorizamos a raiva como uma suposta virtude cristã. “Imagina, Mauricio”, você poderia dizer, “eu não sinto raiva, a Igreja não sente raiva, que exagero”. Mas fato é que o cheiro de raiva paira no ar do templo.

Pense em quem são os líderes cristãos mais visíveis no Brasil atualmente. De um lado temos pastores na TV que gritam, esperneiam, cospem, agridem, ofendem, batem na mesa e transpiram toda sua testosterona. De outro lado temos aqueles que criticam esses mesmos pastores e se referem a ministros de Deus como “bundões”. Há ainda aqueles que para defender a liberdade religiosa vão a programas de auditório e organizam manifestações com agressões verbais e bate-bocas com pessoas não-cristãs que defendem o pecado. Vemos ainda conclamações enfurecidas do povo de Deus a lutar contra legislações que desaprovam (como se esse fosse o papel da Igreja). Vemos também guerras internas em denominações pela disputa de poder e cargos, em que sacerdotes são vistos em vídeos no youtube em discussões enraivecidas com outros sacerdotes, com ofensas rábicas pelo twitter. E por aí vai.

Por falar em youtube e twitter, basta gastar algum tempo nas redes sociais que você verá pastores que falam o tempo todo de amor, mas usando um discurso extremamente raivoso  para defender o seu ponto de vista sobre Deus e a Igreja. Nunca vi tanta raiva sendo destilada em nome do amor. “Amemos uns aos outros, seus imbecis”, é só o que falta algum desses líderes postar no twitter. “Nós somos os da graça e os outros os da religião”, alfinetam outros. E assim segue a Igreja nas redes sociais, com litros e mais litros de raiva inundando nossos computadores.

E lógico que com líderes assim a membresia acaba se contaminando. Achando que é isso aí. Que esse é o caminho. Que botar pra quebrar e sair arrebentando é o papel do cristão. É só passar mais um tempinho surfando pelas redes sociais e alguns blogs de maior expressão no meio evangélico para ver que cada um defende aquilo em que crê não pela exposição de argumentos calmos, racionais e lógicos em favor daquilo em que acreditam, mas sim com ataques raivosos a pessoas, teologias e ideias de que discordam. A Igreja não está usando das ferramentas bíblicas para defender suas posturas e crenças, mas sim armas do mundo: a ofensa, a agressão, a ironia, o sarcasmo, os ataques. Raiva!

Com isso, nós desvirtuamos completamente a missão. Nos desviamos do que Cristo espera de nós. Não fazemos uso do exemplo de Jesus, pelo contrário: parecemos mais integrantes da juventude hitlerista ou da Ku Klux Klan em nosso comportamento público do que da Igreja do Cordeiro que se entregou em silêncio, que deu a outra face, andou a segunda milha. E com isso nos tornamos mundanos e pagãos.

Recentemente publiquei aqui no APENAS um post raivoso. Deixei-me  contaminar pelo espírito que tem predominado nas discussões teológicas e nas redes sociais entre os cristãos. Mea culpa. Mas no dia seguinte reli o que tinha escrito e vi o quão distante da proposta de Deus para nós estava meu texto. Ao desabafar, me deixei contaminar por essa nuvem da raiva que paira sobre programas de TV evangélicos, blogs e redes sociais… e pequei. Cometi o pecado da raiva. Senti-me torpe. Diante disso, pedi perdão ao Cordeiro e deletei o post.  Peço perdão também a você que me lê por ter somado minha raiva momentânea a esse tsunami de rancor e ira que tem varrido os rincões evangélicos. Pois não quero ser como esses cristãos raivosos. Não quero usar as armas do mundo. Quero ser manso e humilde de coração, servindo de exemplo para o mundo e não sendo visto como igual a ele. Não sou perfeito, mas quero caminhar para cada vez mais ser uma ovelha do Cordeiro e não um gladiador da fé.

Por isso decidi me afastar um pouco do twitter. Senti a necessidade de voltar à retaguarda, me recompor, lembrar do ponto onde caí e retomar a estrada da paz. Sair do burburinho, da multidão de vozes, para respirar fundo, ouvir o vento, o pulsar do coração e o cicio calmo do Senhor. O murmurejo do Cordeiro. Tenho falado menos e me contentado a levantar minha voz aqui no mosteiro do APENAS. E tem sido bom, pelo menos por enquanto.

A Igreja tem que repensar seu tom de voz. Tem de escolher melhor as palavras. Precisamos usar mais a gentileza. Desistir da ironia e do sarcasmo. Aí sim eu e você estaremos começando a ser menos parecidos com apresentadores de programas vulgares de auditório e mais parecidos com Cristo. Não me interessam telepastores agressivos. Não me interessam líderes que falam de graça mas chamam outros cristãos de “bundões”. Não me interessam líderes que acusam a igreja institucional de não ter amor e para isso exalam raiva para todos os lados do twitter. Não me interessa o bate-boca amargo e arrogante de cristãos nas redes sociais. Não me interessam leões. Me interessa o Cordeiro. Quero aprender com Ele e, cada dia mais, me tornar um bem-aventurado pacificador. Suave com o próximo. Carinhoso sem deixar de ser firme. Falar a verdade em amor. E argumentar com o próximo como gostaria que argumentassem comigo. Mesmo que isso me custe as duas faces doloridas e os pés feridos por andar uma milha a mais. Essa é minha meta.

Jesus saiu da Cruz cuspido, nu, ofendido, machucado, transpassado e humilhado por uma multidão de pessoas raivosas. Mas saiu plenamente vitorioso. Com raiva? Creio que não. Pois, senão, teria saído plenamente derrotado. E você, como tem se comportado? Como o Cordeiro diante de seus algozes ou como os algozes diante do Cordeiro?

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Os três primeiros meses de vida da minha filha foram duros. Ela sofreu de cólicas terríveis, que faziam com que ela chorasse, gritasse, gemesse, se contorcesse e soluçasse em agonia. Para quem nao teve a experiência da paternidade ainda, cabe uma explicação: essas dores são resultado da grande quantidade de ar que o neném engole durante as mamadas. Assim, não me restava solução a não ser fazer de tudo para que ela expelisse o ar. E sim, a melhor forma de se fazer isso é estimular o bebê a arrotar e soltar pum. Não é algo muito elegante de se dizer, mas é fato: se você é pai e seu filho recém-nascido sofre de cólicas, você terá de se tornar um grande incentivador de arrotos e puns, seja batendo nas costas, fazendo massagem na barriga, empurrando e esticando suas pernas, elogiando efusivamente quando o bebê finalmente põe os gases para fora… Fato é que fazer o neném expelir os gases tomará grande parte de seu tempo e de suas preocupações.

Mas aí o tempo passa. O bebê cresce e se torna uma linda mocinha. E você, pai ou mãe, descobre que agora tem de desensinar o que passou meses ensinando a pequerrucha a fazer. Afinal, quando sua linda filhinha se torna uma menininha e você sai para jantar com um casal de amigos não vai querer que ela fique soltando arrotos sorridentes na mesa. Ou que ela flatule alegremente na escolinha. Não. Agora a sua missão se torna educar aquele mini-indivíduo, para que ele continue em sua caminhada na vida sem ser visto como um porquinho pela sociedade.

Então, de repente, se vê dizendo para sua filhinha que você tanto incentivou a soltar puns e arrotos que, agora que ela está mais madura, precisa parar com aquilo que você passou meses ensinando-a a fazer. Que o que era certo agora é errado. O que antes ela fazia que levava você a bater palminhas agora te leva a fechar a cara. O que antes merecia um “isso, filhinha, que bonito, você arrotou!” agora rende um “filha, que coisa feia, arrotar na mesa!”. O que antes era premiado com um “que linda, soltou pum!” agora é repreendido com um “que feio, soltou pum!”.

Em princípio achei meio estranho ter de fazer minha filha reaprender. Ter de desconstruir o que levei meses construindo. Mas, depois de algum tempo refletindo sobre isso, cheguei à conclusão de que essa mudança de curso não é um contrassenso, como inicialmente me pareceu. Não faz de mim um hipócrita nem um indivíduo levado por ventos. Pelo contrário. Percebi que há coisas na vida que exigem mudanças drásticas e necessárias em direções opostas, repensamentos que são extremamente importantes. Para cada etapa da jornada, uma atitude. Nos momentos certos, reformulação, alteração de rumo, rotas redesenhadas. E isso não faz de você uma pessoa incoerente, fraca, inconstante, ignorante ou menos madura: simplesmente, como Salomão escreveu em Eclesiastes, “para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu” (Ec 3.1).

Na nossa vida espiritual é a mesma coisa. À medida que caminhamos, nos desenvolvendo na fé, nossas crenças, atitudes, práticas e valores vão mudando. E não há mal algum nisso. Não é sinal de fraqueza ou de falta de fé: é sinal – isso sim – de amadurecimento.

Logo após a conversão você aprende a Biblia de um modo, toma o leitinho, se fortalece, entra na intimidade com Deus de uma maneira. Com os anos, isso muda. Seu organismo espiritual enrobustece, passa a exigir aprendizados mais sólidos, vivências diferentes, alterações de pensamentos. E, para muitos, chega um momento de rompimento com as práticas da infância na fé e o reaprendizado de muitas coisas que se fazia e se cria até então. Isso é importante e desejável – desde que não se abandonem a sã doutrina bíblica e os fundamentos da fé.

De repente, você descobre que aquelas formas de oração que te ensinaram na igreja em que se converteu não seguem o padrão bíblico. Descobre que nem todas as pessoas serão curadas de suas doenças, mesmo tendo fé, ao contrário do que prometia aquele livro do Kenneth Hagin. Descobre que não adianta “tomar posse pela fé” daquela benção pois, se Deus não quiser, a soberania dele prevalece à sua fé (que o diga Paulo e seu espinho na carne…). Descobre-se enxergando que aquele fulano brigão que você achava o supra sumo da espiritualidade não passa de um fanfarrão. Descobre espantado que gritar, espernear, saltar e suar no louvor não fazem de você um verdadeiro adorador. Descobre que falar jargões evangélicos e frequentar uma igreja sem manifestar os frutos do Espírito não fazem de você um cristão. Descobre que ganhar almas sem fazer discípulos não cumpre o ide de Jesus. Descobre, descobre, descobre. Ou seja: chega o momento em que você amadurece a tal ponto que descobre que arrotar e soltar pum não são a coisa certa a ser feita, por mais que tenha aprendido isso no inicio da sua vida espiritual e que tantos lhe tenham incentivado por tanto tempo a fazer isso. De repente, você descobre que estava tudo errado e que tem de reaprender muita coisa.

E é o que tem de ser feito: amadurecer, evoluir, passar para a fase da maturidade. O problema é que muitos se agarram de tal forma ao que aprenderam no início que não suportam as novas descobertas, como personagens assustados do mito platônico da caverna. Uma parcela de cristãos que enxergam a luz recusam-se a abandonar as sombras confortáveis da caverna do passado, agarram-se à segurança daquilo que aprenderam na infância espiritual e se tornam adultos na fé que vão continuar a arrotar e soltar pum. “Foi assim que eu aprendi!”, apegam-se desesperados aos rudimentos da puerilidade. Outra parcela não aguenta o choque e de desvia, abandona a fé, apostata. Quantos não são os que entram num seminário teológico e, ao descobrir que o capítulo 16 de Marcos não está em alguns dos manuscritos mais antigos da Bíblia entram em crise. Ou que desmoronam ao saber que o grande reformador Lutero gostava de tomar bebidas alcoólicas. Ou, ainda, que muitos hinos da Harpa Cristã, do Cantor Cristão e outros hinários têm diversas músicas que originalmente eram tocadas em prostíbulos e até mesmo hinos nacionais de países como a Inglaterra e as ilhas Fiji – apenas com letras cristãs. E isso somente para citar alguns poucos exemplos.

