

De uns anos para cá, tenho notado um movimento crescente contra a crítica. Vejo frases, textos, discursos e até memes de internet que estabelecem a crítica como algo praticamente diabólico. Já escutei coisas como “quem critica é um recalcado” ou “a crítica é filha da inveja” e outras afirmações do gênero. Tudo isso me espanta muito, porque noto essa tendência cada vez maior, de pessoas que se blindam contra críticas como se isso fosse uma virtude e como se quem critica fosse um agente do mal. Quando digo que me espanta é porque, a meu ver, a crítica é essencial para o crescimento humano, uma benção de Deus, uma ferramenta para nos tornar pessoas melhores – mesmo as críticas mal-intencionadas. Embora sejam alertas que deveriam nos conduzir à reflexão, a crítica tem sido transformada em sinônimo de acusação. Digitei no Google a palavra “crítica” e a primeira imagem que apareceu foi essa aí dos dedos apontados. Ou seja, isto mostra que estamos vendo o ato de criticar sempre como algo opressor, acusador e pernicioso. Mas não vejo dessa forma.
Embora hoje eu dedique meus dias ao universo literário, como escritor e editor, minha formação é em jornalismo. Nunca me esquecerei do meu primeiro dia de trabalho no meu primeiro estágio. Eu estava no quarto período da faculdade quando um professor me convidou para ser estagiário da assessoria de imprensa de um órgão público. Eu tinha 19 anos, e recebi minha primeira tarefa: escrever uma reportagem para o jornal da Prefeitura do Rio de Janeiro sobre um projeto de reflorestamento de encostas com palmito (hoje, 24 anos depois, ainda me lembro desses detalhes, de tanto que me marcou).
Apurei as informações, sentei-me diante da máquina de escrever (sim, em 1991 ainda não usávamos computador) e datilografei todo o texto da reportagem em uma folha de papel com o timbre da Prefeitura. Terminada a tarefa, fui todo orgulhoso mostrar o texto para meu chefe. Para minha surpresa, ele riscou tudo. Tudo! De alto a baixo, meu lindo texto foi totalmente reescrito, rabiscado, remendado. Uma tragédia para o meu ego e uma humilhação. Ao final, lembro que meu chefe olhou para mim, sorriu e disse:
– Se você receber de bom grado as críticas de hoje e aprender com humildade quais são seus pontos fracos, amanhã você será um grande escritor de textos.
Nunca cheguei a ser um grande escritor de textos, mas tenho a consciência de que, de lá para cá, consegui evoluir nessa área. E por uma razão clara: naquele dia, aprendi que, se estivermos alegremente abertos a ouvir críticas sobre nossas falhas, aprenderemos com elas, corrigiremos nossas deficiências e melhoraremos a cada dia.
Críticas não são ferramentas do Diabo. Não são algo que pessoas “recalcadas” ou “invejosas” façam. Críticas são um presente de Deus para o nosso crescimento e a nossa evolução. Não importa se você seja fera naquilo que faz, sempre há algo em que precisa melhorar e sempre há erros que precisa corrigir. E ai de você se não tiver alguém que te mostre, por meio da crítica, essas áreas deficientes da sua vida. Para mim, uma imagem que definiria a crítica seria muito mais esta de uma pessoa falando e a outra refletindo, e não dedos acusadores apontando para alguém. É tudo questão de como se enxerga a mesma coisa.
Entenda que você erra, e erra muito. Sei disso porque eu erro, e não sou melhor nem pior do que você. E se não tivermos quem aponte nossos erros, prosseguiremos errando. De que adianta fazer uma prova se não houver um professor que a corrija? E que benefício extrairíamos de uma prova se não víssemos em que erramos e estudássemos os pontos deficientes para poder tirar uma nota maior na prova seguinte?
Quem não aceita críticas peca por soberba, altivez, arrogância. Pois se coloca acima do erro. Acima da reprimenda. E, com isso, traz para si a inerrância. Ocorre que só Deus está acima do erro. Todos os demais erramos. Portanto, recusar a crítica é divinizar-se e, portanto, é idolatria.
Bem-aventurado o homem que se abre para a crítica. E, ao contrário do que dizem, não apenas para a crítica construtiva; para a feita com má-fé também. Soa estranho? Então explico: a crítica construtiva dispensa o que falar: como diz o nome, ela constrói, e isso por si só já mostra que edifica. Já a crítica feita com más intenções ajuda a nos mostrar quem são as pessoas, nos desenvolve na paciência e na mansidão, nos mostra o que não devemos fazer e proporciona muitos outros benefícios. Tudo o que precisamos é saber extrair a limonada desse limão.
Ser criticado dói. Mas uma injeção também dói e evita que peguemos doenças que nos fariam um mal infinitamente maior.
Meu irmão, minha irmã, não se feche à crítica. Enxergue-a como uma dádiva. Permita-se ser criticado, pois, assim, muito do que precisa mudar em você e que antes não percebia ficará claro. A partir daí, reflita, ore e veja o que pode fazer para se tornar uma pessoa cada vez melhor. E uma pessoa cada vez melhor é alguém que se ajusta mais e mais ao caráter de Jesus de Nazaré. E esta é a verdade: quando você é criticado – e, em vez de se posicionar na defensiva, reconhece as falhas com humildade – sobe um degrau rumo a se tornar mais e mais alguém com maior intimidade com o Senhor e mais ajustado aos padrões do céu.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Mauricio Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >