Você já parou para pensar sobre o que os amigos dos doze apóstolos pensaram quando eles decidiram seguir Jesus? O que será que os primeiros seguidores de Cristo tiveram de enfrentar em seu círculo de amizades para dedicar a vida ao Mestre? A Bíblia praticamente não menciona como foi a reação dos amigos e dos parentes dos apóstolos quando esses se tornaram cristãos, mas, se nos permitirmos um exercício de imaginação, podemos tentar supor como teria sido e ver que implicações essa reflexão geraria para nossa vida.
Tomemos por exemplo os irmãos Pedro e André. Eles eram pescadores e, por isso, provavelmente lidavam com dezenas de pessoas diariamente para vender o pescado, uma vez que, naquela época, o trabalho dos pescadores ia até a comercialização daquilo que caía em suas redes. De certo modo, os pescadores de então eram também feirantes, o que proporcionava a eles contato com muita gente e os tornava pessoas bem conhecidas em sua comunidade. Além disso, como bons judeus, certamente iam frequentemente à sinagoga, onde comungavam com outros israelitas e, assim como fazemos em nossas igrejas, eles se relacionavam com um amplo grupo. É de se supor que não fossem poucas as pessoas que os conheciam. Por isso, um dia…
– Onde estão Pedro e André? Não tem peixe hoje?
– É verdade, os filhos de Jonas também não foram à sinagoga, será que estão doentes?
A resposta deve ter impactado os amigos:
– Não, eles abandonaram o trabalho e pararam de ir à sinagoga.
– Ué, por quê?
– Estão seguindo um carpinteiro que diz ser o Messias.
– Mas estão vivendo de quê?
– Não sei… abandonaram as redes e o barco. E não guardam mais o sábado.
– Ih! Estão loucos. E desviados!
Penso, também, em Mateus. No caso dele, o homem deveria ter bem menos amigos sinceros, por ser coletor de impostos – uma categoria odiada pelos judeus daquela época. Mas, por isso mesmo, sua comunidade sabia quem ele era.
– Sabe Mateus, aquele cabra safado que fica pegando nosso dinheiro para dar aos romanos?
– Nem fala desse cidadão, o miserável me deixou no vermelho depois que veio cobrar os impostos.
– Bem, acontece que ele não está mais na coletoria. Largou tudo para seguir um carpinteiro que diz ser o Messias.
– Não brinca! De ladrão o cidadão virou herege?
E por aí vai. Se começamos a imaginar tudo o que os apóstolos enfrentaram no convívio social para assumir seu papel como seguidores de Jesus possivelmente teríamos muitas histórias de rejeição, ofensa, acusações e deboches. É difícil supor que a sociedade judaica de então tenha visto com bons olhos a “cristianização” daqueles doze judeus. Mesmo assim, os apóstolos não deram para trás, enfrentaram todo tipo de oposição social e ficaram firmes em sua decisão de seguir o Mestre.
Você pode achar que foi uma decisão fácil. Mas não foi. Ninguém gosta de ser hostilizado pelos amigos, parentes e conhecidos. É só ver como Pedro se comportou diante dos seus acusadores na noite em que Jesus foi preso para ver como os olhares dos outros o afetavam. Ocorre que a mensagem da cruz é clara: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 10.37-39). Nessa passagem, Jesus está dizendo que devemos valorizá-lo acima de qualquer outra pessoa e que essa priorização tem um custo. Mas, ao final, valerá a pena, pois perdemos aqui para ganhar mais adiante.
Agora pensemos em você. Como foi a reação da sociedade ao fato de você seguir Jesus? A sua conversão foi tranquila ou teve um custo? Você perdeu amigos? Tornou-se motivo de chacota ou preconceito? As pessoas passaram a hostilizá-lo? Talvez essa reação negativa tenha ocorrido até mesmo dentro da sua família. Ou no ambiente de trabalho. De repente, o seu cônjuge foi bem contrário à sua decisão de seguir Jesus. Se de algum modo sua opção por Cristo trouxe algum prejuízo social, saiba que você não está só. Desde os primeiros discípulos, dois mil anos atrás, isso é uma realidade.