Fato é que amadurecer incomoda. Dói. Reformular-se não é para qualquer um. Quando Jesus quis levar os judeus do leitinho veterotestamentário para o banquete da Nova Aliança muitos o rejeitaram. E hoje a coisa não é diferente. Multidões se apegam aos hábitos, às práticas e às crenças de um cristianismo incipiente e preferem viver na pseudossegurança de uma eterna infância espiritual. E isso acontece basicamente porque se recusam a adotar uma atitude simples: aprender.

Esse é o milagre que transforma a mente: o aprendizado. A obtenção de informações novas. Descobertas. Seja na convivência com pessoas realmente maduras na fé, que é discipulado. Seja pela leitura de bons livros. Seja pelo estudo sério da Palavra de Deus. Quer sair da infância? Olhe além do horizonte. Olhe por cima dos muros. Saia da zona de conforto e busque o conhecimento e a sabedoria além dos limites do berço. Muitas vezes as respostas estão naquilo que parte da Igreja abandonou equivocadamente em algum lugar do passado. Muitas vezes, nas páginas de obras literárias extraordinárias. Muitas vezes, em conversas com cristãos anônimos que vivem uma vida com Deus simples, íntima e silenciosa. E, certamente, no bom e velho texto de uma Bíblia, desde que lido sob os olhos vigilantes de uma exegese e uma hermenêutica corretas.

Se alguém algum dia mostrar a você que chegou a hora de parar de soltar arrotos e puns, não o rejeite. Esteja aberto a aprender. Disponha-se a ouvir mais do que a falar. Retenha o que é bom e despreze o que é mau. E que assim seja, “até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” (Ef 4.13-15).

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari

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Esta semana vi no twitter de alguém um link para a tabela que está aqui ao lado. Ela sintetiza um discurso que nos últimos anos se tornou moda entre grande parcela dos cristãos brasileiros: o grupo que passou a satanizar a igreja institucional. Segundo esse segmento, a igreja (com letra minúscula) é o grande mal do universo. Não mais as obras da carne, o pecado, o mundo, o diabo, nada disso. A maligna, satânica e perversa igreja organizada é o vilão da hora. O lema desse grupo poderia ser resumido a “tornei-me cristão quando saí da igreja”. Legiões têm abraçado esse discurso e passado adiante essa ideologia, em geral em redes de relacionamento, blogs e sites da internet. Analisei esse quadro e gostaria de tecer comentários a respeito (em breve abordarei em detalhes aqui no APENAS os pontos apresentados nesse quadro, mas por ora me atrevo a fazer uma consideração geral).

Antes de mais nada, é importante dizer que amo Jesus. Fui chamado pela graça, resgatado sem merecer e justificado exclusivamente pelo sangue do Cordeiro, sem mérito ou obra que me valesse. Por isso, busco Jesus de Nazaré. Sou grato a Ele. Preciso dele a cada passo, contando com sua misericórdia para me perdoar diariamente de minha multidão de pecados. Sei que só em sua pessoa, na seiva que corre na videira verdadeira, posso obter a vida – e por isso mesmo meu interesse é encontrá-lo onde Ele estiver. Ao mesmo tempo estou ciente dos absurdos que acontecem em muitas igrejas. Teologia da Prosperidade, igrejas onde se oprimem membros com usos e costumes humanos, congregações de fachada para o exercício de poder humano, legalismos vazios, cultos sem espiritualidade, politização e capitalização da fé… enfim, todos os descalabros que estamos acostumadíssimos a ver em diversos rincões por aí.

