Posts com Tag ‘cicatrizes’

paoA única foto que ilustra o post de hoje é a deste pão, pois todo o texto gira em torno dele. Permita-me explicar. Como antecipei em post recente aqui no APENAS, minha mãe submeteu-se há poucos dias a uma cirurgia para extrair um câncer de mama. Aos 82 anos, tendo sofrido um infarto havia alguns anos, não enfrentaria uma operação tranquila; afinal, riscos são grandes em pacientes com esse perfil. Como meu pai está senil, fui escolhido para ser o responsável por minha mãe. Se houvesse alguma complicação durante a operação, caberia a mim tomar decisões que poderiam ser de vida ou morte. Passamos a manhã realizando exames e procedimentos pré-cirúrgicos, saímos do laboratório e seguimos para o hospital. A cirurgia estava marcada para 14h. Atrasou. Até então, eu não havia almoçado. Estava faminto, mas, a despeito dos apelos de minha mãe para que eu a deixasse sozinha na sala de espera do hospital e fosse comer, fiquei ali, segurando sua mão, conversando e fazendo piadas, até o momento da cirurgia. Estávamos confiantes e de bom humor – mas morrendo de fome. 

Enfim chegou a hora e, às 14h45, finalmente minha mãe entrou na sala de operações. Por isso, foi só por volta de 15h que pude comer algo, na única lanchonete que vendia alguma comida no hospital. A birosca não oferecia refeições, apenas salgados e alguns sanduíches. Por isso, o que você vê nesta foto foi o meu almoço naquele dia: um pão com ovo e queijo. No momento em que tirei a fotografia, estava pensando no que aqui compartilho com você: este sanduíche simboliza algo muito maior do que um sanduíche. 

Aquele pedaço de pão simbolizou para mim o cuidado com minha mãe. Ele era o resultado de eu ter sacrificado o meu bem-estar em prol dela. Eu poderia perfeitamente tê-la deixado sozinha e saído do hospital em busca de um bom restaurante, na hora em que eu quisesse. Mas optei por lhe fazer companhia, dar amor, ofertar solidariedade, compartilhar calor humano, ser um filho que honra seus pais ao preferi-los em honra a si mesmo. E, se você acha que sou grande coisa ao dizer isso, saiba que não sou, minha nobreza não é maior do que a de ninguém: tudo o que fiz foi por amor e em reconhecimento aos anos de cuidados que minha mãe dedicou a mim. Não, ficar faminto para acompanhá-la não foi mérito meu, foi mérito dela. Pois tudo o que fiz foi em respeito às décadas de preocupação, entrega, abnegação e sacrifícios de minha mãe por mim. Não houve nenhuma magnanimidade no que fiz. 

paoAo olhar para aquele pão com ovo e queijo lembrei-me das noites que minha mãe e meu pai passaram em claro, cuidando de minhas febres e meus pesadelos; das muitas horas que gastaram lavando o cocô e o xixi das minhas fraldas de pano, numa época em que ainda não havia fraldas descartáveis; dos dias e mais dias em que tiveram de ir correndo de um emprego para outro, numa ralação exaustiva, a fim de me dar qualidade de vida; das madrugadas em que ficaram acordados durante minha juventude, preocupados com meu retorno seguro após alguma festa; da noite em que saíram esbaforidos para me abraçar, após eu ter capotado com o carro… enfim, de tudo de que dona Irene e seu Wilson abriram mão em meu benefício. Um pão com ovo e queijo que significava tão pouco em comparação ao amor e ao sacrifício que aqueles dois devotaram ao filho caçula. Orei ao Senhor antes de devorar aquele sanduíche, entregando minha mãe em suas mãos e agradecendo por tão singelo mas tão significativo alimento. E, naquele instante, percebi que cada mordida que dava no pão tinha o mesmo nome.

Gratidão. 

Quando celebramos a ceia do Senhor, o que demonstramos é a mesma coisa: gratidão, por tudo o que Jesus suportou em nosso benefício. Cada mordida no pão da ceia me recorda dos açoites que ele aguentou em meu lugar; cada gole no vinho me lembra dos bofetões e das cusparadas que ele tomou por mim; o esfarelar das migalhas me identifica com o rasgar da carne das mãos; o sabor acre do vinho me remete ao sabor amargo do sangue escorrido da coroa de espinhos. A ceia não deve ter em primeiro plano o medo de tomá-la em pecado, mas o júbilo por tomá-la em gratidão por quem nos livrou do pecado. Ao reunir-me com meus irmãos e irmãs para tomar a ceia, trago à memória o cenho abatido do Salvador na cruz do monte Calvário. Ceia é isto: gratidão pelo sacrifício que nos beneficiou. O sanduíche do hospital é isto: gratidão pelo sacrifício que me beneficiou. Assim, o pão tem sabor de uma única palavra: obrigado. 