A grande questão não é se você será perseguido por amor a Cristo. Isso é previsível, vai acontecer, pois o mundo não aceita a proposta revolucionária do evangelho. A cruz é uma ofensa para os valores seculares. A grande questão é como você reage diante da perseguição, da oposição, do desprezo, da chacota, da depreciação. Vivemos dias de muito preconceito contra os cristãos. Somos acusados de homofóbicos, fanáticos, ignorantes, atrasados, otários e muitos outros nomes que você já sabe. Esses ataques sempre existiram e sempre existirão, até Jesus retornar. Tenho visto muitos irmãos em Cristo reagirem a isso com violência. Somos atacados e, por isso, atacamos. Nesse período em que vivemos, em que a religião e sua oposição a certas agendas de grupos anticristãos está na pauta do dia, os ânimos afloram, os embates se multiplicam. As redes sociais fervilham com verborragia e indelicadeza de todos os lados. Minha pergunta a você é: será que estamos certos em nos defender revidando? Em usar das mesmas armas que o mundo usa contra nós? Você crê realmente que Jesus se orgulha quando nos posicionamos contra quem discorda de nós igualmente com deboches, ironia, ofensas, termos ofensivos e atitudes similares? Será que não estamos agindo com estupidez acreditando ser apologética? Sim, porque, no dia em que acharmos (se é que muitos já não acham) que a defesa da fé se dá descendo ao nível de agressividade e verborragia dos que não têm fé… estaremos perdidos.
A tendência natural do ser humano é reagir a ataques com certa dose de agressividade e violência. Mas, se queremos ser chamados de cristãos com “C” maiúsculo, devemos ter atitudes contrárias ao que determinam os impulsos humanos. Em outras palavras, seguir o exemplo de Jesus: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53.7). Quando Pedro cortou com espada a orelha de Malco, Jesus o repreendeu, pois ele não quer que seus discípulos reajam como nossos perseguidores agem. Deixe o revide, a agressividade, os ataques verbais e o descontrole emocional para os do mundo. Pense nas coisas do alto. Mansidão. Paciência. Domínio próprio. Graça. Menos contra-ataques, mais pacificação. Eis o material que deve pavimentar nosso caminho rumo ao céu.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Como sempre bem oportuna esta palavra, sobretudo, em tempos que se tende a almofadar a cruz e colocar rolimãs nela para facilitar seu transporte. Que o Senhor derrame sobre nós graça sobre graça para suportarmos os dias em que vivemos e os vindouros. Deus te abençoe meu irmão.
P.S. Gostei do uso da expressão “cabra safado” (bem pernambucana).
Oi, Nádia,
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Que bom que você sintonizou na relevância da reflexão, em especial em nossos dias.
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Quanto ao “cabra safado” é uma homenagem ao Nordeste que eu tanto amo.
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Abraço fraterno, na paz de Cristo,
mz
Mauricio ,gostei muito desse texto,em minha conversão foi um,ohhhhhh como assim? de meu amigos,lembro-me que foi um época em que meu ex noivo me abandonou as vésperas do casamento ,muitos diziam que era somente para reatar meu noivado,acho que no fundo era mesmo,mas fui me aproximando de Jesus e já se passaram 20 anos e pela sua misericórdia eu permaneço junto a Ele,Deus me deu um ótimo esposo e vivo feliz ,mesmo ainda ouvindo certas ofensas ..mas eu nem ligo …..carregar a cruz vale a pena..
Oi, Mery,
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que linda frase! “Carregar a cruz vale a pena”… se todos tivéssemos essa percepção acredito que nossa vida seria bem diferente. Louvo a Deus por sua vida, mana.
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Abraço fraterno, no amor de Cristo,
mz
Olá, Maurício.
Acredito em Deus, na salvação através da fé e da graça dada por meio do sacrifício de Jesus e na Palavra de Deus que está na Bíblia. Sou uma leitora ávida da Bíblia, de livros e blogs cristãos como o seu, por exemplo. Já me arrependi e abandonei muitos pecados. Deus já livrou meu coração de muitos desejos maus e tenho visto Sua misericórdia agir na minha vida, mas…não sou evangélica!
Fui católica a minha vida inteira, mas quando comecei a ler a Bíblia, percebi muitas contradições que me afastaram de lá. Passei a visitar igrejas evangélicas. Algumas me decepcionaram. Encontrei discursos arrogantes e agressivos. Contudo, gostei de uma, e é a que costumo visitar, mas ainda não me comprometi.
Às vezes quando converso com alguém sobre Deus, ou simplesmente quando uso as frases “vou orar por você”, “confie em Deus”, as pessoas imediatamente me perguntam: “Tu é evangélica?”. E eu, claro, respondo que não e fico pensando “Porque ainda não sou evangélica?”, “o que está faltando para eu ‘aceitar a Deus’ publicamente?”, apesar de eu ter a certeza que, sim, eu já escolhi os caminhos de Deus. Eu sei que NÃO há como ter vida se não for nos caminhos de Deus e que preciso urgentemente da Sua graça.
Porém… no fundo, eu ainda tenho receio de dizer a todos ao meu redor “Sou evangélica” e de contrariar as ideias do mundo na frente de algumas pessoas, revelando assim, aquilo em que acredito.
É verdade, Maurício, eu não tenho a coragem dos apóstolos. Confessar isso aqui, no seu blog, é muito fácil para mim, até confortável, mas na frente de algumas pessoas que me cercam, é algo que não acontece.
Não sei se é só coragem que me falta. Mas já estou conversando sobre isso com Deus.