Por isso compreendo que, juntando-se o amor por Jesus à percepção desses absurdos no seio da chamada igreja evangélica, é natural que muitos decidam apedrejar o conceito de “igreja” para defender a causa de Cristo. Afinal, é a saída mais rápida e fácil. É a solução do médico que, para curar uma unha encravada, decide amputar a perna. Sim, isso é exatamente o que vem acontecendo: bons cristãos, ansiosos por uma vida profunda em Jesus, se revoltam contra o tanto de abuso e opressão que enxergam em determinadas igrejas e denominações que saem atacando o conceito – em vez de atacar os problemas.

O principal erro no discurso dos que demonizam a igreja institucional é o generalismo. A tabela acima estaria perfeita se viesse a se referir a determinadas congregações e denominações. Ela seria verídica se dissesse “igreja x” ou “igreja y”. Mas anatemizar o universo de todas as igrejas organizadas por causa dos maus exemplos é de uma irresponsabilidade, ignorância e superficialidade dignas de nota. Jesus é um, então Ele pode ser tomado como medida de comparação. Mas “igreja” (novamente: com minúsculas) é um substantivo comum que designa tantos modelos diferentes de reuniões de cristãos que construir uma comparação apenas a partir desse termo já é um equívoco em si. De qual igreja estamos falando? Neopentecostal? Tradicional? Presbiteriana? Batista? Católica romana? Ortodoxa? A dos puritanos? A dos morávios? A de John Wesley? A de Agostinho? A das catacumbas? A monástica? A de Tomás à Kempis? Luterana? Calvinista? Anglicana? Episcopal? Congregacional? Pentecostal? As comunidades alternativas dos desigrejados? A da minha esquina? A do leitor? Qual?

E não é só isso. Dentro desse universo de expressões institucionais que chamamos de “igreja”, há cristãos sérios e também falsos cristãos, simultaneamente. Peguemos uma igreja organizada qualquer. Dentro dela você encontrará pessoas espirituais e pessoas carnais, interesseiras ou devotadas, pastores canalhas e pastores piedosos, homens de Deus e joio do diabo. Então, dentro desse universo pluralista, cheio de nuances, cores e tons, criar uma tabela ou um discurso generalizando o conceito “igreja” é tentar embutir o oceano num copo d’água. Fazer isso é julgar inocentes, chamar de opressores muitos homens que pregam a liberdade e a piedade, acusar os que Jesus não acusa. Logo, é em sua essência bastante anticristão.

Lembremos sempre da pergunta de Abraão a Deus em Gênesis 18: “Exterminarás o justo com o ímpio?”. Ao que o Senhor responde que se houver dez justos ao menos em Sodoma Ele não destruirá a cidade.

Quem critica desse modo generalista e irresponsável a “igreja institucional”, a exemplo do autor da tabela acima, está usando o mesmo raciocínio de “homem não presta”. Isso geralmente é dito por alguma mulher que foi magoada por um, dois ou no máximo três homens. Mas há cerca de 3,5 bilhões de homens no mundo! Então afirmar que “homem não presta” é um generalismo brutal e bem injusto. Do mesmo modo, dizer que a “igreja” é isso tudo o que a tabela e que o discurso anti-igreja institucional dizem é no mínimo brutalizante.

Além disso, é de uma ignorância histórica patente. Lógico que a igreja errou muito ao longo de sua trajetória, com os exemplos clássicos da inquisição, omissão na Alemanha nazista, papado carnal,  indulgências e outros desmandos mais. Ela é formada por homens, como alguém esperaria que ela não errasse? Errou do mesmo modo que errou a Igreja (com maiúscula) de Atos dos Apóstolos, que tinha em seu seio mentirosos e ladrões como Ananias e Safira, homens que se repreendiam na cara como Paulo e Pedro, discórdias como a de Paulo e Barnabé, entre muitas outras questões vistas nas epístolas e em Apocalipse (e não vejo ninguém demonizando a Igreja apostólica). Mas quem sataniza a igreja institucional ou ignora ou sofre de amnésia a respeito de tudo o que ela já fez e que ainda faz pelo Reino de Deus.