Uma hora e meia depois, meu telefone soou e uma integrante da equipe médica me avisou que a cirurgia havia terminado e sido um sucesso. Eu deveria ir para o quarto aguardar minha mãe. Assim foi. Quando ela chegou na maca, ainda zonza pelo despertar da anestesia, antes mesmo de perguntar como tinha sido a cirurgia, virou-se para mim e, com preocupação materna, indagou: “Você comeu?”. 

Conversei com os médicos, que me informaram que tudo havia ido bem: eles removeram apenas um quarto do seio e nem precisaram pôr um dreno. O exame dos nódulos linfáticos da axila deu negativo, o que sugeria que não havia ocorrido metástase. Três dias depois, eu deveria levar minha mãe ao consultório do cirurgião para ver como estava a recuperação. Assim, no terceiro dia após a possibilidade da morte, levei-a ao médico, que avaliou o quadro e deu o ultimato: vida! De igual modo, no terceiro dia após a morte de Cristo, veio o ultimato: vida!

paoPassei dias cuidando dela no pós-operatório, com gratidão a Deus por poder fazer por minha mãe o que décadas antes ela fizera por mim. Hoje, dia 26 de abril, dona Irene volta ao médico a fim de remover os pontos da cirurgia. Esperamos apenas o resultado da biópsia do tumor. Fora isso, é vida que segue. As cicatrizes  ficarão, mas, por trás delas, o que há é vida. E, de hoje em diante, nunca mais olharei para um pão da mesma maneira que antes, pois ele sempre me lembrará de tudo o que meus pais fizeram por mim e da gratidão que devo demonstrar-lhes, não como resultado de valor próprio, mas como reconhecimento pelo mérito deles ao se sacrificarem por mim. Do mesmo modo, nunca você deve olhar para o pão da ceia sem um sentimento de gratidão a Cristo pelo mérito dele ao sacrificar-se por você. As cicatrizes dos cravos, dos açoites, da lança e da coroa de espinhos ficarão, mas, por trás delas, o que há é graça e vida.