Obrigada por mais uma leitura e reflexão. Abraço.
Oi, Amanda,
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no mundo de hoje, o jargão “evangélico” provoca discriminação, por causa dos mais exemplos que estão na mídia. Penso que devemos buscar nossa identidade em Cristo reassumi-la. Eu, por exemplo, me considero um cristão que segue a doutrina teológica da Reforma Protestante. Isso me enquadra no termo “protestante” ou “evangélico”. Negar o termo não nega o fato, portanto, não vejo mal em assumi-lo.
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A vida cristã pressupõe o ajuntamento. Cristianismo fora da coletividade não existe, nossa fé se manifesta no ambiente plural.
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Penso que devemos ser autênticos. Precisamos assumir quem somos. Ser evangélico não é vergonha, apenas reflete sua crença religiosa. Você ter vergonha, por exemplo, de ser morena não faz com que você seja menos morena, percebe?
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Assuma sua realidade e viva-a sem medo. Antes importa agradar a Deus do que aos homens, lembre-se sempre disso.
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Abraço fraterno, na paz de Deus,
mz
Olá Maurício !!
Recebo mensalmente a revista de missões Portas Abertas com cada matéria de arrepiar no Irã, Egito, Coreia do Norte e muitos outros países.
Já aqui no Brasil a perseguição está entre as mais leves do mundo. Tanto que temos a chance de eleger Marina, que se posiciona como cristã e tem aceitação de 43% no 2º turno.
Graças a Deus pela liberdade que vivemos no Brasil.
Abraço, meu irmão !!
🙂
Amém!!!
Mauricio, gosto da frase de Bianca Toledo: “Agimos como gostaríamos de ser, mas reagimos como de fato somos.”
Devemos vigiar e orar todos os dias para termos a mente de Cristo, para reagir como Ele reagiria se estivesse aqui em nosso lugar. Isso é um imenso desafio!
Deus nos abençoe!!!
Amém, Ediná, há sabedoria nessas palavras. O desafio é grande, mas é imprescindível.
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Abraço fraterno, no amor de Deus,
mz
Amém e Amém!!Vou ficar fora de Redes Sociais nesta última semana antes das eleições, despertam o pior de nós.Deus esta no trono , é soberano que cada um vote consciente.Me calo.Falei uma coisa ou outra , mas esse ano ta muito pesado, o melhor é orar e deixar nas mãos de Deus.Se envolver em discussões, desse tipo, só te esgota.
Abraços
Faz bem, Greize, busque a paz.
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Abraço pra ti, no silêncio de Deus,
mz
Olá, Maurício.
As vezes converso com alguns amigos e falamos sobre vivermos num país livre como o Brasil. olhamos para países fora e toda perseguição que enfrentam por amor a Cristo, temos visto imagens chocantes dos radicais do Islã contra os cristãos, uma verdadeira barbárie. Mais ai, eu fico pensando, será que mesmo vivendo em um país que podemos pregar a palavra, andar com nossas bíblias livremente, onde vemos canais de tv abertas mostrando o caminho da graça, nós não enfrentamos perseguição, por amor a Cristo? Vivemos num pais desmoralizado espiritualmente, moralmente, politicamente. Um país que leva tudo pelo lado imoral e sexual. E vejo que viver num país assim não é fácil pra nós cristãos. Somos sim, taxados de alienados, otários, santos do pau oco, homofóbicos, loucos e por ai vai os adjetivos. Eu mesma, no meu trabalho, enfrento perseguição vindo de algumas pessoas, não me importo, mesmo me incomodando as vezes, porque sei que o que incomoda elas não sou eu, e sim, quem habita em mim, e por isso, glorifico a Deus e oro por elas. Não é fácil se mantes firme diante deboches e até acusações morais por causa de nosso comportamento. Mas, com certeza tem muitos outros la fora pagando com a própria vida, sem negar a Cristo. Sabe, eu disse a uma pessoa conhecida minha que é melhor entrar no céu de cabeça baixa, do que no inferno de cabeça em pé. Não somos nada e seguir Cristo é cruz é renuncia. Ele não disse que seria fácil.
Paz, meu amigo. Saiu daqui sempre fortalecida.
É isso, Teresa, comentário perfeito. A perseguição religiosa existe sim no Brasil, ela só é velada.
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Abraço fraterno, no amor de Deus,
mz
Oi, parabéns pelo artigo. Gostaria de saber sua opinião sobre o porte ou adquirir armas para se proteger? Muitos citam Lc 22,36 para defender a liberdade de resposta à violências e difundem isso como uma teologia correta.
Eduardo,
sou contra. “Todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mt 26.52).
Abraço,
mz
obrigado pela pronta resposta… curta e grossa!! Também estou nesse time e acho que cristãos que apoiam e ou incentivam isso acabam tendo suas mãos sujas de sangue, abçs em JC