Pra começar, foi dentro de uma igreja institucional que Jesus me chamou à salvação. Só isso já me torna eternamente grato. E provavelmente você que me lê aqui também veio a conhecer Cristo numa igreja organizada. E possivelmente a maioria das pessoas que criticam a igreja! Esse tem sido ao longo de dois milênios o papel principal dessa igreja tão falha, tão pecadora e tão…humana. Humana assim como eu e você, que erramos todos os dias, pecamos sempre e ainda assim o Espírito Santo permanece habitando em nós e fazendo coisas boas por nosso intermédio – tesouro excelente em vasos de barro. Deus não nos fulmina por errarmos (senão eu, por exemplo, já seria cinza e pó há muito tempo), Ele nos chama ao arrependimento. Por que com a igreja organizada que comete deslizes seria diferente? Lembremos das palavras de Paulo em Rm 14.3: “Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou”. Condenaremos quem Deus aceitou? Como podemos ter a arrogância de pressupor que Deus rejeitou a igreja institucional como um todo?

Com todos os seus erros, a igreja conduziu milhões ao conhecimento de Cristo ao longo dos séculos, perpetuou as Escrituras, levou a mensagem da salvação aos cativos, empreendeu ações missionárias extremamente relevantes e ajudou a levar educação, saúde e apoio humanitário a multidões. Exatamente como faz hoje. Disso os críticos generalistas da igreja organizada aparentemente não se lembram (ou será que nunca estudaram História da Igreja? Ou será que não leem notícias da igreja pelo mundo?).

Conheço muitas igrejas institucionais, denominacionais, onde homens e mulheres de Deus buscam o Senhor de modo verdadeiro. Conheço muitos pastores piedosos e obedientes à Palavra. Conheço muitas, mas muitas pessoas que foram resgatadas do pecado, das drogas, do crime, da corrupção, do espancamento, da opressão familiar, de crises existenciais, da depressão e, principalmente, do inferno, por Cristo por intermédio das chamadas igrejas institucionais. Não posso, por isso, demonizá-las, pois estaria chamando de demoníaco aquilo que Deus torna sagrado ao utilizar como canal de bênção.

No capítulo 12 do evangelho segundo Mateus, os fariseus acusaram Jesus de expulsar demônios pelo poder de Belzebu (“Mas quando os fariseus ouviram isso, disseram: “É somente por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa demônios” – Mt 12.24). Ou seja: demonizaram o próprio Cristo. Hoje o mesmo está sendo feito com a igreja como um todo por tais críticos. Além disso, incorrem aqueles que acusam o conceito generalizado de “igreja” de agir contra Jesus o perigo de estar dividindo aquilo que Deus quer unir. Curioso é notar que no versículo seguinte, Mt 12.25, o texto bíblico nos diz: “Jesus, conhecendo os seus pensamentos [dos fariseus], disse-lhes: ‘Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá”.  Será que no afã de purificar a casa – cheios de boas intenções – os críticos da igreja institucional não estão dividindo a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo? Será que ao generalizar que TODA igreja organizada é um câncer o Corpo não está ferindo a si mesmo?

Tenhamos responsabilidade. Precisamos lutar sempre pela purificação daquilo que está errado dentro da Igreja. Mas dizer que isso se faz pela aniquilação da igreja institucional é miopia espiritual e histórica, além de falta de amor. Combatamos o pecado. Oremos contra os falsos mestres. Preguemos contra as heresias. Desmascaremos as doutrinas de demônios. Denunciemos os líderes abusadores. Mas não generalizemos ao irrefletidamente acusar um organismo que ainda abriga milhares que não se curvaram a Baal de ser algo do mal. Pôr Jesus em oposição à igreja (com minúscula) é contrapor o Salvador à Igreja (com maiúscula) – que está presente aos milhões dentro dessas instituições imperfeitas. É jogar o Noivo contra a noiva. O Pastor contra as ovelhas. E não acredito que Deus fique muito feliz com isso.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.