Vida… eterna. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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broken-glassesDepois que ultrapassei os 40 anos, comecei a enxergar mal. O diagnóstico: vista cansada. Pronto, a partir daí passei a depender de óculos para ler, usar o computador ou realizar tarefas que exijam maior acuidade visual de perto. Como leio e escrevo muito, você pode imaginar como minha relação com os óculos de leitura se tornou de extrema dependência. Por isso, dá para supor o que senti quando minha filha de 4 anos quebrou meus óculos, entortando totalmente as hastes e lançando longe uma das lentes. O pior de tudo é que isso  aconteceu como um resultado amargo da desobediência. Vou te contar a história. Eu tinha terminado o expediente do dia e deixei meus óculos apoiados na mesa de trabalho, que fica ao lado de minha cama. Minha filha chegou da escola e começamos a fazer coisas juntos. Havia algumas pilhas de roupa sobre a cama, pois tinha sido dia de passadeira. Resolvi guardar as roupas no armário e, como a filhota gosta muito de me ajudar, pediu para me entregar pilha por pilha, que eu pegava e botava no armário. Só estabeleci  uma única regra:
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– Bebê, não saia da cama, pois você está descalça e o chão está muito frio – falei.
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tombo-queda-homem-caindoFoi quando ela teve a brilhante ideia de me desobedecer. Não sei o que deu na cabeça dela, mas a pequena resolveu pular, com um monte de roupas nas mãos, da cama para a minha cadeira de trabalho – que tem rodinhas. O resultado: assim que deu o salto, a cadeira correu, minha filha se desequilibrou e caiu para trás. Não sei como consegui, mas, no reflexo, dei um pulo e a agarrei por um braço, impedindo que batesse com a cabeça no chão. Naquilo que despencou, ela também abriu os braços, tentando agarrar o ar para não cair, mas o que conseguiu foi dar um tapa com uma das mãos na minha mesa. As roupas voaram para todos os lados, se esparramando pelo chão. Mas, na hora em que ela bateu com a mão na mesa, acertou em cheio meus óculos, que desmontaram e se entortaram todos.
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Corri, agarrei minha filha e a abracei. Depois de me certificar de que estava tudo bem com ela, que tinha sido apenas um susto e que ela não havia sofrido nenhum machucado, me virei para os óculos. Ou o que sobrou deles. Destruídos. Naquele instante, passou pela minha cabeça todo o transtorno que aquilo provocaria: prejudicaria meu trabalho, a criação de textos para o APENAS, a escrita do novo livro em que estou trabalhando e uma série de outras coisas que a falta daquele objeto provocaria. Por isso, do susto, meus sentimentos naquela hora se tornaram ira. Dei uma bronca em minha filha.
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– Por que você me desobedeceu e saiu da cama?! Que ideia é essa de pular da cama para uma cadeira com rodas?! Quer me matar do coração?! E, agora, olha só o que você fez com meus óculos!!! Como é que o papai vai conseguir escrever agora?!
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Minha esposa ouviu o barulho e correu para ver o que tinha acontecido. Terminada a bronca, eu estava tão irritado que saí do quarto e fui para a sala, a fim de bufar e tentar me acalmar. E assim eu fiz. Fiquei ali por longos minutos, até que meu coração desacelerou. Me acalmei. Respirei fundo. E foi  quando minha esposa apareceu, e disse:
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– Mauricio, ela está com uma carinha… tadinha…
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beijoEu entendi a mensagem. Minha esposa estava intercedendo pela pequena transgressora. E, embora eu tivesse ciência de que tudo o que aconteceu foi fruto de desobediência, sabia que minha filha era pó, era humana, e sujeita à força do pecado. Por isso respirei fundo novamente. Me acalmei. E voltei para o quarto. Minha filha estava deitada na cama, com um olhar de culpa e muito quietinha. Quando me viu, percebi que já se preparou para ouvir mais bronca. Mas, então, me aproximei, deitei ao seu lado e a chamei para repousar a cabeça no meu peito. Ela veio, em silêncio, e me abraçou. Conversei com ela mansamente e expliquei que papai não dava ordens à toa, que todas as regras que eu estabelecia eram para o bem dela. Também a lembrei de uma série de ocasiões passadas em que ela tinha desobedecido e algo ruim acontecera, e procurei mostrar que, se ela obedecesse ao papai, a probabilidade de ocorrer algum problema ou de ela se machucar era muito menor. E terminei:
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– Você entendeu, bebê?
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Ela fez que sim com a cabeça e falou baixinho, com uma vozinha doce:
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– Entendi, papai. Desculpe.
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E teve uma atitude inesperada: começou a me encher de beijos, no rosto, nos braços, no peito e até nas pernas e nos pés. Daqui a pouco estávamos brincando, rindo e nos divertindo.
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Os mandamentos de Deus não existem para nos tolher, oprimir ou chatear. O Senhor não nos dá ordens à toa, cada um dos seus preceitos tem uma razão de ser e, por exprimir a vontade do ser perfeito, eles servem para o nosso bem. O Pai sabe que a transgressão nos afasta dele e conhece a destruição que o pecado provoca. Sabe, também, que corremos o sério risco de nos machucarmos e de destruirmos muitos óculos caso optemos pelo caminho do mal. Por isso, estabelece limites, que servem, entre outras coisas, para nos proteger de nós mesmos.
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amorAcho curioso quando ouço pessoas dizerem que o cristianismo serve pra ficar dizendo “pode, não pode, pode, não pode”. Não entendem que os mandamentos de Deus são bons e nos mostram um caminho mais excelente. Um caminho de paz. Um caminho de amor, como Jesus mesmo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14.15); “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço” (Jo 15.10). Acredite: Deus não estabelece normas e regras a troco de nada. Ele tem os melhores motivos para isso. E quem colhe os bons frutos da santidade somos nós mesmos. Deus se agrada tanto do amor demostrado por meio da obediência que tem promessas lindas para quem abraça seus mandamentos: “faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Dt 5.10).
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Minha filha aprendeu que desobedecer aos mandamentos do pai é correr o risco de se machucar muito. E, mesmo que o pai consiga segurá-la com mão forte, por amor e por graça, isso não impede que sua transgressão tenha consequências desastrosas – como roupas passadas espalhadas pelo chão e óculos quebrados. Por mais que Deus nos guarde diante do nosso pecado, sempre sofreremos algum prejuízo. Felizmente, nosso Pai é graça, perdão e restauração. Ele nos abraça, nos chama para o colo e nos corrige, fazendo-nos ver as consequências da transgressão. A partir daí, temos dois caminhos: nos rebelar ou reconhecer nosso erro e enchermos o Senhor de beijos, em reconhecimento por seu amor e seu cuidado disciplinador. “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Ap 3.19).
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cicatrizPara minha surpresa, enquanto eu conversava com minha filha, minha esposa pegou em silêncio os óculos quebrados e, com muito cuidado, conseguiu endireitar as hastes. Encaixou a lente de novo no lugar. E, quando vi, ela se aproximou e os entregou a mim, restaurados e aptos para o uso. Experimentei. Estavam largos e um pouco fora de esquadro, mas não perdidos para sempre, como eu imaginara. Cristo também faz isso. Quando pecamos e nossa desobediência gera resultados desastrosos, ele pode consertar a situação e aprumar as coisas. Mas sempre ficará algum resultado do erro, seja em forma de feridas, mágoas, más lembranças, culpa ou o que for. Por isso, acredite: pecar conscientemente por saber que Deus perdoa e restaura nunca é a melhor opção, pois sempre ficarão cicatrizes do mal cometido. 

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Busque a santidade, meu irmão, minha irmã. Sem ela, ninguém verá a Deus. Saiba que a mão do Senhor está sempre estendida para nos guardar e que, se erramos e caímos, temos um advogado junto ao Pai. Mas, pode acreditar, o melhor é nunca ter de passar pela disciplina de Deus, pois sempre teremos de lidar com um gosto amargo na boca em decorrência do mal que causamos. Você está em pecado? Mude isso hoje. Não pague pra ver. 
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Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari < facebook.com/mauriciozagariescritor >

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