Com o recente lançamento do livro Perdão Total – Um livro para quem não se perdoa e para quem não consegue perdoar, tenho ido a igrejas para pregar e palestrar e concedido entrevistas para debater sobre o assunto. Nessas ocasiões, existem algumas perguntas que invariavelmente as pessoas me fazem e já chego ao evento com a certeza de que, em algum momento, alguém as fará. São questionamentos como “De que maneira consigo perdoar alguém que me fez mal se não sinto vontade de perdoar?”; “Eu não me sinto perdoado por Deus pelo pecado que cometi, e agora?”; “Perdoar é esquecer a ofensa?”; ou “Perdoar significa que tenho de voltar a conviver com quem me fez mal?”. E por aí vai. Gostaria de tratar neste post especificamente sobre uma das perguntas que sempre vêm à tona: “Como consigo superar o medo, a vergonha, o orgulho ou o temor da rejeição e ir até quem ofendi para pedir perdão?”. Recentemente, tive a oportunidade de viver na prática essa situação. Gostaria de compartilhar a experiência, para demonstrar as consequências benéficas de superar qualquer barreira que impeça o pedido de perdão.
Normalmente, pego minha filha na escola de bicicleta. Sigo por uma ciclovia que passa na porta de minha casa e segue praticamente todo o caminho até o colégio dela. Ocorre que, em certo trecho, a ciclovia passa em frente a um supermercado, onde há muito desembarque de produtos para abastecer o estabelecimento. Por isso, há placas e indicações de que, nessa parte, a preferência é do pedestre e os ciclistas devem prosseguir devagar e com cautela. Costumo acatar essas especificações. Em certo dia da semana passada, eu estava passando justamente por esse trecho quando vi um pouco à frente alguns homens descarregando refrigerantes de um caminhão. Por isso, fui bem devagar. Acontece que um deles começou a caminhar apressado pela ciclovia e, inesperadamente, parou. Estancou. Eu não previ que ele fosse parar e acabei dando uma guinada para não atropelá-lo. Com isso, tirei “um fino” daquele cavalheiro, que tomou um grande susto.
Como não cheguei a esbarrar nele, supus que estivesse tudo certo e prossegui, sem olhar para trás. Foi quando percebi que o homem começou a gritar para mim, me xingando dos piores palavrões que você possa imaginar. Em cinco segundos ele conseguiu ofender umas vinte gerações da minha família, me mandar para lugares que jamais cogitei visitar e desejar que coisas nada agradáveis me acontecessem. Imediatamente, minha reação foi de surpresa e uma certa indignação, afinal, eu estava bem devagar e não tive nenhuma intenção de fazer mal àquele senhor nem assustá-lo. Por isso, me senti ofendido e bastante injustiçado por aquela avalanche de xingamentos. Confesso que minha vontade, naquele segundo, foi ir embora sem dar satisfação, devolver os xingamentos ou, no mínimo fazer algum gesto obsceno. Claro que isso foi o que minha natureza pecaminosa queria que eu fizesse.
Mas, logo em seguida, veio à minha mente: “Peraí. Eu acabei de lançar um livro sobre perdão, tenho pregado e palestrado sobre perdão, tenho dito em entrevistas a não cristãos que devemos viver o perdão… será que devolver mal com mal não seria uma tremenda hipocrisia? Pior: não seria algo totalmente antribíblico?”. Entenda que tudo isso, do momento em que passei pelo homem até essa minha tomada de consciência (que, certamente, veio do Espírito Santo), ocorreu num espaço de poucos segundos. E, nesse pequeno intervalo de tempo, tive de decidir como agir: como um mundano ou como alguém que tenta viver conforme a natureza de Cristo.
Foi quando parei a bicicleta. Desci dela, e, empurrando-a, dei meia-volta e comecei a caminhar lentamente em direção ao homem.
Percebi de cara que, ao ver que eu estava voltando, ele se armou todo. Na cabeça do meu desafeto, eu estava voltando para brigar ou, no mínimo, para engatar um bate-boca daqueles. Quando me viu retornando, o homem estufou o peito, cerrou os punhos e fez uma cara de Mike Tyson com dor de dente. A agressividade dele saía pelos poros. Confesso que fiquei bem nervoso, pois estava na iminência de tomar uma surra. Porém, fiz o que achei que tinha de fazer. Me aproximei, estiquei a mão direita e disse:
– Por favor, me perdoe. O senhor está certo. Eu deveria ter pedalado com mais cautela. Não quis lhe fazer mal, desculpe-me.
O que aconteceu nesse momento foi a mais pura demonstração do poder do perdão. Aquele homem se desarmou. De postura de galo de briga, ele assumiu uma atitude de manso cordeiro. Seu peito desinflou, os dedos se soltaram, as sobrancelhas relaxaram. Todo seu aspecto corporal imediatamente mudou. Eu percebi que ele esperava tudo, menos aquilo. Se eu tivesse chegado brigando, tenho certeza de que ele saberia exatamente o que fazer. Mas, diante do meu pedido de perdão, o homem ficou sem reação e perdeu completamente o rebolado. Mantive a mão estendida, diante daquele trabalhador cansado, suado e calado. Quando notou que eu estava falando sério, estendeu a mão bem devagar, apertou a minha e – acredite – baixou o olhar. Falando baixo, em meio a um gaguejo, disse algo como:
– Tá certo… mas… vê se toma mais cuidado, rapaz. Você pode machucar alguém assim. Fica ligado.
Respondi:
– O senhor tem toda razão. Me perdoe.
Ele soltou minha mão, balançou a cabeça, aceitando minha atitude. Depois se virou, seguindo de novo em direção à pesada pilha de garrafas de refrigerante que teria de carregar. Eu subi na bicicleta e prossegui, bem devagar, em direção à escola de minha filha.
Meu irmão, minha irmã, o perdão não é uma brincadeira. Tampouco é impossível. É um ato sublime, magnânimo, que nos aproxima do divino e nos conforma à imagem daquele que nos perdoou primeiro. Pedir perdão, perdoar e se perdoar são atitudes capazes de fazer maravilhas. Você não acredita em milagres? Pois saiba que existe um milagre extraordinário, que Deus opera em nossos dias, que é o da reconciliação e do fim da culpa, mediante atos de perdão. Perdão transforma vidas. Perdão gera paz. Perdão liberta. Não é por menos que o perdão é um dos alicerces do evangelho. Se você vive alguma situação em que até gostaria de pedir perdão a alguém mas tem medo da reação da outra pessoa, sente vergonha ou orgulho, ou mesmo considera que não tem como ser perdoado, faça uma tentativa: pare, desça da bicicleta, dê meia volta, estenda a mão e peça perdão.
Com isso você não estará se humilhando, mas se engrandecendo. E as consequências no mundo físico e no espiritual serão extraordinárias. Pode acreditar.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari